O QUE É DE ARTE E CULTURA QUE EU NÃO SEI – Josedácio
cometia uns versos brejeiros, coisas de seu; como não tinha escola, era só tirocínio,
intuição: aprendeu sem se ensinar. Misturava afoiteza, licenciosidade, rimas de
tudo, bem ao gosto popular. Logo atraiu uma tuia de xexéus, tudo metido a
Bilacs, Drummonds, Bandeiras, Cabrais, poetas d’água doce, só. Até que o zoadeiro
caiu nas graças dum prefeito eleito que nem era tão simpático assim, mas ficou
sendo. Logo a trupe toda estava fazendo festa pro povo que saía da biblioteca e
ganhava as ruas do teatro que não cabia mais, mandaram construir um anfiteatro
pra saraus, recitais, exposições, artesanatos, festivais de cordel e de tudo o
mais. Eram os pastoris, caboclinhos, quadrilhas, cirandas, bumba-meu-boi. Era
festa todo dia e o dia todo, coisa de dá gosto, vinha gente até de um olho só
de todas as cidades da vizinhança e até da capital e de outros estados. Era um
festão do povo. Nem tudo passa impune, logo o festeiro tornou-se pra oposição e
pros desachegados, o festival da perdição, afora a gritaria de beatos e fieis
engrossando o caldo, coisa pra muita arenga. Até que veio, então, o golpe. E o
que era festa virou subversão. A imprensa local arreou a lenha, se bandeando
pros do contra: os arruaceiros que promoviam a violência e a degeneração das
famílias de bem, agora estavam todos presos em nome da moral e dos bons
costumes. A turma da TFP fez a festa. O que era barraca de artesanato, virou
comércio de celulares, relógios, tecnologias baratas; o que era Casa de
Cultura, virou Centro Social com atividades esportivas, tiro ao alvo, encontros
religiosos e de civismo patriótico, afora as efemérides anuais, festas de
ostentação e felicidade gratuita. A ditadura mandava ver, quando não se escapulia
no meio do pega-pra-capar, era todo mundo com o rabinho entre as pernas: o
menor pio e o cacete comia. Entrava dia, saía semana, passava mês, mais de ano,
duas décadas e meia, quase sem esperança com tudo nem aí, saiu o Bloco dos
Artistas – anônimos metidos a besta que se vangloriavam de cometer um ou outro
versinho de valia ou tom de afinação, sem cinema, sem cena, sem palco nem nada
-, sob a égide da Besta Fubana, juntaram a recada toda e protestaram ruidosamente.
Num sobrou um que fosse de sequer pra contar história. Danou-se tudo, enquanto
a gente só ouvia as autoridades locais embecadas no maior coro de arremedo entre
gravatas e faixas nos peitorais sobre arte e cultura, como de educação e de arte
e cultura, como de qualquer outra coisa, até corrupção e de arte e cultura, como
se de arte e cultura só eles soubessem e que só eles falam e só os deles e os que
estão com eles é que sabem e que ninguém sabe nem vê nem ouve nem fala. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui.
DESESPERO
DE ASCENSO
Os olhos brilhantes de cacainômano
Parecem ter coisas para me contar:
- Pedro Velho, cadê teu engenho?
A Usina passou no papo!
- E onde vais fundar safra este ano?
- Na barriga da mulher!
Na barriga da mulher.
............
Os olhos brilhantes
Parecem agora
Duas poças d’águas
Tremendo ao luar.
Poema
extraído de Cana Caiana - Poemas de
Ascenso Ferreira (Nordestal, 1981), do poeta modernista Ascenso Ferreira (1895-1956), Veja
mais aqui, aqui & aqui.
A POESIA
DE ASCENSO - [...] sua real contribuição
dentro do movimento modernista brasileiro. O poeta aderiu à estética paulista,
porém, com animo próprio e originalidade. As novas tendências por ele abraçadas
fundamentavam-se na defesa dos valores regionais, sobretudo na tradução de sua
nordestinidade que ele tão bem representou com uma poesia diferente, no sentido
de renovação e experimentação, sem desrespeitar o passado, mas com uma temática
de inspiração nacional e ao mesmo tempo regional, dentro dos contornos do
Modernismo. [...] a obra de Ascenso
Ferreira é na verdade documental e atualizadíssima. Sem sombra de dúvida,
inesgotável, quanto às tantas possibilidades de interpretação à luz da
sociologia, antropologia, misticismo, literatura, lingüística, folclore e
outras ramificações de pesquisa, por isso necessário ao enlarguecimento de uma
visão de mundo mais profunda, interligando o modo de vida do passado com a
atualidade. Trechos extraídos da obra A
contribuição sociológica da poesia de Ascenso Ferreira (Inovação, 2005) de Maria
do Socorro Barros y Durán & José Avani Tavares de Azevedo. Veja mais aqui.
O HOMEM
E SUA ÉPOCA - [...] Na medida em que o
homem cria, recria e decide, vão se formando as épocas histórias. E é também
criando, recriando e decidindo como deve participar nessas épocas. É por isso
que obtém melhor resultado toda vez que, integrando-se no espírito delas, se
apropria de seus temas e reconhece suas tarefas concretas. Ponha-se ênfase,
desde já, na necessidade permanente de uma atitude crítica, a única com a qual
o homem poderá apreender os temas e tarefas de sua época para ir se integrando
nela. Uma época, por outro lado, realiza-se na proporção em que seus temas
foram captados e suas tarefas resolvidas.
E se supera na medida em que os temas e as tarefas não correspondem a
novas ansiedades emergentes. Uma época da história apresentará uma série de
aspirações, de desejos, de valores, em busca de sua realização. Formas de ser,
de comportar-se, atitudes mais ou menos generalizadas, das quais somente os
visionários que se antecipam têm dúvidas e frente às quais sugerem novas
formulas. A passagem de uma época para outra caracteriza-se por fortes
contradições que se aprofundam, dia a dia, entre valores emergentes em busca de
afirmações, de realizações, e valores do ontem em busca de preservação. Trecho
extraído da obre Educação e mudança
(Paz e Terra, 1983), do
educador, pedagogista e filósofo Paulo
Freire (1921-1997). Veja mais aqui, aqui & aqui.
DE MATÉRIA, RELIGIÃO,
CIÊNCIA & ESPIRITUALIDADE
- [...] A divisão entre o mundo material
e o espiritual foi estabelecida entre a ciência e a religião como um “acordo
entre cavalheiros” no tempo de Descartes. Essa divisão parece cada vez menor. A
religião teve que aceitar no passado as inevitáveis constatações da ciência,
como o fato de nosso planeta não ser o centro do universo, como também a
ciência teve que encarar a espiritualidade como um fenômeno que vai além da
fantasia ou imaginação. A transdisciplinaridade é um dos métodos que permitem
essa aproximação. Atualmente as pesquisas sobre manifestações que envolvem arte
e consciência tem se desenvolvido bastante, neurocientistas, psicólogos de
várias áreas, artistas, antropólogos, estudos interdisciplinares, buscam
investigar o fenômeno como algo tão válido e real como o mundo material. [...] Viu-se que os temas visionários, de maneira
geral, têm caráter numinoso tão vivo e criativo quanto são os mitos presentes
nas diversas sociedades primitivas e atuais em todo o planeta. Se a ênfase
entre racional (antropocêntrica) e emocional (teocêntrica) costumou se
intercalar entre os movimentos artísticos, a Arte Visionária, correndo quase
sempre à margem dos grandes movimentos, manteve de forma bastante constante sua
busca pela representação das visões de mundos subjetivos que afloram de uma
fonte natural nos indivíduos, faz parte da mais profunda experiência humana
diante do mistério da vida. Mesmo em meio às valiosas agitações artísticas
criativas das modernidades e “pós-modernidades”, ela encontra seu espaço nos
lados mais recônditos da condição e da natureza humana. Trechos do artigo Arte e Consciência: Visões Místicas e suas
Representações (Neip, s/d), do artista plástico, editor, pesquisador doutor
em Ciências Humanas e professor José
Eliézer Mikosz.
BRASIL, PAÍS DO FUTURO - [...] Viajar
no Brasil é sempre descobrir coisas novas, e temos que nos conformar com a fato
de que no Brasil a ninguém é possível ver tudo. Ser razoável é saber
resignar-se no momento oportuno, e por isso tive que dizer a mim mesmo: por
essa vez basta! [...] No momento em
que a hélice do aparelho em que vou partir principia a girar, desperta-se em
mim toda a gratidão pela felicidade e pelos conhecimentos com que essas semanas
inolvidaveis me presentearam. Quem teve a sorte de conhecer uma parte apenas da
inesquecível superabundância do Brasil, já viu beleza suficiente para o resto
da vida. Trechos extraídos da obra
Brasil, país do futuro (Nova Fronteira, 1981), do escritor,
dramaturgo, jornalista e biografo austríaco Stefan Zweig (1881-1942). Veja mais aqui.
DAS
MUITAS FORMAS DE ENSINAR E APRENDER - [...] à
criação de um blog que redimensione as aulas de leituras, de escrita e de
gramática, não esquecendo a oralidade. Não se trata de supervalorizar o
suporte, mas sim de perceber sua influencia nas interações contemporâneas, e
cabe ao professor de língua portuguesa repensar seus conteúdos e estratégias
para que de fato ocorra aprendizagem significativa tanto de leitura como de
escrita, de oralidade e de gramática, conseguiindo, assim, retirar o aluno do
marasmos de não saber ler e escrever com habvilidade suficientes de se impor na
sociedade como cidadão. [...] Em
suma, percebemos que é preciso sair da monotonia das aulas catedráticas
classificadoras e nomeadoras de língua portuguesa, seja através da tecnologia
digital ou de outras formas mais. O importante é que o professor ouse em busca
de melhores frutos. Trechos extraídos de Prática educativa e weblog: a força propulsora para o ensino de leitura
e escrita na aula de língua portuguesa, da profesora Analy Samara Zambiano
de Oliveira, extraído da obra Cultura,
práticas educativas, currículo e gênero: a tessitura de uma olhar
multidisciplinar (EdUPE, 2009). Veja mais aqui & aqui.
MULHER
BRASILEIRA - [...] Ter um marido é um
verdadeiro capital para a mulher brasileira. Por outro lado, as pesquisadas
também parecem poderosas por, além de terem um marido, sentirem-se mais fortes,
independentes e interessantes do que eles (mesmo que eles ganhem muito mais do
que elas e sejam mais bem-sucedidos em suas profissões). Portanto, em um
mercado em que os maridos são escassos [...] as brasileiras casadas sentem-se duplamente poderosas: por terem um
produto raro e extremamente valorizado no mercado e por se sentirem superiores
e imprescindíveis para seus maridos. [...] as brasileiras falaram a maior parte do tempo sobre o homem, seja pela
presença dele em suas vidas, altamente valorizada e necessárias para sua
satisfação, seja para reclamar de sua falta. Um dos fatos que mais chamou a
minha atenção foi que as brasileiras falaram pouquíssimo de seus filhos e,
menos ainda, de suas atividades profissionais. É interessante destacar que, nos
grupos que pesquisei, o fato de viajarem, conversarem com as amigas, saírem
sozinhas ou descobrirem, uma nova atividade (um curso de filosofia, um curso de
pintura ou um grupo religioso) apareceu com muito mais destaque que os filhos e
o trabalho. Poucos foram os momentos em que falaram de seu pai ou sua mãe, e
mais raros ainda em que falaram de seus netos, apesar de algumas serem avós.
Trechos do artigo Nem toda brasileira é
bunda: corpo e envelhecimento na cultura contemporânea, da antropóloga e
escritora Mirian Goldenberg, extraído da obra O tempo da beleza: consumo e comportamento feminino, novos olhares
(Senac, 2008), organizado por Leticia Cassoti, Maribel Suarez e Roberta Dias
Campos. Veja mais aqui.
O
BECO SEM SAÍDA DA EDUCAÇÃO SEXUAL
- [...] A educação
sexual, a meu ver, fornece problemas muito mais sérios e cheios de
conseqüências do que pensa a maioria dos reformadores sexuais. Justamente por
isso é que nesse campo não se progride nem um pouco, apesar de todo o
conhecimento e de todos os meios que a pesquisa sexual colocou ao nosso
alcance. Temos que lutar com uma poderosa máquina social que por enquanto
oferece resistência passiva, mas que no primeiro esforço sério de nossa parte
passará a uma resistência ativa. E toda a hesitação e cuidados, toda indecisão
e tendência para compromissos em questões de educação sexual, não podem ser
atribuídos apenas a nossas próprias repressões sexuais, mas, apesar da
honestidade dos esforços educacionais, ao temor de entrar em conflito grave com
a ordem social conservadora [...]. Trecho da obra Revolução sexual
(Zahar, 1968), do médico, psicanalista e cientista natural Wilhelm
Reich (1897-1957). Veja mais aqui e aqui.
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As horas desse amor sobram de ausência
Ausência que de tudo se antecede
Basta a certeza do amor mais breve
Para que o mal lhe negue a existência
Multiplicar lhe resta a dor sentida
Que a dor diminuída é fingimento
Usar os carretéis do tormento
E destruir a vida com a vida
Poema
extraído da obra Do amor e suas
perversidades (Fundarpe/CEPE, 1989), da poeta, psicóloga e editora Dione Barreto.
Bate
papo com os alunos do Ginásio Municipal & a professora Evanice Rodrigues, nas
comemorações do Centenário de Hermilo Borba Filho. Veja mais aqui & aqui.