FANNY, O TESTEMUNHO DERRADEIRO – Agora o meu
testemunho derradeiro: compartilho definitivamente meu sofrimento com esta ode,
para que meu sangue seja a vida na corrente do seu coração que esvoaça ubíquo
por todo meu corpo e lugar. Você mudou a minha vida e aliviou meu coração com sua
presença para começar meu sonho. A sua beleza é a música que respira a alegria
brilhante na queimadura amorosa do meu peito e rechaça a minha dor sufocante na
esperança do seu amor. Eu sei, um homem apaixonado é a mais triste figura do
mundo, estou à sua mercê, deslumbrado com a sua confessa mão macia a premiar
minha vida subjugada, tudo é gracioso em seus movimentos, voa em todas as
direções dos meus sentidos. Sou apenas um aprendiz de cirurgião que desistiu da
saúde para ser poeta, um pobre poeta que vive do nosso grande segredo e dele
sobrevivo a enlouquecer, minha doce Fanny. Para você, a miniatura do meu
retrato e todos os meus poemas e cartas que são seus, porque os seus mil beijos
estarão sempre comigo. Só você é o meu prazer, minha docê Fanny, minha bela
dama Sans Merci, a vida do meu amor confinado, cavaleiro desmontado pelos
infortúnios, desassossegado, não há nada no mundo tão delicado, meu credo é o amor e você é seu único
princípio, na paixão submetida a uma quarentena,
chafurdando desesperado em autopiedade. Com a minha partida as autoridades
sanitárias queimarão toda minha mobília, rasparão as paredes do meu quarto para
novas portas, janelas e chão, meus poemas entre labaredas, minhas cartas
incendiadas, ah, meus olhos se fecharão com você em mim, doce Fanny, que
plantem margaridas sobre minha sepultura! © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] A existência é uma chama que constantemente ataca
e revivifica as nossas teorias. O pensamento existencial não oferece qualquer
segurança,nenhum abrigo ao sem-abrigo. Não se dirige a ninguém, salvo a vocês e
a mim. Encontra a sua justificação quando, por cima do abismo das
nossas linguagens, dos nossos erros, dos nossos devaneios e das nossas
perversidades, fazemos, na comunicação com outrem, a experiência de uma relação
estabelecida, perdida, destruída ou reencontrada. Esperamos partilhar a
experiência de uma relação, mas o único ponto de partida honesto (e talvez o
único fim) é talvez partilhar a experiência da ausência de relação. [...].
Trecho
extraído da obra A psiquiatria em questão
(Presença, 1972), do psiquiatra escocês Ronald
David Laing (1927-1989), que na sua obra O eu dividido (Vozes, 1978), expressa que: [...] o principal agente na integração do paciente, no fazer com que as peças
se reunam de modo coerente, é o amor do médico, um amor que lhe reconhece o ser
total e o aceita sem quaisquer limitações. [...]. Ele também é autor de
obras tais como A política da experiência: a ave do paraíso (Vozes,
1978), Fatos da vida (Nova Fronteira, 1982), Laços (Vozes, 1977), O eu e os
outros: o relacionamento interpessoal (Vozes, 1989), Percepção interpessoal
(Eldorado, 1972), A política da família (Martins Fontes, 1983), entre outros.
Veja mais aqui e aqui.
BRIGHT STAR
Fosse eu imóvel como tu, astro fulgente!
Não suspenso da noite com uma luz deserta,
A contemplar, com a pálpebra imortal aberta,
– Monge da natureza, insone e paciente –
As águas móveis na missão sacerdotal
De abluir, rondando a terra, o humano litoral,
Ou vendo a nova máscara – caída leve
Sobre as montanhas sobre os pântanos – da neve,
Não! mas firme e imutável sempre, a descansar
No seio que amadura de meu belo amor,
Para sentir, e sempre, o seu tranquilo arfar
Desperto, e sempre, numa inquietação-dulçor,
Para seu meio respirar ouvir em sorte,
E sempre assim viver, ou desmaiar na morte.
(Soneto Bright Star, de John Keats)
O drama Bright Star (Brilho de uma Paixão, 2009), da cineasta
neozelandesa Jane Campion, é baseado nos três últimos anos de vida do
poeta do Romantismo inglês John Keats (1795-1821), focando seu relacionamento amoroso entre os
anos de 1818-1821, com a inglesa Fanny Brawne (1800-1865), interpretado
pela atriz australiana Abbie Cornish. O poeta por ela se apaixonou e se
casaram em 18 de outubro de 1819, mantendo o enlace em segredo, porque ele
havia desistido de sua carreira na medicina e passou a se dedicar somente à
poesia, fato que levou a família dela a se opor. Separados por conta das
dificuldades financeiras e saúde precária do poeta, eles trocaram
correspondências mútuas. Veja mais aqui e aqui.
A ESCULTURA DE ALEXANDER ARCHIPENKO
A arte
do escultor e artista plástico ucraniano Alexander
Archipenko (1887-1964). Veja mais aqui.
&
A OBRA DE JOHN KEATS
Eu sou a morte, trilhada sob os pés de uma
bela dama.