A VIDA NA JANELA – Imagem:
conversando com alunos do Ginásio
Municipal dos Palmares - Ainda ontem flores reluziam no jardim ornando
muros e passagens da infância pros que no futuro darão trabalho à humanidade,
mas não, o futuro é agora e já passou, nada demais, já era apenas ontem, o que
hoje se encontra na memória e ainda ontem o carnaval de todas as folias pra se
esbaldar santos dias de gozo e mais tivesse para enforcar a quarta-feira de
cinzas vindoura pra nunca mais ser como antes e só felicidade doravante e o ano
inteiro, de agora em diante e nunca mais uma vida sisuda racional de pagamentos
no fim do mês, de bater ponto atrasado todo dia e se estourar por semanas de
labor mais sem graça e só poder viver apenas no final de semana, nunca mais ter
que aturar patrões e chefias desalmadas na base da pilha carga toda e os dentes
no pescoço exangue pra viver de chupar o sangue alheio no vampirismo mútuo uns
aos outros famélicos hospedeiros que matam e morrem e são levados na enchente
de muitos metros de água dentro de casa pro flagelo de ver a vida roubada
lavando os pecados. Ainda ontem as procissões dos dias santificados ecoando
seus passos no tempo como os cortejos fúnebres das velhas esperanças conduzidas
pelas novas e resignadas esperanças já premidas de quase desesperança no meio
da correria da farra do consumo pelas liquidações de queima de estoque
incendiando cobiças de afetos largados para serem pisoteados pela satisfação de
risos incontroláveis. Ainda ontem e eu pensava ser hoje e não, era o desfile de
todos os sonhos de príncipe encantado da apaixonada eternamente adolescente, a
dama seminua escultural do jovem príapo enamorado, o glamour dos semideuses das
telas de todos os quadrantes para incendiar a libido das fãs mais ardorosas com
os coloridos folguedos dos desejos e prazeres, os pais fracassados seguidos
pelas mães viúvas de ontem na incompletude dos anseios diante do paraíso
perdido no tempo e espaço das pontes e castelos que sumiram nas areias dos
quintais mais remotos, as ingênuas geringonças quiméricas dos visionários mais
ousados da loucura coletiva, o arrastado das longas barbas grisalhas dos silenciosos
venerandos mestres vetustos com seus discípulos contritos, dos que chantageiam
equívocos e vendem a alma na fabricação de equívocos tornados em verdades pra
novos equívocos se perpetuarem nos anais históricos mais oficiais da mentira de
tudo, ou dos que não sabem o que fazer no meio do semáforo entre o resolvido e
as tensões do por resolver nas agonias dos desafios irresolvíveis que ficam pra
amanhã e depois no esquecimento, e nunca mais ter que aguentar o bafo das
políticas tacanhas dos bolsos graúdos de poço sem fundo, incapazes de
transmitir a boa nova pela compulsória falácia de fazer pagar para ser
entretido com suas promessas embusteiras a revelar virtudes não conquistadas,
defeitos possuídos, oh, não! Ainda ontem parecia uma fotografia, uma pintura
perfeita, viva na imaginação, mas não era, ainda ontem era hoje e a vida que
passou na janela. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
POLÍTICAS
EM DEBATE
Neste
sábado, a partir das 16hs, estarei no programa Políticas em Debate, na Rádio Farol FM 90,7, com apresentação de Manoca
Leão.
A
CRIANÇA E O ADULTO – Para a criança, só é
possível viver sua infância. Conhecê-la compete ao adulto. Contudo, o que ira predominar
nesse conhecimento, o ponto de vista do adulto ou o da criança? Se o homem
sempre começou colocando-se a si mesmo em seus objetos de conhecimento,
atribuindo a estes uma existência e uma atividade conformes à imagem que tem
das suas, o quanto essa tentação não deve ser forte quando se trata de um ser
que vem dele e deve tornar-se semelhante a ele – a criança, cujo crescimento
ele vigia, guia e a quem muitas vezes lhe parece difícil não atribuir motivos
ou sentimentos complementares aos seus. Para seu antropomorfismo espontâneo,
quantas oportunidades, quantos pretextos, quantas aparentes justificativas!
[...] Em suma, é o mundo dos adultos que
o meio lhe impõe e disso decorre, em cada época, certa uniformidade de formação
mental. Mas nem por isso o adulto tem o direito de só conhecer na criança o que
põe nela. E, em primeiro lugar, a maneira como a criança assimila o que é posto
nela pode não ter nenhuma semelhança com a maneira como o próprio adulto o
utiliza. Se o adulto vai mais longe que a criança, a criança, à sua maneira,
vai mais longe que o adulto. Tem disponibilidades psíquicas que outro meio
utilizaria de outra forma. Várias dificuldades coletivamente superadas pelos
grupos sociais já possibilitaram que muitas dessas disponibilidades se manifestassem.
Com a ajuda da cultura, outras ampliações da razão e da sensibilidade não estão
potencialmente na criança? Trechos extraídos da obra A evolução psicológica da criança (Martins Fontes, 2007), do
filósofo, médico e psicólogo francês Henri Wallon (1879-1962). Veja mais aqui.
CENTO E
VINTE MILHÕES DE CRIANÇAS NO CENTRO DA TORMENTA - Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um em que alguns
países especializam-se em ganhar, e outro em que se especializaram em perder.
Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce:
especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do
Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta.
Passaram séculos, e a América Latina aperfeiçoou suas funções. Este já não é o
reino das maravilhas, onde a realidade derrotava a fábula e a imaginação era
humilhada pelos troféus das conquistas, as jazidas de ouro e as montanhas de
prata. Mas a região continua trabalhando como um serviçal. Continua existindo a
serviço de necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro,
cobre e carne, frutas e café, matérias-primas e alimentos, destinados aos
países ricos que ganham, consumindo-os, muito mais do que a América Latina
ganha produzindo-os. São muito mais altos os impostos que cobram os compradores
do que os preços que recebem os vendedores [...] nós habitamos, no máximo, numa sub-América, numa América de segunda
classe, de nebulosa identificação. É a América Latina, a região das veias
abertas [...]. Trechos extraídos da obra As veias abertas da América Latina (Paz e Terra, 1979), do jornalista e escritor uruguaio Eduardo
Galeano (1940-2015). Veja mais aqui.
VISÃO DO
MUNDO - O mundo não tem sentido sem o
nosso olhar que lhe atribui forma, sem o nosso pensamento que lhe confere
alguma ordem. É uma ideia assustadora: vivemos segundo o nosso ponto de vista,
com ele sobrevivemos ou naufragamos. Explodimos ou congelamos conforme nossa
abertura ou exclusão em relação ao mundo. E o que configura essa perspectiva
nossa? Ela se inaugura na infância, com suas carências nem sempre explicáveis.
Mesmo se fomos amados, sofremos de uma insegurança elementar. Ainda que
protegidos, seremos expostos a fatalidades e imprevistos contra os quais nada
nos defende. Temos de criar barreiras e ao mesmo lançar pontes com o que nos
rodeia e o que ainda nos espera. Toda essa trama de encontro e separação,
terror e êxtase encadeados, matéria da nossa existência, começa antes de
nascermos. Trecho de A marca no
flanco, extraído da obra Perdas &
Ganhos (Record, 2003), da
escritora e tradutora gaúcha Lya Luft. Veja mais aqui, aqui e aqui.
CONTRASTES
FILOSÓFICOS – [...] Às vezes queremos
muito alguma coisa e fazemos tudo para obtê-la, mas nossos esforços não levam a
nada. Outras vezes, ao contrário, quando não fazemos senão esperar, quando
somos somente pacientes, as coisas acontecem naturalmente. Parece, então, que
nossa passividade agiu: fomos então ativos ou passivos? Talvez seja mesmo
necessário agir sobre si mesmo para saber esperar. Da mesma maneira, pensamos
às vezes que as paredes que sustentam o teto da casa são passivas, até o dia em
que desmoronam. Vemos então como elas agiam de maneira eficaz. Concluímos,
então, que tudo age sobre tudo sem que o percebamos. Tudo pode, portanto, ser
considerado, ao mesmo tempo, ativo e passivo. [...] Trecho extraído da obra
O livro dos grandes contrastes
filosóficos (Log On, 2008), de Oscar Brenifier e Jacques Després.
COISAS
DO AMOR - [...] Pelas quatro horas da
tarde, avistou-se a “Estrela da Manhã” e ela correu para avisar Fernando. O
doente estava muito mal e, quando avistou Isaura, olhou-a com terrível
expressão de ansiedade. – Isaura – falou ele – já se avista a Barcaça? – Já! –
respondeu a mulher, com o coração batendo no peito com tanta força que ela se
sentia sufocada. – E a bandeira está içada no mstrou? – perguntou ainda o
marido. – Está, sim! – disse Isaura; e acrescentou, antes que um bom impulso
pudesse detê-la: - Mas não é branca como você disse não, é treta! – Então não
posso mais! – falou Fernando, como se sua dor fosse tanta que ele não pudesse
reter a vida por mais tempo. Seus olhos fecharam-se e ele deixou pender a
cabeça. – Fernando! – gritou sua mulher desesperada e só agora acordando para a
gravidade do que fizera. – Fernand0, não é verdade! A bandeira é branca. Mas
era tarde. Fernando acabara de morrer. [...]. Trecho extraído da obra A história de amor de Fernando e Isaura
(Bagaço, 1994), do
escritor e dramaturgo Ariano Suassuna
(1927-2014). Veja mais aqui, aqui & aqui.
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Seja a Água Potável
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Da Água desse Planeta
Nunca vai faltar, que tal?
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Da devastação que é o mal
[...]
Trecho
extraído da obra Água, Vida Água
(Autor, 2011), do poeta e ativista cultural João de Castro.
A arte
de Rivail Azevedo.