QUANDO A GENTE
VAI VER A COISA É OUTRA COISA – Imagem: De corpo inteiro, arte do pintor,
desenhista, ilustrador e professor Darel
Valença Lins (1924-2017). - PRÓLOGO:
Ah, o ano mal começou e já estamos em fevereiro: a vida voa! E a gente voa
junto sem saber muito bem o que é que há. A vida passa e muita mas muita gente
mesmo fica a ver navios, o efêmero e seus simulacros. Eu, hem, tudo passa e
amanhã não será de ninguém. UMA: ISSO É
QUE É CARNAVAL, NUM É MESMO, GENTE? - Queria era falar de Alagoinhanduba,
mas como Palmares é feito Brasília ao quadrado por causa duma gestão em duas
com tudo de pernas pro ar e ladeira abaixo, se é que me entendem, mesmo com a
recomendação do MP de não haver folia alguma por conta da crise, Panem et circenses, a gestão atual da Fundação-Casa-dos-que-nunca-leram-Hermilo resolveu organizar um carnaval, com
apoio da Fundarpe & Empetur, hem hem, e patrocínio da cachaça Sifu, as
Folias de Hermilo, cujo centennário foi o ano passado e a cidade é surda,
quase passava em branco (no ano passado, não fosse a CEPE)! Trata-se da
Premares (!?!), homenageando (é mesmo?) Veludo do Pife, Rabeca, Seu Insnard,
Sinho, Dorjão Pinical & Tião PM (Havia tempo que isso tinha outro nome, né?).
Tudo já começou na segunda com Dona Nininha do Coco que não deu pra ver, a Orquestra
de Frevo Acorda Gente que parece que não veio, o Maracatu Piaba de Ouro idem, o
que se viu mesmo foi uma tal de Chapuleta Grill na folia com o trio Asa do
Brega e o som: Que música é essa? Benzodeus! E eu é que sei, ora! Maior tronchura, eca! A
gente pula é com a zoada mesmo! Pois é. Na terça consta na programação o
infantil Nave Moleque, a Orquestra Caxangá e o Bloco Sai do Armário (esse eu vi
membros desfilando de dia pra cima e pra baixo), o resto é só pagar pra ver; na
quarta, está prevista a Escola de Samba Galeria do Ritmo, Orquestra de Frevos
Plural (sic), Bloco Lírico Amantes das Flores & Leões da Mata & Banda
Bicho do Mato, tá; na sexta, está no cartaz a presença do parceiramigo Cikó
Macedo & Bonecos Gigantes de Olinda, Orquestra de Frevos Vitrine Viva
(sic), Caboclinho Tribo Oxossi Pena Branca & o tradicional Bloco das
Puaras, mais Ozz Cuecas, André Marreta, Banda Luará & DJ Fabio Blair, tá e
tá. Tudo isso porque no sábado, graças a Deus, é dia de Zé Pereira e todo mundo
vai pro Galo da Madrugada. Do domingo em diante, a mundiça toda arriba para as
praias tomar uma, mexer os esqueletos e não fazer nada porque ninguém é de
ferro – já dizia Ascenso! Haja farofa, areia e munganga! Pois é, se aqui não é
o Piauí, o cu do mundo é mesmo aqui! Já dizia o poeta Juá Correya: Melhor que
Palmares City só Paris, de noite. DUAS:
E POR FALAR EM CRISE – A economista Virilha Cunhão explica tudo na
Alagoinhanduba TV, sempre com seu cabelo em desalinho, maquiagem e batom
borrados, indumentária démodé &
seu ar de sabichona fidapesta má fodida da gota, sobretudo sobre a crise: o PIB
está de TPM e como o sex appeal da
argúcia lógica no reverso da moeda do spread
anda volátil de riba pra baixo, e pelo avesso, aí você ovula antes do tempo e
os espermatozoides todos ficam doidões para molhar o biscoito no seu furico, aí
é o fim da picada! Aí, no final só dá crise na Bolsa, no fígado, nos índices
econômicos, nos rins, nos dividendos da poupança, na coluna, no tino dos
políticos, na previdência social e na tonga da mironga do kabuletê que agarrou
o pencó da coisa deflacionando o superávit da contingência inflacionária, o que
vai dar na maior tranqueira pra lascar você, bestão, e só vai soltar sua
frasqueira no ano que vem, oxalá! (Isto é, se você entender que ano que vem
seja 2021, porque até lá, o golpista já fodeu tudo e todo mundo e salve-se quem
puder!). Pois, assim fez-se Pandora a mais bela entre todas as ninfas e
sátiros, mênades e bacantes abrindo a boceta do rito do diasparagmós na
catábase da Patriamada, Brasilzilzilzilzilzilzil! Agora é só dissuadir as
autoridades agorinha e já que, mesmo desconfiando do Poder Judiciário e todos
os demais poderes deletérios que a gente já está careca de saber, o Brasil tem
jeito – quando, ninguém sabe -, afinal, mesmo que confunda trambique com
honestidade, erário público com bolso pra enricar político, tudo no fim, quer
queira quer não, dá certo mesmo. Ah, faltou alguém perguntar pra ela: De que
lado mesmo você está, hem? TRÊS:
SAIDEIRA - Da primeira vez eu disse que ia e não fui, é que no mundo das
coisas tudo se altera de forma complexa a ponto da gente se perder de vista. Da
segunda vez eu nem queria ir e fui, feito um inacabado, em processo, tudo é
muito mais trágico do que parece ser. Da terceira vez eu disse pra mim: agora
vai dar certo! Não deu, de novo, teibei, fiquei só de comer o pão como fruto do
trabalho, a punição milenar. E pra isso não há meio termo: ou paga ou se paga,
de qualquer jeito. Não há faz de conta, tudo em cima da bucha, preto no branco e
vice-versa. As alternativas, quantas? Nenhuma, no frigir do óbvio nos ovos, tudo
pra nada, nove fora nada. Qual é? Ah, a pergunta que não quer calar: Por que a
gente sofre e causa sofrimento aos outros, hem? Ah, porque todo mundo tem culpa
no cartório, ora, todo mundo. E vamos aprumar a conversa! © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com a música
do compositor, arranjador e maestro Rogério Duprat (1932-2006): The
Brazilian Suite, Nhô Look & Brasil com S; da cantora, violonista e
compositora Rosa Passos: Romance, Festival Jazz Vitória-Gasteiz &
Live at Jazz Lincoln Center; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog
& nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só
ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA –[...] Certas
manhãs quando desço de bonde para o centro da cidade, naquelas manhãs em que,
no dizer do poeta, um arcanjo se levanta de dentro de nós; quando desço do
subúrbio em que resido há quinze anos, vou vendo pelo longo caminho de mais de
dez quilômetros, as escolas publicas povoadas. Em algumas, ainda surpreendo as
crianças entrando e se espalhando pelos jardins à espera do começo das aulas,
em outras, porem, elas já estão abancadas e debruçadas sobre aqueles livros que
meus olhos não mais folhearão,nem mesmo para seguir as lições de meus filhos
[...]. Trecho extraído da obra Crônicas
escolhidas (Publifolha, 1995), do escritor Lima Barreto (1881-1922).
Veja mais aqui.
O QUE VOCÊ PODE FAZER POR TODOS NÓS – [...] Afinal, o que posso fazer de concreto a
respeito do problema ambiental? [...] Você
pode estar interessado em engajar-se em algum grupo ecológico, levantar
bandeiras em passeatas, colher assinaturas para documentos de protesto ou
disrtribuir panfletos preservacionistas [...] Você pode, também, sair pelo mundo plantando ávores. [...] Outra opção é passar a respeitar a natureza
com mudanças de atitudes [...] Para
se tornar um verdadeiro agente transformador, você deve simplesmente buscar
novas informações e transmití-las ao maior número de pessoas que puder
[...] Você sabe um pouco mais a respeito
dos problemas ambientais do que a maioria de nossa população. Saiba, agora, que
os maiores responsáveis por eles não são aqueles que estão no meio da floresta,
desmatando-a, ou aqueles que estão poluindo os rios com mercúrio. Os verdadeiros
responsáveis são os que, mesmo conhecendo a dimensão do problema, nada fazem
para resolvê-lo. Esses acreditam que o simples fato de não estarem diretamente
envolvidos na depredação os torna isentos de qualquer culpa. “Destruidores são
os outros”, pensam. Você pode se tornar um deles facilmente. Sinto muito, caro
leitor, mas acho que você acaba de se meter em uma enrascada. Ou ajuda, com
seus conhecimentos a evitar a destruição de nossos ecossitemas ou se torna
conivente com ela. [...]. Trecho extraído da obra Era verde? Ecossistemas brasileiras ameaçados (Atual, 2013), do
professor doutor em Psiccologia, Zysman
Neiman. Veja mais aqui.
ÚLTIMO DIA DE UM CONDENADO – [...] Os
que julgam e condenam dizem que a pena de morte é necessária. Primeiro porque é
importante subtrair da comunidade social um membro que já lesou e poderia
lesá-la novamente. Se se tratasse apenas disso, a prisão perpetua bastaria.
Para que a morte? Objetarão que se pode escapar de uma prisão. Façam melhor a
sentinela. Se não acreditam na solidez das grades de ferro, como ousam ter
zoológicos? Nada de carrasco onde casta o carcereiro. Mas, retorquirão, é
preciso que a sociedade se vingue, que a sociedade puna. Nem uma coisa nem
outra. Se vingar é próprio do individuo, punir é de Deus. A sociedade está
entre os dois. O castigo está acima dela, e a vingança, abaixo. [...] Resta a terceira e última razão, a teoria do
exemplo. É preciso dar o exemplo! É preciso assustar por meio do espetáculo do
fim reservado aos criminosos, os que seriam tentados a imitá-los. [...] Só os jurados
pareciam pálidos e abatidos mas era aparentemente, por causa da fadiga de terem
velado toda a noite. Alguns bocejavam, Nada, no seu porte, anunciava homens que
acabavam de trazer uma sentença de morte; e na figura destes bons burgueses eu
só conseguia descobrir um grande desejo de dormir.[...] Se tudo a
minha volta é monótono e descolorido, não existirá em mim uma tempestade, uma
luta, uma tragédia? Esta ideia fixa que me possui não se me apresenta a cada
hora, mas a cada instante, sob uma nova forma, sempre mais hedionda e
ensanguentada à medida que o termo se aproxima? Porque não experimentar dizer a
mim mesmo tudo o que sinto de violento e desconhecido nesta situação abandonada
em que me encontro? Certamente, a matéria é rica; e por mais curta que seja a
minha vida, haverá muito ainda – nas angústias, nos terrores, nas torturas que
a encherão, desde esta hora até à derradeira – com que usar esta pena e esgotar
este tinteiro. [...] A prisão é uma
espécie de ser horrível, completo, indivisível, meio casa, meio homem. Eu sou a
sua presa; ela incuba-me, ela enlaça-me com todas as suas pregas, ela
encerra-me em suas muralhas de granito, Põe-me a cadeado sob sua fechadura de
ferro, vigia-me com seus olhos de carcereiro. [...]. Trechos extraídos da
obra O último dia de um condenado à morte
(Integral, 1995), do escritor francês Victor Hugo
(1802-1885). Veja mais aqui.
MULHER NO ESPELHO – Hoje que seja esta
ou aquela, / pouco me importa. / Quero apenas parecer bela, / pois, seja qual
for, estou morta. / Já fui loura, já fui morena, / já fui Margarida e Beatriz.
/ Já fui Maria e Madalena. / Só não pude ser como quis. / Que mal faz, esta cor
fingida / do meu cabelo, e do meu rosto, / se tudo é tinta: o mundo, a vida, /
o contentamento, o desgosto? / Por fora, serei como queira / a moda, que me vai
matando. / Que me levem pele e caveira / ao nada, não me importa quando. / Mas
quem viu, tão dilacerados, / olhos, braços e sonhos seus
e morreu pelos seus pecados, / falará com Deus. / Falará, coberta de luzes, / do alto penteado ao rubro artelho. / Porque uns expiram sobre cruzes, / outros, buscando-se no espelho. Poema extraído da obra Flor de poemas (Record, 1998), da escritora, pintora, professora e jornalista Cecília Meireles (1901-1964). Veja mais aqui.
e morreu pelos seus pecados, / falará com Deus. / Falará, coberta de luzes, / do alto penteado ao rubro artelho. / Porque uns expiram sobre cruzes, / outros, buscando-se no espelho. Poema extraído da obra Flor de poemas (Record, 1998), da escritora, pintora, professora e jornalista Cecília Meireles (1901-1964). Veja mais aqui.
EVA BRAUN
O filme Eva Braun (2015), escrito e dirigido pela
cineasta italiana Simone Scafidi, conta a história da cineasta, fotógrafa e modelo
alemã Eva Braun (1912-1945), que foi
companheira de longa data de Hitler e, por menos de quarenta horas, sua esposa.
Durante o relacionamento ela tentou duas vezes o suicídio, passando a ser
presença constante na casa-refúgio do nazista. Com o desmoronamento do Terceiro
Reich ela jurou lealdade a ele, casando-se e depois se suicidou com uma cápsula
de cianeto. Destaque para atuação da belíssima atriz italiana Andrea Riva.
Veja mais:
A vida é linda, apesar dos enrustidos &
dos chatos de galocha!, Selene, a lenda dos Bororos
orientais, a7, a
pintura de Laura Tedeschi, a música de Witold Lutoslawski & Ewa Kupiec aqui.
Aijuna, o mural dos desejos florescidos aqui.
Crônica
de amor por ela aqui.
O Recife do Galo da Madrugada aqui.
Utopia, Charles Dickens, Alfred Adler,
Carybé, Rogério Duprat, Hector Babenco, Sonia Braga & Tchello D’Barros aqui.
A psicanálise de Karen Horney & o
papo da tal cura gay aqui.
A hipermodernidade de Gilles Lipovetsky
& a trajetória Tataritaritatá aqui.
&
Três poemetos da festa de amor pra ela aqui.
A
ARTE DE DAREL VALENÇA LINS
A arte do pintor, desenhista, ilustrador e professor Darel Valença Lins (1924-2017). Veja
mais aqui, aqui e aqui.