AQUELA QUE JÁ FOI – Levava jeito não. Quando não era na sexta, era no sábado à noite e eu
lá. A última chance era a matinê do domingo e até aí eu sobrava, doido para
arrastar os pés com uma moça nem reboculosa que fosse, daquelas das que
boiassem magrelas ou enfeiadas catingosas, nem mesmo. Não levava mesmo sorte:
Quer dançar? Estou cansada. Fossem assustados, fuás, forrós, discotecas,
encostava, chamava na grande e um não desleixado soava com uma escusa qualquer.
Até daquelas dadas, perdidas da vida. Desconfiei de vez: ou eu tenho uma feiúra
ocrídia das mais terríveis ou uma inhaca daquelas mais fedorentas de afastar qualquer
trubufu de perto. Juro, até as mais assanhadas que se atiravam adoidadas no
gogó de qualquer pretenso pé de valsa, me davam corte na hora da função. Eu lá
com a cara mais abestalhada. Havia de se considerar que eu era um liso de não
ter um tostão furado no bolso, nem era o predileto da mamãe no meio da casa,
tísico, trôpego, de comprar fiado e inventar o que passar por troco. Fui desenganando
até: Vou mais não. Finquei pé. Desolei-me no banco da praça de nunca mais
inventar qualquer paquera, comendo tempo e paisagens. No meio de uma dessas
noites mais sem graça nenhuma de solitária, uma linda criatura, branquela e
perfumada, achou de dar o ar da graça, assim do nada. Sentou-se do lado, puxou
conversa: Comigo? Por acaso tem mais alguém aqui? Pensei que falasse sozinha. Acaso
sou uma doida? Não, é que sou enjeitado mesmo. Isso é lá coisa que se diga? E,
então, fui eu daqui, ela de lá. Aprumamos a conversa, maior teitei disso e
daquilo, aos poucos um risinho besta, encurtando espaço, se achegando, dedindo
de raspão, desculpe, pé encostando e tome lero, olho no olho, mão na mão, um
cheiro e um beijo meio que assim para uma coisa lá assada, fungado, eita! E eu
já lavando a jega num sarro pesado no meio do baile: umbigadas, esfregões,
apertos, alisados, encarcadas, bate-coxa, safadezas, ela virava do avesso e eu
tome lá e me dê cá, impetuoso na façanha, ah, coisa boa danada, pândega solta,
maior trupé, até o escurinho atrás do clube, via de fato num vuque-vuque
agoniado. Danou-se! E a cara mais lisa depois, gastando o solado no meio do
salão, madrugada adentro, pelos muros das ruas, becos ensombrados, atrás da
igreja, pelos arruados distantes, saias, dedadas, ais e uis, aos regalos. Pronto:
Ali é a minha casa, chegue depois da janta pra gente namorar. Certo. Uhu! Estou
feito! Melhor que isso nunca existiu! Ao anoitecer, emplaquei domingueira e saí
mais ancho que pabo folgado! Ô de casa! Ô de fora! Cadê a moça? Hem? Aí me
apresentei todo risonho e patati patatá. Acho que você está doido? Não, minha
namorada mora aqui! Aqui não tem essa não! Que é que é isso? Ué, pergunto eu:
Não mora aqui não. Aí o negócio foi entronchando, eu teimava e a recusa na
lata! Ontem mesmo eu deixei-la aqui! Errou de casa. Foi quando alguém abriu a
porta e vi uma imagem grandona dela no meio da sala lá dentro: Oxe, olhe a foto
dela ali! Quem? Dela! Ah, não, aquela ali é minha filha que morreu fez um mês ontem!
Como? É. Brinque não! Nossa, que arrepio: Como é que é? No outro dia estava eu
lá diante lápide. Isso é lá coisa que aconteça comigo? Pode não, meu. Pois é,
aconteceu. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] Comecei bem cedo a contar história. Às vezes,
à tarde, o professor nos levava para fora, para que nos sentássemos debaixo de
uma árvore e desfiássemos aventuras. Eu era o contador de histórias oficial da
classe, mas só fui descobrir os livros de ficção no curso secundário. Foi nessa
época que comecei a escrever minha primeira obra, um romance sobre um general
mau-mau que enfrentava a morte na selva. O livro acabou sendo publicado com o
nome de Carcaça para cães. Mesmo assim, a ideia de me tornar um escritor nunca
me passou pela cabeça. Só queria contar histórias. [...].
Trecho
extraído da obra Mzungu (SM, 2006),
do escritor queniano Meja Mwangi.
A ARTE DE ANA MAIA NOBRE
Há tantas coisas que preciso
"arrancar" de mim... Permito a Arte o direito de investigar.
A arte
da premiada arquiteta, designer e artista visual Ana Maia Nobre. Veja mais aqui.
A MÚSICA DE GABRIELA MONTERO
Quando improviso me conecto com minha
audiência de um jeito único – e eles comigo. Porque a improvisação é uma grande
parte de quem eu sou, é a forma mais espontânea e natural que eu posso me
expressar. Eu improviso desde que a minha mão tocou o teclado pela primeira
vez, mas por muitos anos eu mantive esse aspecto meu em segredo. Martha
Argerich, ouviu-me a improvisar um dia e ficou em êxtase. Na verdade, foi Marta
que me convenceu de que era possível combinar a minha carreira de "artista
clássica" com este meu lado que é bastante original.
Curtindo
os álbuns Rgapsody (2008), Baroque (2007),. Bach and Beyond (2006), Piano
Recital (2005), Chopin; Piano Woks (2007) e Concert a Montreal (2006), da pianista venezuelana Gabriela Montero. Veja
mais aqui.
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A OBRA DE LIMA BARRETO
Defendo o que eu gosto e quem eu gosto até o fim, mesmo que para isso eu fique em pedaços. A vida pode te deixar em pedaços, mas o amor te deixará inteiro.
Defendo o que eu gosto e quem eu gosto até o fim, mesmo que para isso eu fique em pedaços. A vida pode te deixar em pedaços, mas o amor te deixará inteiro.