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quinta-feira, abril 18, 2019

WALT WHITMAN, ENRIQUE DUSSEL, NELSON NUNES, THÉRÈSE PHILOSOPHE & (IN)JUSTIÇA DA CIA. HELIÓPOLIS


THÉRÈSE PHILOSOPHE – Quase uns trinta anos atrás me deparei com um volume impresso jogado no lixo, assim, sem as capas, folhas de rosto, nem sumário, algumas páginas soltas e outras arrancadas. Não dava para saber que livro era aquele, contudo, como sempre fui achegado às leituras, deu-me uma curiosidade para saber do que se tratava. Tive que organizar, pois, faltavam mesmo algumas páginas, o que dificultava a minha empreitada de recuperá-lo. Depois de muito trabalho, consegui identificar uma introdução, uma primeira parte denominada Thérèse philosophe; a segunda, Histoire de la Bois-Laurier; e a terceira, Suite de l’histoire de Thérèse philosophe. Havia entre as páginas, algumas delas ilustradas com gravuras eróticas. Isso aguçou ainda mais o meu interesse e, mais ou menos organizado, folheei. Ah, gostei do que vi, li e reli, pudera. Guardei-o entre outros alfarrábios esquecidos por trás das fileiras numa das minhas estantes. Só muito tempo depois soube que se tratava da obra Thérèse philosophe ou Mémoires pour servir à l’histoire du P. Dirrag et de Mlle Éradice, uma publicação de 1748, com ilustrações do gravador francês François-Rolland Elluin (1745-1810), e de autoria controversa. Explico: o jornalista, escritor e dramaturgo Charles Monselet (1825-1888), apelidado de O rei dos gastrônomos, foi quem, por volta de 1870, atribuiu ao Marquês de Sade (1740-1814), a narrativa libertina sobre a cortesã anafrodita ou a empregada libertina, anunciado como publicada em uma edição clandestina em Avignon, em 1787. Já segundo inscrição em uma das obras do próprio Sade, é dada a autoria como sendo do escritor e filósofo francês Jean-Baptiste de Boyer (1704-1771), o marquês d’Argens, como um romance libertino do século XVIII, que relata as cenas místicas de Mademoiselle Eradice com o reverendo Dirrag, contando com raciocínios metafísicos e lascivas conduções entre a Madame C e o abade T. Entre outras inscrições, uma delas dá conta de ser o escritor francês Louis-Charles Fougeret de Monbron (1706-1760) o verdadeiro autor, aumentando a controvérsia. Bem, o que consegui apurar de mesmo, foi que o livro em questão, foi inspirado no ruidoso julgamento do casal Marie-Catherine Cadière e Jean-Baptiste Girard, ocorrido de fato em 1731, no qual o pai de Boyer d'Argens foi Procurador Geral no Parlamento de Aix, tendo, assim, o suposto autor alterado o caso usando anagramas, como a troca das nomeações de Cadière para "Eradice" e Girard para "Dirrag". Na real, o caso se deu por conta da bela jovem Cadière, filha de um comerciante arruinado, protegida pela mãe e irmãos eclesiásticos, ter se envolvido com os sermões de sensibilidade mística excessiva do carisma espiritual do padre jesuíta Girard, apresentando-a como santa. Tal fato levou o religioso a constantes visitas, resultando por abusá-la sexualmente. Com as denúncias de corrupção contra o sacerdote Girard, ajuizadas pelo padre jansenista Nicolas, ela foi enclausurada no convento de Santa Claire d’Ollioules, em 1730, para ser julgada pelo Parlamento de Aix, transferida para o convento dos Visitandines, passando a ser defendida pelo advogado Chaudon e aos interesses jansenistas, por ser transformada no processo, ao mesmo tempo, acusadora da corrupção jesuítica e acusada de feiticeira. No primeiro veredicto foi condenada à forca. No segundo julgamento, foi inocentada. O pároco também foi absolvido, mas perdeu a reputação. Por sua vez, o romance traz como narradora a jovem Thérèse que descobre seu corpo e seus desejos, tornando-se zelosa penitente do padre Dirrag e em companhia da sua jovem amiga Eradice, também sua rival na busca pela santidade, quando é surpreendida com uma cena indecente de estupro entre a devotada amiga e o seu confessor, durante uma oração. O livro segue com discussões filosóficas e cenas extraordinárias de sexo e religião. A aura lendária do romance o fez tornar-se num clássico erótico proibido, de autor perdido, que ameaçava a tríplice ordem da religião, do Estado e do rei, a moral e a reputação das pessoas, levando à repressão policial. Trata-se, portanto, de uma sátira anticlerical de representação erótico-pornográfica com questionamentos religiosos e morais da realidade social e política da época. Desde então está entre os meus preferidos para releituras e indicações. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] O outro, como outro livre e que exige justiça, instaura uma história imprevisível. O outro como mistério é para onde, o mais além de meu mundo, que o movimento dialético não pretenderá compreender como totalidade totalizada, uma vez que, por sua estrutura finita, sabe que jamais conseguirá. A totalidade, como o visto feito sistema, opõe-se a infinitização (infinicion) de um movimento dialético histórico que se abre para ouvir a palavra do outro, que se revela a partir de um exterioridade insondável e imprevisível. [...] O outro para nós é a América Latina em relação à totalidade europeia; é o povo pobre e oprimido da América Latina em relação as oligarquias dominadoras e, contudo, dependentes. [...] A aceitação do outro como outro significa já uma opção ética, uma escolha e um compromisso moral. [...] O saber-ouvir é o momento constitutivo do próprio método. [...] A América Latina é o filho da mãe ameríndia dominada e do pai hispânico dominador. O filho, o outro, oprimido pela pedagogia dominadora da totalidade europeia, incluindo nela como bárbaro, o bom sauvage, o primitivo ou subdesenvolvido. O filho não respeitado como outro, mas negado enquanto conhecido. [...] A filosofia latino-americana é o pensar que sabe escutar discipularmente a palavra analética, analógica do oprimido, que sabe comprometer-se com o movimento ou com a mobilização da libertação e, no próprio caminhar, vai pensando a palavra reveladora que interpela à justiça; isto é, vai acendendo à interpretação precisa de seu significado futuro. A filosofia, o filósofo, desenvolve ao outro sua própria revelação como renovada e recriadora, crítica, interpretante. O pensar filosófico não aquieta a história expressando-a pensativamente para que possa ser arquivada nos museus. O pensar filosófico, como pedagogia analética da libertação latino-americana, é um grito, um clamor, é a exortação do mestre que faz reincindir sobre o discípulo a objeção que antes havia recebido; agora, como revelação reduplicadamente provocativa, criadora. [...] estrategicamente o que se deve alcançar é a libertação dos oprimidos em seu sentido forte e inequívoco; o que se deve buscar é a libertação das ‘classes trabalhadoras’, camponesas, operárias ou de qualquer outro tipo de trabalhador assalariado [...] O oprimido é o pobre na política (pessoa, classe, nação); a mulher na erótica machista; a criança, a juventude, o povo na pedagógica da dominação cultural. Todos os problemas e temas [...], assumem nova luz e novo sentido a partir do critério absoluto e contudo concreto (o contrário do universal), de ser a filosofia a arma de libertação dos oprimidos [...].
Trechos extraídos da obra Método para uma filosofia da libertação (Loyola, 1986), do filósofo argentino radicado no México, Enrique Dussel, para quem o Bem Comum da Humanidade visa assegurar a produção, a reprodução e o desenvolvimento de cada sujeito ético. Veja mais aqui.

(IN)JUSTIÇA DA CIA. HELIÓPOLIS
A peça teatral (In)Justiça, texto coletivo da Companhia de Teatro Heliópolis, dirigida pelo fundador do grupo, Miguel Rocha. A TRAMA: Trata-se da história de Cerol que é exímio empinador de pipas e vive com sua avó, pois a mãe morreu no parto e o pai, assassinado. Depois de uma briga por conta do alto volume da música na vizinhança, Cerol foge e acaba disparando involuntariamente um tiro em uma mulher, que morre em seguida. Ele acaba preso e é submetido ao julgamento da lei e da sociedade. A encenação reflete sobre a justiça brasileira ao narrar a história de um jovem que comete um crime involuntariamente: o que os veredictos não revelam? A partir desse questionamento surgem diversas concepções sobre o que é justiça, seja a praticada pelo Poder Judiciário ou aquela sentenciada pela sociedade. Permeado por imagens-sínteses e explorando a performance corporal, o espetáculo coloca em cena a complexidade da justiça no país, deixando a plateia na posição de júri em um tribunal. O embate entre os dois lados da justiça – da vítima e do criminoso – se estabelece em um jogo contundente que expõe com originalidade a crua realidade dos jovens pobres e negros. Veja mais aqui, aqui e aqui.

LIMIAR DE NELSON GOMES
A série Limiar, arte do fotógrafo, pintor, professor, designer gráfico e artista visual português Nelson Nunes. Ele foi coordenador do projeto de teatro Ar(e)s D’ensaio, tendo sido integrante do grupo de artistas plásticos que criaram o “Atelier 16” – Coimbra 1997/2001 e do terceiro ciclo de exposições no Museu do Vinho Bairrada – Anadia em 2006, com o projeto de pintura e instalação “Visões de um Milésimo de Segundo”. Já realizou as exposições O ritmo dos dias (2012), a premiada 10 anos Olhares (2013) e Estradas de Portugal – um outro olhar (2013), entre outras. Veja mais aqui.
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A OBRA DE WALT WHITMAN
Contradigo a mim mesmo porque sou vasto.
Eu sou contraditório, eu sou imenso. Há multidões dentro de mim.
A obra do poeta, ensaísta e jornalista estadunidense Walt Whitman (1819-1892) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui.


sábado, novembro 09, 2013

CATHERINE WALSH, CLARICE LISPECTOR, DUSSEL, KAMANDA, JOAN GARRITY, TRÊS MARIAS & LITERÓTICA


POSSESSÃO DO PRAZER - Quando a tarde chega ela sorri tal qual minha nega, minha musa, avalie! E ri como o dia nasce. Não usa disfarce no perfume que exala incensando a sala e me dopando além. Blém, blém, eu folgo inchado e puxo ela do lado e dou-lhe uns arrochos. São vários acôchos daqueles bem dado de só o corpo colado dela me aproveitar. Larali, laralá. E pego a pegar, me ajeito e só puxo, esfrego, acarinho e repuxo e ela toda no gingado. Dela eu dou cabo dos pés ao cabelo no maior desmantelo, maior forunfado, maior que o pecado quando nela me ajeito, no seu corpo perfeito, minha salvação. Mas ela então, no meio dos meneios, inventa arrodeio e quer prestar contas. Vixe, que tonta, ela chama na grande, uma ficha se expande com muita exigência. Ela adiou a urgência, salta de lado emergência pra aprumar a conversa. Vixe que tô na travessa e ela vai debulhando até ficar reclamando as coisas que eu desdigo. E me faz de Rodrigo e ela Macabéa, quando é a panacéia da minha ginofagia. Tenho essa regalia quando fala sabiá ou quando quer me tratar com os regalos melhores. Depois todos pormenores ela bota na lista me acusando de artista de quinta categoria. Eita, que aleivosia, maior paranóia, ela solta a pinóia do meu senso empenar. E em primeiro lugar não alivia o badalo e joga sem intervalo que sou badass mothafuckes que só lhe sufoca e ainda banco o durão. Tem mais, então, ela se diz vítima de atentado e que sou apontado por fora-da-lei. Eita, teibei! Facínora execrado e infeliz desgraçado pior no mundo sou eu. Belzebu! Asmodeu! Pedra ruim e vasilha imprestável, o maior irresponsável, trepeça e malfeitor. Ela virou promotor e me lascou pro babau, com o Código Penal todinho invocado. Tô réu apenado com sangue fervendo, com processo respondendo com qual culpa imputado? Eu tô mesmo é condenado na volta dessa mulher. Na verdade ela quer me ver todo lascado. Porque solta o ditado que vai findar tísica sem integridade física porque sou genioso. Pior, sou mafioso, o pior dos bandidos e o maior foragido da face da terra. Ela mais me enterra provocando arenga pruma maldita pendenga pelos tribunais. E me inferniza demais no maior desaforo, jogando duro em meu foro com insulto desalmado. É quando eu fico invocado e ela sai na defensiva, bicha sabida e viva, negaceia e apruma o tom. E em alto e bom som, ela parte pro piquete, zomba que sou um sorvete e que tá completamente louca. É quando me beija na boca e depois ela arteira faz bico é quando me faz ficar rico de tanto amolego e carinho. Aí viro seu amorzinho e não deixo barato, dou saculejo nos quartos com apetrechos e talher – porque não sou banguela! E eu de cima dela não saio nem que vire o mês de maio e seja mais o que Deus quiser! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e  aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Não espere uma vitória definitiva, mas sim conseguir melhores condições de combate. Não é nada descobrir algo novo, você tem que descobrir por que você descobriu isso. O partido deveria ser uma escola de política, não uma máquina eleitoral. A única sede do exercício do poder é o povo. Temos que começar a pensar na formação política dos jovens e dos ativistas porque essa é a informação política de um novo tipo de político, não corrupto, que tem princípios éticos...Pensamento do filósofo argentino Enrique Dussel. Veja mais aqui e aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Os homens sempre se teceram e sonharam no que é forma extrovertida, no que se erige, no que rasga o espaço. Por isso dos poços e das profundezas nada sabem... Trecho extraído da obra Novas Cartas Portuguesas entre Portugal e o Mundo - ou de como Maina Mendes pôs ambas as mãos sobre o corpo e deu um pontapé no cu dos outros legítimos superiores (Estúdios Cor, 1972), escrita por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, dirigida por Natália Correia, que foi censurado como imoral e o livro foi proibido e expurgado das livrarias. As autoras e o editor, Romeu de Melo, foram incriminados e levados a tribunal. O caso só terminou depois da revolução de 25 de Abril de 1974. Banido de Portugal, o livro foi imediatamente traduzido na Europa e nos Estados Unidos da América, encontrando-se, ainda hoje, entre as obras portuguesas mais traduzidas em todo o mundo. A apreensão do livro e o processo instaurado às três autoras no contexto do Estado Novo provocou uma onda internacional de apoio inédita na história da literatura portuguesa, tendo os protestos e as manifestações em prol da causa das “Três Marias”, como viria a ficar conhecido o processo, atingido proporções inimagináveis: desde a cobertura do julgamento feita pelos meios de comunicação internacionais, até às manifestações feministas em várias embaixadas de Portugal no estrangeiro, passando ainda pela defesa pública da obra e das autoras levada a cabo por nomes como Simone de Beauvoir, Marguerite Duras, Doris Lessing, Iris Murdoch ou Stephen Spender, foram várias as ações que fizeram com que este caso fosse votado, numa conferência patrocinada pela National Organization for Women (NOW), como a “primeira causa feminista internacional”. Abordando questões que se mantêm cruciais para a agenda política contemporânea, como a guerra e os conflitos, a violência, a discriminação, a feminização da pobreza, a (ausência de) liberdade, a colonização do corpo político e a imigração, entre muitas outras questões, Novas Cartas Portuguesas continuam a despertar a consciência social e a promover a construção de novos mapas de entendimento e de uma humanidade comum: [...] “Qual a mudança na vida das mulheres ao longo de séculos? […] As mulheres bordavam ou teciam ou fiavam ou cozinhavam, sujeitavam-se aos direitos de seus maridos, engravidavam, tinham abortos ou faziam-nos, tinham filhos, nados-mortos, nados-vivos, tratavam dos filhos, morriam de parto às vezes, em suas casas, com móveis, cadeiras, cortinados. Estamos em tempo de civilização e de luzes, os homens fazem livros científicos e enciclopédias, as nações mudam e mudam a sua política, os oprimidos levantam a voz, um rei de França é decapitado e com ele os seus cortesãos, os EUA do Norte tornam-se independentes […] Que mais? Que mais interessa enunciar a história? O que mudou na vida das mulheres? Já não tecem, já não fiam, talvez, porque se desenvolveram a indústria e o comércio; as mulheres bordam, cozinham, sujeitam-se aos direitos de seus maridos, engravidam, têm abortos ou fazem-nos, têm filhos, nados-mortos, nados-vivos, tratam dos filhos, morrem de parto, às vezes em suas casas, onde apenas mudou o feitio dos móveis, das cadeiras e dos cortinados”.

 

DECOLONIALIDADE – [...] desarmar, desfazer ou reverter o colonial. [...]. Com este jogo linguístico, Tento mostrar que não existe um estado nulo de colonialidade, mas sim posturas, posicionamentos, horizontes e projetos para resistir, transgredir, inter- venha, surja, crie e influencie [...] descrever e narrar a situação de colonização e impulsionar e revelar a luta anti e decolonial [...] um sentido prático e concreto em favor das lutas de descolonização, libertação e humanização [...] Assim, há uma epistemologia fanoniana que aponta para conhecer a forma em que o sujeito colonizado interioriza seu processo de colonização criando assim as condições de não-existência [...] é atacar as condições ontológicas-existenciais e de classificação racial e de gênero; incidir e intervir em, interromper, transgredir, desencaixar e transformá-las de maneira que superem ou desfaçam as categorias identitárias [...]. Trecho extraído da conferência Interculturalidade crítica e educação intercultural (Seminário “Interculturalidad y Educación Intercultural”, Instituto Internacional de Integración del Convenio Andrés Bello, La Paz, 2009.), da pedagoga e professora irlandesa Catherine Walsh, que propõe a pedagogia decolonial como um projeto político, social, epistêmico e ético, expresso pela interculturalidade crítica, que aposta na evocação de conhecimentos outrora marginalizados e de uma postura insurgente diante das estruturas rígidas resultantes do binômio modernidade\colonialidade.

 

A MULHER SENSUAL – [...] Nós mulheres nascemos para amar, e só somos felizes quando amamos integralmente. Desta maneira, ame, ame ardentemente. Não tenha medo. Deixe o amor participar de cada instante de sua vida. [,,,] Vamos. Comece. Você vai viver belos momentos. Pense em toda essa felicidade sexual e nos homens maravilhosos que irá encontrar no caminho. Você adorará transformar-se numa Mulher Sensual. [...] Para começar uma Espiral de Seda e um Toque de Borboleta em meu homem. Ele será levado ao êxtase, e eu também. Hummmmmmmmmm [...]. Trechos extraídos da obra The Sensuous Woman (Lyle Stuart, 1969), da escritora estadunidense Joan Theresa Garrity, com o pseudônimo de "J", um manual de instruções detalhadas sobre sexualidade para mulheres, com o subtítulo "o primeiro livro de instruções para a mulher que anseia ser toda mulher". Também foi publicado como O Caminho para se Tornar a Mulher Sensual. Posteriormente ela passou a usar o nome Terry Garrity.

 

PERDOANDO DEUSEu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de ser liberdade. Não era tour de propriétaire, nada daquilo era meu, nem eu queria. Mas parece-me que me sentia satisfeita com o que via. Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho, mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo isso “fosse mesmo” o que eu sentia – e não possivelmente um equívoco de sentimento – que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo para mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo, e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre. E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava-se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo. O meu medo desmesurado de ratos. Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contigüidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo. Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro como eu o admito e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual não tem sentido, e nem a palavra terrena tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua um rato. Não naquele instante. Bem poderia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me alucina e persegue, os ratos já riram de mim, no passado do mundo os ratos já me devoraram com pressa e raiva. Então era assim?, eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava-me. Deus era bruto. Andando com o coração fechado, minha decepção era tão inconsolável como só em criança fui decepcionada. Continuei andando, procurava esquecer. Mas só me ocorria a vingança. Mas que vingança poderia eu contra um Deus Todo-Poderoso, contra um Deus que até com um rato esmagado podia me esmagar? Minha vulnerabilidade de criatura só. Na minha vontade de vingança nem ao menos eu podia encará-Lo, pois eu não sabia onde é que Ele mais estava, qual seria a coisa onde Ele mais estava e que eu, olhando com raiva essa coisa, eu O visse? no rato? naquela janela? nas pedras do chão? Em mim é que Ele não estava mais. Em mim é que eu não O via mais. Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? pois então não guardarei segredo, e vou contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de Alguém, e depois contar os segredos, mas vou contar – não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele – mas vou contar, sim, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não vai ficar por isso mesmo, vou contar o que Ele fez, vou estragar a Sua reputação. . .mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. Então, pois, que eu use o magnificat que entoa às cegas sobre o que não se sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato. Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de “mundo” esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que “Deus” é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe. Conto extraído da obra Felicidade Clandestina (Rocco, 1998), da premiada escritora e jornalista Clarice Lispector (1920-1977). Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

DOIS POEMAS - O MUNDO DAS SOLIDÕES Eu vaguei pela sombra e pela luz Oferecendo meu amor a inúmeras estrelas cadentes. Eu viajei por uma solidão tão grande Fazendo muitos sacrifícios em minha vida. A lenda da felicidade me atormenta E a tristeza me enterra na vertigem da desordem. Infelizmente, uma tempestade começa a se formar no horizonte Quando o ciúme troveja em minha alma Como um violento terremoto. E no silêncio da noite, O vaga-lume desesperado tenta desesperadamente Para fazer todo o céu brilhar, Como uma nova estrela da Providência. O MILAGRE DO AMOR Estarei lá, de dia e de noite, Nas provações e tormentos do destino Estar com você enquanto você passa pela vida. Estarei lá no mesmo reino de sonho que você Para nutrir seu coração Com todas as virtudes vitais do meu ser. Estarei lá para te amar infinitamente. E meu sangue fluirá como uma fonte inesgotável, Sem murmúrio nem violência, Até as profundezas de suas febres, Dos seus desejos e êxtases amorosos. Pormeas do escritor congolês Kama Sywor Kamanda. Veja mais aqui e aqui.

 

PROGRAMA DOMINGO ROMÂNTICO – O programa Domingo Romântico que vai ao ar todos os domingos, a partir das 10hs (horário de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação deste domingo aqui. Na edição deste 10 de novembro, muitas comemorações: de mais de 300 mil do blog Tataritaritatá e de mais 4 mil membros no grupo do programa no Facebook, com muitas atrações, confira: Kitaro, Augusto dos Anjos, Jon Anderson & Vangelis, Paulinho da Viola, Paul McCartney, Saulo Laranjeira, Arrigo Barnabé, Lenine, Antonio Abujamra, Chico Buarque, Elis Regina, Toquinho & Vinicius, MPB4, Marina Lima, Diogo Nogueira, Djavan, Maria Bethania, Gil, Rita Lee, Simone, Altay Veloso, Pedro Jones, Marcus Viana & Marilia Abduani, João Pinheiro, Eduardo Santhana, Fabiana Cozza, Caito & Marco Araujo, Marquinhos Cabral, Vlado Lima & Lis Rodrigues & Max Gonzaga, Beto Saroldi, Ararypê Silva, Frederico Amitrano, Roberto Toledo, Mensageiros do Vento, Tirso Florence de Biasi, Daniel, Luiza Possi, Roberto Carlos & muito mais!!!!! Participe, comente, curta online & abrilhante a nossa festa neste 10 de novembro, na programação da Cidade FM 87,9, a partir das 10hs. Não deixe de participar para concorrer a diversos prêmios. Veja mais aqui.



SERVIÇO:

O que? Programa Domingo Romântico

Quando? Neste domingo, 10 de novembro, a partir das 10hs.

Onde? Cidade FM 

Apresentação Meimei Corrêa.

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VERA IACONELLI, RITA DOVE, CAMILLA LÄCKBERG & DEMOROU MUITO

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