TRÍPTICO DQC: JANELOUTRA
- Ao som de Ressonâncias, da compositora e pianista Marisa
Rezende, na interpretação da pianista Miriam Ramos. - Postulante
à vereança: Vote em mim! Todos os políticos mentem e só falo a verdade. E
descascou fulano, estraçalhou a reputação de beltrano, desmascarou sicrano e
depôs contra todo alfabeto do panteão dos três poderes da Nação: Sou a salvação
da humanidade! E depôs a Bíblia e santinho: Vote em mim, preciso me eleger! Só
com um mandato de vereador? Começa assim! E se foi. Ainda bem, alívio. As pretensões
são admiráveis. Logo se aproximou a sorridente Heloneida Studart: Mulher
também é gente. Vote numa inteligente. O mundo é das
Mulheres! Claro,
sou ginocrata! - respondi-lhe com um aceno. O delírio de uma campanha contamina,
mas não é essa a forma que me interessa, tem de haver outro modo. Compras de
voto e de cabresto, meu país se dissolve com os conluios. Por mais quanto
tempo, não sei. Ruminava sozinho e o escritor francês Patrick Chamoiseau: Levar
a liberdade é o único fardo que mantém as costas retas. Rimos juntos.
E contei o sucedido. Passado o pleito eleitoral, ah, aquele intruso e fui
conferir: não foi eleito. Cada uma que me aparece! Ninguém merece isso na
manhã.
QUINTA À TARDE – Ao som do álbum Thursday Afternoon (Virgin Records, 2005),
do compositor, músico, artista visual e produtor britânico de música ambiente, Brian Eno. – O mormaço da tarde chegou com uma
tremenda barulheira. Vozes para todo lado. Curioso, só depois de muito
investigar, era ensaio de um espetáculo teatral. Qual e ouvi alguém discursar:
Esforço-me por determinar os motivos e o
destino dessa entidade insólita que surgiu de maneira imprevista em meus
pensamentos e em minhas ideias. Plantaremos
os limites desta fronteira que se chama a condição da morte, porque constitui o
ponto de referência mais avançado, e não amenizado por nenhum conformismo sobre
a condição do artista e da arte. Só os mortos se fazem perceptíveis (para os
vivos) e obtém assim, por esse preço, o mais elevado, sua singularidade, sua
silhueta resplandecente, quase como no circo. Era uma
performance revolucionária do premiado dramaturgo e pintor polonês Tadeusz
Kantor (1915-1990), o mesmo criador do Teatro Clandestino,
fundador do Teatro Cricot 2 e autor do The Autonomous Theatre (1963), Theatre
Happening: The Theatre of Events (1967), O Teatro Informal (1969), The
Zero Theatre (1969) e O Teatro da Morte (1975). Foi aí que me dei
conta tratar-se de ensaio para o espetáculo A
classe morta. Do outro lado outros falavam da peça Que morram os artistas! Fiquei apreciando, prestava atenção a tudo.
Nem vi quando ela se aproximou tal AlysonNoël: Viva o presente, lembre-se do
passado e não tema o futuro, pois ele não existe e nunca existirá. Só existe o
agora. O perfume de sua beleza me inebriava e ali juntinhos, a minha inquietude
ao seu lado sedutor. Dali a pouco: Vamos? Vamos.
O POEMA EM PEDAÇOS
– Imagem: a arte da fotógrafa, escritora, editora e artista iraniana Maryam Eisler: A arte vence onde a política costuma falhar. Ao som de A time for us (2015), do compositor
italiano Nino Rota, na interpretação
da saxofonista Hiroko Yamakawa e da pianista Chiaki Oshima, em recital no Tokyo Opera City. - O mundo podia ser outro
ao crepúsculo. O momento, pelo menos, era de satisfação: ela linda e nua fazia
o anoitecer prazeroso. E lá fora tudo se consumia como uma coisa qualquer
degustada apenas pelo vício forjando a necessidade: as três refeições diárias
nos horários indicados, só por força do hábito; televisão ligada sem que se
identifique sequer o que se passa; a vida no automático e passageiro sem se
ligar no trajeto, ligado às asas de pensamentos soltos, tudo fragmento e
simulacro. Ela usou de Joseph Conrad: É difícil resistir onde nada
importa. Estava escrito que eu deveria ser leal ao pesadelo da minha escolha. Ser
mulher é algo difícil, já que consiste basicamente em lidar com homens. Tudo
é muito confuso, a existência refém da insatisfação. Ela cita a escritora
irlandesa Morgan Llywelyn: Quando me sinto bem, me sinto melhor do que qualquer
pessoa, quando estou com dor, grito a plenos pulmões e, quando estiver morta,
estarei mais morta do que qualquer um. E um beijo nos fez viajar galáxia afora perdidos na
imensidão do Universo. Esse mundo é muito pouco para nós dois. Até mais ver.
A ARTE DE BRUNA VALENÇA
O meu maior hobby é sonhar acordada. O amanhã está meio nebuloso. Como uma água turva, sabe? Às vezes fica um pouco difícil de enxergar a frestinha de luz, mas ela está lá, piscando. Eu acredito, imagino e visualizo o amanhã com esperança e consciência e muito mais presença. Saudade também é quando a gente vê alguém nos sonhos e os encontros são leves e fazem você acordar com um sorriso no rosto e o peito aquecido. Saudade, vô.
A arte
da premiada fotógrafa e artista visual Bruna Valença, que já trabalhou com grandes marcas
do mercado. Ela foi vencedora do prêmio People's
Choice Award, no concurso Exposure Competition pela See.Me Institution, em
Nova York. Veja mais aqui e aqui.