quarta-feira, agosto 16, 2017

ASCENSO, PAULO FREIRE, REICH, ELIÉZER MIKOSZ, ZWEIG, DIONE BARRETO, EDUCAÇÃO & GINÁSIO MUNICIPAL

O QUE É DE ARTE E CULTURA QUE EU NÃO SEI – Josedácio cometia uns versos brejeiros, coisas de seu; como não tinha escola, era só tirocínio, intuição: aprendeu sem se ensinar. Misturava afoiteza, licenciosidade, rimas de tudo, bem ao gosto popular. Logo atraiu uma tuia de xexéus, tudo metido a Bilacs, Drummonds, Bandeiras, Cabrais, poetas d’água doce, só. Até que o zoadeiro caiu nas graças dum prefeito eleito que nem era tão simpático assim, mas ficou sendo. Logo a trupe toda estava fazendo festa pro povo que saía da biblioteca e ganhava as ruas do teatro que não cabia mais, mandaram construir um anfiteatro pra saraus, recitais, exposições, artesanatos, festivais de cordel e de tudo o mais. Eram os pastoris, caboclinhos, quadrilhas, cirandas, bumba-meu-boi. Era festa todo dia e o dia todo, coisa de dá gosto, vinha gente até de um olho só de todas as cidades da vizinhança e até da capital e de outros estados. Era um festão do povo. Nem tudo passa impune, logo o festeiro tornou-se pra oposição e pros desachegados, o festival da perdição, afora a gritaria de beatos e fieis engrossando o caldo, coisa pra muita arenga. Até que veio, então, o golpe. E o que era festa virou subversão. A imprensa local arreou a lenha, se bandeando pros do contra: os arruaceiros que promoviam a violência e a degeneração das famílias de bem, agora estavam todos presos em nome da moral e dos bons costumes. A turma da TFP fez a festa. O que era barraca de artesanato, virou comércio de celulares, relógios, tecnologias baratas; o que era Casa de Cultura, virou Centro Social com atividades esportivas, tiro ao alvo, encontros religiosos e de civismo patriótico, afora as efemérides anuais, festas de ostentação e felicidade gratuita. A ditadura mandava ver, quando não se escapulia no meio do pega-pra-capar, era todo mundo com o rabinho entre as pernas: o menor pio e o cacete comia. Entrava dia, saía semana, passava mês, mais de ano, duas décadas e meia, quase sem esperança com tudo nem aí, saiu o Bloco dos Artistas – anônimos metidos a besta que se vangloriavam de cometer um ou outro versinho de valia ou tom de afinação, sem cinema, sem cena, sem palco nem nada -, sob a égide da Besta Fubana, juntaram a recada toda e protestaram ruidosamente. Num sobrou um que fosse de sequer pra contar história. Danou-se tudo, enquanto a gente só ouvia as autoridades locais embecadas no maior coro de arremedo entre gravatas e faixas nos peitorais sobre arte e cultura, como de educação e de arte e cultura, como de qualquer outra coisa, até corrupção e de arte e cultura, como se de arte e cultura só eles soubessem e que só eles falam e só os deles e os que estão com eles é que sabem e que ninguém sabe nem vê nem ouve nem fala. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DESESPERO DE ASCENSO
 
Os olhos brilhantes de cacainômano
Parecem ter coisas para me contar:
- Pedro Velho, cadê teu engenho?
A Usina passou no papo!
- E onde vais fundar safra este ano?
- Na barriga da mulher!
Na barriga da mulher.
............
Os olhos brilhantes
Parecem agora
Duas poças d’águas
Tremendo ao luar.
Poema extraído de Cana Caiana - Poemas de Ascenso Ferreira (Nordestal, 1981), do poeta modernista Ascenso Ferreira (1895-1956), Veja mais aqui, aqui & aqui.

A POESIA DE ASCENSO - [...] sua real contribuição dentro do movimento modernista brasileiro. O poeta aderiu à estética paulista, porém, com animo próprio e originalidade. As novas tendências por ele abraçadas fundamentavam-se na defesa dos valores regionais, sobretudo na tradução de sua nordestinidade que ele tão bem representou com uma poesia diferente, no sentido de renovação e experimentação, sem desrespeitar o passado, mas com uma temática de inspiração nacional e ao mesmo tempo regional, dentro dos contornos do Modernismo. [...] a obra de Ascenso Ferreira é na verdade documental e atualizadíssima. Sem sombra de dúvida, inesgotável, quanto às tantas possibilidades de interpretação à luz da sociologia, antropologia, misticismo, literatura, lingüística, folclore e outras ramificações de pesquisa, por isso necessário ao enlarguecimento de uma visão de mundo mais profunda, interligando o modo de vida do passado com a atualidade. Trechos extraídos da obra A contribuição sociológica da poesia de Ascenso Ferreira (Inovação, 2005) de Maria do Socorro Barros y Durán & José Avani Tavares de Azevedo. Veja mais aqui.

O HOMEM E SUA ÉPOCA - [...] Na medida em que o homem cria, recria e decide, vão se formando as épocas histórias. E é também criando, recriando e decidindo como deve participar nessas épocas. É por isso que obtém melhor resultado toda vez que, integrando-se no espírito delas, se apropria de seus temas e reconhece suas tarefas concretas. Ponha-se ênfase, desde já, na necessidade permanente de uma atitude crítica, a única com a qual o homem poderá apreender os temas e tarefas de sua época para ir se integrando nela. Uma época, por outro lado, realiza-se na proporção em que seus temas foram captados e suas tarefas resolvidas.  E se supera na medida em que os temas e as tarefas não correspondem a novas ansiedades emergentes. Uma época da história apresentará uma série de aspirações, de desejos, de valores, em busca de sua realização. Formas de ser, de comportar-se, atitudes mais ou menos generalizadas, das quais somente os visionários que se antecipam têm dúvidas e frente às quais sugerem novas formulas. A passagem de uma época para outra caracteriza-se por fortes contradições que se aprofundam, dia a dia, entre valores emergentes em busca de afirmações, de realizações, e valores do ontem em busca de preservação. Trecho extraído da obre Educação e mudança (Paz e Terra, 1983), do educador, pedagogista e filósofo Paulo Freire (1921-1997). Veja mais aqui, aqui & aqui.

DE MATÉRIA, RELIGIÃO, CIÊNCIA & ESPIRITUALIDADE - [...] A divisão entre o mundo material e o espiritual foi estabelecida entre a ciência e a religião como um “acordo entre cavalheiros” no tempo de Descartes. Essa divisão parece cada vez menor. A religião teve que aceitar no passado as inevitáveis constatações da ciência, como o fato de nosso planeta não ser o centro do universo, como também a ciência teve que encarar a espiritualidade como um fenômeno que vai além da fantasia ou imaginação. A transdisciplinaridade é um dos métodos que permitem essa aproximação. Atualmente as pesquisas sobre manifestações que envolvem arte e consciência tem se desenvolvido bastante, neurocientistas, psicólogos de várias áreas, artistas, antropólogos, estudos interdisciplinares, buscam investigar o fenômeno como algo tão válido e real como o mundo material. [...] Viu-se que os temas visionários, de maneira geral, têm caráter numinoso tão vivo e criativo quanto são os mitos presentes nas diversas sociedades primitivas e atuais em todo o planeta. Se a ênfase entre racional (antropocêntrica) e emocional (teocêntrica) costumou se intercalar entre os movimentos artísticos, a Arte Visionária, correndo quase sempre à margem dos grandes movimentos, manteve de forma bastante constante sua busca pela representação das visões de mundos subjetivos que afloram de uma fonte natural nos indivíduos, faz parte da mais profunda experiência humana diante do mistério da vida. Mesmo em meio às valiosas agitações artísticas criativas das modernidades e “pós-modernidades”, ela encontra seu espaço nos lados mais recônditos da condição e da natureza humana. Trechos do artigo Arte e Consciência: Visões Místicas e suas Representações (Neip, s/d), do artista plástico, editor, pesquisador doutor em Ciências Humanas e professor José Eliézer Mikosz.

BRASIL, PAÍS DO FUTURO - [...] Viajar no Brasil é sempre descobrir coisas novas, e temos que nos conformar com a fato de que no Brasil a ninguém é possível ver tudo. Ser razoável é saber resignar-se no momento oportuno, e por isso tive que dizer a mim mesmo: por essa vez basta! [...] No momento em que a hélice do aparelho em que vou partir principia a girar, desperta-se em mim toda a gratidão pela felicidade e pelos conhecimentos com que essas semanas inolvidaveis me presentearam. Quem teve a sorte de conhecer uma parte apenas da inesquecível superabundância do Brasil, já viu beleza suficiente para o resto da vida. Trechos extraídos da obra Brasil, país do futuro (Nova Fronteira, 1981), do escritor, dramaturgo, jornalista e biografo austríaco Stefan Zweig (1881-1942). Veja mais aqui.

DAS MUITAS FORMAS DE ENSINAR E APRENDER - [...] à criação de um blog que redimensione as aulas de leituras, de escrita e de gramática, não esquecendo a oralidade. Não se trata de supervalorizar o suporte, mas sim de perceber sua influencia nas interações contemporâneas, e cabe ao professor de língua portuguesa repensar seus conteúdos e estratégias para que de fato ocorra aprendizagem significativa tanto de leitura como de escrita, de oralidade e de gramática, conseguiindo, assim, retirar o aluno do marasmos de não saber ler e escrever com habvilidade suficientes de se impor na sociedade como cidadão. [...] Em suma, percebemos que é preciso sair da monotonia das aulas catedráticas classificadoras e nomeadoras de língua portuguesa, seja através da tecnologia digital ou de outras formas mais. O importante é que o professor ouse em busca de melhores frutos. Trechos extraídos de Prática educativa e weblog: a força propulsora para o ensino de leitura e escrita na aula de língua portuguesa, da profesora Analy Samara Zambiano de Oliveira, extraído da obra Cultura, práticas educativas, currículo e gênero: a tessitura de uma olhar multidisciplinar (EdUPE, 2009). Veja mais aqui & aqui.

MULHER BRASILEIRA - [...] Ter um marido é um verdadeiro capital para a mulher brasileira. Por outro lado, as pesquisadas também parecem poderosas por, além de terem um marido, sentirem-se mais fortes, independentes e interessantes do que eles (mesmo que eles ganhem muito mais do que elas e sejam mais bem-sucedidos em suas profissões). Portanto, em um mercado em que os maridos são escassos [...] as brasileiras casadas sentem-se duplamente poderosas: por terem um produto raro e extremamente valorizado no mercado e por se sentirem superiores e imprescindíveis para seus maridos. [...] as brasileiras falaram a maior parte do tempo sobre o homem, seja pela presença dele em suas vidas, altamente valorizada e necessárias para sua satisfação, seja para reclamar de sua falta. Um dos fatos que mais chamou a minha atenção foi que as brasileiras falaram pouquíssimo de seus filhos e, menos ainda, de suas atividades profissionais. É interessante destacar que, nos grupos que pesquisei, o fato de viajarem, conversarem com as amigas, saírem sozinhas ou descobrirem, uma nova atividade (um curso de filosofia, um curso de pintura ou um grupo religioso) apareceu com muito mais destaque que os filhos e o trabalho. Poucos foram os momentos em que falaram de seu pai ou sua mãe, e mais raros ainda em que falaram de seus netos, apesar de algumas serem avós. Trechos do artigo Nem toda brasileira é bunda: corpo e envelhecimento na cultura contemporânea, da antropóloga e escritora Mirian Goldenberg, extraído da obra O tempo da beleza: consumo e comportamento feminino, novos olhares (Senac, 2008), organizado por Leticia Cassoti, Maribel Suarez e Roberta Dias Campos. Veja mais aqui.

O BECO SEM SAÍDA DA EDUCAÇÃO SEXUAL - [...] A educação sexual, a meu ver, fornece problemas muito mais sérios e cheios de conseqüências do que pensa a maioria dos reformadores sexuais. Justamente por isso é que nesse campo não se progride nem um pouco, apesar de todo o conhecimento e de todos os meios que a pesquisa sexual colocou ao nosso alcance. Temos que lutar com uma poderosa máquina social que por enquanto oferece resistência passiva, mas que no primeiro esforço sério de nossa parte passará a uma resistência ativa. E toda a hesitação e cuidados, toda indecisão e tendência para compromissos em questões de educação sexual, não podem ser atribuídos apenas a nossas próprias repressões sexuais, mas, apesar da honestidade dos esforços educacionais, ao temor de entrar em conflito grave com a ordem social conservadora [...]. Trecho da obra Revolução sexual (Zahar, 1968), do médico, psicanalista e cientista natural Wilhelm Reich (1897-1957). Veja mais aqui e aqui.

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As horas desse amor sobram de ausência
Ausência que de tudo se antecede
Basta a certeza do amor mais breve
Para que o mal lhe negue a existência

Multiplicar lhe resta a dor sentida
Que a dor diminuída é fingimento
Usar os carretéis do tormento
E destruir a vida com a vida
Poema extraído da obra Do amor e suas perversidades (Fundarpe/CEPE, 1989), da poeta, psicóloga e editora Dione Barreto.


Bate papo com os alunos do Ginásio Municipal & a professora Evanice Rodrigues, nas comemorações do Centenário de Hermilo Borba Filho. Veja mais aqui & aqui.