DITOS
& DESDITOS - Aquele que muito ama também tem muito que sofrer. Os
que estão morrendo não precisam de remédios, os que ficam, sim.
O exemplo pode encorajar outros que apenas temem começar. O
gênio não tem país. Floresce em todos os lugares. O gênio é como a luz, o ar. É a herança de todos.
Morro sem ver a aurora iluminar minha terra natal. Você que tem que ver, dê as
boas-vindas - e não se esqueça daqueles que caíram durante a noite! Pensamento do
escritor, jornalista, oftalmologista e revolucionário nacionalista filipino José Rizal y Alonso (1861-1896). Veja
mais aqui.
ALGUÉM
FALOU - Contanto que eu possa fazê-los rir, não importa
como, eu ficarei bem. Se eu conseguir, os seres humanos provavelmente não se
importarão muito se eu permanecer fora da vida deles. A única coisa que devo
evitar é me tornar ofensivo aos olhos deles: Eu devo ser nada, o vento, o céu.
Pensamento do escritor japonês Osamu Dazai (1909-1948), Veja mais aqui.
ARTE,
ESTÉTICA & SOCIEDADE – [...] Se estamos em condições de
reconhecer o percurso do gênero humano e utilizá-lo para nosso desenvolvimento
individual, devemos isto à arte, às realizações do reflexo artístico; do mesmo
modo, não seriamos capazes de avançar individualmente se nosso desenvolvimento
não estivesse fixado, interpretado, criticado pela nossa memória individual e
pela consciência que emerge desta base. [...] As forças sociais que o
artista apreende, figurando o seu caráter contraditório, devem aparecer como
traços característicos dos personagens representados, ou seja, devem possuir
uma intensidade de paixão e uma clareza de princípios que não existem na vida
burguesa cotidiana; e ao mesmo tempo, devem se manifestar como características individuais
de um indivíduo concreto. [...]. Trechos extraídos da obra Arte e
Sociedade: escritos estéticos 1932-1967 (EdUFRJ, 2009), do filósofo,
crítico literário e pensador marxista húngaro Georg Lukács (1885-1971),
que em outra de suas obras, Introdução a uma estética marxista (Civilização
Brasileira, 1970), acrescenta que: [...] A vida reproduz sempre o velho,
produz incessantemente o novo, a luta entre o velho e o novo penetra em todas
as manifestações da vida [...] Já que a arte representa sempre e
exclusivamente o mundo dos homens, já que em todo ato de reflexo estético o
homem está sempre presente como elemento determinante, já que na arte o mundo
extra-humano aparece apenas como elemento de mediação nas relações, ações e
sentimentos dos homens, deste caráter objetivamente dialético do reflexo
estético, de sua cristalização na individualidade da obra de arte, nasce uma
duplicidade dialética do sujeito estético, isto é, nasce no sujeito uma
contradição dialética que, por sua vez, revela também o reflexo de condições fundamentais
do desenvolvimento da humanidade. Trata-se aqui da relação entre homem e
humanidade. [...], Veja mais aqui, aqui e aqui.
CORPO
PORNOGRÁFICO – […] O corpo não obriga o espírito, ele o dá um contexto
de expressão […] Eu invisto sobre a zona da carne, invisto e conquisto o
que eu não poderia ter feito sem o músculo, o prazer viril do vigor. Eu quero
uma afirmação mais absoluta, ainda jovial, um culto de mim, uma existência
revolta frente aos outros, tangível, inevitável, visível, dessa visibilidade
que salta aos olhos — vontade de dominação sexual que se exprime, cola na pele,
nas formas. [....] Possuída da necessidade de modificar meu corpo pela
potência, de criar para mim uma armadura de sedução de beleza dura e severa
[...]. Eu encontrei instantaneamente em certos autores o compartilhamento
espontâneo dessa característica de certa volúpia: Mishima, Montherlant,
Nietzsche [...] Não saber aprender era uma faca de dois gumes que, nessa
idade, me salvava do pior. A postura inconfortável da debilidade era um
desastre menor do que a aprendizagem fastidiosa para meus impulsos mais
íntimos. Conhecer a história da humanidade numa idade muito tenra era aceitar
esses preceitos contra minha identidade e me acusar de uma existência
anti-natural, invertida, culpada e que deveria ser consertada. Eu preferia não
ouvir, para que as mensagens me contaminassem o menos possível. [...] Eu
escrevo uma poética moderna de corpos andróginos e eu utilizo meus deleites. Ele
nunca foi sujeito, esse corpo de mulheres viris na nossa literatura ou na nossa
filosofia. Sua criação é contemporânea, ela soa como a chegada de um desejo por
muito tempo impossível. É o motivo da festa ser considerável — cada vez que
esse corpo se encontra em uma confrontação sensual — e não cessa de procurar
para si uma ilustração retumbante. Nós chegamos a quebrar as clivagens, não
somente nas estruturas de pensamento mas naquelas dos corpos, e o mundo
finalmente se organiza para abrigas esses novos eventos. Como prova, começam a
aparecer nas diferentes notícias esportivas, no interior de nossas casas, sobre
as telas de tv, essas mulheres do futuro. [...] A ação disciplinada do
corpo se esmigalha com o envelhecimento, a alma é que importa ser trabalhada. É
o que permanece. Eu me confronto com essa dificuldade de exprimir corpo e
palavras. Nos corpos como nos livros estão confinadas energias. Podemos nos
perguntar se o que faz sentido hoje terá sentido amanhã. Antigamente tínhamos
por perspectiva a perenidade das obras. Hoje, conhecemos a sucessão de seus
mortos, nos vimos mitos desmoronarem e se instalarem montanhas efêmeras substituídas
por outras, também falsas. A reflexão sobre o corpo e o texto fala também sobre
a ambição: se o instinto quer que deixemos nossos traços na areia do mundo,
precisamos nos confrontar com o que mina a validade desse instinto, o ultrapassar
contínuo da vida. Nos resta apostar sobre um eternal humano que se revisitará
através de nós, que se amará e se trairá nos retratos que o mostramos, essas
imagens que nos nutrem. [...] Por que eu escolhi uma escrita que passa
pelo simbolismo do sexo? Para que o pensamento tenha esse lado hard, para que
ele faça parte de uma fantasmagoria estética [...] Eu acaricio esse
corpo volumoso no texto, eu acaricio escrevendo meus músculos salientes. Eu
acaricio o ombro, a nuca, o peitoral. Eu acaricio a pele firme, dura e tenra.
Eu acaricio sua constrição em torno da fibra muscular, eu acaricio as veias que
passam, atravessam o corpo, emergem em certos locais e depois mergulham no invisível,
na opacidade da carne. Viva aparência que eu não hesitarei em exibir para gozar
dela. Eu apareço ainda, escrevendo esse texto sem espelho, na ausência de espelhos
mirando entretanto através dos conceitos uma imagem do meu corpo no que ele se
assemelha a esse mesmo corpo real, físico. Beleza sem transparência do sangue
que percorre o azul das veias. Beleza no rigor sombrio do músculo. E no traçado
negro, anguloso das formas como um desenho em ponta seca que dirá somente a
língua do desejo, onde cada figura será expressão de vontade, de fome, de tentação,
de apetite, onde tudo seria reino da carne e o império colossal da distração regozijante.
E quem diz prazer diz amplitude, força, maestria de onde explode o gozo. [...].
Trechos extraídos da obra Construction d’un corps pornographique. (Cercle
d’Art, 2005), da escritora e fotógrafa
Nathalie Gassel. Veja mais aqui.
UM POEMA - Mais uma vez a vontade de chorar
toma conta de mim \ Quando me lembro dos dias que costumavam ser \ As tílias, a casa, as cegonhas e as borboletas \ Longe... em algum lugar... muito longe para os meus olhos \ Eu vejo e ouço o que sinto falta \ O vento que costumava embalar velhas árvores \ E ninguém mais me diz \ Sobre a névoa, sobre o silêncio \ A distância e a escuridão fora da porta \ Eu sempre vou ouvir essa canção de ninar \ Veja nossa casa e lagoa colocadas por \ E tílias contra o céu... Poema extraído do Diário
(1942-2012), da escritora polonesa Renia Spiegel (1924-1942), impressionante narrativa da vida de um jovem judeu durante a Segunda
Guerra Mundial, quando os nazistas invadiram a Polônia e os soviéticos pelo
leste, deportando, aprisionando e assassinando judeus nas cidades como
Przemsyl, onde Spiegel viveu e morreu. Sua história ficou conhecida
devido ao seu diário pessoal, escrito entre seus 15 e 18 anos, onde conta a
experiência de ser uma adolescente e viver na cidade, onde a situação do povo
judeu rapidamente se deteriorou após a invasão. Ela foi levada para a rua junto
dos pais de Zygmunt e eles foram executados a tiros em 30 de julho. Os pais e a
irmã de Renia sobreviveram à guerra e emigraram para os Estados Unidos. Ela começou
a escrever o diário em 31 de janeiro de 1939, quando tinha 15 anos de idade,
com quase 700 páginas que foram mantidas em segredo e foi feito em um caderno
escolar costuradas juntas. Em seus escritos, fala de seu dia a dia na escola, a
vida em família, a dor de ficar separada da mãe, seu namoro com Zygmunt
Schwarzer, o medo crescente da guerra e o medo de se mudar para o gueto. No
diário constam escritos e pensamentos, desenhos e poemas, dos quais destaco mais
os trechos: [...] Meu querido diário, meu bom e amado amigo! Passamos por
momentos terríveis juntos e agora o pior momento está sobre nós. Eu poderia
sentir medo agora. Mas Ele não nos deixou, e nos ajudará hoje. Ele vai nos
salvar. Ouça, ó, Israel, salve-nos, ajude-nos. Você me manteve a salvo de balas
e bombas, de granadas. Ajude-me a sobreviver! E você, minha querida mamãe, reze
por nós hoje, reze muito. Pense em nós e que seus pensamentos sejam abençoados.
[...] Poemas
são algo extraordinário e único, eles conectam almas e enobrecem, elevam o amor.
O passado não se foi há muito tempo; está presente em nossos corações, em
nossas ações e nas lições que ensinamos a nossos filhos [...].