A MULHER DO
MÉDICO - Imagem: Adolescent
dreams, by Akino
Kondoh - Doutor Ulisses era um chato: fumante de piteira com bigodinho
hitleriano, caareca buchudo com uma delicadeza falsa na fala mansa, Montblanc
enfiada no bolso do jaleco sobre o paletó e gravata Black-tie, dedo indicador
sobre a mesa catando o mínimo sinal de poeira pra reclamos, enfim, um odiento metido
abominado por toda cidade. Por sua vez, a mulher dele, ah, era o sonho de
consumo de qualquer macho: fêmea enxuta e bem-feita a se exibir com saia curta reveladora
das coxas roliças nas pernas torneadas, decote profundo de seios salientes e
voluptuosos, lábios proeminentes no batom vermelho vivo da boca cangula a
realçar nas faces aformoseadas pelo olhar das malícias mais aconchegantes, a
fala delicada de uma corpuda que esbanja a generosidade de sua assimetria proporcional
dos pés à cabeça, um colosso a olhos vistos! Eu mesmo, ora, não sei quantas
vezes sentia um calafrio do membro mexer dentro do calção todo saliente pra
amolegadas, toda vez que ela chegava reboladeira na casa dela. Eu ficava do
campinho da beira do rio, esperando ela ir e vir da varanda pro portão, quanta
coisa linda era aquela mulher de me fazer de escondido nas moitas brechando de
longe todos os seus detalhes corporais. Quando não era isso, bastava o doutor
sair pra eu espionar pelas frestas do muro atrás da igrejinha e vê-la desfilar
seminua pelo quintal a se bronzear, ou pelas brechas dos combongós que davam
pro banheiro dela. Ou ainda quando ela se espreguiçava folheando revistas no
terraço com suas vestes sumárias quase mostrando tudo. Quanto alvoroço, nguinho
deixava a bola acabando a pelada, só pra conferir no amiudado aquela cena
aprazível. Não lembro quantas e tantas vezes rendendo homenagens demoradas pra
ela, cada uma melhor que a outra. Muitas vezes fui surpreendido por um ou outro
no meio do maior regalo. Eu só não, a marmanjada toda pelos cantos procurando fissuras
nas paredes pra checá-la nas intimidades. Quem não morria de inveja quando ela
ia pro dentista caprichada na elegância, ou quando saía no táxi dum bonitão do
lugar, até um dia segui na bicicleta e vi tomarem rumo rodovia afora. Oh
felizardo quem se aproveitava daquela gostosura. Eu e tantos outros sonhávamos com
aquela beldade. Era a vingança contra o chato do marido dela. Eu só não, a
cidade em peso, todo mundo já havia provado dos maus bofes daquele purgante. Todo
mundo desejava todo tipo de mau agouro praquela trepeça de gente. Até que um
dia de manhã o maçante deu um flagra em sua própria casa, dela com o oficial de
justiça. Foi um bafafá, maior torcida. O pé de lã saiu cara mais lisa e às
pressas, nu com as roupas enroladas no sovaco. O zoadeiro era só de quebradeira
de louças e utensílios. As portas foram cerradas, maior silêncio. Será que ele
matou-la? Juntou gente no campinho e na redondeza só pra ver no que ia dar. Rapaz,
que será que tá havendo lá, hem? Passou-se toda manhã, cochichos e arremedos,
chegou a tarde, saiu pela noite e veio madrugada. Converseiro graúdo, maior pé
de fofoca, ninguém aguentou a vigília pegando no ronco. Quando acordei com a
notícia: eles pegaram o corujão. Quem? O doutor e a boazuda. Foi não. Foi. Bem empregado
praquele corno desinfeliz! Que é isso, mulher, é menos uma perua pra assanhar
os maridos, ora. Demorasse mais ela ia levar uma camada de pau das esposas
enciumadas. Num brinca! Verdade! Os homens tavam tudo de queixo caído pras bandas
dela. Ah, também o doutor era um chute nos testículos. Era. Uma coisa ruim
daquela, ele que devia de ir, ela que ficasse pra gente limpar a vista! Hem,
hem! Acabou-se a diversão do lugar. Mas, num é! Tais vendo, tu? Como era mesmo
o nome dela? Homem, seu menino, a conversa está boa, mas vamos arrumar uma
lavagem de roupa que a coisa não está pra brinquedo! © Luiz Alberto Machado..
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DESTAQUE: MARIO
PERNIOLA
[...]
Na substituição da
ideologia pela sensologia, da burocracia pela mediocracia, do narcisismo pelo
especularismo, dá-se uma verdadeira subordinação do pensar e fazer em relação
ao sentir, que adquire o poder do conferir aos pensamentos e às ações uma
dimensão efectual que por si sós jamais conseguem atingir. [...] Não nos devemos deixar
arrebatar pelo impulso exterior e devemos reflectir com tempo e deixar que o repouso
acalme completamente a emoção. [...].
Trechos da obra Do
sentir (Presença, 1993), do filósofo italiano Mario Perniola, Veja
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CRÔNICA
DE AMOR POR ELA
A arte do
fotógrafo estadunidense Alfred CheneyJohnston [1885-1971]
CANTARAU: VAMOS
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Paz na Terra:
Arte da escultora,
desenhista, pintora, gravadora e professora Sandra Cinto.
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.