sábado, fevereiro 10, 2018

A PARNASO-SIMBOLISTA & A MODERNISTA POESIA DE ASCENSO


ASCENSO FERREIRA – Conheci Ascenso, "rei dos mestres, que aprendeu sem se ensinar", ou melhor, a sua obra, com a publicação da antologia "Poetas de Palmares", uma iniciativa do Juarez Correia e Eloi Pedro, editado pela Editora Palmares, em 1973, ano do primeiro centenário municipal. Eu, nesse tempo, contava com 13 anos de idade e saía recitando sua "Filosofia": "Hora de comer, - comer! Hora de dormir, - dormir! Hora de vadiar, - vadiar! Hora de trabalhar? - Pernas pro ar que ninguém é de ferro!". E já me esgueirava fazendo jograis com a turma do colégio com seus poemas engraçados e que representavam a realidade daquele lugar: as feiras, as iguarias locais, a vida besta, a putaria, a risadagem, o adiantamento, as invencionices peculiares ao local onde nasci.
Na antologia estavam Raimundo Alves de Souza (alfaiate, Don Juan inveterado, noventa e tantos anos nas costelas, um poeta que morreu criando a maior polêmica por ser o pai biológico de Vinicius de Morais), o poeta e folclorista Jayme Griz, o artista plástico Teles Júnior, o teatrólogo e poeta Fenelon Barreto, meu pai Rubem Machado, e toda uma plêiade que consagravam à terra dos Palmares a verdadeira "Terra dos Poetas".
No volume ainda podia conhecer a obra dos mais novos poetas que surgiam à época com belíssimos poemas, como Eniel Sabino de Oliveira, Afonso Paulins e Juarez que, ao organizar a antologia, fechava o volume.
Com o livro tive contato com poesias como "Cinema", "A Sucessão de São Pedro", "Predestinação", "Folha Verde", "Graff Zeppelin" e "Black-out" que me levaram a buscar nos cafundós de Judas, qualquer edição dos livros publicados de Ascenso. Foi incensante porque não o conheci pessoalmente, vez que, como honra, apenas podia ser seu conterrâneo por ele haver nascido na rua dos Tocos, no dia 9 de maio de 1895, em Palmares e de ter morrido no dia 05 de maio de 1965, no Recife, quando eu contava apenas com cinco anos de idade.
Pois bem, em 81, o incansável poeta Juareiz Correya lançou pela Nordestal, o livro "Poemas de Ascenso Ferreira", reunindo seus livros "Catimbó", "Cana Caiana" e "Xenhenhém". Além dos poemas de Ascenso, estavam ali ensaios de, nada mais nada menos, que Manuel Bandeira, Sérgio Milliet, Mário de Andrade, Luís da Câmara Cascudo, Roger Bastide, um depoimento "Minha vida com Ascenso", da companheira dele Maria de Lourdes Medeiros e ilustrações de Gilvan Samico, Wellington Virgolino, Tereza Costa Rego, Abelardo da Hora, Bajado, Sílvia Pontual, Gl Vicente e muitos outros artistas plásticos pernambucanos de renome.
Ao folhear suas páginas, fiquei logo embevecido com as palavras de Manuel Bandeira: "os poemas de Ascenso são verdadeiras rapsódias do Nordeste, nas quais se espelha moravelmente a alma ora brincalhona, ora pungentemente nostálgica das populações dos engenhos e do sertão". E o Sérgio Milliet declarando que a contribuição de Ascenso para o modernismo brasileiro era "das mais originais".
Não menor a satisfação ao ler as palavras de Mário de Andrade: "[...] depois que as personalidades dos iniciadores se fixaram, só mesmo Ascenso Ferreira trouxe pro modernismo uma originalidade real, um ritmo verdadeiramente novo. Esse é o mérito principal dele a meu ver, um mérito inestimável".
Luís da Câmara Cascudo, por sua vez, sentenciou: "[...] e não há quem o ouça para não sentir o encanto irresistível duma poesia estranha e doce, bravia e sincera, cheia de vitalidade e de força evocadora. [...] Ascenso Ferreira, Ascensão... guardem o nome de um grande poeta!" E Roger Bastide arrematou: "[...] uma beleza que merecia ter seu poeta, e este poeta é Ascenso Ferreira".
A companheira Lourdes, que conheci anos depois, viu primeiro o poeta. E tomou com ele uma cerveja preta, depois duma queda assustada com aquele volumão de gente. Ela adolescente, ele cinquentão. Desse encontro veio Maria Luiza, iluminando o casal.
Em 1985, portanto, a Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, de Palmares, sua terra natal, em convênio com a Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, publicou um outro livro com o título do mais célebre de seus poemas parnasianos, na afirmação de Luíz da Câmara Cascudo, "Eu voltarei ao sol da primavera", uma pesquisa organizada pela professora Jessiva Sabino de Oliveira, então diretora da Biblioteca Pública Municipal Fenelon Barreto, também de Palmares, resultado de 10 anos de estudos nos arquivos do jornal "A Notícia", onde Ascenso adolescente rimava parnasiano.
Nesse ínterim, Alceu Valença musica dois poemas seus, "O trem das Alagoas" e "Oropa, França e Bahia", duas belas páginas do cancioneiro nordestino. Agora outras iniciativas, como a de Chico Anysio gravar um disco com seus poemas e meio mundo de gente incluir seus poemas em shows, teatros, cinema e espetáculos.
Nunca que poderia esquecer desse grande poeta, que um dia, segundo relato da própria Lourdes, chegando em casa em época natalina, viu a ornamentação da sala e saiu destruindo tudo. Um espanto, porque aquele homenzarrão era de uma ternura singular. Depois da revolta, trancou-se no quarto. Horas mais tarde, saiu carinhosamente procurando por Maria Luiza com um poema intitulado "A Festa": "Minha filhinha, Papai Noel! É uma figura tragicômica! Não se iluda com os seus enredos! Pois que no meio dos seus brinquedos! Virá um dia a bomba atômica!". Salve, Ascenso!

A OBRA DE ASCENSO FERREIRA - [...] Depois, passados os recitais, tempos vivenciados no Sul e a voracidade e velocidade modernista, a figura do homem suplantou a obra. Passou a ser mais conhecido por sua figura diferente, por sua récita, por sua nordestinidade, por sua boemia. Alvo de falas que às vezes beiravam a folclorização da personalidade artística. Não que isso seja ruim, muito pelo contrário, feliz do poeta que é amado e conhecido. Mas, como sempre há um mas... [...]. Trecho do texto Leituras sobre Ascenso (SESC/LAL, 2016), da poeta e curadora do Laboratório de Autoria Literária Ascenso Ferreira, Cida Pedrosa. É com as palavras da poetamiga mencionada, que inicio aqui uma descrição da trajetória parnaso-simbolista e a modernista de Ascenso Ferreira. Pra quem nasceu na mesma cidade do poeta, muito se ouvia e dizia a respeito dele. Prefiro destacar aqui a seu respeito, o que disse Cavalcanti (2001, p. 117) [...] Grande poeta do povo, catador das alegrias e das tragédias sociais da zona do açúcar. Ascenso, o menestrel do movimento antropofágico, tem sido subestimado pelos historiadores da literatura nacional, pelos críticos de arte, além de, atualmente, pouco conhecido das novas gerações de leitores. [...].


A VIDA

Ascenso Ferreira

O dia nasce, o sol desponta, a terra toda
Acorda para a luta infinita da vida.
E do sono da noite ainda enlanguescida
Sacia-se da luz na formidável boda.

A abelha faz o mel; a formiga incansável
Segue para o labor fecundo do trabalho,
Palpita na floresta a serva em cada galho
E cada flor canta um hino incomparável.

O mar soluça; o vento ruge; as nuvens correm
Azuis, tal como se no anil as mergulhassem,
E se cruzam no espaço os risos dos que nascem
Com a nênia profunda e triste dos que morrem!

É a vida no zênite; é a vida em todo o imenso
Triunfal esplendor de sua luta insana,
Na qual se digladia a grande prole humana
Um ao outro querendo ultrapassar o Ascenso.

E tudo luta. E tudo busca; e tudo sonda
Qual o modo melhor de poder triunfar:
A gota d’água aspira a glória de ser onda
Enquanto a onda aspira a glória de ser mar.

O PARNASO-SIMBOLISMO NA POESIA DE ASCENSO FERREIRA – A reunião dos poemas parnasianos de Ascenso Ferreira foi realizado por Sabino (1985), recolhido do acervo do jornal A Notícia, do qual o autor foi um dos colaboradores por mais de meio século, iniciando em 1913. Quase diariamente eu visitava a professora Jessiva na Biblioteca e via-lhe debruçada por inúmeras edições do Jornal A Notícia. Ela conversava comigo da pesquisa de décadas nessas publicações, ressaltando a carreira inicial do poeta Ascenso. A respeito dessa fase do poeta, Benjamin (2001, p. 107) assinala que: [...] Antes de aderir ao Modernismo, Ascenso Ferreira já se tornara conhecido no Recife. Primeiro pela repercussão do poema Pro Face e, depois, pela divulgação do Soneto (Eu voltarei ao sol da primavera) que teve uma calorosa acolhida, especialmente entre acadêmicos de direito (segundo depoimento de Câmara Cascudo), entrando para o repertório dos improvisados recitais boêmios da estudantada e dos saraus da burguesia recifense. [...]. A razão da aceitação da poesia pré-modernista de Ascenso, está na sua fidelidade aos modelos consagrados da época – um parnasianismo, às vezes de gosto simbolista, que ele soube trabalhar com maestria de fatura e inspiração, que nada ficava a dever aos seus contemporâneos. [...] de exaltação decadentista da forma levada às últimas consequências na métrica e na rima, no vocabulário rebuscado – nobre, requintado, erudito – de difícil compreensão, mesmo para os letrados da época. As fontes de inspiração serão as mesmas dos outros poetas do tempo: amores contrariados, descrições de paisagens de cromos e postais, pensamentos de filosofia exóticas, personagens e enredos literários e cinematográficos (Salambô, Salomé, a Vampira Indiana, Spartacus) e uns poucos de fervor político. [...]. Alguns poemas são de ocasião – perfis de pessoas conhecidas com a identidade oculta e versos a pedido, para ilustração dos álbuns de recordação de senhoritas e senhoras. [...]. Este período poético também foi registrado por Cascudo (1981): Quando fui estudar Direito na Faculdade do Recife conheci Ascenso Ferreira, Ascensão, olhando a vida do alto de um metro e noventa e pisando com cem quilos as ruas velhas. [...] Ascenso fazia sonetos e um deles ficou célebre: - “Adeus! Eu voltarei ao sol da primavera”. Chovesse, ou encadeasse sol, fatalmente, na despedida, vinha a chave de ouro: - - “Adeus! Eu voltarei ao sol da primavera”. Ascenso, durante cinco anos, foi um companheiro dileto, solidário, com as caminhadas sem rumo, namorando casario colonial, calcando as pedras que viram Nassau e ceando peixe frito num frege ou devorando abacaxis no cais que se chamava abacaxis. Essas horas era, delirantemente poéticas. Assisti Ascenso largar o “Sol da Primavera” e escrever e dizer seus versos iniciais, absolutamente copyright by Ascensão. [...].
Correya (2001, p. 11) registra um depoimento de Ascenso para o livro “Testamento de uma geração”, de Edhard Cavalheiro, acerca do início de sua carreira: [...] As obras da literatura clássica greco-romana traduzidas por Latino Coelho. Todas as obras da literatura francesa. Obras completas de Nina Rodrigues, Aluisio de Azevedo, Machado de Assis, José de Alencar e Eça de Queiroz. E tudo isso eu fui devorando numa ânsia tremenda de beber instrução, fazendo confusões absurdas e saltando em 24 horas de simbolismo de Flaubert para o naturalismo de Balzac e caindo no lirismo dos Simples de Guerra Junqueiro ou de Goethe, tradução de Feliciano de Castilho, foi para mim floresta selvagem cujo intrincado nunca pude transpor. [...] E danei-me logo a escrever sonetos, baladas, madrigais... [...]. A respeito desse período, acrescenta Correya (2001) que: “[...] As mulheres do poeta foram muitas [...] É bem verdade que os arrebatamentos, os arroubos românticos que constituíam o ideal do amor no jovem poeta, ainda parnasiano, determinaram, verso por verso, a sua produção iniciante”.
Quando o livro “Eu voltarei ao sol da primavera”, eu estava presente e não poderia ser diferente, duas conquistas eram comemoradas: a publicação dos estudos de décadas da professora Jessiva Sabino de Oliveira e a luta consistente e diuturna do poetamigo Juareiz Correya.
Da minha parte, só posso concordar com o que expressa Gomes (2016, p. 138): [...] Se pudéssemos resumir a poesia de Ascenso em uma única palavra, não estaríamos longe de errar se respondêssemos: polifônica. Essa é uma característica já presente em sua fase parnaso-simbolista e que se acentua, formidavelmente, em sua produção madura. Acrescente-se a observação apropriada de Vitor (2016, p. 182): [...] Nessa fase mais parnasiana do escritor, ainda preso aos modelos clássicos, é fácil notar a centralização de sua poesia nas donzelas brancas, o que vem a mudar justamente com o contato de Ascenso com o Modernismo e as novas teses freyrianas. [...] o qual inova na forma de um discurso mais crítico da personagem feminina colocando-a como sujeito das próprias ações ao contrário das personagens estáticas alvo de admirações ou exaltações da beleza. [...].
Não menos valioso o depoimento de Bandeira (1981, p. 10) [...] Por esse tempo Ascenso não era ainda, como é hoje, grande em três dimensões. Até os vinte e quatro anos foi tão magro que lhe puseram o apelido de “tabica de senhor de engenho”. Depois é que principiou a botar corpo. Meteu-se na política e por causa dela teve de deixar a cidade natal. No Recife, onde se fixou, entrou a recitar nas ruas e em casa de amigos os seus primeiros versos.


MINHA TERRA

Ascenso Ferreira

Minha terra não tem terremotos...
nem ciclones... nem vulcões...
As suas aragens são mansas e as suas chuvas esperadas:
chuvas de janeiro... chuvas de caju... chuvas-de- santa-luzia..

Que viço mulato na luz do seu dia!
Que amena poesia, de noite, no céu!

– Lá vai São Jorge esquipando em seu cavalo na lua!
– Olha o Carreiro-de-São-Tiago!
– Eu vou cortar a minha íngua na Papa-Ceia!
O homem de minha terra, para viver, basta pescar!
e se tiver enfarado de peixe, arma o mondé
e vai dormir e sonhar...
que pela manhã
tem paca louçã,
tatu-verdadeiro
oujurupará...
pra assá-lo no espeto
e depois comê-lo
com farinha de mandioca
ou com fubá.

O homem de minha terra arma o mondé
e vai dormir e sonhar...
O homem de minha terra tem um deus de carne e osso!
– Um deus verdadeiro,
Que tudo pode, tudo manda e tudo quer...
E pode mesmo de verdade.
Sabe disso o mundo inteiro:
– Meu Padinho Pade Ciço do Joazero!
O homem de minha terra tem um deus de carne e osso!
Um deus verdadeiro..
Os guerreiros de minha terra já nascem feitos.
Não aprenderam esgrima e nem tiveram instrução...
Brigar é do seu destino:
– Cabeleira!
– Conselheiro!
– Tempestade!
– Lampião!
Os guerreiros de minha terra já nascem feitos:
– Cabeleira!
– Conselheiro!
– Tempestade!
– Lampião!

MODERNISMO - Com relação ao movimento modernista, Coutinho (1978), Martins (1965), Lima (1951), Castelo (1961), Chiachio (1951), Franceschini (2006), Barros (1977), Benjamin (1988), Correia (2016), Salazar (2016), Lamenha (2016), e Pedrosa (2016), assinalam a inclusão de Ascenso Ferreira entre os seus integrantes, depois da fundação do Centro Regionalista do Nordeste de 1924 e do I Congresso Regionalista do Recife, de 1926. Observa Milliet (1981) que: [...] Na revolução poética do Brasil, já o observou Manuel Bandeira, o grupo do Recife escapou à influência imediata e imperialista dos modelos europeus. Da revolução que se iniciou em São Paulo só lhes interessou a liberdade conquistada. Graças a ela pôde não apenas assenhorear-se de novas técnicas mas ainda ir pesquisar as solução tradicionais e populares. Daí o valor brasileiro – talvez intraduzível – de poetas como Joaquim Cardozo e Ascenso Ferreira. [...]. Mas foi o depoimento de Andrade (1981, p. 17) que esclareceu o verdadeiro nível de Ascenso no movimento: No Brasil, fazia tempo que a poética modernista andava sem novidade. [...] Depois que as personalidades dos iniciadores se fixaram, só mesmo Ascenso Ferreira com este Catimbó trouxe pro modernismo uma originalidade real, um ritmo verdadeiramente novo. Esse é o mérito principal dele a meu ver, um mérito inestimável. [...]. É partir dessas declarações que muito começa a ser dito e falado sobre Ascenso, a exemplo do que se refere Bastide (1981): [...] A poesia é a escada que vai da terra ao céu. Ascenso Ferreira finca seu pé na gleba do Recife e no seu background fortemente, carnalmente [...]. É o que assegura Litrento (1978), ao mencionar que se trata de um expressivo poeta de acentuada vinculação folclórica, cantor das assombrações e dos engenhos, figurando entre Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Joaquim Cardozo, como grandes expressões poéticas do Brasil.
Os poemas de Ascenso Ferreira foram reunidos em volumes organizados por inicialmente por Correya (FERREIRA, 1981), reunindo as obras Catimbó, Cana Caiana e Xenhenhém, e, posteriormente, por Silva (2015). Trata-se de uma poética que, segundo Gomes (2016, p. 138): [...] Há um certo antilirismo nessa polifonia, que muitas vezes rebaixa a voz do eu-lírico, ou mesmo a oculta totalmente. A multiplicidade de vozes, entrecortada, por narrações configuram um acento épico aos seus versos. Mas o conteúdo das histórias narradas por Ascenso, as vezes em versos heroicos, são opostos aos temas sérios, aos homens ditos superiores da epopeias clássicas. [...]. É dessa contradição entre o lírico, o dramático e o épico que surge a estranha poesia de Ascenso. [...]. Conforme Lamenha (2016, p. 32), [...] colocava em versos o dia, um versificador de crônicas, que via a vida do dia a dia [...], e que, no dizer de Barros (1977, p. 93): [...] primeiro que outro no Brasil, incluiu no recitativo um trecho musical popular, um refrão, um trecho de embolada, com impressão sonora de cor e ambientes local [...] E não há quem o ouça para não sentir o encanto irresistível duma poesia estranha e doce, bravia e sincera, cheia de vitalidade e de força evocadora. [...]. Por conta disso, Guilhermino (2016, p. 59) assevera que Ascenso [...] como um autor que congrega em sua escrita elementos tipicamente nordestino, reflexos do meio no qual esteve inserido. Seus poemas são verdadeiras rapsódias do Nordeste, nas quais se espelha moravelmente a alma ora brincalhona, ora pungentemente e nostálgica das populações do engenho e do sertão. [...]. Acrescenta Coelho (2016, p. 73) que: [...] recorre aos ditos populares, cantigas, canções e lendas para configurar a sua poética com uma forte carga brasileira. Ao apropriar-se dos temas da cultura popular, o autor revisitou memórias coletivas que se tornaram artifícios estéticos de recriação do ethos pernambucano. [...] confirma-se um projeto identitário brasileiro, que se realiza pelo diálogo de várias linguagens comuns à vivência do nordestino e, mais precisamente, de Pernambuco.
Por conta disso, Vitrolira (2016, p. 93) observa que: [...] a frente do seu tempo, inovou em estética e temática, permanecendo atual para a contemporaneidade [...] estabelecendo uma relação dialógica entre os dois universos e avaliando suas divergências ideológicas por meio da ironia de modo sutil que motivam, no leitor, o riso, embora discreto. [...]. Tal condução leva Martins (2016, p. 113) a expressar que: [...] prova que é possível produzir uma poesia única, unindo a literatura nacional com a cultura popular, sobretudo com a cultura regional. A poesia de Ascenso relaciona harmoniosamente as correntes que supostamente não poderiam convergir. Sua poesia triunfa uma vez que quebra com os paradigmas da época em que as duas correntes não poderiam dialogar. [...]. Além do mais, observa Durán e Azevedo (2005) que [...] A obra de Ascenso é, dessa forma, documental porque registra um espírito de um povo com suas lendas, mitos, tradições e história. Consegue mapear os costumes e a espacialidade, mesclando os falares numa linguagem contrastante do coloquial ao erudito e até do dialetal. Uma poesia essencialmente universalizante, porém, como se percebe, enraizada no solo da sua terra e na alma da sua gente. [...]. O que leva Gomes (2016, p. 146) a concluir que: [...] a maior fecundidade de Ascenso Ferreira está, pois, em sua declamação. A força de seu dizer, ecoa ainda hoje, na poesia falada nas ruas e becos do Recife. O dizer cantando, acentuado e dramático resiste até hoje. [...].

REFERÊNCIAS

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BANDEIRA, Manuel. Ascenso Ferreira. In: Poemas de Ascenso Ferreira: Catimbó, Cana Canaiana, Xenhenhém. Recife: Nordestal, 1981.
BARROS, Souza. 50 anos de Catimbó. Rio de Janeiro: Cátedra, 1977.
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CHIACHIO, Carlos. Modernistas e ultramodernistas. Salvador: Progresso, 1951.
COELHO, Laiane. A tradução cultural da memória coletiva de Pernambuco por meio da obra Catimbó de Ascenso Ferreira: uma análise do contexto sociocultural em suas maleáveis raízes. In: Palavras para Ascenso: coletânea de artigos. Recife: SESC/LAL, 2016.
CORREIA, Severino. Uma visão melopoética sobre a obra de Ascenso Ferreira. In: Palavras para Ascenso: coletânea de artigos. Recife: SESC/LAL, 2016.
CORREYA, Juareiz. Ascenso Ferreira: o Nordeste em carne e osso – perfis pernambucanos. Recife: Bagaço, 2001.
COUTINHO, Afrânio. Introdução à literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
DURÁN, Socorro; AZEVEDO, Avani. A contribuição sociológica da poesia de Ascenso Ferreira. Palmares: Gil, 2005.
FRANCESCHINI, Marcele Aires. Ascenso Ferreira e o modernismo brasileiro. Magma Revista. São Paulo, n. 9, p. 103, 2004/2006.
GOMES, Ricardo. Ascenso Ferreira, muito prazer. In: Palavras para Ascenso: coletânea de artigos. Recife: SESC/LAL, 2016.
GUILHERMINO, Josicleide. Ascenso Ferreira: sentimento da terra. In: Palavras para Ascenso: coletânea de artigos. Recife: SESC/LAL, 2016.
LAMENHA, Antonio. A poesia sentimental de Ascenso Ferreira. In: Palavras para Ascenso: coletânea de artigos. Recife: SESC/LAL, 2016.
LIMA, Alceu Amoroso. Introdução à literatura brasileira. Rio de Janeiro: Agir, 1956.
LITRENTO, Oliveiros. Apresentação da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1978.
MARTINS, Wilson. A literatura brasileira: o Modernismo. São Paulo: Cultrix, 1965.
MARTINS, Maria. A voz africana na poesia de Ascenso Ferreira: considerações acerca da influência da cultura negra em Catimbó. In: Palavras para Ascenso: coletânea de artigos. Recife: SESC/LAL, 2016.
MILLIET, Sérgio. Ascenso Ferreira, rei dos mestres. In: Poemas de Ascenso Ferreira: Catimbó, Cana Canaiana, Xenhenhém. Recife: Nordestal, 1981.
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SALAZAR, Jussara. Entre cafunés e tambores: Ascenso, Bopp and Wally... In: Palavras para Ascenso: coletânea de artigos. Recife: SESC/LAL, 2016.
SILVA, Valéria (Org.). Como polpa de ingá maduro: poesia reunida de Ascenso Ferreira. Recife: CEPE, 2015.
VITOR, Zé. A representação do feminino na poesia de Ascenso Ferreira. In: Palavras para Ascenso: coletânea de artigos. Recife: SESC/LAL, 2016.
VITROLIRA, Luna. As surpresas da ironia em Ascenso Ferreira. In: Palavras para Ascenso: coletânea de artigos. Recife: SESC/LAL, 2016.

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