SINFONIAS DE
BAR - Imagem: The
Night Cafe in the Place Lamartine in Arles, do pintor do pós-impressionismo
neerlandês Vincent van Gogh (p1853-1890) - Quanta solidão nesta mesa, quantos
desejos contidos, quantas bandeiras levantadas, arriadas, perdidas, desesperançadas.
São goles de mágoas, infelizes demais. Olhares de esquecidos vencedores, fazem
da vitória uma festa sem laurear vencidos. Os olhos não cansam e se perdem na
fumaça,, no fedor de fumo, ruidoso nervosismo nas ações, confissões de amor, ternura
de perdão, cantores de ébrio, lutadores do vício na flor do luar, sentinelas da
noite em seu arquipélago efêmero. Não diz das avenças em pleno reboco, não diz
do soluço atrás da euforia, não diz da vergonha espremida no álcool, não diz da
verdade suposta e tão crua: confidências de bocas e de copos, o halteres miúdo
do vira virar. Não basta beber o tédio e o momento, precisa de vento em maior
ventania, no batuque do samba em seu coração. Um mundo tão grande não cabe no
passo, onirismos escritos em nuvens de giz, onde um lava a culpa, outro
confidencia pormenores de escândalos, aquele afoga a mágoa de um amor perdido,
este se alivia da dura labuta dizendo leseiras da vida. Aqueloutro enchendo
miolo de pote, esbanjando elogios à mulher amada que sonha acordada no
travesseiro. Estoutro comemora o gol mais fantástico na vitória do Flamengo com
um replay de Milena Cyribeli, belíssima como sempre para delírio da galera
rubronegra. Uns alegam dificuldades entre goles erradios e a inflação se
apossando do que tem no bolso. Outro fala de uma revolta incontida para debelar
a população contra a iniqüidade. Aquele deifica a praia e as garotas com suas
bundinhas maravilhosas. Aqueloutro se altera ébrio fofocando a vida de todos. Este
com anedotas de salão as mais cabeludas e risos os mais insolentes. Estoutro
exalta quem vem de longe e pisa quem é de casa. Uns reclamam que entre poucos
tudo se abarrota tudo farta. Outros declaram que entre muitos a estrela apagada
no cu mostra que não se tem nada e que muito falta no charco abominável. Este
relata um crime hediondo de hoje e que a honra dos bravos termina no cemitério.
E se dizem suplícios e calvários, exorcizam o ouro, o coração das águas, nas
mesas e nas cinzas dos copos. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
Veja mais sobre:
Salgadinho: de
riacho pra esgoto, Boaventura de Sousa Santos,
Imre Kertész, Friedrich Schiller, Millôr Fernandes, Ennio Morricone, Gustav Machatý, Emílio Fiaschi, Joseph Mallord William Turner & Hedy Lamarr aqui.
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A musica de Monique Kessous aqui.
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Literatura de Cordel: O cavalo que defecava dinheiro, de
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Direitos adquiridos aqui.
A arte de Tatiana Cobbett aqui.
Tortura, penas cruéis e penas previstas na Constituição Federal
de 1988 aqui.
Literatura de Cordel: Emissários do inferno na terra da
promissão, de Gonçalo Ferreira da Silva
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DESTAQUE: O OVO DA SERPENTE
O filme O
ovo da serpente (Das Schlangenei, 1977), do dramaturgo
e cineasta sueco Ingmar Bergman (1918-2007), é ambientado em Berlim nos
anos 1920, quando os habitantes nativos estão
oprimidos pela hiperinflação e temendo pelo futuro com a crise política. Um trapezista
judeu de circo norte-americano chega à pensão onde mora e encontra seu irmão, um
também artista, morto: havia se suicidado com um tiro na boca. Os dois haviam
brigado e não estavam mais trabalhando, por isso começara a beber sem parar.
Ele vai a polícia e é ouvido pelo inspetor e depois procura pela ex-esposa do
irmão, também artista. Ele se surpreende ao encontrá-la se apresentando em um
bordel. Os dois procuram se ajudar e vão morar juntos, mas ele se irrita quando
ela lhe conta sobre seu relacionamento com um antigo conhecido detestado por
ele. Despejados de onde estavam, ela acaba aceitando um quarto oferecido pelo
antigo namorado, mesmo com o cunhado ficando com ela, apesar de contrariado,
concordando também com um emprego de arquivista na clínica onde o receptor de
ambos trabalha. Ao ser levado pelo inspetor pra ver a vários cadáveres no
necrotério, de pessoas conhecidas do rapaz, ele pensa que é suspeito e tenta
fugir desesperadamente mas é detido pelos policiais. Porém, é solto logo
depois, sem explicações. Enquanto isso, ele parece cada vez mais doente. E esse
maravilhoso filme transcorre, imperdível. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagens: arte da pintora e escultora
canadense Annie Veitch.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: Walk
Forward in Peace, by Kerri Blackman.
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.