MIGRANTE ENTRE EQUÍVOCOS - Tudo
passa: a vida passa em cada passo do caminho, vou passarinho professando a
minha fé. E passando no trem da vida eu vou migrante entre equívocos e
prestando atenção a tudo. Nem tudo vejo, cenas tão rápidas, tudo vai
freneticamente rápido e eu espio o movimento, apreendendo o instante. Sei: se eu
for na onda, posso me perder. Já estou perdido desde a primeira esquina,
estradas, curvas, surpresas. Tudo está perdido. Não haveria de não ser, nem de
outro jeito. Não importa o vagão que esteja, nunca se está sempre no controle.
Vez por outra, sai do planejado. Percalços, vicissitudes. Voo baixo, pra não
espantar nada nem ninguém. E ao se perder, nada será demais. É só aprender do
labirinto até acertar, ou não. O ideal é poder ir e voltar. Cônscio dos meus
próprios erros, nunca é tão tarde, corrijo o mais que posso. Sei que todas as
intenções tornam a vida bastante insuportável. Entre a culpa e o dolo não há
alternativa: ou vai, ou racha. Amálgamas: se não se sabe montar o
quebra-cabeças, não há por que viver. Há de ver no retrovisor que o que passou
pode ser tempo perdido, ou nunca mais ter esperanças. Pode ser que lá trás
esteja o xis da questão. Nunca será tarde demais pra rever. Se me fosse dado o
poder de bater o martelo, usaria o outro lado da bigorna, sempre a abertura
para novas circunstâncias e alternativas. Se só há um caminho, prefiro outro
qualquer. Atalhos nunca me chamaram atenção. Voltar, por exemplo, pode ser bem
melhor. Antes isso que seguir a unanimidade. Parar e voltar pode mostrar onde
errei pra cair numa única saída. Posso até achar o que perdi ou mesmo sentir o
que havia passado batido. Eu sei do futuro por ontem; faço hoje diferente para
não saber amanhã. Faço o melhor agora sem que me esqueça de sempre refazer. Nada
está pronto, tudo está por fazer e refazer. Se é de lei, cumpra-se; mesmo
sabendo pra quê tanta lei, meu Deus, se apesar, da compulsoriedade, jamais será
cumprida. Outra lei revogará a anterior e o que passou já será invalidada, ou
revalidada conforme o necessário ou o joguete de quem manda. Diante de escusos
interesses, lei alguma tem valor: o reino dos casuísmos. Com um monte de leis,
nada se efetiva, só engodo, embustes, equívocos. Pelo menos pra mim quanto mais
tento fazer do modo mais fácil, mais aumenta a dificuldade. Nada é tão fácil
que não dê um mínimo de trabalho. Nada é de brincadeira. Poder não se levar tão
é sério é o melhor, rir é um santo remédio. Afinal, tudo está perdido, a menos
que não se saiba da tragédia ou só faça graça. Já dizia Schoenberg: esta Terra
é um vale de lágrimas, não lugar de entretenimento. Acredito, como ele, que a
verdade existe e quero saber como é que é. Por enquanto, se tudo é difícil,
reaprendo com cada ida e vinda. A vida não é so pra viver: tudo está vivo e tem
uma razão de ser. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
Imagem: a arte do pintor estadunidense James McNeill Whistler (1832-1903).
QUEM
SABERIA PERDER
Desde
pequeno eu estou por aqui
Na mesma
vida que sempre aprendi
Bicho de
rio e de mato, peixe criado em lagoa
Voa
tristeza, voa vento, voa tempo voa
Um cavaleiro
na estrada sem fim
O
contador de uma historia de mim
Vivo do
que faz meu braço
Meu
braço faz o que a terra manda
Voa
tristeza, voa vento, voa tempo voa
Mas qual
de nós não carrega no peito
Um
segredo de amor escondido
Diga
quem nunca levanta de noite
Querendo
de volta o perdido Oooô ooô quem saberia perder
Curtindo a interpretação de Ivan Lins para a música de Sá & Guarabira.
PESQUISA:
Toda
história da sociedade tem por linha de combate o compromisso, as diversas
conciliações, lentamente conquistadas e rapidamente perdidas, entre a tendência
de fusionar com nosso grupo social e a tendência a dissociar-se dele
individualmente.
Trecho recolhido de leituras das obras Tragédie de la culture (Rivages-Ponche,
1988) e Diagnóstico de la tragédia de la
cultura moderna (Espuela Plata, 2012), do
sociólogo e professor alemão Georg Simmel (1858-1918).
LEITURA
[...] Continuou, lentamente. Depois, parou. No
quadrado de luz emoldurado pela porta, via-se a sombra da cabeça de um homem. Ela deu um salto,
pronta para correr. Mas a sombra não tinha chapéu, de modo que ela se virou e,
na ponta dos pés, foi espiar à porta. Viu um homem sentado numa cadeira, ao
sol. A nuca estava voltada para ela. Cabeça calva, com uma franja de cabelos
brancos. Mãos cruzadas no castão de grosseira bengala. Temple entrou no
alpendre dos fundos [...].
Trecho da obra Santuário
(1931), do escritor estadunidense e ganhador do prêmio Nobel de Literatura em
1949, William Faulkner (1897-1962),
contando a história do estupro e sequestro da bela Temple Drake. Por conta
disso, foi adaptado para diversas versões no cinema, entre elas, a de Tony
Richardson, em 1961, estrelado pela belíssima atriz esrtadunidense Lee Ann Remick (1935-1991). Veja mais
aqui.
PENSAMENTO DO DIA:
[...] A cibercultura é um exemplo forte dessa vida
social que se quer presente e que tentaromper e desorganizar o deserto
racional, objetivo e frio da tecnologia moderna. É necessário, assim, estarmos
atentos para não sucumbir a um academicismo pessimista que isola ou a um
otimismo histérico que só vê maravilhas.
Trecho
do livro Cibercultura: tecnologia e vida
social na cultura contemporânea (Sulina, 2007), do sociólogo André Lemos. Veja mais aqui, aqui e
aqui.
IMAGEM DO DIA:
A arte
do artista visual Yosuke Onishi.
Veja mais sobre Cordel Tataritaritatá, A
Primavera de Ginsberg, Milton Santos, Marcel Proust, Aristófanes, Cleopatra, Véronique Gens, Rouben
Mamoulian, Stark Naked Orchestra,
Camille Pissarro, Elizabeth Taylor, Howard Chandler Christy & Clevane
Pessoa de Araújo Lopes aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: Lady Justice, by Lanoo.
CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Lei & Pizza:
enquanto no mundo é Dia de Lei, no
Brasil tudo termina em Pizza!
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.