sexta-feira, agosto 07, 2015

LACAN, TENNYSON, GLAUBER, HOLTZ, MOREVNA, CAETANO, STOKINGER, REPIN & O PRÊMIO.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? O PRÊMIO, A PRIMEIRA PEÇA TEATRAL – O desapontamento por não ter encenado a peça Adoração, de Fenelon Barreto, nãp me abateu, pelo contrário, me fez rever a minha inquietação para lá de buliçosa. Já cursando Letras na legendária Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul (Famasul), resolvi, por vingança, criar o Grupo Teatral Amador Fenelon Barreto e escrever o meu primeiro texto teatral. Espia só! Então, juntei umas ideias tresloucadas que rondavam no meu quengo e dividi à apreciação dos amigos Maurícinho Melo Junior e Bartô Parisio que me deram aquela corda, contribuindo para uma melhor organização do pensamento. Foi daí que parti para juntar alguns amigos que andavam no afã de se apresentar: Madalena, Flávia, Luiz, Dilson, Nadinho, Aluisio, Drayton (irmão do parceiramigo Rollandry Silvério) e Toínho Du Rego que já fazia sucesso imitando Genival Lacerda e tornou-se a principal estrela do espetáculo. No meio disso aparece o amigo Mano – leia-se Eduardo Germano Júnior, sobrinho da maior bandeira do carnaval pernambucano, o cantor Claudionor Germano -, que trouxe mais corda para empurrar as ideias do jipe. Ele se juntou aos parceiramigos de sempre, Zé Ripe e Célio Carneirinho, e mandaram ver em toda cenografia. A Madalena que além de atuar, ficou responsável pela maquiagem da trupe e dividi a direção com Mano e Mauricinho porque resolvi também bater o centro na atuação. Ensaiávamos numa sala do Colégio Diocesano, gentilmente cedida pelo bispo Dom Acácio Rodrigues Alves, então diretor da instituição educacional e nos esgueiramos nos propósitos. Fiz as músicas, imprimi um folheto em mimeógrafo para distribuir aos comparecentes e, por fim, organizei um evento que passou a ser promovido pelas Noites da Cultura Palmarense, capitaneada pelo professor amigo José Duran y Duran que fez a abertura no dia da festa, com apresentações musicais minhas, do Célio Carneirinho, do Mazinho e do Zé Ripe. Também Du Rego fez a apresentação comigo da música Severina Cooper, do saudoso Acioly Neto, e Mano fez apresentação do monólogo Tristeza em meus olhos, tudo isso com a luxuosa participação especial na condução do evento, do poeta e editor Juarez Correya. Era hora da peça, a quadra do Diocesano cheinha pela tampa e lá se deu a apresentação que, então, se chamava horrorosamente de Em busca de um lugar ao sol sob a especulação imobiliária e que, anos depois, passou a ser denominada de O Prêmio. Contava a história de uma dupla de presepeiros inconformados com o bipartidarismo reinante e, nas suas estrepolias, apelavam para uma maior diversidade partidária com objetivo de se arrumar na vida. Foi um sucesso de público e um desastre financeiro. Como sempre, não era lá muito bom na gestão das finanças e gastava mais do que devia à espera de novos apoios e patrocínios. Como estes não chegavam, do próprio bolso banquei e findei liso. Foi uma excelente experiência, não sei se também para meus amigos que foram azucrinados e envolvidos por minhas doidices. Bem capaz que morram de vergonha dessas maluquices, mas, como disse, assim foi. O texto já reescrevi trocentas vezes e não dei ainda o jeito que quero nele. Por isso, está guardadinho buscando oportunidade para eu dar um acabamento final na tronchura. Enquanto isso, vamos aprumar a conversa! Veja mais aqui.


Imagem: The model, do pintor e escultor russo Ilya Repin (1844-1930).


Curtindo o álbum Livro (1997), do cantor e compositor Caetano Veloso. Veja mais aqui e aqui.

PSICOSE, PERVERSÃO, NEUROSE – O livro Psicose, perversão, neurose: a leitura de Jacques Lacan (Companhia de Freud, 2003), do psicanalista francês Philippe Julien, trata sobre a paranoia comum, psicose e modernidade, perversão: uma escandalosa descoberta, neurose obsessiva, histeria, entre outros assuntos, entre os quais, destaco o trecho Um novo imaginário: A análise não é misticismo. Que fazer diante do enirma do desejo do Outro? Ficar ali, embasbacado, estupefato? Ou fugir? Não, a análise é a descoberta da fantasia fundamental. Com efeito, esse lugar vazio da falta do Outro, o sujeito o recobre com sua própria falta na medida em que o desejo do sujeito é o desejo do Outro; ele nasce a partir do desejo do Outro, tal mãe, tal pai, tal analista, como o desejo de Alcibíades a partir do desejo de Sócrates no Banquete de Platão. Então, ali onde o simbólico não responde por causa do real como impossível, o sujeito responde ele mesmo em fim de análise, colocando sua fantasia nesse lugar vazio. Com a ajuda do apoio da fantasia, o sujeito arrisca o drive; ele se identifica com o objeto pulsional no encontro do corpo do outro estando em jogo o gozo sexual. O objeto pulsional é o que Lacan chamava sua única invenção: o objeto pequeno a. Mas como essa identificação é possível? Para isso é preciso uma transmissão que venha do próprio analista, uma trans-ferência de lugar, do analista ao analisando. Assim ali, esse lugar vazio cuja borda está cercada pela letra não fica vazio. Ele é ocupado por um analista presentificando o objeto pequeno a segundo o discurso no qual ele toma lugar [...] Simbólico, real, imaginário, na estrita equivalência deles, são as três dimensões da interpretação, quando ela é analítica. Não há primazia dada à fala; seria acreditar na metalinguagem universitária. Não há primazia ao real. Seria cair na histerização da insatisfação perpetuada. Não há primazia ao imaginário, se ele é apenas a vestimenta do amor para melhor ser amado. Muito pelo contrário, o analista é aquele que vem amarrar essas três dimensões, de tal modo que um dia esse nó possa enfim ficar preso por si mesmo... sem um analista! Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

MARYA MOREVNA – O conto de fadas russo Marya Morevna (A morte de Koschei o Imortal – Russian fairy tales, 1973), conta a história de um homem imortal que ameaça as mulheres jovens com a sua magia, entre elas a bela princesa guerreira Marya Morevna. Do conto destaco os trechos: [...] Uma mulher espiou pela janela, e não era outra senão Maria Morevna. Quando Ivan viu a esposa, invadiu o castelo, correu para junto dela, e num instante estavam abraçados. “Que lástima, Ivan querido”, Maria Morevna lamentou-se, “por que você me desobedeceu e olhou dentro do armário? Você nos desgraçou a ambos! Koshey, o imortal, recuperou seus poderes e aprisionou-me. Ele hoje está fora, caçando, senão certamente já o teria matado”. “Querida esposa”, o príncipe Ivan exclamou: “perdoe-me por minha estupidez! Mas não percamos tempo com lamúrias agora. Devemos fugir deste local amaldiçoado”. Maria Morevna e Ivan rapidamente reuniram algumas provisões e fugiram do castelo. Longe dali, Koschey estava cavalgando quando seu cavalo tropeçou. “Por que tropeçou, minha fiel montaria?”, perguntou o feiticeiro. “Algum contratempo está se formando?” “Maria Morevna e o príncipe Ivan fugiram de seu castelo”, respondeu o animal mágico. “Você consegue apanhá-los?”, Koschey indagou. “Tão certo quanto o é o Sol nascer amanhã”, replicou o animal, e saiu a galope. Em pouco tempo já havia alcançado os fugitivos. Koschey capturou a raina e ameaçando Ivan disse: “Eu deveria mata-lo, mas como você me deu água eu o perdoarei desta vez. Mas estou avisando: se tentar salvar Maria Morevna de novo, sua vida está acabada!”. Então Koschey partiu com a rainha. [...] Koschey e seu cavalo galoparam como o vento, e depois de muito tempo alcançaram Maria Morevna e Ivan. Koschey voltou-se para o príncipe e gritou: “Prepare-se para morrer!”. O feiticeiro desmontou e desembainhou a espada. Naquele momento, o cavalo de Ivan empicou e atingiu Koschey. O feiticeiro caiu no chão, inconscientemente, e Ivan atacou o vilão com um porrete, matando-o. depois, o princípe queimou o corpo do bruxo, espalhando suas cinzas ao vento, para que não restasse o menor vestígio de sua maldade. Finalmente, Ivan montou de novo, enquanto Maria Morevna tomava o animal de Koschey. Cavalgaram lado a lado e dirigiram-se até a casa das irmãs de Ivan, as princesas Olga, Maria e Anna. Ivan e Maria Morevna agradeceram ao falcão, à águia e ao corvo por terem salvo Ivan e, em cada castelo festejaram e comemoram por vários dias. Maria Morevna e Ivan regressaram ao seu próprio reino, e lá viveram felizes e em paz pelo resto de seus dias. Veja mais aqui.

O SONHADOR & ULISSES – No livro Selected Poems (Gramercy, 1993), do poeta britânico Alfred Tennyson (1809-1892), destaco, primeiramente, o poema O Sonhador: No meio de uma noite no meio do inverno, quando tudo estava morto exceto os ventos, / Em sua cabeça ressoava uma frase da Escritura: “Os Humildes Herdarão a Terra.” / Até que em sonhos ele percebeu uma Voz da Terra passando por ele, / e ela dizia, em tom de lamento: / “Estou perdendo a luz da minha juventude / E a visão que tempos atrás me conduzia, / E me bato de frente com uma Verdade de ferro, / Quando me esforço por uma Era de ouro; / E gostaria que a minha raça terminasse, porque, / Repleta de mentirosos, de loucos e patifes, / Cansada de autocratas, rebeldes e escravos, / Escurecida pelas dúvidas sobre uma fé que salva, / Coberta de sangue pelas batalhas, oca com tantas sepulturas, / Acompanhada pelo lamento dos meus ventos e pelo gemido / das ondas do mar, / Eu giro, e sigo girando em torno do Sol.” / Seria apenas o vento da Noite soprando Desolação e engano, / Através de um sonho sobre a escuridão? / E no entanto ele pensou estar respondendo aos lamentos dela / com uma canção - / Tuas perdas te arrancam gemidos, oh Terra / Exausta e de coração cansado! / Mas tudo o que termina bem é bom. / Gira, e segue girando em torno do Sol! / Ele avança de céu em céu, / E as perdas são menores que os ganhos, / Porque tudo o que termina bem é bom. / Gira, segue girando em torno do Sol! / O Reino dos Humildes sobre a Terra / Oh vida cansada, não começou? / Porém, tudo o que termina bem é bom. / Gira, e segue girando em torno do Sol! / Porque os teus lamentos se transformarão / na música das esferas, / Ou tua raça desaparecerá para sempre! / Tudo aquilo que termina bem é bom. /Gira, segue girando em torno do Sol! Também o maravilhoso Ulisses: De nada serve a um rei ficar inerte, / No lar quieto, em meio à rocha infértil, / Unido a esposa idosa, eu doo e imponho / Iníquas leis a um bando de selvagens / Que soma, e dorme, e engorda, e não me vê. / Estou inquieto: Sorverei da vida / A última gota: Sempre gozei muito, / Sofri muito, com todos que me amaram, / E só; em terra firme, ou arrastado / Por negras correntezas irritadas / Pelas Híades: Transformei-me em nome; / Errante sempre, com ardente impulso / Muito vi e conheci; cidades de homens / E costumes, conselhos, climas, regras, / E a mim mesmo, por todos sempre honrado. / Traguei da pugna o gozo junto aos meus, / Longe na Troia dos ventantes plainos. / Sou parte, enfim, de tudo que encontrei; / A experiência é um arco pelo qual / Vislumbro um mundo inexplorado, cuja / Margem se afasta sempre ao meu mover. / Que tolice o parar, o dar um fim, / Enferrujar assim, sem uso e brilho! / Como se respirar fosse viver. / Quão pouco, vidas sobre vidas! Desta, / Pouco resta: mas cada hora é salva / Do que é silêncio eterno, um algo além, / Arauto do que é novo; vil seria / Guardar-me, agrisalhando por três sóis, / A alma cinzenta ardendo por seguir / O saber como um astro que se afoga, / Além do limiar do pensamento. / Este é o meu filho, meu fiel Telêmaco, / Para quem eu relego o cetro e a ilha – / Meu bem-amado, hábil a cumprir / Esse labor, prudente domador / De um povo rude, e mansamente, aos poucos, / Vai sujeitá-los ao que é bom e útil. / Irreprochável, centra-se na esfera / Dos deveres comuns, decente para / Sutis ofícios, prestará tributos / De justa adoração aos nossos deuses / Quando eu me for. Ele obra o dele, eu o meu. / Lá jaz o porto; O barco estufa as velas: / Ensombram grandes mares. Meus marujos, / Almas que lutam, sofrem junto a mim – / Que, jubilosas, acolheram sempre / Trovão e sol ardente, opondo frente / E fronte livres – nós estamos velhos; / Na velhice, persiste a honra e a luta; / A morte é o fim: mas antes, algum feito / Notório e nobre está por se fazer, / Sem impróprios conflitos com os Deuses. / Luzes estão a cintilar nas rochas: / O dia míngua: a lua ascende: o abismo / Gemendo em muitas vozes. Venham, homens, / Não tarda a busca por um novo mundo. / Partam, em ordem todos, e fulminem / As sonoras esteiras; Meu intento / É navegar além-poente, e sob / Estrelas do ocidente, até morrer. / Talvez vorazes golfos nos devorem, / Ou então, nas Afortunadas Ilhas, / Vejamos grande Aquiles, caro a nós; / Mesmo perdendo muito, há muito à frente, / Ainda que como antes não movamos / A Terra e o Céu; O que nós somos, somos; / O mesmo heroico peito temperado, / Fraco por tempo e fado, mas forte a / Lutar, buscar, achar, e não ceder. Veja mais aqui.

RASGA CORAÇÃO DA FAMÍLIA VENDE TUDO – A atriz Vera Holtz começou sua carreira após os cursos da Escola de Arte Dramática (EAD) e da Escola de Teatro da Uni-Rio, estreando em 1979, na peça Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho. Em 1981 ela passa a integrar o grupo Tapa atuando nos espetáculos O Anel e a Rosa (1981), Tempo quente na floresta azul (1983), Caiu o Ministério (1985). Como comediante, atua Na terra do Pau Brasil, nem tudo Caminha, viu? (1981), E agora, Herminia (1982) e O dia que Alfredo virou a mão (1983). A partir disso ela passa atuar também no cinema e na televisão, além do teatro, merecendo destaque as suas atuações nos filmes Mil e uma (1994), Apolônio Brasil, campeão da alegria (2003), Bendito Fruto (2005), Anjos do Sol (2006) e Família vende tudo (2011). A sua trajetória é meritória de aplausos de pé. Veja mais aqui.

DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL – O drama que se tornou um marco do cinema novo, Deus e o diabo na terra do sol (1964), do cineasta Glauber Rocha, conta a história de um sertanejo e sua mulher que levam uma vida sofrida no interior do país, numa terra desolada pela seca. Ele tem um plano de usar o lucro da partilha do gado com o coronel para comprar um pedaço de terra, contudo, na travessia pra cidade, alguns animais morrem, perdendo a sua parte que resulta numa briga em que ele mata o coronel e foge com a esposa. Por causa disso ele passa a ser perseguido por um pistoleiro que pretender matar todo grupo. O filme todo é por excelência destacado, merecendo marcar o registro da excelente atuação no filme da sempre belíssima atriz Yoná Magalhães. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA 
A arte do escultor, gravurista e chargista austríaco naturalizado brasileiro Francisco Stokinger (1919-2009).


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Some Moments, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa & Verney Filho. Para conferir online acesse aqui.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Imagem: Woman Reading, do pintor francês Georges d'Espagnat (1870-1950)
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