Art by Raffaele Marinetti
LITERÓTICA – (Imagem: art by Raffaele Marinetti) I - BEM NA HORA: O meio-dia era
ela. E eu com insolação para morrer afogado no seu mar. Era quando, bem na
hora, meio dia em ponto, ela me afagava entre os seus domínios. E eu menino
peralta me valia de suas correntes oceânicas para viver além de suas
profundidades. Era o seu corpo de mar e as suas marés me embalando vida adentro
com todos os brinquedos de seus tesouros. Até que me fizesse lua e ficasse
orbitando ao ser redor, walkaround, virando comensal jubarte caçando seus
cardumes de beijos, suas formas totais de encantos e carinhos que me davam a
sua baía para minha invasão, surfando por suas ondas na minha satisfação
frenética de recolher todos as suas mínimas expressões, a ponto de vasculhar
sua lama e me relar no seu lodo e curtir sua imundície e saborear a sua
deletéria emanação num banquete ginofágico que se fazia a terra onde vivo e sou
predador, se fazia o planeta que me abriga, a nave que me leva inimputável, o
porto de todos os meus abrigos. E dentro dela sou barco errante e teimoso a
navegar num cruzeiro hedonista a brincar de luas e marés, marés de lua quando
crescente eu estou rijo no cio para escalpelá-la com minhas sandices
voluptuosas. E na lua cheia ela é madura no ponto para meu regozijo pleno. E na
lua nova ela goza para me fazer o maior entre os mortais. E na minguante ela me
recolhe letárgico no seio de todas as revigorantes paixões avassaladoras. E ela
maré alta, eu rio Amazonas, o gozo em pororoca. – II - ENTREGA TOTAL: Ao seu encontro,
o dia era tarde, pleno meio dia. Foi quando a minha nudez reluziu, todos os
meus segredos – ou quase todos – haviam se revelados. Não menti, não poupei um
só mínimo detalhe de tudo que transitava na minha vida. Desde os moinhos de
ventos da minha inútil e quixotesca existência, dos muros e paredes levadas no
peito, dos naufrágios e perfídias, da solidão e decepções, das guerras
perdidas, das idas arrastando as malas, dos enterros voltando, das topadas e tranqueiras,
das doidices e frustrações, dos arames farpados entre os dentes e a lágrima
tolhida no peito. Nada ficou incólume de mim na vida, tudo em pratos limpos.
Tudo isso porque amei desde o primeiro segundo aquela menina azul silente,
tímida e inteiramente minha com seus olhos de Aleph e sua alma de rio
cristalino para o meu deleite. Não precisei de bote ou remo, mergulhei suas
correntezas, nadei sua superfície, boiei as profundezas de suas margens até
chegar na terceira via onde o limite era o meu fôlego. Ela era a fonte e é meu
elixir: boca que me seduz menino manhoso, seios de pomar delicioso, ventre de
todas as primaveras mais fragrantes e embriagadoras, braços de ninho acolhedor,
corpo de rio que me batiza e faz viver. Timbungando noitedia nela, aprendi o
dia, o amor e a felicidade. E sua corredeira dava sempre no mais absoluto
prazer que me fazia renascido a cada instante. E o prazer era repetidamente
fascinante como a água límpida lavando a alma no mormaço da vida para quem se
via recolhido das cinzas. E a vida era o seu corpo nu que me deu azo, riso e
esperança. Hoje me dá muito mais: o prazer de ser vivo. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
Art by Raffaele Marinetti
DITOS & DESDITOS - O
romance é o gênero literário que representa o indivíduo na ‘prosa do mundo’; o
sujeito sente-se inicialmente estrangeiro na vida, cindido entre sua nostálgica
interioridade e uma realidade exterior indiferente e desvinculada. Pensamento do escritor germanista italiano Claudio Magris.
O SABER & NÃO
SABER – [...] Tal será então a vantagem: saber, mas também pensar o não saber enquanto
se aflige com restos de saber. Dialetizar. Para além do próprio saber,
envolver-se na prova paradoxal de não saber (o que acabaria exatamente por
negá-lo) mas pensar o elemento do não saber que nos deslumbra cada vez que
pousamos nosso olhar sobre uma imagem artística [...] Não se trata mais de pensar um perímetro,
uma vedação.... mas se trata de experimentar uma abertura constitutiva e
central: lá onde a evidência , despedaçando-se, se evapora e se obscurece [...].
Trechos extraídos da obra Devant l ́Image
(Minuit, 1990) do filósofo, historiador, crítico de arte e professor francês Georges
Didi-Huberman. Veja mais aqui.
SOFRIMENTO & DESESPERO – [...]
Existe algum
critério objetivo de avaliação do sofrimento? Quem pode afirmar que meu vizinho
sofre mais que eu, ou Jesus sofreu mais que todos nós? Não há medida objetiva
para o sofrimento, pois ele não tem como ser medido por uma excitação exterior
ou indisposição local do organismo, mas pelo modo como é percebido e refletido
na consciência. Ora, desse ponto de vista, qualquer hierarquização se torna
impossível. [...] Trecho extraído da obra Nos cumes do desespero (Hedra,
2008), do filósofo
romeno Emil Cioran (1911-1995). Veja mais aqui.
TRÊS POEMAS ERÓTICOS – STRIPTEASE - Anoiteço
árida, / adormeço úmida, / no emergir dos pêlos, / no arrepio dos passos, / quando
a noite tece em nós / a opala túrgida. / E no dia seguinte, / sangüínea e
dilatada, / outra vez, anoiteço. / E atenta a essa festa, recomeço. / Mostro,
cubro, / desnudo a curva casta, / minhas partes mais pudendas, / as mais
brancas, / e o show must go on / ao som de um blue. / E entre véus / e a fina
blusa, entreaberta, / o lado claro do cenário / é a luz de um abajur. / Enquanto
tento despir estrelas, / te dar um amor imenso, / dentro de minha blusa, entreaberta,
/ constróis a Via Láctea em silêncio. POR UM FIO - Arranha / esta aranha,/ côncava
de pêlos;/ quem dera ser o fio/ nesta teia / de novelos;/ quem dera ter o
ofício/ de tecer/ o que te enleia./ Aranha tecelã,/ arguta trepadeira,/ ah, meu
amor,/ ara em mim / as tramas,/ com dedos / de fiandeira. REFAZENDA - Me
apresento, / nua e bela, / uma metamorfose / de animais. / Roubo seus
instintos, seus pêlos e cheiros,/ apores e sons, / o baque surdo / das patas / as
ancas violentas, / num tremor infernal. / E me apresento, / sem distinção, / eqüina
ou humana, / na dança dos quatro atos, / num jogo de entrega e fuga. / a tua
pele, meus animais, / que inundam / campos, pradarias, os currais. / E corro, /
voraz e bela, / por entre as cancelas / do teu coração. Poemas
da cantora, escritora e professora Livia
Tucci. Veja mais aqui e aqui.
Art by Raffaele Marinetti
MUSA DA SEMAN:A ROGÉRIA HOLTZ - A cantora paulista Rogéria Holtz está estabelecida há 20 anos em Curitiba.
Ela integrou durante oito anos o Grupo Vocal Brasileirão do Conservatório de Música Popular Brasileira.
Lançou em 2003 o cd Acorda
Depois lançou o cd No País de Alice.
Dela diz Egberto Gismonti: "Sua voz é uma beleza. Que beleza impressionante que é a sua voz! Gosto da mistura Brasileira no seu disco; gosto do seu estilo que se mistura e mostra nas caras que temos os nossos humores, os nãos e as contradições. Maneira bacana de ver o Brasil a sua. Viva!" Realmente, voz lindíssima, meritória de aplausos. Parabens, Rogéria!!!
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saber viver não basta morrer, Leonardo
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