quinta-feira, fevereiro 15, 2018

BAUDELAIRE, NISE DA SILVEIRA, FAUSTO WOLFF, CAMARGO GUARNIERI, RACHEL DOLLY D’ALBA, EDUARDO PRADO COELHO, MADISON MOORE & HOLOCAUSTO BRASILEIRO

PROMESSA CUMPRIDA: A MINHA VIDA PELA SUA – Imagem: arte do pintor estadunidense Madison Moore. - Mãe é mãe. E naquele dia, aquela mãe estava duplamente feliz: aniversário da sua filhinha, três primaveras. Ela exultava: Amo você mais que tudo na vida! Também amo você, mamãe. E se preparavam para a festa. De manhã deu-lhe presentes: brinquedos novos dela não se conter em si mesma de tão alegre. De tarde ambas se arrumaram com penteados e maquiagens para o evento religioso, tal mãe, tal filha. O dia inteiro, repetidamente, abraçava a filha e dizia: Amo você mais que tudo na vida. Também amo você, mamãe. À boquinha da noite o marido chegou com muitos beijos e abraços, e capricharam nas vestimentas. Seguiram os três para a efeméride religiosa. Lá oraram preces muitas e ao término das celebrações, seguiram pro salão de festa no anexo: guaranás, bolos, brigadeiros, pastéis, doces, salvas e vivas, muitos presentes. Confraternizaram, cantaram os parabéns com parentes e amigos. Nessa hora a mãe teve um aperto no coração, procurou a filha pelos quatro cantos, lá estava inocentemente a brincar com outras crianças. Coração de mãe presente. Abrassou-a afetuosamente com muitos beijos: Minha vida pela sua, amo você mais que tudo na vida! Também amo você, mamãe. Deixou-se fotografar, muitos cliques, ela mesma autofotografou abraçada com a filha e postou numa rede social, com a mensagem: Minha vida pela sua, amo você mais que tudo na vida! Muitos acessaram entre as amigas e amigos que estavam ao seu lado, festejavam a foto no perfil materno, a felicidade de ambas, clicaram e curtiram, manifestavam solidários. Fim de festa. Noite alta, abraços, felicitações e despedidas. Criança no banco traseiro do automóvel, ao lado de dois vizinhos que pegaram carona para o lar. A mãe sentou-se no banco do passageiro, colocou o cinto de segurança, virou-se e soltou um beijo na ponta dos dedos pra filha. A filha retribuiu com beijos jogados às duas mãos. O marido ao volante, apressado pra chegar em casa, alta velocidade, curvas acentuadas, ultrapassagem pela direita e pela esquerda, costurava no trânsito, o sinal amarelou e nem viu avermelhar, um ônibus atravessa, o choque inevitável. A tragédia. Bombeiros e militares serraram as ferragens, entre os destroços a criança chorava salva pelo abraço da mãe, os demais todos mortos. Promessa cumprida. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá é dia de especial com o compositor, professor e regente Camargo Guarnieri (1907-1993): Sinfonia Uirapuru, Seresta para piano e orquestra & Sinfonia n5; da violinista suiça Rachel Dolly d’Alba: Tzigane Ravel, Sonata Passion Ysaye & Summertime Gershwin; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] o doente estendido ali num leito de indigente do Hospital Santa Isabel não era uma máquina. Valladares nos ensinava uma semiologia minuciosa, na intenção que compreendêssemos a dinâmica dos sintomas. Dava-nos a visão do doente em sua totalidade de ser humano, e nunca de uma máquina, sobre a qual poderiam ser derramadas, ou introduzidas quantidades enormes de sustâncias químicas [...]. Extraído de 40 anos do Museu de Imagens do Inconsciente (Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 1992), da médica psiquiatra e psicoterapeuta alagoana Nise da Silveira (1905-1999), que no seu livro Cartas a Spinoza (Francisco Alves, 1995) diz: [...] Todas as coisas existentes são modos, isto é, modificações, afecções da substância, e não podem ser concebidas sem a substância ou fora da substância, sua causa imanente. A existência dos modos é precária. Existem ou deixam de existir, enquanto é eterna a substância [...]. Veja mais aqui, aquiaqui.

CONHECIMENTO & CRIATIVIDADE - [...] Tão importante quanto a capacidade de produzir novo conhecimento é a capacidade de adaptar-se, recriar e aplicar conhecimento de acordo com as necessidades e especificidades de cada organização, país e localidade e, mais ainda, a capacidade de converter esse conhecimento em ação ou, mais especificamente, em inovação. [...] a nova face da contemporaneidade revela múltiplos desafios e a abordagem científica dessa realidade implica recorrer a ferramentas como a reflexividade, a critica e a criatividade [...]. Trechos de Conhecimento, aprendizado e inovação: subsídios à pesquisa empírica, de Sarita Albagli e Maria Lucia Maciel, extraído da obra Sociologia e realidade: pesquisa social no século XXI (UnB, 2006).

CIÊNCIA & LITERATURA - [...] Toda ciência gira em torno de objetos impossíveis e trabalha sobre objetos fantasmáticos. Cada um desses objetos fantasmáticos suscita uma verdadeira paranoia. Assim com a Biologia atual que anda paranoica de ADN. Assim com a ciência literária [...] que paranoica de literariedade. E o que é literariedade? É um objeto fantasmático através do qual se metaforiza a resistência da literatura. E o que é a recepção de uma obra literária? Outro objeto fantasmático através do qual se metaforiza a resistência da literatura. E o que é a teoria do texto? Outro objeto fantasmático [...] e assim por diante. Trechos extraídos de Os universos da crítica (Ed. 70, 1987), do professor, escritor e ensaíta português Eduardo Prado Coelho (1944-2007).

A PUTA – [...] As dinamarquesas são mulheres bonitas, extremamente dadivisoas, mas um tanto frias até que conseguimos deitá-las numa cama. Também é verdade que quando melhor alimentadas, mais belas as mulheres de qualquer país. No Brasil, desde o seu descobrimento e exploração, poucos comem bem e é difícil explicar Copacabana ao turista desavisado, ou melhor, é difícil explicar tanta beleza feminina numa única praia. Os dinamarqueses enlouqueceram. Voltaram para o hotel com os olhos cheios de coxas, seios e bundas. [...] Assistiam a um show cahamado “Prisioneiras da selva”, onde, ao som de “Cubanacán, maravilhoso país del amor..”, índias – em verdade, mulatas, e negras em sua maioria -, seios à mostra e tapa-sexos mínimos, eram perseguidas por gorila de mentirinha, pois, após alguns minutos de perseguição, abriu o zíper e de dentro da fantasia saiu uma bela loura oxigenada. A ex-gorila, em verdade uma colonizadora, jogou-se sobre as índias afro-brasileiras e deu inicio ao maior exercício sáfico, para gringo e orquestra, já presenciado ao sul do Equador. Dez garotas se cunilinguavam quando o anão trepou no parapeito do reservado, abriu a braguilha, exibindo uma peça do tamanho de um braço de criança, e saltou no meio das mulheres. [...] Brasília dos Santos era uma das mulheres mais bonitas do mundo. Posso garantir, pois conheci-a pessoalmente. Mulata clara, seios pequenos, bunda que chegava a ser mágica de tão atraente, olhos verdes, cabelos esticados, lábios carnudos, pescoço delgado, cintura fina e coxas que enlouqueceriam qualquer dos grandes escultores da Grécia Antiga. Tudo isso dentro de uma minissaia que a deixava mais nua do que se nua estivesse. [...] Extraído da obra Melhores contos (Global, 2007), do jornalista e escritor Fausto Wolff (1940-2008). Veja mais aqui e aqui.

CONFIDÊNCIAS - A natureza é um templo augusto, singular, / Que a gente ouve exprimir em língua misteriosa; / Um bosque simbolista onde a árvore frondosa / Vê passar os mortais, e segue-os com o olhar. / Como distintos sons que ao longe vão perder-se, / Formando uma só voz, de uma rara unidade, / Tem vasta como a noite a claridade, / Sons, perfumes e cor logram corresponder-se / Há perfumes subtis de carnes virginais, / Doces como o oboé, verdes como o alecrim, / E outros, de corrupção, ricos e triunfais / Como o âmbar e o musgo, o incenso e o benjoim, / Entoando o louvor dos arroubos ideais, / Com a larga expansão das notas d'um clarim. Poema extraído da obra As flores de mal (Nova Fronteira, 1985), do escritor, tradutor, critico de arte e poeta francês, Charles Baudelaire (1821 - 1867). Veja mais aqui e aqui.

HOLOCAUSTO BRASILEIRO
O documentário Holocausto brasileiro (2016), dirigido por Daniela Arbex e Armando Mendz e baseado no livro homônimo de Daniela Arbex, mostra o genocídio que aconteceu no Hospital Colônia em Barbacena (MG), enquanto discute questões atinentes ao papel dos manicômios. Trata-se de emocionante relato da maior e mais silenciosa tragédia já ocorrida no Brasil, a morte de 60 mil pessoas dentro da maior instituição psiquiátrica do país, o Hospital Colônia de Barbacena, fundado em 1903 na cidade de mesmo nome, em Minas Gerais. O Colônia de Barbacena era parte de um grupo de sete instituições psiquiátricas criadas na cidade e que teria dado ao município o apelido de "Cidade dos Loucos". No fim, ficou conhecido por oferecer um tratamento desumano aos pacientes.

Veja mais:
Dos revezes que não poupam a amizade e o amor, a literatura de Lydia Cabrera, a música de Hermeto Pascoal, a arte de Rosalyn Drexler, a escultura de Hiram Powers & Nicola Axe aqui.
Fernando Pessoa & Albert Einstein aqui.
Isadora Duncan & Simone de Beauvoir aqui.
Hilda Hilst & Zygmunt Bauman aqui.
Renata Pallottini & Carl Rogers aqui.
Daniela Spielmann & Eric Kandel aqui.
Bertolt Brecht, Nise da Silveira, Egberto Gismonti, Galileu Galilei, Irena Sendler, Michelangelo Antonioni, Charles André van Loo & Anna Paquin aqui.
A folia do prazer na ginofagia aqui.
Fecamepa & a Independência do Brasil aqui.
Têmis, Walter Benjamim, Luís da Câmara Cascudo, Sandie Shaw, Patrícia Melo, Marie Dorval, José Roberto Torero, Julia Bond & Iracema Macedo aqui.

ARTE DE MADISON MOORE
A arte do pintor estadunidense Madison Moore.

HIRONDINA JOSHUA, NNEDI OKORAFOR, ELLIOT ARONSON & MARACATU

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Refúgio (2000), Duas Madrugadas (2005), Eyin Okan (2011), Andata e Ritorno (2014), Retalho...