A arte do fotógrafo estadunidense Ralph Gibson. Veja mais abaixo.
A arte do
fotógrafo estadunidense Ralph Gibson.
Veja mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - A
confiança, de níveis e tipos variados, está na base de muitas decisões
cotidianas que tomamos na orientação de nossas atividades. A natureza
especializada da capacidade moderna contribuí diretamente para o caráter
errático e descontrolado da modernidade. Pensamento do sociólogo
britânico Anthony Giddens. Veja mais
aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: A religião diz respeito a toda a humanidade; filosofia distinta dela,
apenas daqueles que estão livres dos assuntos do mundo ... e de fato os
prazeres desta vida são tão insignificantes e transitórios, e seus cuidados são
tantos e amargos, que eu acho que alguém deve estar muito infeliz e estúpido, não buscar
satisfação em outra coisa, se alguém acredita que ela pode ser encontrada. Trecho da Carta
1040 para Locke (1688- De Beer, 1976),
da filósofa inglesa Damaris Masham
(1659-1708), autora das obras Occasional Thoughts in
Reference to a Vertuous or Christian life (A. and J. Churchil, 1705) e Leibniz’s ‘New System’ and Associated Contemporary texts (Claredon, 1997). Veja mais aqui.
A VIDA, REPRESENTAÇÕES & EDUCAÇÃO – […] a história,
compreendida como o movimento pelo qual as pessoas criam os seus ambientes e,
portanto, a si mesmas, não é mais do que uma continuação do processo evolucionário
[...] o
conhecimento não se processa “dentro de um sacrário mental interior, protegido
das múltiplas esferas da vida prática, mas em um mundo real de pessoas, objetos
e relacionamentos [...]. Trechos extraídos de Da transmissão de representações à educação da atenção (Educação,
2010), do antropólogo britânico Tim Ingold. Já no ensaio Trazendo
as coisas de volta à vida: emaranhados criativos num mundo de materiais (Horizontes
Antropológicos, 2012), ele expressa que: [...] É claro, assim como a aranha,
as vidas das coisas geralmente se estendem ao longo não de uma mas de múltiplas
linhas, enredadas no centro mas deixando para trás inúmeras “pontas soltas” nas
periferias. [...] o
crânio é vazado, e que é a mente que vaza através dele! Seja como for, o que
busquei aqui foi voltar à declaração de Bateson e levá-la um passo à frente.
Quero sugerir que não é apenas a mente que vaza, mas as coisas de modo geral. E
elas o fazem ao longo dos caminhos que seguimos à medida que traçamos os fl
uxos de materiais do ASO. [...], considerando o ASO como ambiente
sem objetos. Já no ensaio Earth, sky, wind and weather (Journal of the Royal
Anthropological Institute - N.S., 2007), ele expressa que: [...] as nuvens não é ver a mobília do céu, mas
vislumbrar o céu-em-formação, nunca o mesmo entre um momento e outro.
Novamente, nuvens não são objetos, e sim coisas. [...]. Por fim, no seu
livro Estar vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição (Vozes, 2015),
ele assinala que estar vivo significa: [...] se mover, conhecer e descrever não são operações separadas que se
seguem uma as outras em série, mas facetas paralelas do mesmo processo – o da
vida mesma [...] aprenderíamos mais
se nos envolvêssemos com os materiais, seguindo o que acontece com eles
enquanto circulam, misturam-se uns aos outros, solidificando-se e se
dissolvendo, formando coisas. [...] cada
ser está destinado a combinar vento, chuva, sol e terra na continuação de sua
própria existência [...] Habitar o mundo é se juntar ao
processo de formação. E o mundo que se abre aos habitantes é fundamentalmente
um ambiente sem objetos – numa
palavra, ASO. [...] As
coisas estão vivas, como já notei, porque elas vazam. A vida no ASO não é contida; ela é inerente às próprias circulações
de materiais que continuamente dão origem à forma das coisas ainda que elas
anunciem sua dissolução. Com efeito, tomar a vida de coisas pela agência de
objetos é realizar uma dupla redução: de coisas a objetos, e de vida a agência.
A fonte dessa lógica redutivista é, acredito, o modelo hilemórfico. Quero
sugerir que o ASO não é um mundo material mas um mundo de materiais, de matéria
em fluxo. Seguir esses materiais é entrar num mundo, por assim dizer, em
fervura constante. No lugar de compará-lo a um grande museu ou loja de
departamentos nos quais os objetos encontram-se dispostos de acordo com seus
atributos ou origem, seria melhor imaginar o mundo como uma grande cozinha, bem
abastecida com ingredientes de todo tipo. Como os praticantes no ASO, o que o
cozinheiro, o alquimista e o pintor fazem não é impor forma à matéria, mas
reunir materiais diversos e combinar e redirecionar seu fluxo tentando
antecipar aquilo que irá emergir. Como parte da fábrica do ASO, as cerâmicas
não são mais estáveis que corpos; são constituídas e mantidas no lugar dentro
de fluxos de materiais. Deixados ao léu, os materiais fogem do controle. Potes
se quebram, corpos desintegram. Esforço e vigilância são necessários para
manter as coisas intactas, sejam elas potes ou pessoas. O mesmo vale para o
jardineiro, que deve estar sempre vigilante para impedir que o jardim se
transforme numa mata. A coisa, todavia, não é só um fio, mas um certo agregar de fi os da vida. É nesses
fluxos e contrafluxos, serpenteando através ou entre, sem começo nem fi m – e
não enquanto entidades conectadas com limites interiores ou exteriores – que as
coisas são evidenciadas no mundo do ASO. Quero sugerir que não é apenas a mente
que vaza, mas as coisas de modo geral. E elas o fazem ao longo dos caminhos que
seguimos à medida que traçamos os fluxos de materiais do ASO. Veja mais
aqui.
NEUROMANCER – [...] Hoje ele
dormia nos caixões mais baratos, os que ficavam perto do porto, embaixo das
lâmpadas halógenas de quartzo que iluminavam as docas a noite inteira como
vastos palcos; onde você não conseguia ver as luzes de Tóquio por causa do
brilho do céu de televisão […]. Na
época, operava num barato quase permanente de adrenalina, subproduto da
juventude e da proficiência, conectado a um deck de ciberespaço customizado que
projetava sua consciência desincorporada na alucinação consensual que era a
matrix. Ladrão que trabalhava para outros ladrões, mais ricos, empregadores que
forneciam software exótico necessário para penetrar as muralhas brilhantes de sistemas
corporativos, abrindo janelas para campos de dados. [...] Night City era como uma experiência
malsucedida de darwinismo social, projetada por um pesquisador entediado que
não tirava o dedo do botão fast-foward. Pare de assaltar e você afunda sem deixar
rastros, mas mova-se um pouco rápido demais e você quebra a frágil tensão de
superfície do mercado negro; de qualquer uma das duas maneiras, você já era, e
não sobra nada seu a não ser uma vaga lembrança na mente de uma figura tipo
Ratz, embora o coração, os pulmões e os rins possam sobreviver a serviço de
algum estranho que neoienes para pagar os tanques das clínicas. [...] Julius Deane tinha cento e trinta e cinco
anos de díade. Seu metabolismo era constantemente alterado por uma fortuna
semanal em soros e hormônios. Sua primeira linha de defesa contra o
envelhecimento era uma peregrinação anual a Tóquio onde cirurgiões genéticos
ressetavam o código de seu DNA, um procedimento que não era disponível em Chiba.
[...] Meu nome é Molly. Estou coletando
você para o homem para quem trabalho. Ele só quer falar com você, só isso.
Ninguém quer te machucar. - Que bom. - Só que às vezes eu machuco as pessoas,
Case. Acho que é o meu hardware. – Ela vestia jeans de couro preto justíssimos
e uma jaqueta preta grande feita de algum material fosco que parecia absorver a
luz – Se abaixar essa arma de dardos, você vai se comportar, Case? Você parece
do tipo que gosta de se arriscar estupidamente. - Epa, sou gente boa. Sou o
maior mané, sem problema. - Isso é ótimo, cara. - A pistola de dardos
desapareceu dentro da jaqueta preta. _ Porque se você tentar foder comigo, vai
fazer uma das maiores merdas de toda a sua vida. [...] – Nós construímos um modelo detalhado. Fizemos uma extrapolação para
cada um dos seus nicks e rodamos um perfil superficial em alguns softwares
militares. Você é suicida, Case. O modelo dá a você um mês no máximo. E nossa
projeção médica diz que vai precisar de um pâncreas novo daqui a um ano. […] – O que você diria se eu lhe dissesse que poderíamos corrigir seu dano
neural, Case? [...]. Ele fechou os
olhos. Encontrou a face em relevo do botão de Power. E, na escuridão iluminada
de sangue atrás de seus olhos, fosfenos prateados queimando na borda do espaço,
imagens hipnagógicas se alternando rapidamente como filmes compilados a partir
de frames aleatórios. Símbolos, figuras, rostos, uma mandala fragmentada de
informação visual. [...]. Por favor,
ele rezou, agora… Um disco cinza, da cor do céu de Chiba. Agora… O disco
começou a girar, tornando-se uma esfera de um cinza mais claro. Expandindo… E
flui, floresceu para ele, um truque de origami de neon fluido, o desdobrar de
sua casa sem distância, seu país, um tabuleiro de xadrez 3D transparente se
estendendo até o infinito. […] E, em
algum lugar, ele estava rindo, em um loft pintado de branco, dedos distantes
acariciando o deck, lágrimas de libertação correndo pelo rosto. [...] As costas da jaqueta do homem caído incharam
e explodiram: o sangue espirrou na parede e na porta. Um par de braços
impossivelmente compridos, de cor rosa-acinzentado, com tendões parecidos com
cordas, se flexionou no clarão. A coisa parecia ter se levantado sozinha do
calçamento, atravessando a ruína inerte e ensanguentada que fora Riviera.
[...] Zion havia sido fundada por cinco
operários que se recusaram a voltar, que deram suas costas ao poço
gravitacional e começaram a construir. Sofreram perda de cálcio e encolhimento
cardíaco antes que a gravidade rotacional fosse instalada no toroide central da
colônia. Visto da bolha do táxi, o casco improvisado de Zion lembrou Case do
patchwork de barracos de Istambul, as placas irregulares e descoloridas
rabiscadas a laser com símbolos rastafári e as iniciais dos soldadores.
[...] – Não fode. Você tem uns amiguinhos
classudos, hein? – Ele levantou uma sobrancelha. Colocou o braço ao redor dela
e a mão no quadril. – Como é que você fez para conhecer esses aristos, Cathy?
Você é algum tipo de riquinha enrustida? Você e Bruce são herdeiros secretos de
um crédito antigo dos bons? Hein? […]. Trechos extraídos da obra Neuromancer (Aleph, 1991), do escritor e
roteirista américo-canadense William Gibson. Veja mais aqui.
OS AMANTES - Caules. Solidões / Ligeiras.
Varandas / Esvoaçantes? – Montes, / Bosques, aves , ares. / Tanto, tanto espaço
/ Cingido de presença / Móvel de planetas / Os abraços teimosos. / Gozos,
massas, gozos, / Massas, plenitude, / Luz atônita / E vermelhos absortos! / E o
dia? A lisura / Do vidro. Mudo, / O quarto afunda-se, / Varandas em branco. / Só
, amor, tu mesmo, / Túmulo. Nada, nada, / Túmulo. Nada, nada, / Mas... Tu
comigo? Poema do poeta e
crítico literário espanhol Jorge Guillén
(1893—1984).