VAMOS APRMAR A CONVERSA? A VIAGEM NOTURNA DO SOL – Empolgado com a recepção da minha primeira peça teatral O
Prêmio, a publicação do meu conto na revista Ponto de Encontro
(Curitiba-PR) e com o lançamento do meu primeiro livro de poesias, Para
Viver o Personagem do Homem (Nordestal, 1982), resolvi fazer uma segunda
incursão na arte teatral, resultado da participação em cursos realizados na
Federação de Teatro Amador de Pernambuco (Feteape) e no Sesc, me aprofundando
na construção da personagem e na criação do papel de Stanislavski, no teatro de
Brecht, na Ópera Bufa de Maiakovsky, no teatro gitano de Lorca, nos
ensinamentos e propostas estéticas de Ariano de Suassuna, mas práticas com
conteúdos de Viola Spolin e Ingrid Koubela, no acesso à Pedagogia do Oprimido
de Paulo Freire e, por consequência, o Teatro do Oprimido de Augusto Boal com
leituras e práticas das Técnicas Latino-Americanas de Teatro Popular e os
exercícios e jogos para o ator e não-ator, entre outras leituras e estudos. Foi
aí que me veio a ideia de construir um texto denominado A Viagem Noturna do
Sol, uma colagem de ideias e textos baseados em Hermilo Borba Filho, Osman
Lins, Jorge Luis Borges, Guimarães Rosa e Fernando Pessoa. E quando fiz a
primeira lavratura geral do texto, passei às mãos do meu amigo José Manoel
Sobrinho que, após lê-lo, o inscreveu num Festival de Leitura Dramática que
estava acontecendo no Recife. Ele reuniu os integrantes da sua companhia TTTres
Produções, acrescido da participação de Cintia Persichetti, Nilo Cavani e
outros atores, e realizou uma leitura pública no festival, que aconteceu na
Sala Clênio Wanderley, na Casa da Cultura, em Recife, em 1983. Sala lotada, lá
estava eu na última fila da plateia, degustando a interpretação dos atores para
o resultado desse meu texto. Com a leitura, fiquei um misto entre maravilhado e
cônscio da necessidade de algumas adequações no texto, mas, no cômputo geral,
tudo muito positivo. Ao final da leitura, aplausos. E eu que pensava estar
incógnito no ambiente, fui convocado pela trupe e pela plateia, a prestar
esclarecimentos sobre o texto. Fui até o palco e fiz uma explanação de uns
trinta minutos, respondi indagações da plateia e de alguns atores, e encerramos
as atividades do dia, reunindo o diretor e elento para bebemorarmos.
Evidentemente que o entusiasmo tomou conta da gente e logo nos aboletamos numa
mesa de bar para trocar ideias no meio da confraternização. A trupe foi tão
generosa comigo que, além de me incentivar a manter o texto e rever alguns
pontos que necessitavam de adequações, me proporcionaram a inspiração de novas
ideias para novos textos. Foi uma festa que mais se ampliou quando me exigiram
sacar do violão, isso porque eu estava realizando com Fernandinho Melo, Caca e
Sérgio Campelo, uma temporada do meu show CantarOlinda. No meio cantaconversada,
eu soltei uma ideia que me perseguia desde uma das minhas apresentações das
sextas no bar Roda Viva, em Campo Grande, que dei o nome de Efervescência do
Brotar. Oxe, José Manuel tascou na lata: - Isso dá espetáculo! E já foi
rabiscando cenário, cenas, iluminação, indumentária, tudo que levava a um
musical. Páginas rascunhadas, ele já marcava para o início da semana seguinte
ensaios no Sesc Santo Amaro, com os atores cantando minhas músicas comigo, o
que fez a noite entrar pela madrugada com muita empolgação. Ele fechou todo o
espetáculo na cabeça e nos rascunhos cada vez mais revistos e acrescentados, e
bebemoramos efusivamente até nos despedirmos com tudo acertado. E teria tudo
isso vingado, não tivesse sido eu vítima, dias depois, de um atropelamento por
uma colisão entre veículos em plena Avenida Arquiteto Luiz Nunes, na
Imbiribeira. E vamos aprumar a conversa e veja mais aqui e aqui.
Imagem: Renaissance of Venus, do pintor e desenhista britânico Walter
Crane (1845-1915).
Curtindo o cd/dvd da turnê Live à la salle Pleyel (2013), da cantora francesa Sylvie
Vartan.
HOLÍSTICA INTEGRANDO ANÁLISE E SÍNTESE – O livro Saúde e plenitude: um caminho para o ser (Summus, 1995), do
antropólogo e psicólogo Roberto Crema, trata acerca da abordagem
holística na integração do método, a partir do método hermenêutico de Dilthey,
o métido sintético de Jung, a logoterapia de Frankl, o monumento vivo da
síntese Krishnamurti, o espaço vivencial e o homem integrado, os novos desafios
e novas lideranças para o facilitador holocentrado, metaprincípios para uma
abordagem transdisciplinar em terapia, a metapatologia, a metaterapia, o
circulo de superação, a antropologia da vastidão, além da normose, cuidando do
totem humano, individuação, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho
Aprendendo a amar: A abordagem transdisciplinar holística é iniciática,
introduzindo-nos a um universo mais amplo, com o despertar da consciência
sintética harmonizada com a analítica e a consequência integração, no
cotidiano, da vivência ordinária com a do numinoso. Jung considerava o numinoso
uma experiência inclusiva, de luz e sombra; o sagrado que, ao mesmo tempo, nos
fascina e aterroriza. A autêntica viagem ao âmago do Ser nos conduz ao encontro
do mais luminoso e, também, do mais sombrio. Quando abrimos as cortinas,
permitindo que a Luz penetre em nossa casa, ao mesmo tempo são iluminados os
nossos vasos de flores e os lindos quadros e enfeites, bem como os ninhos de
ratos e as baratas nas paredes. Sem dúvida, o encontro terapêutico é uma das
moradas do numinoso [...] leva-se muito tempo para se aprender a Amar.
Talvez este seja o mais essencial dharma humano e estamos encarnados para
realiza-lo. Desde o Bing-Bang nos empenhamos neste a-b-c,
atenção-vida-calvário, que nos ensina a amar, através de uma gradativa abertura
da intelingencia e do coração. Na medida que amamos, naturalmente servimos.
Afinal, nada nos pertence, a não ser o que doamos. Cada momento é pleno e traz
o néctar de seus ensinamentos. Se a Escuta é bastante, somos nutridos e
abençoados por uma consciência de abundancia e de gratidão que leva-nos à
compreensão do privilegio impar de sermos humanos, filhos unigênitos da Grande
Vida. Estamos condenados a Amar. Aos trancos e barrancos, com gritos e
deslumbramentos, dia virá em que cada ser humano aprenderá a plenamente amar, a
plenamente Ser. Neste dia, uma nova estrela brilhará no firmamento e tudo o que
existe e respira entoará, numa só Voz, o mesmo ALELUIA, Louvor ao Ser que É.
Assim seja. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
IVANHOÉ – O romance histórico do
Romantismo Ivanhoé (182), do escritor britânico Walter Scott
(1771-1832), narra a luta entre saxões e normandos e as intrigas de João Sem
Terra para destronar Ricardo Coração de Leão. Este foi um romance lido e relido
durante minha adolescência, proporcionando-me momentos aprazíveis. Da obra
destaco o trecho: [...] O sol se punha sobre umas das ricas clareiras
ervosas da floresta a que nos referimos no começo do capítulo. Centenas de
carvalhos copados, de troncos curtos, amplos ramos, que haviam presenciado
talvez a majestosa marcha dos soldados romanos, lançavam braços nodosos sobre o
espesso tapete do mais delicioso relvado; em alguns sítios, misturavam-se às
faias, aos azevinhos, aos arbustos de várias espécies, e faziam-no de maneira
tão cerrada e completa que inteceptavam os raios horizontais do sol poente; em
outros, afastavam-se, formando amplas paisagens, em cujo emaranhado a vista se
deliciava ao estender-se, enquanto a imaginação as considerava como caminhos
que conduziam a cenários ainda mais agrestes de rústica solidão. Os raios
rubros do sol lançavam uma luz fraca e pálida, que permanecia suspensa em parte
sobre os ramos quebrados e os troncos musgosos das árvores, deles iluminando,
em remendos resplandescentes, as partes do relvado para as quais abriam
caminho. Um espaço aberto, consideravelmente amplo, no meio dessa clareira,
parecia ter sido reservado, antes, aos gritos da superstição druídica, pois, no
alto de uma colina, tão regular que parecia artificial, ainda permanecia parte
de um circulo de pedras brutas não trabalhadas, de grandes dimensões. Sete
mantinham-se de pé; as outras haviam sido removidas do lugar, provavelmente
pelo zelo de algum convertido ao cristianismo, e jaziam, algumas, caídas perto
de onde estavam antes, e outras sobre as fraldas da colina. Somente uma grande
pedra rolara para o fundo de um pequeno riacho, e, detendo o curso de um
ribeirinho, que deslizava suavemente em torno da colina, dava, obstruindo a
passagem, uma voz débil e múrmura ao plácido regato, silencioso nos outros
lugares. [...] Veja mais aqui e aqui.
RUBAIYAT – O livro Rubaiyat,
do poeta, matemático e astrônomo persa dos séculos XI e XII, Omar Khayyãm
(1048-1131), construído com poemas cujas estrofes de duas linhas com dois
hemistíquos cada formando um quarteto, canta
a existência humana, a brevidade da vida, o êxtase e o amor. Entre os poemas
destaco os trechos: Volte em minha voz a métrica do Persa / A lembrar que o
tempo é a diversa / Trama de sonhos ávidos que somos / E que o secreto Sonhador
dispersa. / Volte a afirmar que é a cinza, o fogo, / A carne, o pó, o rio, a
fugidia / Imagem de tua vida e de minha vida / Que lentamente se nos vai de
logo. / Volte a afirmar o árduo monumento / Que constrói a soberba é como o
vento / Que passa, e que sob o olhar inconcebível / De Quem perdura, um século
é momento. / Volte a advertir que o rouxinol de ouro / Canta só no sonoro / Ápice
da noite e que os astros / Avaros não prodigam seu tesouro. / Volte a lua ao
verso que a tua mão / Escreve como torna no temporão / Azul a teu jardim. A
mesma lua / Desse jardim há de te procurar em vão. / Sejam sob a lua das ternas
/ Tardes teu humilde exemplo as cisternas, / Em cujo espelho de água se repetem
/ Umas poucas imagens eternas. / Que a lua do Persa e os incertos / Ouros dos
crepúsculos desertos / Voltem. Hoje é ontem. És os outros / Cujo rosto é o pó.
És os mortos. / 3 - Olha com
indulgência aqueles que se embriagam; / os teus defeitos não são menores. / Se
queres paz e serenidade, lembra-te / da dor de tantos outros, e te julgarás
feliz. / 4 - Que o teu saber não humilhe o teu próximo. / Cuidado, não deixes
que a ira te domine. / Se esperas a paz, sorri ao destino que te fere; / não
firas ninguém. / 8 - Há muito tempo, esta ânfora foi um amante, / como eu:
sofria com a indiferença de uma mulher; / a asa curva no gargalo é o braço que
enlaçava / os ombros lisos da bem amada. / 27 - Olha, um dia a alma deixará o teu corpo / e ficarás por trás do
véu, entre o Universo / e o desconhecido. Enquanto não chega a hora, / procura
ser feliz. Para onde irás depois? / 49 - Um jardim florido, uma bela mulher, e
vinho. / Eis o meu prazer e a minha amargura, / o meu paraíso e o meu inferno.
/ Mas quem sabe o que é Céu e o que é Inferno? / 65 - Tantos carinhos, tantas
delícias, / tanta ternura no começo do nosso amor. / Mas agora o teu prazer / é
dilacerar o meu coração. Por quê? / 80 - O que realmente possuo? / O que
restará de mim depois da morte? / É tão breve a vida, uma fogueira: / Chamas, e
depois, cinzas. / 99 - Quando eu não mais viver, não haverá mais rosas, / nem
lábios vermelhos, nem vinhos perfumados; / não haverá auroras, nem amores, nem
penas: / o Universo terá acabado, pois ele é o meu pensamento. / 119 - É grande
a tua dor? Não lhe dês atenção. / Lembra-te dos outros que sofrem inutilmente.
/ Procura uma linda mulher; mas cuidado, evita amá-la, / e ela, que não te ame.
/ 120 - Rosas, taças, lábios vermelhos: / brinquedos que o Tempo estraga; / estudo,
meditação, renúncia: / cinzas que o Tempo espalha. Veja mais aqui.
A CRIAÇÃO DE UM PAPEL – O livro A criação de um papel (Civilização Brasileira, 1984),
do ator, diretor, pedagogo e escritor russo Constantin Stanislavski
(1863-1938), trata do período de estudo, o primeiro contato com o papel, o estudo
das circunstâncias externas, a criação de circunstancias interiores, avaliação
dos fatos, o período de experiência emocional, impulsos interiores e ação
interior, objetivos criadores, a partitura de um papel, o tom interior, o
superobjetivo e a ação direta, o superconsciente, o período da encarnação
física, Otelo de Shakespeare, a criação da vida física de um papel, aferição do
trabalho executado, o Inspetor Geral de Gogol, das ações físicas à imagem viva,
improvisações, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho inicial: O
trabalho preparatório sobre um papel pode ser dividido em três grandes
períodos: estudá-lo; estabelecer a vida do papel; e dar-lhe forma [...] Como
na linguagem do ator, conhecer é sinônimo de sentir, ele, na primeira leitura
da peça, deve dar rédeas soltas às suas emoções criadoras. Quando mais calor
afetivo tiver, quanto mais palpitante e viva for a emoção que possa instilar numa
peça ao primeiro contato, tanto maior será a atração exercida pelas secas
palavras do texto sobre os sentidos, sua vontade criadora, sua mente, sua
memoria emotiva. Tanto maior será a sugestividade dessa primeira leitura para a
imaginação criadora de suas faculdades visuais, auditivas e outras, no que se
refere a imagens, quadros e evocações sensoriais. A imaginação do ator adorna o
texto do autor com fantasiosos desenhos e cores de sua própria paleta invisível
[...] Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
EL APONDO – O filme El
Apondo (1976), dirigido pelo cineasta e diretor de televisão Arturo Ripstein, é
baseado no romance homônimo do escritor mexicano José Revueltas (1914-1976), com
música de Gonzalo Curiel, fotografia de Alex Phillips Jr, e contando a história
de três prisioneiros numa cela de castigo, entre os quais se deflagra um
protesto que provoca uma briga sangrenta. Ao mesmo tempo, um homem disciplinado
e sexualmente impulsionado a manter sua família isolada de tudo e aprisionada
dentro de casa, com o objetivo de protegê-la da natureza do mal dos seres
humanos, enquanto inventa com sua esposa um veneno de rato. O destaque da fita
é para a atriz de teatro, cinema e televisão mexicana María Rojo que
tornou-se senadora pelo Partido da Revolução Democrática entre 2006 e 2012. Veja
mais aqui.
IMAGEM DO DIA
The Gate of Goodbye (1916), do fotógrafo inglês Francis James Mortimer (1874-1944).
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Noite Romântica, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a
apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa & Verney Filho. Para conferir online acesse aqui.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Imagem: colagem do pintor, antologista,
historiador e poeta do Surrealismo português Mário Cesariny (1923-2006)
Aprume aqui.