Existe uma luta pelo futuro do mundo
A arte da poeta e artista chilena Cecilia Vicuña. Veja
mais abaixo.
BERTO DA BESTA – (para o escritor Luiz Berto) – Maria Banga endoideceu. Com este fato a cidade parou em mil
novecentos e cinquenta e três. Nenhum trem na linha. Nenhum moribundo no
hospital. Nenhuma rapariga na zona. Nenhuma porta no comércio. Nenhum menino no
Riacho dos Cachorros. Nenhuma lavadeira no Cocão do Padre. Maria Banga
endoideceu. Jajá de Oliveira puxou duzentos cigarros na careca. Berto escreveu
quinhentas páginas. Drôga Marques fez mil anúncios na rádio. Gilson Bundão
sacou mil cheques. Sebastião Esprita acendeu seiscentas velas. Gal do caixão
fechou a funerária e foi pro bar – como sempre! Wilson fechou o foto e foi pra
Belém com o pastoril. Eduardo Priquitim descabaçou duzentas donzelas.
Biu-ôi-de-porco botou as meninas pra dentro. Bode Branco fez quinhentas orações
na máquina de calcular. João do Pilão comprou trezentos cachetes. Tó Zeca
contou três mil mentiras e deu uma carreira e foi pra zona avisando a Natanael
do acontecido, o qual munido de catuaba, cabacinha e unguentos, garrafadas,
xaropes e defumadores, agradeceu aos céus. Era o primeiro sinal. Leu que comia
cuscuz com as mãos no suco de gengibre, parou. Maria Ramalho entalada com seu
inhame com carne de charque, estatelou. Três-quilos tomou mingau de cachorro e
engasgou-se. Dulce-mil-homens tirou as velas da vagina, castigou-se. Amara
Brotinha chorosa sentiu o destino do seu homem. Padre Isnard leu o velho
testamento duzentas vezes por se tratar de final dos tempos, o apocalipse e o
peo sinal padre nosso creio em deus pai tudo no inferno, valha-me deus, que
droga é nove? Maria Banga endoideceu. E Berto, vidente, depois de haver alinhado
os planetas com o poeta e artista plástico Teles Junior, depois de receber
aulas de putarias e benzeduras com Chico Folote, depois de ter estudado
catecismo sob cascudos do padre Abilio, depois de umas goeladas e beiçadas na
tirana, qual sismógrafo em sã ciência, constatou que a doideira dela era sinal
dos novos tempos. Quatrocentas carreiras de peito, quatrocentas bocas famintas,
quatrocentos desejos na noite, quatrocentos destinos perdidos. Havia muxoxo
para tudo que é cercania, a noite o peido feroz; o dia, a mijada da besta.
Fazia-se república sob o domínio dela e eram tantos sonhos, priquitos, beijus,
cacos de vidas e bulas farmacêuticas, que nem se lembrava qual dia melhor. Na
beira do rio cuscuz e acaris a valer, no ferroviário as mocinhas perdiam o
cabaço num hi-fi, na praça da igreja luxúria e cobiça sob as estrelas de
fumaça, na reunião do Lions e Rotary merda fedia a troco de banana, no bilhar
pulhas e bolas na caçapa sob orações de padres, no bar sonhos de verão e mijo
nos copos, no cartório fileiras imensas de gente se descasando, no hospital
injeções de glucornegam pra doente operar médico, na matança nenhum boi e uma
festa de gladiadores, no comércio muito consumo e juros à muita agiotagem.
Maria Banga endoideceu. Natanael sentiu e foi guiado fomo um rei magro e Maria
Brotinha, sem seu homem, escondeu sob a saia catingosos e perfumados,
meticulosos e alucinados, lazarentos e exterminados desejos dos homens de nada.
Joaquim sapateiro à revelia sonha com Marx no meio de uma bronha mal paga que
espirrou na cara de Chico Folote que misturava candomblé com safadeza das
filhas dos homens de bem da redondeza. E Natanael com bulas, ampolas e
sabedoria reinava na república. Até que se dividiu, até que se mudou e ninguém
entendia ninguém, pôquer era Babel hoje e ninguém queria nada de repúblicas na
própria a besta decepcionada enfezou-se e deu o fora, deixando ao leu este
povinho de meus desses. Maria Banga endoideceu “e se ela que é mãe que é sábia a cabeça perdeu, quanto mais eu quanto
mais eu”. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais
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A arte da poeta e artista chilena Cecilia Vicuña.
DITOS & DESDITOS - Nada
resume um homem, nem mesmo as suas ideias. Pensamento do escritor argelino Mourad Bourboune.
ALGUÉM FALOU: Descobri
rápido que não é pela sabedoria que os poetas criam suas obras, mas por um
certo poder natural e pela inspiração, como os divinos e profetas que falam
tantas coisas belas, mas não compreendem nada do que dizem.
Pensamento do filósofo grego Sócrates (470-399aC). Veja mais aqui e aqui.
DELIA ELENA SAN MARCO – Despedimo-nos
em uma das esquinas do Once. Da outra calçada tornei a olhar; você tinha-se
virado e acenou-me com a mão. Um rio de veículos e de gente corria entre nós;
eram cinco horas de uma tarde qualquer; como eu podia saber que aquele rio era
o triste Aqueronte, o intransponível? Não nos vimos mais e um ano depois você
estava morta. E agora procuro essa memória e a vejo e penso que era falsa e que
por trás da despedida trivial estava a infinita separação. Ontem à noite não
saí depois do jantar e reli, para compreender essas coisas, o último
ensinamento que Platão põe na boca de seu mestre. Li que a alma pode fugir
quando morre a carne. E agora não sei se a verdade está na infausta
interpretação ulterior ou na despedida inocente. Porque, se as almas não
morrem, é bom que em suas despedidas não haja ênfase. Dizer adeus é negar a
separação, é dizer: “Hoje brincamos de nos separar, mas nos veremos amanhã”. Os
homens inventaram o adeus porque se sabem de algum modo imortais, embora se
julguem contingentes e efêmeros. Delia: um dia reataremos – à margem de que
rio? – este diálogo incerto e nos perguntaremos se algum dia, em uma cidade que
se perdia em uma planície, fomos Borges e Delia. Conto do
escritor, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino Jorge Luis Borges (1899-1986).
Veja mais aqui, aqui & aqui.
ROGER E MOLLY – À sombra
do chorão, que se alongava, / Molly, tão bela, de amor suspirava, / Seu gado
era em redor, / Ora fazendo meia, ora cantando, / o mesmo pensamento ia
soltando: / “Quão fundo é meu amor”. / O jovem Roger que por lá passava / ouviu
quanto de amor Molly cantava / com que magoado ardor. / Saltando a sebe,
aproximou-se dela, / veio estender-se ao pé de Molly bela: / “Quão fundo é meu
amor”. / Molly corou de um breve susto inquieto: / “Que graça a tua, agora fica
quieto”. / E os olha num langor… / “Quebra-se a agulha, a meia me desfazes… / Cantava,
e não pensava nos rapazes, / “Quão fundo é meu amor”. / Bruto! Oh, beijos não…
Tira! Sou tua… / Agora, agora… pára… continua… / Aí que eu grito de dor! / Que
estás tu a fazer, patife imundo?” / E el’ arquejante como um moribundo: / “Quão
fundo é meu amor”. Poema do poeta escocês Robert
Burns (1759-1796). Veja mais aqui.
FECAMEPA – O Fecamepa com toda invocação de cara amarrada bota o dedo na ferida com uma pequeníssima indagação:
- Ah, tá! Não tem dinheiro pra saúde, educação, segurança... trocando em miúdos: não existe recursos para cumprir do art. 1º ao 6º da Constituição Federal!!! Então pergunto: pra que tanta lei, meu deus, se apesar da compulsoriedade nenhumazinha jamais será cumprida????
Desde que nasci que a ladainha é a mesma: não tem recursos pra nada que seja em defesa da dignidade da pessoa humana brasileira. E a corrupção? E a improbidade? E a malversação com o erário público? Quantos milhões de reais são desviados nos escândalos? (E nas escondidas, também. Imagine agora, neste exato momento, quantas atitudes escusas estão sendo praticadas nos gabinetes da Administração Pública brasileira em todos os níveis e esferas. Dá pra imaginar? Kabum!). Ah, então vou de Libelo, meu!
CORRUPÇÃO – Para as Nações Unidas a corrupção é um complexo fenômeno social, político e econômico que afeta todos os países do planeta. Sim, digo eu, todo mundo, porém no Brasil a coisa é mais aguda, trágica, avassaladora. Chega-se ao cúmulo de se dizer que aqui toda a sociedade é corrupta e, por conseqüência, corrompe a todos. Vixe! Realmente, e o pior é que o corruptor e o corrompido brincam de mudar de faces no mesmo lado da moeda. Quem é quem? Vôte. Desde a propinazinha mixuruca para se livrar de uma bronca de somenos importância, do molha-mão para as facilidades, passando pelo jeitinho de furar-fila, até as afanações mais escabrosas de licitações de compadrio com superfaturamento, de cair por cima de merenda escolar, remédios dos postos de saúde e apropriações indébitas oriundas dos desvios das verbas públicas para as mais escusas das práticas de gestor público, a coisa pipoca na repimboca da parafuseta e faz deste país do Fecamepa o verdadeiro reino dos Fabos.
CLÁUSULA DA RESERVA DO POSSÍVEL – Como no Brasil o primeiro a não cumprir a sua parte é o Estado, as autoridades brasileiras de todos os níveis e esferas dos 3 Poderes, alegam com a cara mais lisa que não cumprem a sua parte por causa da Teoria da Reserva do Possível. Que droga é nove? É o seguinte: não posso atender as previsões constitucionais que estão elencadas do art. 1º ao 6º que incluem as garantias fundamentais que estão assentadas no princípio da dignidade humana, porque não tem dinheiro, não há recursos, sifu. Xeque-mate! Pronto.
Ai a gente fica espiando pela brecha o seguinte: o Legislativo fabrica uma tuia de lei para tapiar a gente, o Executivo vira as costas e o Judiciário garante: não há recursos, tome Cláusula da Reserva do Possível. Aí, lascou.
Encontrei, então, alguns argumentos interessantes a esse respeito. O primeiro deles, do advogado Fernando Borges Mânica: “[...] a aplicação da teoria da reserva do possível implica reconhecer, de um lado, a inexistência de supremacia absoluta dos direitos fundamentais em toda e qualquer situação; de outro, a inexistência da supremacia absoluta do princípio da competência orçamentária do legislador e da competência administrativa (discricionária) do Executivo como óbices à efetivação dos direitos sociais fundamentais. Isso significa que a inexistência efetiva de recursos e ausência de previsão orçamentária são elementos não absolutos a serem levados em conta no processo de ponderação por meio do qual a decisão judicial deve tomar forma. [...] Diante da escassez de recursos e da multiplicidade de necessidades sociais, cabe ao Estado efetuar escolhas, estabelecendo critérios e prioridades. Tais escolhas consistem na definição de políticas públicas, cuja implementação depende de previsão e execução orçamentária. As escolhas realizadas pelo Estado devem ser pautadas pela Constituição Federal, documento que estabelece os objetivos fundamentais que deverão ser satisfeitos pela autoridade estatal. A vinculação dos gastos públicos aos objetivos constitucionais é lógica.Há que se abandonar posições extremadas acerca da possibilidade de intervenção do Poder Judiciário na implementação de políticas públicas. Há hipóteses em que tal intervenção é descabida, em face do princípio da separação de poderes, da legalidade orçamentária e da discricionariedade administrativa; há hipóteses em que a intervenção é possível, mediante determinação de que seja prevista determinada despesa na lei orçamentária do ano subseqüente; e há hipóteses em que é possível, e necessária, a intervenção direta do Poder Judiciário no orçamento, inclusive mediante seqüestro de recursos públicos”.
Também Silvana Taques deu sua opinião: “A Constituição Federal de 1988 postulou vários direitos para os indivíduos, primando pela construção de uma sociedade igualitária e com justiça social. Dentre estes direitos, destacam-se os direitos fundamentais que são direitos imprescindíveis ao ser humano e os direitos sociais, que representam prestações positivas a ser objetivadas pelo Estado, visando o bem comum de toda a coletividade. Todavia, estes direitos de grande relevo para o sistema jurídico, como também para a construção de uma sociedade mais digna e humana, ainda carecem de eficácia, sendo que muitos ainda não são cumpridos e/ou garantidos pelo Estado. Em face a esta realidade, incorpora-se no direito brasileiro, através de direito alienígena, a reserva do possível, apregoando que os direitos prestacionais possuem uma limitação material, ou seja, só podem ser concretizados se houver verbas orçamentárias para estes fins. Nesta senda, percebeu-se, nas jurisprudências, que a reserva do possível é um limitador das promessas constitucionais e constituindo-se em obstáculo para a efetivação dos direitos fundamentais e, por conseqüência, da concretização da dignidade da pessoa humana”.
E, para finalizar, melhor expuseram Rafael Sérgio Lima de Oliveira e Mario Lucio Garcez Calil ao expressarem: “[...] deve a reserva do possível, assim como os conceitos a ela inerentes, passar por um processo de adaptação ao direito pátrio para que se torne instrumento de preservação do erário em prol do cidadão, não em seu desfavor”.
E digo: não é blábláblá de juridiquês, de jeito nenhum. Se falta dinheiro para fazer o que bem deveria e sobra para a corrupção da Administração Pública em todo território brasileiro, fica, então, por conclusão que os sabidos mandam ver na tapiação e afanagem e nós, do outro lado, parece mais que ficamos no: e é, é? Ué, vamos aprumar a conversa & tataritaritatá.
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