Foto da Variant encontrada na carteira do Doro, meramente ilustrativa porque
o estado atual do mandú está muito mas muito mais mesmo deplorável.
O TRÂNSITO E A FUBICA DO DORO - Andar no trânsito
de qualquer cidade já é um sacrifício dos mais massacrantes, quanto mais cruzar
com a fubica do Doro, hem? Nunca vi duas coisas se parecerem tanto e darem tão
certo: o loré véio e o dono! Como se identificam, parece mais que um foi feito
pro outro. Ou, no mínimo, Deus fez e o diabo ajuntou essas duas trepeças. Esse mandú é
famoso: é uma Variant (quem lembra? bem, parece, não se sabe ao certo se),
modelo mil novecentos e antigamente, com ignição direta por qualquer chave
virando aos peidos e só aos empurrões. Diz-se ser esse flagelo do mundo o
ganha-pão do amolestado. É assim: logo
cedo toda vizinhança é surpreendida com uma barulhada medonha! É que o sujeito
está todo cheio dos pantins manipulando chaves e ajeitados para a geringonça pegar,
coisa de passes e exorcismos escabrosos. Depois de muita chupeta,
mutreta, remoeta e munganga além da conta, o desmantelo está pronto: a
engrenagem toda funciona, o cabra debréia, engata primeira e a desgraça está
solta no mundo. E lá se vai o mondrongo atormentar a humanidade. A monstruosidade
vai todo de cara lisa invadindo ruas, avenidas e rodovias carregando a cor do
infortúnio e, ao que parece, todas as enfermidades da boceta de Pandora. A cor?
Qual? Identificar a pintura do desastre dá trabalho: uma mistura inadequada de
qualquer ocre com todas as cores desbotadas. Não me espantarei se ficar
invisível qualquer dia desses. Ninguém sabe se é conversível ou se o teto já
era. Motor? Deve ser a lenha porque o que o horroroso peida e fumaça, num tá no
gibi. Sai pipocando, com o disco de embreagem deslizando, as marchas pisando no
rabo do gato e o cara todo ancho buliçoso virando os braços no exercício da
folga múltipla do volante. Eita, pau! Olhando mais de
perto não dá direito para identificar os acessórios, exceto alguns mais
visíveis como os pneus que de tão empenados rebolam mais bambolês, todos carequíssimos
de não poder ver toco de cigarros acesos ou pedrinhas pontudas, e alinhados em
conformidade com o pau da venta do sujeito: cada qual puxando pruma direção
diferente, o que dá a impressão que a borréia tem complexo de caranguejo pelo
eixo entortado e de só andar de banda. Também as portas –
se é que se pode chamar de porta aquela disparatada parte da lataria: um traste,
abre o que? Não possui vidros, nem maçanetas nem nada: são amarradas por
barbantes nas colunas e cobertas por uma lona rasgada que mais parece coberta
de circo chué. Ah, se abrir a mala, cai o para-choque. E o para-brisa? Ah, um plástico
grosso e os óculos Ray Ban paraguaio maior que o defunto nas ventas do condutor.
Retrovisores? Já era, só se for o pescoço virado pros lados e pra trás na
iminência de qualquer desastre. Sinaleiras? Os braços do apaideguado gritando
que vai entrar (ou se foder, não faz diferença). E um desplante: tem som, um
gasguito dum rádio estridulante que dói no ouvido só do zoadeiro fino que
ninguém entende de nada que está tocando ou dizendo (talqualzinho aqueles
avisos sonoros de caminhões de venda de botijão de gás, imagina?). Acentos? Uma
cadeira de balanço pra quem guia e mais nada: uma catrevagem de coisas pelo
assoalho esburacado, tais como cilindros, baterias, bujões, gambiarras,
trincos, ferramentas, brebotes e teréns. Pra subir com a
tranqueira ladeira arriba, vambora macacada, tudo empurrando, ora. Ao descer,
segura senão vira merda. E lá vai ele todo serelepe na maior estripulia até
chegar a hora de brecar o malassombro irrefreável que o sinal fechou – ê, boi!
-, e sai tirando fino, cortando num ziguezague pra livrar o povo da frente aos
gritos e com o pé dando injetada no pedal do freio, de findar o solado da
alpercata rangendo e se gastando no chão, debaixo do maior fumaceiro. Eita,
pau! Para se ter
ideia, só pra estacionar é um estrupício: sobe na calçada, derruba o que tiver
pela frente e só acaba enfiado no para-choque de outro. Até hoje não vitimou
ninguém, pelo menos, pura cagada de sorte. Mas eis que um
dia da semana passada, ele vai pela rodovia todo pabo de fazer gosto. De repente,
uma barreira policial. De lá deu pra se ver um dos patrulheiros com as mãos
sobre os olhos fitando aquilo que se aproximava como a besta do apocalipse. Oxe,
o alvoroço bateu na tropa de se ver um deles gritar: - Que droga é
nove!?!?!? -, e danou o apito como alarme, mandando-o parar. Um escarcéu! Com todo estrimilique
ele livrou uma barroada na viatura, passou por cima do pé do guarda, matou um sagui
que ia atravessando, deixou meio mundo de passageiros que desciam dum
cata-corno infrator de pernas pro ar e às carreiras, e só conseguiu parar depois
de muita tirineta uns 300 metros depois de distância. Um pandemônio se
instalou no local. Logo um bocado de
soldado armado de baioneta, fuzil e metralhadora arrodeou aquela calamidade. Um policial
graduado logo se aproximou com as mãos no quarto a lhe admoestar: - Queria furar a
barreira, era? Vou lascá-lo agora! -, e empunhou um bloco de multas, anotando com
fúria e reclamo: - O senhor e esse desastre criminoso de carro estão incursos
em todas as penas de todos artigos do Código de Trânsito, do Código Penal, do
Código de Processo Penal, das Leis 9099/95, 11705/2008 e 12760/2012. Pronto, agora teje
preso, seu condenado! - Cuma? Bezodeus!
Aí fodeu Maria-preá -, ficou Doro sem saber o que dizer, enquanto a patota da
farda já o enquadrava nas algemas. Felizmente alguma
autoridade tomou a providência de remover das ruas esse delito ambulante, ao
passo que, ainda temos a infelicidade de cruzarmos com toda espécie de
tranqueira motorizada para embananar mais o trânsito que já é uma calamidade
por culpa tanto dos engenheiros de tráfego, como da falta de educação dos
condutores e transeuntes. Ainda acresça a isso a facilidade processual para
escamotear multas e sanções dos intrépidos motoristas que não estão nem aí para
quem pintou a zebra, todos que sequer tenham a mínima noção de direção
defensiva ou de primeiros socorros, burlando sempre a lei e as autoridades. Defenestrado do
trânsito, com seu quengo mais frio da porretada que levou, o Doro ainda se saiu
com essa: - Danou-se! Esse
cabrito lascou o véio! Tô numa peínha de nada: preso, lascado e fudido de tudo.
Num tenho um réis no bolso pra cumprar esses recruta. Tô disvalorizado ao rés
do chão. O que será de mim, da minha reputação de desenrolado, da minha
campanha inleitorá e da minha vida de virador?
DITOS & DESDITOS - Esta foi uma era de utopismo. Os líderes políticos
tinham visões utópicas, assim como muitos cidadãos, especialmente a geração
mais jovem. O espírito é difícil de
capturar em uma era de ceticismo, já que o utopismo, como a revolução, é tão
irracional... Para quem está por dentro, era uma visão de mundo
“científica” que permitia a seus possuidores livrar a si mesmos e aos outros de
todos os tipos de preconceito e superstição – e incidentalmente dominar um
estilo de debate agressivo caracterizado pelo uso generoso de sarcasmo sobre os
motivos e a suposta “essência de classe” de oponentes... Pensamento da
historiadora, pesquisadora e professora australiana Sheila Fitzpatrick, autora de pesquisas e
publicações sobre a Rússia e História Soviética.
ALGUÉM FALOU: Memória é vida que se cultiva todos
os dias... Pensamento da farmacêutica e ativista
feminista italiana Rita Borsellino (1945-2018).
O VALE DOS
CEDROS - [...] Firmemente impresso em sua própria mente, que era totalmente inútil para
uma alma esperar pela salvação, a menos que acreditasse em Jesus, na Virgem,
nos santos e santos mártires; ele colocou coração e alma em sua
tarefa; e quanto mais ele via Marie, mais
dolorosamente deplorava sua paixão cega e mais ardentemente desejava salvá-la
da perdição eterna que, como judia, deveria esperá-la. [...] Suas provações anteriores foram uma agonia aguda e uma
forte excitação. Seu presente não tinha nem um nem
outro; no entanto, estava repleto de
sofrimento tão pesado quanto qualquer outro que havia acontecido antes dele; embora ela não soubesse, não
adivinhasse, tudo que dependia de sua conversão. Teria sido comparativamente fácil
ter suportado, por causa de sua fé, aspereza e desprezo; nesse caso, o auto-respeito surge
para nos sustentar, e valorizamos ainda mais nossos próprios princípios, por
seu contraste surpreendente com aqueles que poderiam comandar a crueldade que
suportamos; mas o padre Denis não usou dureza
nem de maneiras nem de palavras.[...]. Trechos extraídos da obra The Vale
of Cedars (1850 - BiblioLife,
2008), da escritora britânica Grace Aguilar (1816-1847).
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UMA SEMENTE COM
ASAS - diante do sorriso irônico da planície. \ Sol,
mar ou a suave curvatura da cera com que se enlaçaram as penas do breve \ Ícaro.\
Que sou? Eu perguntei \ e o bumerangue do Vazio atingiu minhas mãos. \ A
pequenina e última pedra no fundo do oceano \ que medita, \ imolada na solidão.
\ O tempo mais preciso \ ou talvez \ brilhe sobre o cadáver deixado por uma
estrela marinha. \ máquina nobre? \ Que sou? Eu perguntei \ e o bumerangue do
silêncio passou pela minha garganta. \Então pensei \ que talvez eu fosse o
sonho de uma fera chamada Berkeley \ vendo passar a tarde com ócio e desprezo
reclinado \ na escrivaninha que uma velha teceu para alegrar a visita \ dos que
não voltam.\ Que sou?\ O paladar, a maçã? \ besta de freio,\ jardim negro cheio
de flores. \ Sucessão finita sobre um campo. \ Ofegar do Tempo que faz o
milagre do infinito \ Uma falsa precisão de \ sentido? \ Que sou? \ o que
então? \ — Nada, o Vazio me responde. \ Nada.\ Como se o Nada\ fosse nada. Poema da poeta, atriz e produtora cultural guatemalteca Alejandra Solórzano.
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