SÓ A POESIA TORNA A VIDA SUPORTÁVEL - Tudo
nasce do amor, tudo é fruto do amor. Todos nós nascemos por um ato de amor: do
olhar às carícias, do gozo ao embrião, da prenhez ao parto. É o amor a essência
de tudo. O amor conduz à poesia: a poesia da vida, das coisas, de tudo. Há
poesia em cada ato, gesto, realização: a poesia da Natureza, a poesia do design
das máquinas, a poesia da moda, a poesia da culinária, há poesia em tudo. E nela
a descoberta e o sentimento, o olhar penetrante a visualizar nas essências os
seus antecedentes, as suas consequências: a compreensão dos caminhos nas linhas
das mãos, a impressão digital, o caleidoscópio, o Aleph, as entrelinhas, os sutis
detalhes do perceptível e as pistas do oculto, os interstícios, as sinapses, o
dito e o inaudito, o belo e o doloroso, o suntuoso e o miserável, o mínimo de
nada, o habitável e o ermo, um pingo da chuva, uma gota de água, um grão de
areia; o guizo da cobra, o que se identifica e o desfocado, o calor humano e as
intenções, a franja na testa e o segredo das saias, as surpresas da esquina, a
memória da pedra, a sede do peixe, as peçonhas e os antídotos, o elixir, as
nanocoisas, o que é e o que não é. Cada coisa, por mínima que seja, tem sua razão
de existir e ser, nada há por acaso. Evidente que nas ações humanas há poesias
maiores e expressivas, como as menores e descabidas: depende dos propósitos e
da consciência de se cometê-la. Independente disso, ela é ubíqua, em todo
momento e lugar: viver não basta, só a poesia torna a vida suportável. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
Imagem: a arte do pintor húngaro Károly
Lotz (1833-1904).
Curtindo
o álbum The Fire (2013), da cantora maltesa Ira Losco.
PESQUISA:
As obras criativas que circulam no interior dos sistemas informacionais
do nosso tempo cada vez mais confirmam a identificação da poética contemporânea
com o seu processo semiótico em si, independente das limitações da língua. A
sua principalidade é desenvolver como sêmia (linguagem especifica) núcleos de
invenção funcionando na articulação da ciência comunicacional da Semiologia.
Assim, uma poética pode aparecer nocinema, nas artes gráficas, num
objeto-poema, num ambiente, num ato conteudizante. [...].
Trecho
extraído da obra Por uma vanguarda
nordestina (Fundação José Augusto, 1976), do poeta multimídia internacional
Anchieta Fernandes.
LEITURA
Na
adolescência eu queria escrever poemas eternos. / Poemas que não envelhecessem.
/ Aspirava os pensamentos abstratos, as ideias transcendentes, / jogava
palavras como anzóis atrás de uma baleia azul. / Eu queria a estação permanente
dos fatos, / aquela zona de mistério que transforma os acontecimentos / em
reflexos cíclicos / de uma realidade essência. / Eu desprezava a
transitoriedade, dava-me engulhos o trivial, / pousava meu dente na polpa
indizível da transcendência. / Hoje eu pouso o coração da poesia na bandeja das
coisas que passam, / eu sei que, como todas as civilizações, / a nossa tem um
fim, e já
durou demais. / Eu sinto o cheiro de seu sangue congelado, / adivinho o pus
acumulado sob sua pele túrgida. / Sei que seremos de repente uma sobrevivência
arqueológica. / Porisso não ambiciono mais, para o meu poema, esta imaginária /
duração, / esta idade virtual com pés de efêmero tato. / Não desejo para o
gênero humano poemas capazes de sobreviver / à sua legítima história, /
mergulho no cotidiano com um alívio e uma surpresa que me renovam / a vida. /
Não quero mais fazer poemas que não se am tributo do instante, / quero tocar o
perecível e segurar entre os dedos sua respiração / oscilante. Faço poemas
transitórios e fugazes. / Os poemas eternos eu deixo para a vida eterna.
Poema Arte Poética, extraído da obra Estado de
Choque: a poesia de
Walmir Ayala (Galeria Parnaso/Massao Ohno,
1980), do poeta, teatrólogo, romancista e critico de arte Walmir
Ayala (1933-1991).
PENSAMENTO DO DIA:
[...] Cada dia, um maior número de pessoas no
mundo inteiro toma conhecimento de que a aventura do homem, em que pese a sua
aparente diversidade, é uma só, e que um maior número de pessoas assume a
responsabilidade de participar dela. A arte é uma dessas formas de
participação.
Trecho
extraído da obra Vanguarda e
subdesenvolvimento: ensaios sobre arte (Civilização Brasileira, 1984), do premiado
e aplaudidíssimo poeta, crítico de arte, tradutor e ensaísta maranhense Ferreira
Gullar. Veja mais aqui, aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte
bruta do pintor e escultor francês Jean
Dubuffet (1901-1985).
Veja mais sobre Zine Nascente Poético, John
R. Searle, Bob Dylan, Ignácio de Loyola Brandão, Antonio Machado, Fernando
Arrabal, Emir Kusturica, Nataša
Tapušković & Lil Dagover aqui.
DESTAQUE:
Pros filmes Que
horas ela volta (2015) e Mãe só há
uma (2016), da premiada roteirista e diretora de cinema e televisão Anna
Muylaert.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Reclining nude female (2015),
do artista plástico, fotógrafo e escultor estadunidense Michael Mapes.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra – Peace on Earth
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.