OS VENTOS DO VENTRE DESNUDADO – Lá estava ela: a franja sobre os olhos possessivos, as pálpebras da
luxúria no batom da boca Madonna entreaberta a expor o decote da Monika de Bergman com a sua empolgação contagiante. Ajeitou os óculos na bolsa e entrelaçou
sua mão à minha, enquanto as pernas se enroscavam entre joelhos, ósculos e
amplexos, os seios acesos e estufados sob a blusa decotada. Delicadamente desabotou
minha camisa e deslizou mansamente a mão por meu omoplata e sentiu o meu peito
ofegante para ousar afago sobre meus músculos embaixo da camisa. Beijei-lhe
timidamente enquanto se livrava do sutien e expunha seu magistral desejo
tímido. Fitei-lhe fundo os olhos e na minha Íris ela era Mira, a Omicron Ceti,
a estrela maravilhosa a me levar pela constelação de Cetus, como se fosse um
passeio por Hegra na Nabateia da Al-Hirj. Beijos e toques logo ela se fez desnuda
estrela vermelha Betelgeuse, a Alpha Orionis, como se fosse Ericto de Ferri
lindamente exposta para minha gula de sátiro grego, o manequim que a fez
bacante na odisseia dos meus desejos mais incendiados. Com perícia sucumbi sob
suas saias, mãos atrevidas a demover sua calcinha úmida e todas as águas jorraram
de suas entranhas para me lavar a alma e o sexo. Recostou-se nua como se fosse
a indefesa La Cigale de Lefebvre e alisou a glande do meu sexo como se fosse João
Batista na cena da Salomé de Bonnard. Reclinou-se a beijar meu morango e
pude atravessar galáxias inteiras no céu da sua boca. Inquieta incendiária me
ofertou os ventos do seu ventre desnudado: o seu sexo era o Campi Flegrei pronto para entrar em ebulição com a Origem do Mundo de Courbet
inflamada para minha excitante penetração profunda, investindo firme até que o seu gozo era a erupção do Hunga Tonga-Hunga Ha'apai. A nossa orgia parecia mais o Jardim das Delícias de Bosch, com todas
as poses de Maximilien de Waldeck, as esculturas eróticas
do Kajuraho e dos amantes das ilustrações nas paredes de Pompeia. No ápice do
prazer vivi nela a Eterna
Primavera de Rodin. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS - Não se converte um homem quando o reduzimos ao silêncio. Existe no
coração de todos os homens um nervo secreto que reage às vibrações da beleza. Só existe um êxito: a capacidade de levar a vida que se quer. Pensamento do escritor estadunidense Christopher Morley (1890-1957).
Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU - Não se resiste sozinha à colonialidade do gênero. Resiste-se a ela desde
dentro, de uma forma de compreender o mundo e de viver nele que é compartilhada
e que pode compreender os atos de alguém, permitindo assim o reconhecimento. Quando penso em mim mesma como uma teórica da
resistência, não é porque penso na resistência como o fim ou a meta da luta
política, mas sim como seu começo, sua possibilidade. Pensamento da da filósofa, ativista e
professora argentina Maria Lugones. Veja mais aqui.
VIDA
COTIDIANA - [...] ninguém consegue identificar-se com sua
atividade humano-genérica a ponto de desligar-se inteiramente da cotidianidade.
[...] o homem participa na vida cotidiana com todos os aspectos de sua individualidade,
de sua personalidade. Nela, colocam-se “em funcionamento todos os seus
sentidos, todas as suas capacidades intelectuais, suas habilidades
manipulativas, seus sentimentos, paixões, ideias, ideologias. O fato de que
todas as suas capacidades se coloquem em funcionamento determina também,
naturalmente, que nenhuma delas possa realizar-se, nem de longe, em toda sua
intensidade. O homem da cotidianidade é atuante e fruidor, ativo e receptivo,
mas não tem nem tempo nem possibilidade de se absorver inteiramente em nenhum
desses aspectos; por isso, não pode aguça-los em toda a sua intensidade. [...].
Trecho extraído da obra Estrutura da vida cotidiana (Paz e Terra, 2004),
da filósofa húngara Ágnes Heller (1929-2019), que em outra de suas
obras, Sociología de la vida cotidiana (Península, 1977), expressa que:
[...] A arte é a autoconsciência da humanidade: suas criações são sempre veículos
da genericidade para-si e em múltiplos sentidos. A obra de arte é sempre
imanente: representa o mundo como um mundo do homem, como um mundo feito pelo
homem. Sua hierarquia de valores reflete o desenvolvimento da humanidade; no
topo dessa hierarquia encontram-se sempre aqueles indivíduos (sentimentos,
comportamentos individuais) que influenciam ao máximo o processo de
desenvolvimento da essência genérica. Dito com mais precisão: o critério de “duração”
de uma obra de arte é a elaboração de uma hierarquia desse tipo; se ela não
consegue isso, desaparece no poço da história. Em consequência, a obra de arte constitui
também a memória da humanidade. As obras suscitadas por conflitos de épocas
hoje remotas podem ser gozadas porque o homem atual reconhece naqueles
conflitos a pré-história de sua própria vida, de seu próprio conflito: através
deles desperta-se a recordação da infância e da juventude da humanidade.
[...]. Veja mais aqui,
A CAIXA
DAS DELÍCIAS – [...] O Natal tem que ser atualizado”, disse Maria. “Deveria ter bandidos, aviões e
muitas pistolas automáticas.” [...]
Trecho extraídos da obra The Box of Delights (Egmort, 2007), do poeta
inglês John Masefield (1878-1967), autor de frases como: Os dias que nos fazem felizes nos
tornam sábios. A alma distante pode abalar a alma do amigo
distante e fazer sentir a saudade, por incontáveis milhas.
Só a estrada e a madrugada, o sol, o vento e a chuva, E o relógio dispara sob as estrelas, e dorme, e a estrada
novamente.
Veja mais aqui.
MAXILIMILIEN DE WALDECK – Imagem recolhida da obra I Modi: The
Sixteen Pleasures : An Erotic Album of the Italian Renaissance: The Sixteen
Pleasures : an Erotic Album of the Italian Renaissance: Giulio... and Count
Jean-Frederic-Maximilien De Waldeck (Northwestern Univ Pr, 1989), reunindo a obra do artista,
antiquário, cartógrafo francês Jean-Frédéric Maximilien de Waldeck
(1766-1875), tornando-se famoso pela publicação de suas gravuras I Modi. Morreu
aos 109 anos de ataque cardíaco ao visualizar uma bela mulher perto da
Champs-Élysées, em Paris.