VAMOS APRUMAR A CONVERSA? AMULETO - Piso forte o meu
chão. E a minha dor é eterna. Ontem na ideia presente, a imatura utopia, a gula
da adolescência. Hoje o vidro se quebrou e o neófito perdeu a surpresa. Nunca
sagrar a covardia nem tutelar a servidão. Nunca engolir o sol, nunca impor
preços - os preços só vendem, aviltam! E se a fera rugir lá de longe, lá que
fique. Posso espreitar o seu eco. Tomara nunca precise de contenda. Piso forte
o meu chão. Hoje a esperança na tez do meu pai. Hoje a esperança estornada pela
lei da injustiça. Hoje eu ergo o mundo e enfrento deus. Piso forte o meu chão.
E a minha dor é eterna. Nos meus músculos os estigmas de todas as batalhas. Na
minha língua a lâmina da loucura. Nos meus olhos, oh nos meus olhos o
horizonte. Piso forte o meu chão. E a minha dor é eterna. Depositei no meu
filho morto o parto do meu sonho. E não deixei morrer o último ânimo. E estou
só, nada em troco. Tudo para valer a
poesia nossa de cada dia. Piso forte o meu chão. Amanhã eu não sei. Com a minha
morte tudo passará. E deixarei meu coração na primeira esquina. (Amuleto, Luiz
Alberto Machado. Primeira Reunião: Bagaço, 1992). Veja mais aqui, aqui e aqui.
Imagem: Garden Rose and Blue Forget Me Nots in a Vase, do pintor francês Gustave Caillebotte (1848-1894)
Curtindo o álbum Sivuca Sinfônico (Biscoito Fino, 2006), do multi-instrumentista,
maestro, arranjador, compositor e orquestrador Sivuca – Severino Dias de Oliveira (1930-2006) e a Orquestra
Sinfônica do Recife.
BRICARTE DO NITOLINO – Hoje é dia de reprise do programa
Brincarte do Nitolino, nos horários das 10hs e das 15hs, no blog do Projeto
MCLAM, com apresentação de Isis Correa Naves. Na programação, muitas atrações:
José Paulo Paes, Todo dia é dia de ser criança, Turminha Paraíso, O menino da
beira do rio, Turma do Cristãozinho, A criação do mundo & muito mais
músicas, poesias, brincadeiras e histórias para a garotada. No blog livros e
informações a respeito de Educação, Psicologia, Direito das Crianças e Adolescentes,
Teatro, Música e Literatura Infantis. Para conferir online é só clicar aqui ou
aqui.
A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM - Émile
Durkheim (1858-1917) definiu o objeto sociológico como fato social que possui
características definidas a partir da generalidade, da exterioridade e da
coerção social. Na generalidade, o fato é geral e ocorre com todas as pessoas;
na exterioridade, os fatos existem antes das pessoas nascerem e são exteriores
aos indivíduos; e na coerção social se conformam as regras sociais exercidas
sobre os indivíduos. Assim os métodos do conhecimento sociológico deve ser
analisado a partir da visão neutral, da coisa e do objeto exterior ao
individuo. Isso porque, para Durkheim, o objetivo da Sociologia como ciência
empírica e disciplina acadêmica é comparar sociedades por meio da observação
experimental, como método positivo apoiado na experimentação, na indução e na
observação. Esse método, por buscar a objetividade, se assemelhava ao adotado
pelas ciências naturais, sendo, no entanto, sociológico. Por isso, ele definia
a Sociologia como a ciência das instituições da sua gênese e do seu funcionamento.
E os fatos sociais constituem o objeto próprio da esfera do conhecimento,
compreendendo toda maneira de agir fixada ou não na coerção do individuo e
extensão da sociedade que se explicam por seus efeitos sociais. Para tanto, a
divisão do trabalho é um fato social e que a sociedade é uma síntese dos fatos
sociais que estão na coletividade, ou seja, os fatos sociais são representações
coletivas. Quanto ao estado de anomia se define quando a sociedade está em
crise por ausência de normas, regras ou leis que organizem a sociedade,
registrando-se o aumento das revoltas, problemas sociais e altos índices de
criminalidade. Veja mais aqui e aqui.
AS TENTAÇÕES DE SANTO ANTÃO – No romance As tentações de Santo Antão (La Tentation de Saint Antoine, 1874
- Iluminuras Ltda, 2004), do escritor francês Gustave Flaubert (1821-1880),
destaco o trecho: No cume de uma montanha, na Tebaida, há uma plataforma
talhada em meia-lua e circundada de rochedos. A cabana do eremita fica ao
fundo. É feita de barro e de caniços, e teto plano, sem porta. Vê-se lá dentro
uma moringa e pão escuro. Ao centro, num estrado de madeira, um livro enorme;
espalhados pelo chão, filamentos de esparto, duas ou três esteiras, uma cesta,
uma faca. A dez passos da cabana há uma cruz alta, plantada no chão. No outro
topo da plataforma, uma velha palmeira torcida pende sobre o abismo, porque a
montanha é talhada a pique, e o Nilo parece formar um lago na base do penhasco.
A barreira de rochedos encobre a vista de ambos os lados. Mas da banda do deserto,
como plagas sucessivas, imensas ondulações paralelas, cor de ouro cinzento,
espraiam-se umas após as outras, sempre se elevando. E para lá das areias,
muito ao longe, a cordilheira líbica forma um muro de aspecto calcário,
levemente esfumado de vapores violáceos. Em frente, declina o sol. O céu, ao
norte, é de um cambiante cinza-pérola, e no zênite, nuvens cor de púrpura,
esparsas como madeixas de uma juba gigantesca, estiram-se na abóbada azul.
Estes raios incandescentes escurecem; o fundo anilado toma a cor do nácar, as
moitas, a penedia, a terra, tudo agora parece duro como o bronze; e paira no ar
uma poeira de ouro tão tênue, que mais parece a vibração da luz. Santo Antão de
grandes barbas, os cabelos longos, um manto de pele de cabra, sentado de pernas
cruzadas, está fazendo esteiras. Mal vê desaparecer o sol, suspira fundo, e
murmura de olhos fixos no horizonte: Mais um dia... Mais um que passa. Mas
outrora, eu não era tão miserável. Antes de expirar a noite já começava as
minhas rezas; depois descia o rio a buscar água, e retornava pela rude encosta,
odre ao ombro, cantando hinos. Em seguida, entretinha-me a arrumar a cabana.
Pegava as ferramentas e me esforçava para que as esteiras fossem bem iguais, e leves
as cestas; pois minhas ações mais ínfimas me pareciam então deveres que nada
tinham de penoso. A horas certas, largava o trabalho e, rezando de braços
abertos, sentia como que uma fonte de misericórdia derramar-se dos altos céus
sobre o meu coração. Mas agora essa fonte secou. Por quê? Ele caminha
lentamente, de um lado para o outro, no recinto das rochas. Todos me criticaram
quando abandonei o lar. Minha mãe ficou profundamente abatida, minha irmã me
acenava de longe para que eu voltasse, e a outra chorava, a Amonaria, essa
menina que eu encontrava todas as tardes à beira da cisterna, tangendo os
búfalos. Correu atrás de mim. Suas argolas dos pés luziam na poeira, e a túnica
aberta nos quadris flutuava ao vento. O velho asceta que me levava atirou-lhe
insultos. Os nossos dois camelos continuaram galopando e nunca mais vi ninguém.
Escolhi primeiro, para habitar, o túmulo de um faraó. Mas circulam feitiços
nesses palácios subterrâneos, onde as trevas parecem adensadas pelo antigo fumo
dos incensos. Do fundo dos sarcófagos ouvia sair uma voz dolente que me
chamava; ou então sentia viverem, de repente, as coisas abomináveis pintadas
nos muros e fugi na direção do Mar Vermelho, para uma cidadela em ruínas. Ali,
tive por companheiros os escorpiões que coleavam entre as pedras, e águias, no céu
azul, rodopiavam sem parar por cima da minha cabeça. De noite, era dilacerado
por garras, picado por bicos, roçado por asas macias, e demônios medonhos,
uivando nos meus ouvidos, me atiravam ao chão. Só fui socorrido pela gente de
uma caravana que ia para Alexandria e me levou junto. [...]. Veja mais aqui,
aqui e aqui.
2000 & HIERÓGLIFOS – Dois dos poemas do poeta e tradutor Haroldo de Campos (1929-2002)
merecem destaque aqui, sendo o primeiro deles 2000: os portais do terceiro
milênio / (do vestíbulo / do) / rodam sobre seus rodízios de três zeros / acoplados
em c a u d a de cometa / a um dois redondo / rodam os signos do zodíaco / atiçando
a cósmica / esfagulhante / tocha augural / o princípio-esperança / pilastra
esquerda do portal / e a moura-desespero / pilastra à direita / sustentam ambas
/ (discordante concórdia) / os portões que rangem / sobre os três / zeros
esféricos / onde o sûnya o / vazio búdico / esbranca / como olho de águia / absorto
em redondos / plenissóis: / o olho e o astro / se contrespelham / um dois
brônzeo / dupla garra de gonzos / articula os portais / enquanto os rodízios
cantam / a música plangente dos batentes / que se entreabrem / no engaste
dobradiço / dos quícios bronzefúlgidos / o anjo-esperança / e a
gárgula-desespero / se confrontam / no aprazado convergir do / calendário / ao
longo do estepário / do futuro que se entre- / mostra vaziopleno de latentes / acasos
/ o anjo e a gárgula se defrontam / do mais fundo / dos séculos a voz do sábio
melancólico / soa ainda / ressoa / ainda / como antes / no entrecéu do porvir /
que sibila seu enigma: / a voz velha do sabedor- / -das-coisas repete / seu
refrão que o trânsito / das centúrias só fez / confirmar como caixa- / -de
ecos: / "e eu me voltei / eu / e vi / toda a opressão / que é feita / sob
o / sol / e eis o choro dos oprimidos / não há para eles / conforto / e da mão
que os oprime / força / e não há para eles / conforto" / o anjo-esperança
recua / em sua armadura de diamante / a gárgula-desespero jubila / no seu
gótico esqueleto de pedra / : "aquilo que já foi / é aquilo que será / e
aquilo que será / e aquilo que foi feito / aquilo / se fará / e não há nada de
novo / sob o sol" - prossegue o-que-sabe por entre as névoas / do
nada / o arcanjo-esperança / tomado de sagrado / furor / flameja sua espada / multicentelhante
/ e rasga um claro / no ob-nubilado / horizonte onde / se engendra o / f u t u
r o / a gárgula guincha / no seu nicho de pedra - / na lâmina / coruscante do
gládio lê-se / cravejado em estrelas : / "a esperança existe / por causa
dos desesperados" E também O hieróglifo para Mario Dchoenberg: o
olhar transfinito do mário / nos ensina / a ponderar melhor a indecifrada / equação
cósmica / cinzazul / semicerrando verdes / esse olhar / nos incita a tomar o
sereno / pulso das coisas / a auscultar / o ritmo micro - / macrológico da
matéria / a aceitar / o spavento della materia (ungaretti) / onde kant viu a
cintilante lei das estrelas / projetar-se no céu interno da ética / na estante
de mário / física e poesia coexistem / como asas de um pássaro - / espaço curvo
- / colhidas pela têmpera absoluta de volpi / seu marxismo zen / é dialético / e
dialógico / e deixa ver que a sabedoria / pode ser tocável como uma planta / que
cresce das raízes e deita folhas / e viça / e logo se resolve numa flor de
lótus / de onde / - só visível quando damos conta - / um bodisatva nos dirige
seu olhar transfinito. Veja
mais aqui, aqui e aqui.
TEATRO DE REVISTA – Um dos grandes nomes do cinema e do
teatro de revista, Alda Garrido (1896-1970), estreou no palco aos 16
anos de idade, no Teatro Rival, com a peça Das cinco às sete, de Joracy Camarco,
em 1912, integrando a dupla Os Garridos, ao lado do seu marido. Em 1928, ela se
torna a Rainha das Atrizes. Estreou no cinema em 1940, com o filme E o circo
chegou. Em 1953, atua na peça Dona Xepa, de Pedro Bloch, com a qual ela seguiu
pro cinema e pra televisão pelo sucesso obtido. Em 1965, com a peça Entre
louras e morenas, ela abandona a carreira, só em 1970, quando se preparava para
voltar aos palcos com Maria Fofoca, falece às vésperas da estreia. Veja mais
aqui.
MINHA VIDA SEM MIM – O drama Minha vida sem mim (My Life Without Me, 2003), dirigido pela cineasta espanhola
Isabel Coixet, é uma adaptação da obra de Nanci Kincaid, conta a
história de uma jovem que descobre ter pouco tempo de vida e por isso assume
certas missões antes de partir. Ela é casada, tem duas filhas e mora em um
trailer no quintal de sua mãe, uma mulher amargurada cujo marido está na
cadeia. Apesar da vida simples que leva e dos constantes atritos que tem com a
mãe, ela vive feliz ao lado das crianças, até o dia em que passa mal e vai
parar num hospital. É quando descobre que está à beira da morte. Decide, porém,
manter tudo em segredo. Entre suas derradeiras resoluções, estão: gravar
mensagens para cada aniversário de suas filhas até ambas completarem 18 anos;
fazer alguém se apaixonar por ela; e escolher uma nova esposa para o marido. O
drama transcorre de forma delicada e o destaco vai para a belíssima atriz,
cantora e cineasta portuguesa Maria de
Medeiros. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
No Dia Mundial da Fotografia: foto das
crianças tirando fotos! Veja mais aqui.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Quarta Romântica, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a
apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Para conferir online acesse aqui.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Xilogravura A Professora, de J. Borges.
Aprume aqui.