DITOS & DESDITOS - A crise consiste
precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode
nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparecem. O
desafio da modernidade é viver sem ilusões, sem se tornar desiludido. A
indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a
fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os
programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos. É preciso
atrair violentamente a atenção para o presente do modo como ele é, se se quer
transformá-lo. Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade. Contra o
pessimismo da razão, o otimismo da prática. Pessimismo no prognóstico e
otimismo na ação. Meu estado de espírito sintetiza estes dois sentimentos e os
supera: sou pessimista com a inteligência, mas otimista com a vontade. Em cada
circunstância, penso na hipótese pior, para pôr em movimento todas as reservas
de vontade e ser capaz de abater o obstáculo. Somos criadores de nós mesmos, da
nossa vida, do nosso destino e nós queremos saber isto hoje, nas condições de
hoje, da vida de hoje e não de uma vida qualquer e de um homem qualquer. Quem é
incapaz de construir hipóteses jamais será cientista. As ideias são grandes na
medida em que são realizáveis. O presente contém todo o passado. Também no
afeto é preciso ser inteligente. Pensamento do filósofo e
cientista político italiano, Antonio Gramsci (1891-1937). Veja mais aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: Não é a felicidade que faz
a vida valer a pena, é o sentido que damos a ela... Pensamento
da escritora, psicóloga e jornalista estadunidense Emily Esfahani Smith ao tratar sobre O poder do sentido e
os 4 pilares essenciais para a vida plena: pertencimento, proposito, narrativa
e transcendência. Veja mais aqui.
A POESIA DO TEATRO - Há quem no caminho da vida social Aqueça suas peles
manchadas ao sol da Fortuna, E pica a alma... Trecho extraído da cena 2, ato 1, da peça teatarl De Montfort (A Series of Plays - 1798), da poeta e dramaturga britânica Joanna
Baillie (1762-1851).Veja mais aqui e aqui.
O CAVALO ACADÊMICO – [...] apesar de o
sangue correr no interior do corpo numa quantidade que, de cima para baixo e de
baixo para cima, é a mesma, há uma ideia formada quanto ao que se eleva, e a
vida humana é erroneamente olhada como uma elevação. Dividirmos o universo em
inferno subterrâneo e em céu perfeitamente puro é uma concepção indelével, já
que a lama e as trevas são os princípios
do mal, como a luz e o espaço celeste são os princípios do bem: com os pés na lama mas a cabeça mais ou menos
na luz, os homens imaginam obstinadamente um fluxo que os elevaria sem retorno
no espaço puro. De fato, a vida humana comporta a raiva de vermos que se trata
de um movimento de vaivém, desde o esterco até ao ideal e desde o ideal até ao
esterco, raiva que é fácil fazer incidir num órgão tão baixo como o pé [...]. Trecho extraído da obra A
mutilação sacrificial e a orelha cortada de Van Gogh (Hiena, 1994), do
escritor francês Georges Bataille (1897-1962). Veja mais aqui e aqui.
PENSAMENTO DO HOMEM – [...] O
homem torna-se um ser que dá repostas, precisamente na media em que – paralelamente
ao desenvolvimento social e em proporção crescente – ele generaliza,
transformado em perguntas sem próprios crescimentos e suas possibilidades de
satisfazê-los; e, quando, em sua resposta ao carecimento que a provoca, funda e
enriquece a própria atividade com tais mediações, frequentemente bem articulada.
[...]. Trecho da obra Bases ontológicas
do pensamento do homem (Revista Temas de Ciências Humanas, 1978), do filósofo,
crítico literário e pensador marxista húngaro Georg Lukács (1885-1971). Veja
mais aqui e aqui.
DIREITO DA MULHER - [...] O direito, que de agora em diante decorre do
indivíduo, confere à mulher, como a todo ser humano, a igualdade. [...] A mulher nunca foi senão mãe e, para isso,
deve ser o mais educada, o mais ponderada, o mais inteligente que se possa ser.
[...] No direito oriundo do ser humano,
ao contrário, não há sujeição que não seja desordem, não há injustiça que não
seja crime, não há ponto de compressão que não fira todo o corpo social. A
ordem verdadeira está na harmonia produzida pelo livre desenvolvimento de
todos. Duvida da liberdade aquele que não vê nem a família regenerada, nem a
maternidade enobrecida. [...] Trechos extraídos da obra Le Droit des Femmes (Almanach de la Coopération pour 1869), da escritora, jornalista e feminista francesa Victoire
Léodile Béra (1824-1900), sob o pseudônimo de Léo André, adotado em 1866, ao
participar de um grupo feminista chamado Société pour la Revendication du
Droit des Femmes, que se
concentrou em ações para educação das mulheres. Ela lutou com os
republicanos franceses durante a Comuna de Paris e na Associação Internacional
de Trabalhadores. Seus escritos, especialmente sobre questões sociais e
educacionais, expressam ideias que ainda permanecem altamente atuais. Veja mais
aqui e aqui.
QUANDO NOS RECUSAMOS, DIZEMOS NÃO... – [...] Eu não sou arrumadinho e bonitinho porque sou
perseguido pelos gnamas de várias pessoas (Gnama é um palavrão preto negro
africano nativo que tem que ser explicado aos franceses brancos. Ele significa,
segundo o Inventário das particularidades lexicais do francês da África negra,
a sombra que sobra depois da morte de um indivíduo. A sombra que se torna uma
força imanente má que segue aquele que matou uma pessoa inocente) [...] E agora estou apresentado em seis pontos,
nem um a mais, em carne e osso, e com meu jeito malcriado e insolente e falar
na ponta da caneta. (Não é na ponta da caneta que se deve dizer mas sim ainda
por cima. É preciso explicar o que significa ainda por cima aos pretos negros
africanos nativos que não entendem nada de nada. Segundo o Larousse, ainda por
cima significa aquilo que se diz a mais, en rab) [...] Por causa do haxixe, a gente sentia ainda mais fome [...]. A gente tinha começado a comer frutas,
depois foi a vez das raízes, depois as folhas. Apesar disso, Yacouba disse que
Alá, em sua imensa bondade, nunca deixa vazia uma boca por ele criada [...]
Parecia milagre. Alimentar umas cinquenta
pessoas naquela Monróvia saqueada, abandonada, durante quatro meses era
extraordinário. Parecia milagre. Tudo o que Maria Beatriz tinha conseguido
fazer durante os quatro meses daquele cerco era extraordinário. Parecia
milagre. Maria Beatriz tinha realizado atos milagrosos. Ela era uma santa, a
santa Maria Beatriz. Apesar de todo mundo saber e dizer que Alá nunca deixa
vazia uma boca por ele criada, todo mundo se espantou e todo mundo concordou
que Maria Beatriz era uma verdadeira santa por ter alimentado tanta gente
durante quatro meses. Ora essa, não vamos criar polêmicas, vamos dizer como
todo mundo: santa Maria Beatriz. Uma verdadeira santa! Uma santa de touquinha e
kalach! Gnamokodé [...] Trechos da obra Quand
on refuse on dit non (Seuil, 2004), do escritor marfinense Ahmadou
Kourouma (1927-2003). Veja mais aqui e aqui.
O PRINCÍPIO - O princípio da poesia / nas dobras de uma palavra / (viés de dulcíssima
/ rosa) onde pousa / o pólen do nada. / Fuso de prata que a mão, / submergindo,
/ ilude-se agarrar. / Rosto de relance / perdido (definitivo) na cidade, / na
avalanche. / Ácido má viagem. / Vertigem ciclotímica de anular-se. / Olho cego,
surdo, mudo / de Dédalo, / enreda pétala a pétala o seu botão de fracasso. Extraído
da obra Corola (Ateliê, 2000), da
poeta Claudia Roquette-Pinto.