VAMOS APRUMAR A CONVERSA? O
PRÊMIO, A PRIMEIRA PEÇA TEATRAL – O
desapontamento por não ter encenado a peça Adoração,
de Fenelon Barreto, nãp me abateu, pelo contrário, me fez rever a minha
inquietação para lá de buliçosa. Já cursando Letras na legendária Faculdade de Formação de Professores da Mata
Sul (Famasul), resolvi, por vingança, criar o Grupo Teatral Amador Fenelon Barreto e escrever o meu primeiro
texto teatral. Espia só! Então, juntei umas ideias tresloucadas que rondavam no
meu quengo e dividi à apreciação dos amigos Maurícinho Melo Junior e Bartô
Parisio que me deram aquela corda, contribuindo para uma melhor organização do
pensamento. Foi daí que parti para juntar alguns amigos que andavam no afã de
se apresentar: Madalena, Flávia, Luiz, Dilson, Nadinho, Aluisio, Drayton (irmão
do parceiramigo Rollandry Silvério) e Toínho Du Rego que já fazia sucesso
imitando Genival Lacerda e tornou-se a principal estrela do espetáculo. No meio
disso aparece o amigo Mano – leia-se Eduardo Germano Júnior, sobrinho da maior
bandeira do carnaval pernambucano, o cantor Claudionor Germano -, que trouxe
mais corda para empurrar as ideias do jipe. Ele se juntou aos parceiramigos de
sempre, Zé Ripe e Célio Carneirinho, e mandaram ver em toda cenografia. A
Madalena que além de atuar, ficou responsável pela maquiagem da trupe e dividi
a direção com Mano e Mauricinho porque resolvi também bater o centro na
atuação. Ensaiávamos numa sala do Colégio Diocesano, gentilmente cedida pelo
bispo Dom Acácio Rodrigues Alves, então diretor da instituição educacional e
nos esgueiramos nos propósitos. Fiz as músicas, imprimi um folheto em
mimeógrafo para distribuir aos comparecentes e, por fim, organizei um evento
que passou a ser promovido pelas Noites
da Cultura Palmarense, capitaneada pelo professor amigo José Duran y Duran
que fez a abertura no dia da festa, com apresentações musicais minhas, do Célio
Carneirinho, do Mazinho e do Zé Ripe. Também Du Rego fez a apresentação comigo
da música Severina Cooper, do saudoso
Acioly Neto, e Mano fez apresentação do monólogo Tristeza em meus olhos, tudo isso com a luxuosa participação especial
na condução do evento, do poeta e editor Juarez Correya. Era hora da peça, a
quadra do Diocesano cheinha pela tampa e lá se deu a apresentação que, então,
se chamava horrorosamente de Em busca de
um lugar ao sol sob a especulação imobiliária e que, anos depois, passou a ser
denominada de O Prêmio. Contava a história de uma dupla de presepeiros inconformados
com o bipartidarismo reinante e, nas suas estrepolias, apelavam para uma maior
diversidade partidária com objetivo de se arrumar na vida. Foi um sucesso de
público e um desastre financeiro. Como sempre, não era lá muito bom na gestão
das finanças e gastava mais do que devia à espera de novos apoios e patrocínios.
Como estes não chegavam, do próprio bolso banquei e findei liso. Foi uma
excelente experiência, não sei se também para meus amigos que foram azucrinados
e envolvidos por minhas doidices. Bem capaz que morram de vergonha dessas
maluquices, mas, como disse, assim foi. O texto já reescrevi trocentas vezes e
não dei ainda o jeito que quero nele. Por isso, está guardadinho buscando
oportunidade para eu dar um acabamento final na tronchura. Enquanto isso, vamos
aprumar a conversa! Veja mais aqui.
Imagem: The model, do pintor e escultor russo Ilya Repin (1844-1930).
PSICOSE, PERVERSÃO, NEUROSE – O livro Psicose, perversão, neurose: a leitura de Jacques Lacan (Companhia
de Freud, 2003), do psicanalista francês Philippe
Julien, trata sobre a paranoia comum, psicose e modernidade, perversão: uma
escandalosa descoberta, neurose obsessiva, histeria, entre outros assuntos,
entre os quais, destaco o trecho Um novo imaginário: A análise não é misticismo. Que fazer diante do enirma do desejo do
Outro? Ficar ali, embasbacado, estupefato? Ou fugir? Não, a análise é a
descoberta da fantasia fundamental. Com efeito, esse lugar vazio da falta do
Outro, o sujeito o recobre com sua própria falta na medida em que o desejo do
sujeito é o desejo do Outro; ele nasce a partir do desejo do Outro, tal mãe,
tal pai, tal analista, como o desejo de Alcibíades a partir do desejo de
Sócrates no Banquete de Platão. Então, ali onde o simbólico não responde por
causa do real como impossível, o sujeito responde ele mesmo em fim de análise,
colocando sua fantasia nesse lugar vazio. Com a ajuda do apoio da fantasia, o
sujeito arrisca o drive; ele se identifica com o objeto pulsional no encontro
do corpo do outro estando em jogo o gozo sexual. O objeto pulsional é o que
Lacan chamava sua única invenção: o objeto pequeno a. Mas como essa
identificação é possível? Para isso é preciso uma transmissão que venha do
próprio analista, uma trans-ferência de lugar, do analista ao analisando. Assim
ali, esse lugar vazio cuja borda está cercada pela letra não fica vazio. Ele é
ocupado por um analista presentificando o objeto pequeno a segundo o discurso
no qual ele toma lugar [...] Simbólico,
real, imaginário, na estrita equivalência deles, são as três dimensões da
interpretação, quando ela é analítica. Não há primazia dada à fala; seria
acreditar na metalinguagem universitária. Não há primazia ao real. Seria cair
na histerização da insatisfação perpetuada. Não há primazia ao imaginário, se
ele é apenas a vestimenta do amor para melhor ser amado. Muito pelo contrário,
o analista é aquele que vem amarrar essas três dimensões, de tal modo que um
dia esse nó possa enfim ficar preso por si mesmo... sem um analista! Veja
mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
MARYA MOREVNA – O conto de fadas russo Marya Morevna (A morte de Koschei o
Imortal – Russian fairy tales, 1973), conta a história de um homem imortal que
ameaça as mulheres jovens com a sua magia, entre elas a bela princesa guerreira
Marya Morevna. Do conto destaco os trechos: [...] Uma mulher espiou pela janela, e não era outra senão Maria Morevna.
Quando Ivan viu a esposa, invadiu o castelo, correu para junto dela, e num
instante estavam abraçados. “Que lástima, Ivan querido”, Maria Morevna
lamentou-se, “por que você me desobedeceu e olhou dentro do armário? Você nos
desgraçou a ambos! Koshey, o imortal, recuperou seus poderes e aprisionou-me.
Ele hoje está fora, caçando, senão certamente já o teria matado”. “Querida
esposa”, o príncipe Ivan exclamou: “perdoe-me por minha estupidez! Mas não
percamos tempo com lamúrias agora. Devemos fugir deste local amaldiçoado”.
Maria Morevna e Ivan rapidamente reuniram algumas provisões e fugiram do
castelo. Longe dali, Koschey estava cavalgando quando seu cavalo tropeçou. “Por
que tropeçou, minha fiel montaria?”, perguntou o feiticeiro. “Algum contratempo
está se formando?” “Maria Morevna e o príncipe Ivan fugiram de seu castelo”,
respondeu o animal mágico. “Você consegue apanhá-los?”, Koschey indagou. “Tão
certo quanto o é o Sol nascer amanhã”, replicou o animal, e saiu a galope. Em
pouco tempo já havia alcançado os fugitivos. Koschey capturou a raina e
ameaçando Ivan disse: “Eu deveria mata-lo, mas como você me deu água eu o
perdoarei desta vez. Mas estou avisando: se tentar salvar Maria Morevna de
novo, sua vida está acabada!”. Então Koschey partiu com a rainha. [...] Koschey e seu cavalo galoparam como o vento,
e depois de muito tempo alcançaram Maria Morevna e Ivan. Koschey voltou-se para
o príncipe e gritou: “Prepare-se para morrer!”. O feiticeiro desmontou e
desembainhou a espada. Naquele momento, o cavalo de Ivan empicou e atingiu
Koschey. O feiticeiro caiu no chão, inconscientemente, e Ivan atacou o vilão
com um porrete, matando-o. depois, o princípe queimou o corpo do bruxo,
espalhando suas cinzas ao vento, para que não restasse o menor vestígio de sua
maldade. Finalmente, Ivan montou de novo, enquanto Maria Morevna tomava o
animal de Koschey. Cavalgaram lado a lado e dirigiram-se até a casa das irmãs
de Ivan, as princesas Olga, Maria e Anna. Ivan e Maria Morevna agradeceram ao
falcão, à águia e ao corvo por terem salvo Ivan e, em cada castelo festejaram e
comemoram por vários dias. Maria Morevna e Ivan regressaram ao seu próprio
reino, e lá viveram felizes e em paz pelo resto de seus dias. Veja mais
aqui.
O SONHADOR & ULISSES – No livro Selected Poems (Gramercy, 1993), do poeta britânico Alfred Tennyson (1809-1892), destaco,
primeiramente, o poema O Sonhador: No
meio de uma noite no meio do inverno, quando tudo estava morto exceto os
ventos, / Em sua cabeça ressoava uma frase da Escritura: “Os Humildes Herdarão
a Terra.” / Até que em sonhos ele percebeu uma Voz da Terra passando por ele, /
e ela dizia, em tom de lamento: / “Estou perdendo a luz da minha juventude / E
a visão que tempos atrás me conduzia, / E me bato de frente com uma Verdade de
ferro, / Quando me esforço por uma Era de ouro; / E gostaria que a minha raça
terminasse, porque, / Repleta de mentirosos, de loucos e patifes, / Cansada de
autocratas, rebeldes e escravos, / Escurecida pelas dúvidas sobre uma fé que
salva, / Coberta de sangue pelas batalhas, oca com tantas sepulturas, / Acompanhada
pelo lamento dos meus ventos e pelo gemido / das ondas do mar, / Eu giro, e
sigo girando em torno do Sol.” / Seria apenas o vento da Noite soprando
Desolação e engano, / Através de um sonho sobre a escuridão? / E no entanto ele
pensou estar respondendo aos lamentos dela / com uma canção - / Tuas perdas te
arrancam gemidos, oh Terra / Exausta e de coração cansado! / Mas tudo o que
termina bem é bom. / Gira, e segue girando em torno do Sol! / Ele avança de céu
em céu, / E as perdas são menores que os ganhos, / Porque tudo o que termina
bem é bom. / Gira, segue girando em torno do Sol! / O Reino dos Humildes sobre
a Terra / Oh vida cansada, não começou? / Porém, tudo o que termina bem é bom.
/ Gira, e segue girando em torno do Sol! / Porque os teus lamentos se
transformarão / na música das esferas, / Ou tua raça desaparecerá para sempre!
/ Tudo aquilo que termina bem é bom. /Gira, segue girando em torno do Sol! Também
o maravilhoso Ulisses: De nada serve a um
rei ficar inerte, / No lar quieto, em meio à rocha infértil, / Unido a esposa
idosa, eu doo e imponho / Iníquas leis a um bando de selvagens / Que soma, e
dorme, e engorda, e não me vê. / Estou inquieto: Sorverei da vida / A última
gota: Sempre gozei muito, / Sofri muito, com todos que me amaram, / E só; em
terra firme, ou arrastado / Por negras correntezas irritadas / Pelas Híades:
Transformei-me em nome; / Errante sempre, com ardente impulso / Muito vi e
conheci; cidades de homens / E costumes, conselhos, climas, regras, / E a mim
mesmo, por todos sempre honrado. / Traguei da pugna o gozo junto aos meus, / Longe
na Troia dos ventantes plainos. / Sou parte, enfim, de tudo que encontrei; / A
experiência é um arco pelo qual / Vislumbro um mundo inexplorado, cuja / Margem
se afasta sempre ao meu mover. / Que tolice o parar, o dar um fim, / Enferrujar
assim, sem uso e brilho! / Como se respirar fosse viver. / Quão pouco, vidas
sobre vidas! Desta, / Pouco resta: mas cada hora é salva / Do que é silêncio
eterno, um algo além, / Arauto do que é novo; vil seria / Guardar-me,
agrisalhando por três sóis, / A alma cinzenta ardendo por seguir / O saber como
um astro que se afoga, / Além do limiar do pensamento. / Este é o meu filho,
meu fiel Telêmaco, / Para quem eu relego o cetro e a ilha – / Meu bem-amado, hábil
a cumprir / Esse labor, prudente domador / De um povo rude, e mansamente, aos
poucos, / Vai sujeitá-los ao que é bom e útil. / Irreprochável, centra-se na
esfera / Dos deveres comuns, decente para / Sutis ofícios, prestará tributos / De
justa adoração aos nossos deuses / Quando eu me for. Ele obra o dele, eu o meu.
/ Lá jaz o porto; O barco estufa as velas: / Ensombram grandes mares. Meus
marujos, / Almas que lutam, sofrem junto a mim – / Que, jubilosas, acolheram
sempre / Trovão e sol ardente, opondo frente / E fronte livres – nós estamos
velhos; / Na velhice, persiste a honra e a luta; / A morte é o fim: mas antes,
algum feito / Notório e nobre está por se fazer, / Sem impróprios conflitos com
os Deuses. / Luzes estão a cintilar nas rochas: / O dia míngua: a lua ascende:
o abismo / Gemendo em muitas vozes. Venham, homens, / Não tarda a busca por um
novo mundo. / Partam, em ordem todos, e fulminem / As sonoras esteiras; Meu
intento / É navegar além-poente, e sob / Estrelas do ocidente, até morrer. / Talvez
vorazes golfos nos devorem, / Ou então, nas Afortunadas Ilhas, / Vejamos grande
Aquiles, caro a nós; / Mesmo perdendo muito, há muito à frente, / Ainda que
como antes não movamos / A Terra e o Céu; O que nós somos, somos; / O mesmo
heroico peito temperado, / Fraco por tempo e fado, mas forte a / Lutar, buscar,
achar, e não ceder. Veja mais aqui.
RASGA CORAÇÃO DA FAMÍLIA
VENDE TUDO – A atriz Vera Holtz começou sua carreira após os
cursos da Escola de Arte Dramática (EAD) e da Escola de Teatro da Uni-Rio,
estreando em 1979, na peça Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho. Em 1981 ela
passa a integrar o grupo Tapa atuando nos espetáculos O Anel e a Rosa (1981),
Tempo quente na floresta azul (1983), Caiu o Ministério (1985). Como
comediante, atua Na terra do Pau Brasil, nem tudo Caminha, viu? (1981), E
agora, Herminia (1982) e O dia que Alfredo virou a mão (1983). A partir disso
ela passa atuar também no cinema e na televisão, além do teatro, merecendo
destaque as suas atuações nos filmes Mil e uma (1994), Apolônio Brasil, campeão
da alegria (2003), Bendito Fruto (2005), Anjos do Sol (2006) e Família vende
tudo (2011). A sua trajetória é meritória de aplausos de pé. Veja mais aqui.
DEUS E O DIABO NA TERRA DO
SOL – O drama que se
tornou um marco do cinema novo, Deus e o
diabo na terra do sol (1964), do cineasta Glauber Rocha, conta a história de um sertanejo e sua mulher que
levam uma vida sofrida no interior do país, numa terra desolada pela seca. Ele
tem um plano de usar o lucro da partilha do gado com o coronel para comprar um
pedaço de terra, contudo, na travessia pra cidade, alguns animais morrem,
perdendo a sua parte que resulta numa briga em que ele mata o coronel e foge
com a esposa. Por causa disso ele passa a ser perseguido por um pistoleiro que
pretender matar todo grupo. O filme todo é por excelência destacado, merecendo
marcar o registro da excelente atuação no filme da sempre belíssima atriz Yoná Magalhães. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte do escultor, gravurista e
chargista austríaco naturalizado brasileiro Francisco Stokinger (1919-2009).
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Some Moments, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a
apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa & Verney Filho. Para conferir online acesse aqui.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Imagem: Woman Reading, do pintor francês Georges d'Espagnat (1870-1950)
Aprume aqui.