A MÃE MIGRANTE DE DOROTHEA LANGE (1895-1965) – Acompanhei sua vida desde a infância de Hoboken,
a datilógrafa na Califórnia, as entrevistas com pessoas encontradas pelas
estradas, toda trajetória percorrida entre os camponeses da Grande Depressão, na
Farm Security Administration, até mesmo a Migrant Mother, a descendente de Cherokee em Nipomo,
a Florence Owens Thompson e suas filhas e ouvi: Eu vi e me aproximei da mãe
faminta e desesperada, como se atraída por um ímã. Não me lembro como lhe
expliquei minha presença ou minha câmera, mas lembro que ela não me fez
perguntas. Fiz cinco exposições, trabalhando de perto e mais perto da mesma
direção. Não perguntei seu nome ou sua história. Ela me disse sua idade, que
tinha trinta e dois anos. Ela disse que eles viviam de vegetais congelados dos
campos circundantes, e pássaros que as crianças matavam. Ela tinha acabado de
vender os pneus de seu carro para comprar comida. Lá ela se sentou naquela
barraca com os filhos amontoados ao seu redor, e parecia saber que minhas fotos
poderiam ajudá-la, então ela me ajudou. Uma espécie de igualdade sobre isso...
Era você pelas ruas de San Francisco e a captura da cena, a superlotação das
escolas, o esgotamento das moradias disponíveis, as tensões raciais e a discriminação.
Foi na Segunda Grande Guerra quando o flagra dos excluídos e aprisionados nipo-americanos
foram enviados para campos de internamento, desempregados e moradores de rua, as
comunidades agrárias e os rituais da vida rural em contraste com as áreas
urbanas e as más intenções políticas. Assim também na seca do Dust Bowl, n’As Três
cidades mórmons, n’As Pessoas do país irlandês, na evacuação e inundação de
Berryessa Valley para construção da represa de Monticello. Conectada com o
mundo no êxodo estadunidense: registro de erosão humana - a preocupação
central com a humanidade: os desafortunados, a devastação, as condições de
trabalho, as desigualdades, famílias deslocadas, migrantes, esquecidos, a
catástrofe econômica e ambiental – tudo registrado nas anotações de campo, nas letras
de músicas folclóricas, nos trechos de jornais, nas observações sociológicas e
citações de meeiros: Preciso ler todas as minhas anotações de viagem e
percorrer minhas acumulações para extrair delas as legendas estenderiam,
sustentariam, iluminariam e explicariam a fotografia... Enfim, com a Morte
de um vale e sua última frase com as extraordinárias realizações: Todas
as fotografias – não apenas aquelas que são chamadas de ‘documentais’, e toda
fotografia realmente é documental e pertence a algum lugar – têm um lugar na
história... (texto baseado na obra Espírito
inquieto: A vida e trabalho de Dorothea Lange (Scholastic, 2002), de Elizabeth
Partridge. Veja mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - Todos os átomos de nossos corpos serão surpreendidos no espaço na desintegração do sistema solar, para viver para sempre como massa ou energia. Foi o que devemos ensinar nossos filhos, não contos de fadas sobre anjos e vendo vovó no céu. Vamos ensinar nossos filhos de uma idade muito jovem sobre a história do universo e sua incrível riqueza e beleza. Já é muito mais glorioso e incrível - e até mesmo reconfortante - do que qualquer coisa oferecida por qualquer escritura ou conceito de Deus que eu conheço. Há um reconhecimento poderoso que se agita dentro de nós quando vemos nosso pequeno planeta do oceano azul nos céus de outros mundos. Em um instante, podemos ver o quão pequeno, frágil e sozinho todos nós realmente somos. Nós, humanos, embora perturbados e guerreiros, somos também os sonhos, pensadores e exploradores que habitam um planeta dolorosamente bonito, anseio pelo sublime, e capazes do magnífico. A missão pela verdade, por si só, é uma história que está cheia de insights. O mesmo espiritual Cumprimento de que as pessoas encontram na religião podem ser encontradas na ciência vindo a saber, se você quiser, a mente de Deus. Pensamento da astrônoma e acadêmica estadunidense Carolyn Porco, conhecida por seu trabalho sobre a exploração do sistema solar.
ALGUÉM FALOU: Uma vez que perguntamos o que é uma mulher, as coisas imediatamente se
tornam mais complicadas filosoficamente… Na verdade, estou bastante disposta a
ter uma discussão com feministas críticas de gênero sobre essas questões. Eu
adoraria uma conversa genuína para determinar se a construção de pontes é
possível. Afinal, mulheres trans e não trans enfrentam a opressão. Às vezes as
opressões são as mesmas e às vezes são diferentes. Mas esta é apenas a
“natureza da besta”… Pensamento da professora e filósofa estadunidense
Talia Mae Bettcher.
LITERATURA DE CORDEL – [...] Se a literatura
de cordel traz uma vivência peculiar de determinados grupos sociais, se traz questões
humanas que interessam não apenas ao grupo a que esteve ligado em seu
nascedouro, certamente ela poderá ter um significado para outros leitores, uma
vez que apresenta uma experiência humana de pessoas simples, mas nem por isso
desprovidas de vivências interiores, de percepção muitas vezes aguda sobre a
condição humana, sobre determinadas instituições ou sobre fenômenos da natureza [...]. Trecho extraído da obra O que ler?
Por quê? A literatura e seu ensino. Memórias da Borborema 4 – Discutindo a
literatura e seu ensino (Parábola, 2013), do professor José Hélder Pinheiro Alves, que também na obra O cordel no cotidiano escolar (Cortez. 2012), em parceria com a professora
Ana Cristina Marinho, assinala que: [...] Acreditamos que a literatura de cordel ou de
folhetos deve ter um espaço na escola, nos níveis fundamental e médio, levando
em conta as especificidades desse tipo de produção artística. Considerá-lo apenas
como uma ferramenta que pode contribuir com a assimilação de conteúdos
disseminados nas mais variadas disciplinas (história, geografia, matemática,
língua portuguesa) não nos parece uma atitude que contribua para a construção
de uma significativa experiência de leitura de folhetos [...] um procedimento metodológico que oriente o
trabalho com o cordel terá que favorecer o diálogo com a cultura da qual ele
emana e, ao mesmo tempo, uma experiência entre professores, alunos e demais
participantes do processo. [...] No Brasil, Cordel é sinônimo de
poesia popular em verso. As histórias de batalhas, amores, sofrimentos, crimes,
fatos políticos e sociais do país e do mundo, as famosas disputas entre
cantadores, fazem parte de diversos tipos de textos em versos denominados
Literatura de Cordel. Como toda produção cultural, o Cordel vive períodos de
fartura e de escassez. Hoje existem poetas populares espalhados por todo país,
vivendo em diferentes situações, compartilhando experiências distintas. [...]
São inúmeros os cordéis que aceitam com facilidade a realização musical. Violeiros
cantam e recitam seus poemas. Folhetos escritos para serem lidos ou recitados
receberam melodia e em qualquer das situações revelam-nos sua beleza. [...]
Experiências culturais fortes e determinantes de grandes obras artísticas
como o Cordel – seu valor não está apenas nisto – estão praticamente esquecidas
e a escola pode ser um espaço de divulgação destas experiências. Sobretudo mostrando
o que nelas há de vivo, de fervescente, como ela vem sobrevivendo e
adaptando-se aos novos contextos socioculturais. Como elas têm resistindo em
meio ao rolo compressor da cultura de massa [...]. Veja mais Literatura de
Cordel na Escola aqui, aqui, aqui e aqui.
LITERATURA – [...]
Literatura
não é um corpo ou uma sequência de obras, nem mesmo um setor de comércio ou de
ensino, mas o grafo complexo das pegadas de uma prática: a prática de escrever.
Nela viso portanto, essencialmente o texto, isto é, ao tecido dos significantes
que constitui a obra, porque o texto é o próprio aflorar da língua, e porque é
no interior da língua que a língua deve ser combatida, desviada: não pela
mensagem de que ela é o instrumento, mas pelo jogo das palavras de que ela é o
teatro [...]. Trecho extraído da obra Crítica e Verdade (Perspectiva, 2013), do
escritor, sociólogo, filósofo, semiólogo e crítico literário francês, Roland
Barthes (1915-1980). Veja mais aqui e aqui.
ARCO-ÍRIS DA GRAVIDADE – [...] Uma geração atrás, o número cada vez menor de nascimentos de crianças
vivas entre os herero era um assunto de grande interesse para os médicos de
toda a África meridional. Os brancos preocupavam-se, de tal modo como se o gado
estivesse atacado de peste bovina. Uma coisa tolerada, ver a população
subjugada procurou aquele jeito anos após ano. O que é uma colônia sem seus
nativos de pele escura? Que graça tem, se todos eles vão morrer? Apenas uma
ampla extensão de deserto, sem criados, sem trabalhadores rurais, sem operários
para a construção civil e as minas - peraí, um minuto, é ele sim, Karl Marx,
aquele velho racista manhoso, escapulindo de fininho, com os dentes trincados,
sobrancelhas arqueadas, tentando fazer de conta que é só uma questão de
Mão-de-Obra Barata e Mercados Internacionais… Ah, não. Uma colônia é muito mais
que isso. A colônia é a latrina da alma européia, onde o sujeito pode baixar as
calças e relaxar, gozando o cheiro de sua própria merda. Onde ele pode agarrar
sua presa esguia rugindo com todas as forças sempre que lhe der na veneta, e
beber-lhe o sangue com prazer incontido. Não é? Onde ele pode chafurdar, em
pleno cio, e entregar-se a uma maciez, uma escuridão receptiva de braços e
pernas, cabelos tão encarapinhados quanto os pêlos de sua própria genitália
complicada. Onde a papoula, o cânhamo e a coca cultivaram luxuriantes,
verdesjantes, e não com a cores e o estilo da morte, como a cravagem e o agárico,
as pragas e os fungos nativos da Europa. A Europa cristã sempre foi morte,
Karl, morte e repressão. Lá fora, nas colônias, pode-se viver a vida,
dedicar-se à vida e à sensualidade em todas as suas formas, sem prejudicar em
nada a Metrópole, nada que suje aquelas catedrais, estátuas de mármore branco,
pensamentos nobres… As notícias nunca chegam lá. Os silêncios aqui são tão
amplos que absorvem todos os comportamentos, por mais sujos e animalescos que
são… [...] Uma vez que eles fazem você fazer as
perguntas erradas. Eles não precisam se preocupar com as respostas. [...] Não havia diferença entre o comportamento de um deus e as
operações do puro acaso. [...]. Trechos extraídos da obra Gravity's
Rainbow (Penguin, 2006), do escritor estadunidense Thomas
Pynchon. Veja mais aqui.
ORAÇÃO AO DEUS AQUI (NÃO AO DE LÁ) - da fragilidade das minhas asas \ da
temperança da minha alma \ e a força da minha fé\ Eu invoco o seu nome, meu
Deus \ Deus dos povos oprimidos \ doente e com fome\ aponte seus olhos para os
ímpios\ que nos humilham e gaseiam\ quando nós reivindicarmos\ o fruto do nosso
trabalho\ quando perguntamos\ onde está o nosso dinheiro\ Nosso Deus, dá-nos a
tua misericórdia \ destruir pés de barro\ de carriças impostoras\ Deixe o verde
crescer\ -de esperança\ o do seu manto na Terra\ - cinza esfarrapado \ cimento
manchado\ e pontes irregulares- \ o verde jade da plumagem dos pássaros\ mas
não o verde do caçador\ agachado como um robocop de lata\ sempre pronto para
esticar o focinho\ morder quem o alimenta\ sempre pronto para estender sua
mãozinha\ para levar tudo o que está debaixo da mesa\ tenha pena do seu povo\ -
meu Deus \ escute-me, eu te imploro \ não diga mais\ Que o silêncio está com
você\ que ausência você é. Poema da escritora
hondurenha Lety Elvir Lazo, autora de obra como Luna que no cesa
(1997), Mujer entre perro y lobo (2001), Sublimes y perversos (Cuentos- 2005) e
Honduras: Golpe y Pluma.
Antología de poesía resistente escrita por mujeres (2009-2013).