DE CINZAS,
SIMULACROS & PRÓTESES – Imagem: arte do
artista plástico indiano Devendra
Badiger. - UMA: CINZAS & CARNAVAL – Ih, passou! Ainda ontem era sexta-feira, como é que
pode? Dia comprido danado, repleto de afazeres, estresse, broncas, já estava
por aqui: do gogó pras pestanas, tudo esborrando. Ou acabava a sexta, ou morria
eu, ora! Já de saco estourado, nervos à flor da pele, toda pilha, e o dia nem
passava, parecia mais emperrado de quase chegar amanhã e o de hoje nem sinal de
terminar. Ou será que o relógio estava tramando suas trapaças com ardis de
parar o tempo pra me matar do coração. Isso é que é maçada, coisa mais chata. Ah,
vai ser chega pra lá até o dia emborcar e os ponteiros bater as dezoito
badaladas! Depois de uma eternidade, coronárias por um fio, paciência já era,
finalmente, fim do expediente. Ufa! É só jogar as gravatadas todas afrouxando
as coisas e correr pro frevo e folia até quarta! Avisa lá! Fui! Timbungue! E comer
tudo, beber demais, tudo pra puta que o pariu que nada mais, nem lei, nem
ordem, só o que der na telha e seja lá o que Deus quiser! Viva o hedonismo! Timbungo,
timbungar! Ué? Cadê o sábado que estava aqui? Botem de volta o domingo que nem
vivi, faz favor! Votê! Engalobaram a segunda também, que coisa! Roubaram a
terça, foi? Vôte! Quem foi que inventou que hoje é quarta, hem? Ninguém me
disse nada, nem me avisaram, ora. Não vale, oxe, pode trazer tudo de volta, ou
chama o Superman para restituir nossa dignidade, fazendo o mundo rodar até à
meia noite da sexta e recomeçar tudo de novo que não vi nada. Também sou filho
de Deus, mereço tudo de novo. Onde já se viu uma coisa desta! Quero meu
carnaval de volta e avisem pro Bacalhau do Batata pra ele aparecer só na semana
que vem! Ora, ora. Tá pensando o quê? Simbora! Arrocha putada! DUAS: NEM TUDO QUE BRILHA É OURO, NEM TODA
FEIÚRA É TREPEÇA – Toda vez que vejo cenas das Paraolimpíadas, aprendo mais
uma lição: como é bonita a superação! Sempre fico com a impressão de que a gente
pode tudo e muito mais, isso eu sei. Tirante os preconceitos e discriminações -
esses achaques dos frascários metidos a besta, que tanto sacodem qualquer um
pras sarjetas -, aplaudo de pé todos aqueles que dão a volta por cima,
renascendo das cinzas para brilharem por sua própria luz, enquanto os certinhos
conspiradores morrem de inveja. Parece mais trama de novela da tevê, né não? Pois
é, enquanto o que tem de bonitão eloquente e bem trajado aplicando golpe não
está nem no gibi nem nas estatísticas, também vivem montados nas suas próteses:
bengalas, pererecas, automóveis, óculos, aviões, bicicletas, relógios, etcétera,
etcétera. Afora as cirurgias estéticas corrigindo o que os chateiam, quando não
o nome, os documentos, a cara toda, a personalidade, o esqueleto e as frescuras.
Pois é, o engodo é mais embaixo. Tem gente que mente até pra si mesmo e não
desancam o rei na barriga: vai ali e, ao voltar, tudo novinho em folha, outra
pessoa, o sonho do ideal. E o real onde é que fica? Igualzinho à moeda: engana
que é dólar ou outra que valha, e se desvalorizando às escondidas, senão às
claras e nem aí. Quantas máscaras pras ocasiões e situações, quase um Dorian
Gray do Wilde e só pro espelho mostrar o que quer ver, e só, mais nada. Gente que
se vende de rei e nem percebe que está nu e destronado. Gente que se acha o suprassumo
e caiu no risível folclórico. Tem gente que não se enxerga mesmo, só no
barrunfo e reiteração pra se autoconfirmar! Entre tantos simulacros já vi gente
escondida na sua própria ilusão de seres com coração plástico e sangue de
barata. O mundo tem cada uma e dá tanta volta! TRÊS: O HOJE É AMANHÃ E ONTEM – Já dizia Marcos Accioly no seu
trabalho épico pelo pesadelo da história, recorrendo à memória dos
temperamentos literários: Latinomérica. As cenas de agora emergiram dos
pensamentos e imaginações: planos, projetos, hipóteses e checagens, objetivos e
metas. Eu mesmo pés pelas mãos, ando no chão pelas nuvens, trancas, presilhas,
ferrolhos e cadeados, recatos e percalços, raízes pros frutos, poeiras pro
chão, buracos e grutas são descobertas, ladeiras pra subir e descer, entre
avisos, acenos, horas e ventos, mesmo que não me banhe duas vezes nas mesmas
águas, há sempre o retorno e recomeçar. Misturo notícias com retratos,
previsões com fatos, o futuro com antiguidades. De tanto passar nunca cheguei. Só
vai porque foi, dizem ou não, fechou o que abriu para abertura do que estava
fechado: a chuva estiou, o calor das tempestades. A pressa de quem demora,
encontro de quem espera. Eu rio e a foto da pose, eu canto e o som gravado, voo
o que já fui, sou o que tinha sido e serei, essa a encruzilhada: enigmas que
peno por desvendar. Nunca é tarde porque será, o cedo que se distanciou do que
vem ao que passou. Sempre assim, entre o privilégio da gratuidade e o pagamento
de alto preço, pelas esquinas, correntes, abismos e imensidões. Tudo fizera pra
que um melhor amanhã começasse agora, neste momento. E me perco em meus próprios
labirintos, confissões que não medem as batidas do coração. Cada qual luzeiros
e escuridões. Eu era e não sou, serei o que fui. Assim sou, amém e amem. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com a música do maestro, instrumentista e
compositor Radamés Gnattali (1906-1988): Sonfonia popular, Retratos & Choros para
piano solo; da violoncelista britânica Natalie Clein: Concert nº 1 de Saint-Saens, Concert in C major de Haydn
& Sonata in G minor de Rachmaninov; & muito mais nos mais de 2 milhões
de acessos ao blog & nos 35
Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o
som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] é
indispensável realizar uma grande, profunda e duradoura mudança de atitudes,
uma mudança de comportamentos. E mudar as atitudes e os comportamentos das
pessoas não é impossível, porém nunca é fácil. Extraído de La Unesco y la idea de humanidade (Unesco, 2004), do advogado e
economista Koichirō Matsuura.
A ARTE & O SER HUMANO - [...] em
cada palavra de poeta, em cada criança de sua fantasia, está todo o destino
humano, todas as esperanças, as ilusões, as dores, as alegrias, as grandezas e
as misérias humanas, o inteiro drama do real, que acontece e cresce
continuamente sobre si mesmo, sofrendo e alegrando-se [...]. Trecho
extraído da obra Breviário de estética (Ática, 1997), do filósofo, historiador e escritor italiano Benedetto
Croce (1866-1952). Veja mais aqui.
ISTO É BRASIL –[...] De
um país em crise e cheio de mazelas, onde, segundo o IBGE, quase um quarto da
população ganha R$ 4 por dia, o que se esperaria? Que fosse a morada de um povo
infeliz, cético e pessimista, não? Não. Por incrível que pareça, não. Os
brasileiros não só consideram seu país um lugar bom e ótimo para viver, como
estão otimistas em relação a seu futuro e acreditam que ele se transformará
numa superpotência econômica em cinco anos. Pelo menos essa é a conclusão de um
levantamento sobre a "utopia brasileira" realizado há pouco pelo
Datafolha. Esse instituto já em 1997 constatara, em outra pesquisa também
nacional, que o brasileiro era feliz com a vida que levava. [...]. Trecho
extraído de Retrato do Brasil quando
ainda jovem (Revista Época, 2010), do jornalista e escritor Zuenir
Ventura.
O TÚNEL PERFEITO – [...] Estarei
esvaindo a memória. Ou a memória que se vai estreitando com os espaços de
viver? Queria ir onde nenhum homem foi antes. Mas jaziam amontoadas e
encardidas as imagens. Como nos lembrarão? Resistia. Ao redor, escombros. O que
me basta é a toca. Tem a conformação dos direitos, deveres. Brasas e estão
desativadas? Frutos voltam à flor. E a morte envelhece devagar. [...] O paraíso é cair devagar na madureza. E
madurar a polpa. Nua, nua é a morte. Não posso ir além da eternidade. Cairei,
cairei. Com o fragor de cântaros quebrados. O que aparece, pode se extinguir.
Mesmo o vento. Um dia acordarei e a luz será diferente. Em alta rotação. Água
de poço cintilando n’água. Entrarei na vida para dentro. Olharei e não haverá
mais Túnel. Apodrecido em suas colunas. Murchou o mar e o monte que gorjeava. O
Túnel fora. Pedras e pedras desabando. Desmoronou o tempo. O Túnel mudo. E eu
ressuscitando na palavra. Trechos extraídos da obra O túnel perfeito (Relume Dumará, 1994), do poeta, ficcionista, tradutor e crítico literário Carlos Nejar.
Veja mais aqui, aqui e aqui.
SONETOS – I - E amor não é
qual é este sentimento? / Mas se é amor, por Deus, que coisa é a tal? / Se boa
por que tem ação mortal? / Se má por que é tão doce o seu tormento? / Se eu
ardo por querer por que o lamento / Se sem querer o lamentar que val? / Ó viva
morte, ó deleitoso mal, / Tanto podes sem meu consentimento. / E se eu consinto
sem razão pranteio. / A tão contrário vento em frágil barca, / Eu vou para o
alto mar e sem governo. / É tão grave de error, de ciência é parca / Que eu
mesmo não sei bem o que anseio / E tremo em pleno estio e ardo no inverno. II -
Longe de Laura inveja a região que a possui / Nem ave em ninho ou fera em selva
obscura / Houve triste como eu no apartamento / Desde que se afastara o
encantamento / Do sol que o meu olhar sempre procura. / Tenho o pranto por
única ventura, / É dor o riso e absinto o mantimento, / E eu vejo turvo o claro
firmamento, / E o leito é campo de batalha dura. / O sono é na verdade qual se
diz / Irmão da morte e o peito nosso priva / Deste doce pensar que sempre o
aviva. / Só no mundo felice e almo país / Verdes ribas e flórido recanto, / Vós
possuís o bem que eu choro tanto. III - Se a minha vida do áspero tormento / E tanto
afã puder se defender, / Que por força da idade eu chegue a ver / Da luz do
vosso olhar o embaciamento, / E o áureo cabelo se tornar de argento, / E os
verdes véus e adornos desprender, / E o rosto, que eu adoro, empalecer, / Que
em lamentar me faz medroso e lento, / E tanta audácia há de me dar o Amor, / Que
vos direi dos martírios que guardo, / Dos anos, dias, horas o amargor. / Se o
tempo é contra este querer em que ardo, / Que não o seja tal que à minha dor / Negue
o socorro de um suspiro tardo. VIII - Ó Pai, depois dos dias ociosos, / Depois
das noites a velar em vão, / Com este anseio no meu coração, / Mirando os atos
por meu mal viçosos, / Praza-te, ó lume, que a outros mais formosos / Caminhos
e a mais bela ocupação / Eu me volte, fugindo à dura ação / Do inimigo e aos
seus meios cavilosos. / Dez anos mais um hoje faz, Senhor, / Que me vi
submetido à tirania / Que sobre o mais sujeito é mais feroz. / Piedade tem do
meu não digno ardor, / Conduz meu pensamento a melhor via, / Lembra-o de que estiveste
numa cruz. XXXII - Quanto mais perto estou do dia extremo / Que o
sofrimento humano torna breve, / Mais vejo o tempo andar veloz e leve / E o que
dele esperar falaz e menos. / E a mim me digo: Pouco ainda andaremos / De amor
falando, até que como neve / Se dissolva este encargo que a alma teve, / Duro e
pesado, e a paz então veremos: / Pois que nele cairá essa esperança / Que nos
fez delirar tão longamente / E o riso, e o pranto, e o medo, e também a ira; / E
veremos o quão frequentemente / Por coisas dúbias o ânimo se cansa / E que não
raro é em vão que se suspira. CLXXXIX - Vai o meu barco, cheio só de
olvido, / À meia noite, ao árduo mar, no inverno, / Entre Cila e Caríbdis; e ao
governo / Vê-se o senhor, melhor: meu inimigo. / A cada remo um pensar atrevido
/ Parece rir à vaga e ao próprio averno: / Rompe as velas um vento úmido,
eterno / De esperanças, desejos e gemidos. / Chuva de pranto, névoa de rancor /
Afrouxa e banha os cabos extenuados, / De ignorância trançados e de error. / Foge-me
o doce lume costumeiro, / Razão e engenho da onda são tragados; / E eis que do
porto já me desespero. CXC - Uma cândida cerva me surgiu / sobre o verde
gramado – os cornos de ouro –, / entre dois riachos, à sombra de um louro, / na
estação fria, mal o sol se abriu. / Tão doce em mim tal vista se imprimiu, / que
por segui-la toda lida ignoro, / como o avarento em busca de um tesouro, / tanto
assim meu tormento se evadiu. / Ninguém ouse tocar-me” – escrito havia / no
colo, entre topázios e diamantes, / “que eu fosse livre César ordenou”. / Já o
claro sol chegava ao meio-dia, / quando eu, de olhos absortos, ignorantes, / escorreguei
para a água, e ela escapou. CCXXXIV - Ó minha alcova, que já foste um
porto / Às tempestades que cruzei diurnas, / Fonte agora de lágrimas noturnas,
/ Que no dia, por pejo, ocultas porto; / Ó leito, onde encontrei paz e conforto
/ De tanta mágoa, que dolentes urnas / Sobre ti verte o Amor com mãos ebúrneas,
/ Só para mim crueza e desconforto! / Porém do meu retiro e do repouso / Não
fujo, mas de mim e do pensar, / Que tanta vez segui num devaneio; / E em meio
ao vulgo adverso e inamistoso / (Quem diria?) refúgio vou buscar, / Tal é de
ficar só o meu receio. Poemas do escritor,
intelectual humanista e filosofo italiano Francesco Petrarca
(1304-1374). Veja mais aqui.
AS ESCULTURAS DE PRADIER
A arte
do escultor francês James Pradier
(Jean-Jacques Pradier – 1790-1852);
Veja mais:
Nada melhor que a vida e viver além dos
próprios limites, Umutina, a música de Antônio Nóbrega, a arte de Oskar
Kokoschka & Mozart Fernandes aqui.
Maria Callas, Psicodrama, Gestão de PME,
Responsabilidade Civil & Acidentes de Trabalho aqui.
Arte & Entrevista de Luciah Lopez aqui.
Psicologia Fenomenológica, Direito
Constitucional, Autismo, Business & Marketing aqui.
Abigail’s Ghost, Psicologia Social,
Direito Constitucional & União Estável aqui.
Betinho, Augusto de Campos, SpokFrevo
Orquestra, Frevo & Rinaldo Lima, Tempo de Morrer, The Wall & Graça
Carpes aqui.
O cinema no Brasil aqui.
Dois poemetos em prosa de amor pra ela aqui.
Agostinho, Psicodrama, Trabalhador
Doméstico, Turismo & Meio Ambiente aqui.
Dois
poemetos ginófagos pra felatriz aqui.
Discriminação
Religiosa, Direito de Imagem, Direito de Arrependimento & Privacidade aqui.
A
minissaia provocante dela aqui.
Princípio
da probidade administrativa aqui.
O
alvoroço dela na hora do prazer aqui.
Canção de Terra na arte de Rollandry
Silvério aqui.
A FOTOGRAFIA DE JORDAN MATTER
A arte do
fotógrafo estadunidense Jordan Matter.