TUDO EM MIM, MESTIÇO SOU –
Imagem: Mbiey, a índia Bartira,
escultura de Luiz Morrone
(1906-1998) – Sou amerídio de Pindorama, caeté dos atlantes. Sou também branco
europeu colonizador e preto africano dos lemurianos que foi escravizado, sou
afrodescendente. Antes de tudo, sou da água e vivo no continente, por isso sou
tão líquido quanto o chão que piso. Sou feito do mesmo barro: terra, água, ar e
fogo. Estou sobre a crosta terrestre e sob o Sol da Via Láctea. Sou
espiritualmente uníssono e nasci do amor que se fez real no ventre materno:
mamífero, bípede primata de construção estratigráfica, migrante da mobilidade
territorial, com formas assimétricas definidas na cabeça, tronco e membros. Ao
pó voltarei, depois de passar pela infância de todos os quintais e
faz-de-conta; pela adolescência de todos os conflitos, descobertas e rebeldias;
do adulto de todas as lições, experiências e malogros; da velhice de toda
sapiência e decreptude - o mesmo trajeto de início ao término da transformação
material para o ápice espiritual. Sou gente, sujeito do meu tempo e espaço na
minha compleição física e psíquica. Tenho mãos para plantar e colher, pés para
andar e correr, e respirar o testemunho de viver. Por isso sou tropical quanto
análogo ao equatorial ou dos hemisférios ou mesmo de qualquer ponto cardeal.
Sou semelhante ao polinésio quanto micronésio ou indonésio-papua, como sou
atlântico sob o mesmo céu de estrelas do australiano, ou asiático, indiano, tão
caucasiano quanto negroide, mongoloide ou australoide. Sou do Todo: uma gota
d’água no oceano cósmico. Ao que me cabe em ser todo, parto de mim à parte de
tudo do ser total: da chuva que cai na semeadura do chão, daquilo que nasce ao
que renasce no grão. O que me diferencia do outro é termos cada qual uma
digital individual e outras distinções de gênero, etnia e geografia cultural.
No mais, sou tão igual quanto ao que está na noite ou no dia de qualquer lugar
deste mundão. Afinal a humanidade constitui espécie única e politípica, o que
me faz ser cidadão do planeta Terra, a raça humana. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
Imagem: Índios
Awa-Guajá, do fotógrafo Pisco Del
Gaiso - índia guajá amamentando filhote de porco selvagem.
Curtindo o álbum Suggia Plays Haydn, Bruch, Lalo (Dutton
Vocalion, 2005), da violoncelista portuguesa Guilhermina Suggia (1885-1950).
PESQUISA
O povo brasileiro:
a formação e o sentido do Brasil
(Global, 2015), do antropólogo Darcy
Ribeiro (1922-1997) tratando das matizes culturais e dos mecanismos de
formação ética e cultural brasileira, a partir de análise dos brasis sertanejo,
crioulo, caboclo, caipira, sulino e sua influência na miscigenação: Nós,
brasileiros, nesse quadro, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo
mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou
pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de
nativos viveu por séculos sem consciência de si... Assim foi até se definir
como uma nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros [...]. Veja mais aqui e aqui.
LEITURA
Nunca se
deve engatinhar quando o impulso é voar.
As
melhores e mais belas coisas do mundo não podem ser vistas nem tocadas, mas o
coração as sente.
A história da minha vida (José Olympio, 1902), da escritora e
ativista social estadunidense Helen
Keller (1880-1968), a primeira pessoa surda e cega a conquistar um
bacharelado. Veja mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA:
Quero
liberdade, o direito de expressão própria, o direito de todos às coisas
radiantes e belas. [...] Ano após
ano dos portões das infernais prisões retornam ao mundo amaciados, deformados,
indesejáveis, tripulantes da humanidade naufragada, com a marca de Caim em suas
testas, suas esperanças esmagadas, todas suas inclinações naturais
prejudicadas. Com nada além de fome e desumanidade para recebê-los, estas
vítimas logo novamente afundarão no crime como única possibilidade de
existência [...] Busco a independência da mulher, seu direito de se
apoiar; de viver por sua conta; de amar quem quer que deseje, ou quantas
pessoas deseje. Eu busco a liberdade de ambos os sexos, liberdade de ação,
liberdade de amor e liberdade na maternidade. [...] Temos a necessidade
de libertarmo-nos das velhas tradições e hábitos. O movimento para a
emancipação feminina desde então conseguiu dar apenas o primeiro passo nesta
direção. [...].
Trechos extraídos do livro Anarquismo e Outros
Ensaios (Anarchism and Other Essays, 1910), coletânea de artigos
escritos pela ativista libertária Emma
Goldman (1869-1940), no qual ela aborda temas como anarquismo, crime e prisão,
feminismo e emancipação da mulher, entre outros assuntos. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
A atriz Viviane Madu no premiado espetáculo Terra de Santo (APCA/CPT, 2012), encenado pelo grupo Os Fofos Encenam, do fotógrafo João
Caldas Filho, que conta por meio de poesia indígena, xamânica, judaica,
judaico-cristã e afro-brasileira, a miscigenação cultural do Brasil.
Veja mais sobre João Guimarães Rosa, Anamaria Nunes, Ida
Presti, Anaximandro de Mileto, Lelia Coelho Frota, Krzystof Kieslowski, Lavinia Fontana, Kurt Schwitters, Irène Marie Jacob & Márcio Baraldi aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Nude, do artista plástico alemão Martin Eder.
CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá.