TRÍPTICO DQP:
- A solidão do poema... - A lenha da
palavra e a combustão da ideia: a fogueira da poesia. A cidade é uma penumbra
asfixiante, mais parece a nuvem tóxica de Nova Delhi. Emma Lazarus surpreende a caminhada: Então a Natureza moldou o coração de um poeta - uma lira/
de cujos acordes a brisa mais leve que sopra / deu uma música trêmula... Olhos escondidos perseguem a minha clausura andeja. Confesso arrasado
na rotina ordinária, renegado pela intolerância e mediocridade. Quantas aspirações,
fingimento, privações. Era como se eu fosse o lenhador de fadas com a missão
secreta d’O Golpe de Mestre do Fairy Feller de Richard Dadd: a imaginação
cheia ao deitar por malograr no atentado ao papa e o parricida esfaqueando o
demônio a mando de Osíris entre fadas e gramíneas, gnomos e flores, elfos e o
machado pronto para o golpe na castanha; a libélula ao trombone para a rainha
Mab com seus centauros, o menino e o monge anão com outros mágicos, uma aranha
tecelã, o lavrador e o político dos patriotários, o dândi de fada por cima da
ninfa, um pedagogo agachado, duas empregadas e um sátiro, um esfarrapado e o bisbilhoteiro,
as crianças nas margaridas e uma nova carruagem para a realeza dos sonhos de
Oberon e Titânia, nos sonhos de uma noite de verão de Shakespeare. Lá iam as investidas
criminosas e a disrupção psicótica para enlouquecer com o Queen nas xilogravuras do Clique, as vozes instigantes e as
gargantas cortadas, o non compos mentis como na narrativa do Perceval de
Bateson e o fetiche por ovos e cerveja.
Senti na pele o doloroso
pesadelo, não era eu e só despertei com Marguerite Yourcenar: Creio
que quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino... Também duvido da
minha sanidade, talvez eu seja um perigo paratodos, resta a companhia de mim mesmo, não há
saída: a vida reduzida ao poema e nada mais...
O grito rasga o dia... – Imagem: Arte do escultor, pintor, gravador e
professor Rubem Valentim
(1922-1991). - Tudo parece em ordem, mas não está. O que previsivel diante do
inesperado? Não era apenas afeto ou asco, nem apenas heroi ou vilão no conflito
entre pícaros – quem se aceita a si mesmo? Passado e presente embaralhados: o heroi
sem carater, o golpista dissimulado e o céu de vermelho-alaranjado com o
silêncio desesperador e seus fantasmas. Os amigos se foram e eu fiquei com o toque
de melancolia, o grito de Munch: o fracasso do amor e a alienação dos outros. Assim
a existência com suas perdas, a tristeza das doenças, a ansiedade e a morte, o socorro agozinante e a vida real na Noite da rua
Karl Johan - eliciadores do medo e a revivescência, os nervos à flor da
pele, ameaças e quantos pretextos para viver as muitas versões: A dança da vida em Åsgårdstrand
e lá estava o friso da vida na Madonna nua e feita de Amor e dor - era Marina Abramović como Selma Lagerlöf: Ninguém pode livrar os homens da dor, mas
será bendito aquele que fizer renascer neles a coragem para a suportar. A alegria é a dor que se dissimula - à face
da Terra só existe a dor. Como reconciliar eu não sei, só se um OVNI viesse
abduzir-me com a supressão da memória, mesmo que os erros batessem à porta e eu
me esquecesse da paixão antiga pela tia – como se fosse antes da Revolução de Bertollucci, nem lembrasse de quantos
amores se perderam e nada mais pudesse viver de benéfico nem de venturoso. Seguir
pelas pedras e rieiras...
Não estava
só na loucura... - Imagem: arte
da artista visual Gio Simões, que se
dedica ao desenho, à pintura e à fotografia. – Lá estava ela como se fosse a Dormeuse aux
persiennes de Picasso: desligada de
tudo, cansada e recolhida
em si mesma. Olhou-me com surpresa e me disse Don DeLillo: A loucura é tão pessoal. É difícil saber quem compartilha nossos segredos... Logo abriu
o jogo e fez-se tagarela inquieta, atormentada. Era como se sobrevivesse às lembranças da infância – o estupro de menina e o
casamento falido dos pais, ela tragada como se protagonizasse If Only Alcyone
Would Wake, de Joan Rodriguez. Insistia nua para lá e para cá: precisava acordar e assumir o controle
de sua vida depois da depressão pós-parto – a lembrança dos seus dois lindos
filhos, a sua infância com o conforto da arte na solidão e mais tamponava a dor
na ideação suicida. Não poderia, jamais. Mais uma vez fitou-me severa e
insistia em dizer que teve medo com a sua história despedaçada, precisava esquecer
suas raízes, a escravidão disfarçada, fantasiar o presente sem que precisasse
da aceitação ou recusa, e reiteradamente disse que nunca revelaria o seu segredo,
pois, condenada a viver na escuridão. De repente se fez Nadine Gordimer: Eu sou a
chama de uma vela que balança em correntes de ar que você não pode ver. Você
precisa ser aquele que me firma para queimar. Eu falhei em muitas coisas, mas
nunca tive medo. Todo mundo acaba caminhando sozinho em direção a si mesmo. Minha
resposta é: Reconheça-se nos outros... Ah, não, era preciso cuidar dela, assim
me fiz e nela do pesadelo à fantasia viva de amar. Era mesmo preciso, não
estava só nas minhas andanças, uma vez mais e a vida. Até mais ver.
[...] Avaliar é indispensável em toda atividade humana e,
portanto, em qualquer proposta de educação [...] A avaliação é inerente e imprescindível, durante todo
processo educativo que se realize em um constante trabalho de
ação-reflexão-ação [...] Precisamos, então, fazer com que nossa
prática educacional esteja conscientemente preocupada com a promoção da
transformação social [...] avaliar não pode ser um ato mecânico
nem mecanizante para que possamos contribuir para a construção de competência
técnicas sócio-política-culturais. [...].
Trechos extraídos da obra Avaliação: novos tempos, novas práticas (Vozes,
1998), do professor e pesquisador Edmar
Henrique Rabelo. Veja mais Educação & Livroterapia aqui e aqui.