AH, SE ESTOU VIVO, TENHO MAIS O QUE FAZER (Imagem:
acervo LAM) - Quando pensei escrever, não sabia o quê. Sinapses, intuições, um
moonte de ideias e pensamentos rondavam no quengo e me lembrei do que minha mãe
dizia: cabeça de vento! Aí me lembrei das línguas negras que emporcalham as
praias, tornando o mais democrático dos bens públicos em paisagem insalubre pronta
para destruir quem ouse usufruir. Ninguém se toca? Nem aí. Nas paradisíacas
praias do maravilhoso litoral todo tipo de detritos: excrementos, latas,
embalagens, bonecos estropiados, eletrodomésticos, tranqueiras, lixo. Nossa,
como se fabrica lixo irresponsavelmente! Eu vejo e ninguém vê. Nem dão conta da
tragédia, tudo parece invisível: pobres, presidiários, doentes mentais,
deprimidos, shopaholics, esgotos, desperdícios. É como se me dissessem
tacitamente: se parar, não haverá mais o que fazer. Quer dizer: tem que fazer
errado para ter o que consertar tudo pra não morrer de tédio. Minha nossa! Como
os amigos que nunca mais vi e que sumiram ou morreram, levaram de mim o apreço
e o afeto, me deixando sem ter com quem discordar ou recorrer. Isso quase destrói
o que penso de um único mundo, em que não haja distinção do eu pro outro: somos
um. Pra mim, o mundo é quase o quintal lá de casa, da esquerda pra direita ou
vice-versa, pra cima ou pra baixo, ou contrário, ou mesmo nada do que eu possa
imaginar além do perto, longe, cedo ou tarde, tempo ou espaço. Sei que existe o
que não consigo perceber, a música está em toda parte e lugar. Eu sinto além
dos equívocos disso ou daquilo, porque isso pode ser aquilo, diferentemente do
que havíamos aprendido desde criancinha, na escola, na vida. Antes tudo
demorava séculos; agora tudo é instantâneo. A qualquer momento algo
desconhecido emergirá para nosso espanto. É só ter a ciência de que alguém está
à espreita e logo eureca: nova descoberta pra nossa admiração canhestra e
incrédula. Tudo está por se descobrir, para ser descoberto, para ser revelado. Tudo
é possível. Por isso, quem tem ouvidos, ouça; que tem olhos, veja; sinta o
cheiro e tenha o poder de distinguí-lo da catinga – olores, odores, quanta
porcaria, quantos milagres; sinta o gosto ao paladar, o amargo, o doce, o
insosso, o salgado, sabores; afinal, você está vivo e viva! © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
Imagem: Rua
das erradias (1956), do pintor, escultor e gravurista Lasar Segall (1891-1957). Veja aqui,
aqui e aqui.
MISTÉRIOS
Um fogo queimou dentro de mim
Que não tem mais jeito de se apagar
Nem mesmo com toda a água do mar
Preciso aprender os mistérios do fogo
Pra te incendiar
Um rio passou dentro de mim
Que eu não tive jeito de atravessar
Preciso um navio pra me levar
Preciso aprender os mistérios do rio
Pra te navegar
Vida breve
Natureza
Quem mandou, coração
Um vento bateu dentro de mim
Que eu não tive jeito de segurar
A vida passou pra me carregar
Preciso aprender os mistérios do mundo
Pra te ensinar.
Mistérios, música
da cantora, compositora e instrumentista Joyce
& Maurício Maestro. Veja
mais aqui.
PESQUISA:
[...] o teatro é,
como sempre foi, uma aventura surpreendente; e por mais desnorteantes que
possam ser as nossas experiências atuais, elas conseguem fazer rivalizar o
ótimo com o péssimo; e que, afinal, como sempre, tudo se suspende naquele
momento de expectativa em que se ouve as três marteladas anunciadoras do início
do espetáculo.
Trecho do livro Teatro: a cena dividida (L&PM,
1983), do filósofo, professor e crítico de teatro brasileiro Gerd Bornheim
(1929-2002). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
LEITURA
O entendimento de que à poesia competiria a vida, é falso. (Porquanto a
poesia vive onde não é possível viver.) Habita-a o silêncio apenas da
inabitável solidão. (A da palavra – não a do homem povoado de pé e de perdas.)
Era uma terra selvagem: nela não se ergueu casa alguma. (Nenhuma família a
habitou.) Contempla – estéril – meu coração.
Poema Biópsia (Funil do ser – canções mínimas, 1995), recolhido da Antologia Poética (Imago, 1998), do
poeta maranhense Nauro Machado (1935-2015).
Veja mais aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA:
Todas as famílias felizes se parecem, mas cada família infeliz é infeliz
à sua maneira.
IMAGEM DO DIA: LUALMALUZ – SEMANA LUCIAH
LOPEZ
Sou a sua tentação Entre as sedas e os fios de ouro, vermelhos os lábios
que te seduzem nas curvas, lassidão, lascívia, languidez na embriaguez do teu
beijo caliente a morir en mi boca...
Enquanto teus olhos me derretem na luz das lamparinas, menina que sou, enquanto
te amo me dou em cada gesto das mãos que dançam e alcançam alamandas e alecrim.
Na fresta da porta, um olhar e na dobra das pernas, apenas o lençol...
Tentação, poema/imagem/foto da escritora, artista visual e
blogueira Luciah Lopez. Veja mais aqui e aqui.
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Mortensen, Laurentino Gomes & José Aloise Bahia aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Arte do
pintor Patrick Conklin.
CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.