A arte do pintor francês
Antoine Watteau (168401721)
DORO, O BACHAREL DAS CHAPULETADAS - Doro é mesmo o cara. Pau-pra-toda-obra. E tem mais apelido que as partes pudendas. Este é o alter ego favorito dentre os heterônimos praticados pelo artista plástico, ator e biruta Rolandry. Sério mesmo, o sujeito é hors concours em presepadas. Por ser o mais ousado, ele é o sabichão da trupe, vez que conseguiu - não sei como, nem me pergunte! -, ser agraciado com o título de uma licenciatura curta em Estudos Sociais, captado duma faculdadezinha dessas de beira de estrada. O diploma ninguém nunca viu – quem vê morre! -, mas muita gente bate o pé que ele freqüentou uma dessas escolas de pé-de-escada. O que sei de mesmo, é que ele é atravessado que nem cu-de-calango, cheio de nó-pelas-costas e que lidera o trio de sebosos, formado por ele, Robimagaive e Zé Corninho. Um desmantelo, vez que juntando os três não dá um cocô de loro que preste. Numa ficha corrida, eis o Doro: apreciador duma conversa mole regada a uma boa carraspana. Um lambe litro de largar loas a fole, de sair trocando as pernas e confundindo verdade com mentira. Também é achegado a uma mulher perdida. Nisso, diz ele, ser perito e dos invejáveis, pois vive de fuçar as meninas para sufragar na roseta e na rodela excretora dela. Isso para acalmar seu fascínio antropófago. Profissionalmente Doro é amansador de circunstâncias periclitantes, enrolador de primeira, deixando tudo no desconforme com sua amolação cheia de nove horas. Em suma, o cara é o maior desacerto. Pronto! O rafamé carrega no cabedal do seu metiê um conjugado de habilitações, as quais posso destacar a de fazedor-exímio-de-rapadura, gastrônomo-fajuto, claro, um gastrólatra que se mete a inventar umas receitas da culinária exótica, a exemplo dos famigerados pratos bife-do-ôião, filé-de-osso, feijoada-da-porra, buchada-de-extrovenga, chambaril-do-coice, rabada-de-fuleira, dobradinha-peniqueira, sarapatel-com-chuchu-de-Lampião, baião-de-dois-prá-três-quedas e outros quitutes do seu cardápio aloprado - não bastando ser o criador do mingau de cachorro, a maior de todas as soluções para o problema da impotência masculina e de outras enfermidades crônicas e incuráveis. Diz-se curador ineivado, também, título adquirido quando fora piloto-de-recados na farmácia de seu Maurício Tataritaritatá, onde aprendeu a manipular umas químicas doidas, findando por inventar cachetes e outros unguentos expostos num mostruário da panacéia para todos os acometimentos humanos e extra-terrestres - mais aprofundado amiudamente com noturnas leituras regulares ao livro "Fome, criança e vida" do eminente e saudoso professor Nelson Chaves, aliás, único livro que lera por inteiro a vida inteira - e de inúmeras incursões nas mais variadas religiões, resultando num sincretismo particular onde reunia todo seu pantim e munganga escalafobéticas. Nega ser embromador-de-conversa, mas pô, meu, nesse é dos bons, num sei como ele consegue sair de um assunto pro outro, dando cada curva na idéia da gente ficar tonto nos corrupios do inexplicável, feito motorista ruim que num sabe qual o caminho da casa-de-caralho-adentro! Conselho: quando você tiver com gente ruim ou chato-de-galocha por perto, chame o faroso que ele larga leseira e aluga o juízo do cara, do tinhoso sair doido de pedra. Santo remédio contra os quizilentos!.
Possui a empáfia de se autorotular artista-plástico de pintar o sete, o plástico, o ferro, o escambau - até ele mesmo! -, se dizendo ainda ator (ah! profissional! O maior caqueado para engalobar qualquer um, diplomado na maior faculdade do mundo: a vida!), dentre outras qualificações que não me atrevo a rebuscar nas explicações. Por isso, vamos deixar no que está senão o pirão engrossa. Pronto. Vamos lá, para a fatalidade. Um certo dia, Doro assobiava e coçava, quando teve o estalo: pegou uma ferraria velha, areia, barro e cuspe, arregaçou as mangas e começou a fabricar não-sei-quê que terminou sendo umas lajotas. Bem, saber eu sabia que ele queria ficar rico da noite pro dia, só que nunca acreditei que algum vivente enricasse trabalhando duro, principalmente aqui no Brasil. Vamos ver. Espia só a merda que vai dar. Fiquei intrigado com o afinco na faina e ele, escondido, no maior teitei. Ao cabo de dias, havia uma fileira de laje, de quase num ter mais fim. Ele lá, nem comia, nem dormia, direto feito cantiga de grilo. Semanas, meses. Eu cá comigo, só atocaiando no que ia dar aquilo. Quase um ano disso foi que percebi o cavernoso carregando na cacunda os tais tijolos num sei para que banda da peste que era. Sei que chegou o dia, não havia nenhuma laje no local. Ué, pronde que foi tudo? Segui suas pegadas e fui parar num morro íngreme onde ele estava atrepado, cavando, medindo, ajeitando. Morro baixo: uns trezentos metros de altura. Que droga resultará nove? Bestificado, fui acompanhando dia a dia seu repuxo. E o apaideguado lá. Perdi a paciência e deixei o biscateiro de lado. Quando menos esperava ele chegou, acho que mais de ano depois que o cara resolvera dar sinal de vida. Convidou-me para uma cachaçada numa comemoração surpresa, só que eu que tinha que comprar a bebida, o tira-gosto e tudo. - Vou ter que carregar os convidados também? - Não -, disse-me ele - os convidado já tão cum a boca aberta esperano o foguetóro. Bem, sem encontrar outra alternativa, providenciei a intimação e fui ao encontro dos desinfelizes. Estavam todos lá, ao pé da ribanceira, de queixo caído admirando a casa que ele construiu pendurada na beira do penhasco. Ora, ele havia virado engenheiro civil da noite pro dia - só que levou pau em cálculos! -, negócio de doido, mesmo. Ele construíra sozinho, desafiando a lei da gravidade e arrepiando o cabelo de todo mundo com aquela doidice. Eu tinha lá coragem de subir o morro e entrar naquela casa, nunca! Nem que construísse um tobogã no declive até embaixo. Mas a raça toda queria era motivo para encher a cara com as lapadas da aguardente. E, nem bem começaram, já haviam esvaziado uns quinze cascos da tostante. Foi, a partir daí, que o enterro voltou. Pois bem, Doro achou de inaugurar da seguinte forma: pegou uns frascos cheios da raiz-de-pau e saiu derramando no chão até lá em cima da casa. Era a hora da satisfação pela moedeira dura que lhe fatigara por anos, pelejando para arrumar uma local onde tivesse guarida e pudesse ainda cair vivo ou morto no final do dia. Em riba, dos fundos da casa, ele fez um aceno para os paspalhos de baixo. Até eu cumprimentei, avalizando sua conquista. Daí a pouco ele desce, chega perto da gente e pede fósforos. Arrepara, só. Todo pavoneado riscou fogo na trilha e só se viu o fogaréu subindo. Gente: foi uma correria dos diabos! Nego correu mais de dez quilômetros de distância só para ver o espetáculo na lonjura mode não se arrepender depois. Foi um pipocado maior que girândola de bilhões de tiro de bombas atômicas e mísseis fudedores de num restar, no fim do espalhafato, nem o morro, quanto mais casa. Depois do rebuceteio todo, chega Doro com a cara mais lisa: - É, abusei na dosagem! - Ô cara, prá quê a casa? - Eu ia morar dentro. - Ia! © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS – [...] para a verdade da arte, a realidade externa é irrelevante. A arte cria
sua própria realidade, em cujo interior a verdade e perfeição da beleza
constituem o infinito refinamento dela mesma. A história é muito diferente. É
uma busca empírica de verdades externas, e das verdades externas melhores, mais
completas e mais profundas, numa relação de máxima correspondência com a
realidade absoluta dos acontecimentos do passado. [...]. Trecho extraído da
obra Falácias dos historiadores:
uma lógica do Pensamento Histórico
(Harper & Row, 1970), do professor e historiador David Hackett Fischer.
A CRIATIVIDADE DE MASI - Criatividade
no sentido teológico da criação ex nihilo. Criatividade ligada à idéia de
inovação e de antecipação do futuro. Criatividade como rebeldia, iconoclastia
e, até certo ponto, loucura. Criatividade prometeica, em que a mente humana
rouba o fogo divino e faz descobertas geniais. Criatividade como talento para
vencer na vida, desempenharse bem na carreira profissional etc. Criatividade
no sentido mítico, ligada à idéia de a vida se renovar cíclica e
incessantemente. Criatividade remetendo ao interesse estético, à imaginação, à
extravagância, algo à la Oscar Wilde. Criatividade como manifestação e
resultado do amor — sentimento, iniciativa, inspiração! Trecho
extraído da obra Criatividade e grupos
criativos (Sextante, 2003), do sociólogo italiano Domenico De Masi. Veja mais aqui.
FARENHEIT
451 - [...] Todos nós possuímos
memória fotográfica, mas passamos a vida aprendendo a bloquear as coisas que
estão realmente lá dentro. Simmons trabalhou nisso durante vinte anos e agora
dispomos de um método pelo qual podemos evocar tudo o que já tenhamos lido.
Montag, algum dia você gostaria de ler a República de Platão? — Claro! — Eu sou
a República de Platão. Gostaria de ler Marco Aurélio? O senhor Simmons é Marco
Aurélio. [...] Quero que conheça
Jonathan Swift, autor daquele pernicioso livro político, As viagens de
Gulliver! E esse sujeito aqui é Charles Darwin, e este aqui é Schopenhauer,
este outro é Einstein, e este aqui ao meu lado é o senhor Albert Schweitzer, um
filófoso realmente muito gentil. Estamos todos aqui, Montag. Aristófanes,
Mahatma Gandhi, Gautama Buda, Confúncio, Thomas Love Peacock, Thomas Jefferson
e o senhor Lincoln, se você quiser. Somos também Mateus, Marcos, Lucas e João.
[...] Somos todos fragmentos e obras de
história, literatura e direito internacional. Byron, Tom Paine, Maquiavel ou
Cristo, tudo está aqui [...]. Trecho extraído da obra Fahrenheit 451 (Globo, 2003), do escritor estadunidense Ray Bradbury (1920-2012).
GÊNIO
E FIGURA - Eu sou como o fracasso total do mundo, oh
Povos! / O canto frente a frente ao próprio Satanás, / dialoga com a ciência
tremenda dos mortos, / e minha dor jorra de sangue na cidade. / Meus dias ainda
são restos de enormes móveis velhos, / ontem à noite “Deus” chorava entre
mundos que vão / assim, minha menina, sozinhos, e tu dizes: “te amo”, / quando
falas com o “teu” Paulo, sem ouvir-me jamais. / O homem e a mulher têm o cheiro
de tumba;/ o corpo despenca sobre a terra bruta / tal como o ataúde vermelho do
infeliz. / Inimigo total, uivo pelos bairros, / um espanto mais bárbaro, mais
bárbaro, mais bárbaro / que o soluço de cem cães lançados à morte. Poema do poeta chileno Pablo de Rocka (1894-1968).
A arte do pintor francês
Antoine Watteau (168401721)
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segunda pra terça, Herbert
de Souza – Betinho, Carlos Byington, Hesíodo, William Etty, Jaques Morelenbaum, Luiz Nogueira, Meca
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