DOMINGO DO QUE FUI E NÃO SOU - (Imagem:
Sunday, by Benedict Olorunnisomo) - Um dia como outro qualquer e um sonho na
palma da mão. Tudo é espelho no vazio da novidade. As nuvens descansam na
sombra e as águas mansas do espelho do céu na vigência da primavera trazem a
brisa abissal dos ventos de maio. O verso é apenas o trâmite dos dias na agonia
das horas. Sou duas ou três coisas ínfimas na vitrine de tudo. De resto, o que
foi feito será a semana do amanhã de nunca, pois valho-me por fazer aquilo que
não se vê. Dou-me do que tenho pra não ser só das vísceras coração: os olhos
nas estrelas e os pés no chão. Do que fiz das cinzas, ninguém é mais que vivo
que eu na solidão: o presente com a silheura de ontem e o adeus do amanhã. Hoje
é só deserto do que fizera fonte. Dos caminhos que não fui, outra estrada
desaparece e o que é tudo por certo já não tem nenhuma valia. Se tivesse que
erguer castelo, não haveria alicerce: a vida vai no vento e tudo se desfaz. O
que era pra ser feito na beira dos limites: uma parede intransponível aplaca a
trilha das pedras; há mais que sonhos destroçados nas pedras do caminho. Se
trago ao peito a mão contrita é que me fiz de réu na noite desgraçada e não
mais que um palitó na ombreira do desalinho nas vestes, nem do pouco que foi
justo nas horas minguadas e que se fizera inútil mais do que guardado. Se eu
tivesse mais que um dia e a tarde fosse mais que a conquista da vitória, não
teria eu que juntar cacos e trapos do que sobrou que fui. Hoje é só domingo, é
só um dia, igual a outro qualquer. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
Veja mais aqui.
Imagem: a arte da pintora, ilustradora e
desenhista Marta Nael.
Curtindo o álbum Laurie Anderson Live in
New York (Nonesuch Records, 2002), da compositora, escritora e
artista experimental estadunidense Laurie Anderson.
PESQUISA
Os segredos da ficção: um guia para escrever narrativas (Agir,
2005), do premiado escritor, crítico, editor e jornalista pernambucano Raimundo Carrero, no qual o autor
revela que a literatura está ao alcance de todos que possuam o impulso da
criação pelos caminhos da arte de escrever. Veja mais aqui e aqui.
LEITURA
O
erotismo (Arx, 2004), do polêmico escritor francês Georges
Bataille (1897-1962), ensaio ooriginal e perturbador sobre a sexualidade,
sua relação com a vida e a morte, a presença oculta na religião e filosofia e
temas controversos sobre misticismo, incesto, entre outros. Veja mais aqui,
aqui, aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA:
Diz a tarde: "Tenho sede de sombra!"
Diz a
lua: "eu, sede de luzeiros."
A fonte
cristalina pede lábios
e
suspira o vento
Eu tenho
sede de aromas e de sorrisos,
sede de
cantares novos
sem luas
e sem lírios,
e sem
amores mortos.
Um
cantar de manhã que estremeça
os
remansos quietos
do
porvir. E encha de esperança
suas
ondas e seus lodaçais.
Um
cantar luminoso e repousado
cheio de
pensamentos,
virginal
de tristezas e de angústias
e
virginal de sonhos.
Cantar
sem carne lírica que encha
de risos
o silêncio
(um
bando de pombas cegas
lançadas
ao mistério).
Cantar
que vá à alma das coisas
e à alma
dos ventos
e que
descanse por fim na alegria
do
coração eterno.
Poema Cantos novos, da Obra poética completa (Martins Fontes/EdUnB, 1989), do escritor e dramaturgo
espanhol Federico Garcia Lorca (1898-1936). Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
A premiadíssima escritoramiga, designer e diretora de
arte Paula Valéria de Andrade,
premiada no Salão Internacional do Livro de Turim, pelo texto de literatura
infantil A Beija-flor Dodo & Gil
Girassol, no
Concurso Internacional Literário Amor & Amore, da Associação Cultural
Internacional Mandala (A.C.I.M.A), de Turim, Itália. Veja mais aqui e aqui.
Veja mais sobre Federico García Lorca, Martha
Argerich, Tereza Costa Rego, Kenny G, Meio Ambiente, Retorno
da deusa, Pedro Nava & Zuzu Angel
aqui.
Recital
Musical Tataritaritatá