PROGRAMA TATARITARITATÁ – Hoje é dia de mais uma edição do programa
Tataritaritatá, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com apresentação sempre emocionante de Meimei
Corrêa. Na programação de hoje: Paul McCartney, Chico Buarque, Emilia Biancardi,
Milton Nascimento & Maria Rita, Elis Regina, Maria Bethania, Maysa, Zizi
Possi, Armandinho, Sonia Mello, Maciel Melo, Ozi dos Palmares, Mu Chebabi, Monsyerrá
Batista, Marisa Serrano, Lelo Praxedes, Sérgio Santos, Carlos Miúdo, Meimei
Corrêa, Wilson Monteiro, Danny Reis & Sonekka Osmar Lazzarini & Gilvandro
Filho, Naldo Miranda & Eduarda Flores, Nilson Chaves & Felipe Cerquize,
Chiko Queiroga & Ana Vitória, Simone Guimarães, Mestre Acordeon, David
Bisbal, Fábio Jr, Amélia Simone, Juanes, Juarez Moreira & muito mais! Para
conferir ao vivo e online ligue o som e acesse aqui.
Imagem: Nude in the sun do pintor
impressionista francês Pierre-Auguste Renoir (1841-1919). Veja mais aqui
e aqui.
Curtindo Verklarte Nacht, Op. 4 (1899 – Teldec, 1995), do compositor
austríaco de música erudita e criador do dodecafonismo, Arnold Schönberg (1874-1951), performer & conductor Daniel
Barimboi, Chicago Symphony Orchestra,
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
INCIDÊNCIA NO PROSTÍBULO – Era
1982 e eu estava me aprontando para publicar o meu primeiro livro de poesias
quando, para minha surpresa, recebo uma correspondência da Grafipar, de Curitiba (PR), informando que um conto meu havia sido
escolhido para constar numa das publicações da editora, a revista Ponto de Encontro. No envelope, a
missiva estava acompanhada de alguns exemplares da revista e de um cheque a mim
nominal num valor que nem sei o quanto representaria em moeda de hoje. Nunca
tinha visto a revista em banca alguma, nem sabia como o meu conto – diga-se de
passagem, o meu primeiro conto e, ainda por cima, erótico, ou pornográfico? Sei
lá -, foi parar por lá. Saber, sabia, não queria era acreditar. Depois de muito
remoer nas catracas do quengo, descobri que poucos meses antes disso, eu estava
em São Paulo, participando de um festival de música e, como sempre, faço minhas
apresentações solo e zarpo. Subo no palco na maior tremedeira e saio mais
tímido ainda, quando, nesse dia, mais alvoroçado que nunca e numa situação de
quem caiu numa piscina e não encontrou os pés no chão, para minha salvação – ou
piorando a minha situação porque jamais esperei que tal acontecesse -, uma
certa pessoa me aplacou a fuga, me parabenizando pela ousadia. Sem saber nem o
que fazer, daquele jeito de quem procura um buraco para se socar, fugindo de
tudo, ela, amavelmente insistente, abriu um papo comigo. Ainda cheio de pernas,
todo desencontrado, eu balbuciava qualquer coisa no afã de me evadir dali, respondendo
de forma monossilábica, fato que levou a pessoa a perceber que eu queria mesmo
era sair fora para ir pruma pousada ou hotel, próximo do aeroporto de
preferência que, logo cedo, tinha que pegar o avião de volta. Acho que pensei
alto ao ponto dessa pessoa me oferecer carona e me levar prum botequim pra
melhor apaziguar minha forma inheta de estar. Aboletados numa mesa de bar, assim
foi e ficamos bebericando e jogando conversa fora. Tomando pé da situação e do
ambiente, como sou bastante tagarela, danei-me a falar, contar história e
aproveitei o momento para restaurar minhas conexões mentais que se encontravam
desarticuladas por completo. Nisso fiquei sabendo tratar-se de uma paranaense
que estava acompanhando o festival para fechar uma matéria sobre eventos
alternativos da capital paulista. E tome papo vai, papo vem, falei que estava
publicando meu primeiro livro de poesias e que estava ali apenas participando
do festival para adquirir experiência e, no meio da conversada, pela
curiosidade dela com as minhas coisas, falei desse conto, sacando uma cópia
para ela ler – esse e outras troncheiras que eu andava no alforje. Papo dos
bons, madrugada adentro até que, ao amanhecer, chegou a hora de ir pro
aeroporto pegar o avião. Paguei a conta e saímos, trocamos endereços e nos
prometemos futuras trocas de ideias. Poucos meses depois, veio o resultado:
antes do livro sair, vejo meu contículo publicado numa revista para maiores de
dezoito anos, se é que me entende. Surpresa pra lá de agradável. E depois conto
como foi que pude agradecer pela iniciativa da pessoa. Por enquanto, vamos
aprumar a conversa e veja mais aqui.
O TAO DA EDUCAÇÃO – No livro O Tao da Educação: a filosofia oriental na escola ocidental (Ágora,
2000), da doutora em psicologia educacional pela Unicamp, Luiza Mara Silva Lima, encontro o trecho que: [...] A educação é um campo vasto e intrigante para
aqueles que têm avidez em procurar e satisfação em descobrir. Diante das
inúmeras dificuldades encontradas neste caminho, aqueles que têm avidez em procurar
alternativas ocupam-se mais em investir no tempo para fazer alguma coisa do que
em gastar o tempo para reclamar das coisas. Daí, a satisfação em descobrir
novos caminhos torna-se incalculável. É claro que, detectando falhas no sistema
educacional, temos a possibilidade de, no mínimo, não repeti-las. Entretanto,
apenas não repetir erros não assegura a melhoria de um processo. O fato de algo
ter sido bem-sucedido até determinado momento não significa necessariamente que
continue tendo êxito no decorrer do tempo. Os problemas educacionais (como a
falta de recursos, a repetência, a evasão, o descaso das autoridades e tantos
outros) não restringem as possibilidades de ação. Pelo contrário, dão margem à
imaginação e instigam a busca de novos caminhos, novas soluções, novas
propostas, novas perspectivas. [...] Veja mais aqui.
JUNTA-CADÁVERES – O livro Junta-cadáveres (Civilização Brasileira, 1968), do escritor
uruguaio Juan Carlos Onetti
(1909-1994), conta a história de pequena cidade na qual se é montado um
prostibulo que passou doze anos para ser aprovado pela câmara de vereadores,
resultado de acordos e concessões, causando escândalo na cidade e veementes
protestos da Liga da decência. Da obra destaco o trecho inicial: Arfando e luzidio, perniaberto sobre os
saltos do vagão, no ramal de Enduro, Junta caminhou pela passagem estreita para
aproximar-se do grupo de três mulheres, alguns quilômetros antes de o trem
chegar em Santa Maria. Sorriu, animado, para as caras carregadas pelo
aborrecimento, incendiadas de calor, de bocejos e comentários. O verde dos
campos próximos ao rio apoiava uma débil frescura contra as janelas empoeiradas.
– “É só dizer que estamos chegando, começam logo a conversar, a se pintar,
recordam seu oficio, fazem-se mais feias e velhas, põem caras de senhoritas,
baixam os olhos para examinar as mãos. São três, e não demorei quinze dias.
Barthé tem mais do que merece, ele e toda a população, mesmo que talvez riam ao
vê-las e continuem rindo durante dias e semanas. Já não tem mais quinze anos e
estão vestidas de modo a esfriar qualquer macho. Mas são gente, são boas, são
alegras e sabem trabalhar”. – Falta pouco – resignou-se a dizer, com
entusiasmo; bateu no joelho de Maria Bonita e sorriu para as outras duas, para
a cara infantil, redonda, de Irene, e para as sobrancelhas amarelas de Nelly,
muito altas, retas, desenhadas, cada manhã para coincidir com o desinteresse, a
imbecilidade, o nada que podiam ofertar seus olhos. – Imagino: já era hora –
contestou Maria Bonita. Franziu a boca voltada para a janela e iniciou a
abertura de bolsas, o baile de espelhos, pós, lápis de lábios. – Tinha razão,
depois de tudo. A tal de Santa Maria deve ser um buraco. – É certo o que tu
disseste – concordou Nelly; usava uma unha para retocar a pintura da boca. Irene
batia nos costados do nariz com a almofada de pó, languida, sem fé; tinha os
grossos joelhos separados, e o chapéu de palha, carregado de adornos, a aba
grande, retorcia-se achatado contra o encosto. Fez um semicírculo com as costas
da mão no vidro da janela; viu um arco-íris de gramas ressequidas, de
plantações, de distancias cinza, verde e ocre, misturadas pela tarde de ceu
coberto. – A mim, pouco importa. Claro que não é a capital; mas me agrada o
campo. – isso é certo ter – disse Maria Bonita irritada, zombando. Tinha
terminado de se arrumar e fumava rapidamente, ereta, tranquila, segura de sua
oculta capacidade de domínio. – “Uma mulher” – pensou Junta com severidade e
orgulho. – Não penses em andar em compras e festinhas. Ficar em casa, trabalhar
e saber guardar dinheiro [...]. Veja mais aqui.
O BEIJO DA FELATRIZ – O poema Minha felatriz idolatrada (Bolonha, noite de 6 a 7 de Jetas de 136
da E. P. (31-I a 1-II-09 «vulgaris»), do poeta, dramaturgo, roteirista e
diretor de cinema Fernando Arrabal,
traduzido por Miguel de Carvalho, é uma das expressões do espírito
controvertido do seu autor: Sim, é uma
depravação lamber o teu falo / Sim, é um horror infringir os meus princípios /
Sim, é uma porcaria chupar o teu meato / Sim, é uma incongruência fazê-lo por
amor / Sim, é uma insanidade engolir o teu esperma / Sim, é uma aberração
inclinar-me sobre o teu sexo / Sim, é uma fraqueza abdicar da minha liberdade /
Sim, é um sacrifício de saliva e de alma / Sim, é uma contradição sufocar-me de
amor / Sim, é um absurdo curvar-me diante do teu ventre / Sim, é lascivo
devorar o teu cetro / Sim, é uma loucura que a minha boca seja uma vulva / Sim,
é um pecado grave sendo também condenado por Deus… / …por todos os séculos e
séculos. Adoro ser eterna para o teu tempo e o teu cio / Adoro acolher-te no
meu nicho de seios / Adoro invadir o teu ânus com o meu dedo / Adoro antecipar
os teus desejos mais perversos / Adoro sugar-te imóvel «à pleine bouche» /
Adoro acariciar-te ao mesmo tempo os gêmeos / Adoro ser a tua droga do mundo
mais imundo / Adoro que o meu cu seja parte do teu céu / Adoro que dites os
teus caprichos no meu corpo / Adoro que a minha língua se cubra de pimenta /
Adoro que a minha boca te embale íntima / Adoro que mergulhes a tua faca no meu
véu / Adoro provocar a explosão do teu suco / …por todos os séculos e séculos.
/ Sinto-me realizada quando me baixo ao teu sexo / Vejo-me desejada quando
aqueço a tua adaga / Julgo-me humilhada pelo meu ritmo lascivo / Adoro que
dirijas a minha nuca com as tuas mãos / Torno-me borboleta com o teu músculo
febril / Encanta-me a impudícia de o beijar sem fim / Regozijo corrompida por
atiçar o teu vício / Deixo-me acanalhar, com a tua flor tocando na minha glote
/ Perco-me quando roço a negrura do teu poço / Excita-me seguir a regra do teu
êxtase / Enlouquece-me fumar com o teu filtro do amor / …por todos os séculos e
séculos. / A tua espada ressoando…. tocas o sino. / Menear-te entre os meus
lábios… vives em glória. / Envolvido na minha roçadura… avistas paraísos. / Entrançado
de carícias… sonhas o impossível. / Palpitando animal… voltas ao nirvana. /
Pelo céu da boca… percorres o mistério. / Penetrando a minha cara… capturas a
imagem. / Esperando o êxtase… atrása-lo sempre. / Primeiro o teu rabo… treme o
universo. / As lágrimas de gozo… chegam gotejando. / O teu néctar rociado… rega
a minha garganta. / Comungamos unidos… os dois e para sempre / …por todos os
séculos e séculos. Veja mais aqui e aqui.
O ATOR E SUA FUNÇÃO NO
TEATRO – No livro Para um teatro pobre (Forja, 1975), o
diretor de teatro polaco Jerzy Grotowski
(1933-1999), aborda sobre o ator e sua função no teatro: O ator é um homem que trabalho em publico com o seu corpo, oferecendo-o
publicamente. Se esse corpo se limita a mortrar o que é – o que qualquer pessoa
pode fazer – não realiza um ato total. Se é explorado por dinheiro, ou para
granhar favores do público, a arte do ator toca a prostituição. É um fato que,
durante muitos séculos, o teatro andou associado à prostituição, nuym ou noutro
sentido da palavra. Houve tempo em que as palavras atriz e cortesã eram
sinônimas. Hoje estão separadas por uma linha um pouco mais nítida, não devida
a mudanças no mundo do ator, mas porque a sociedade se modificou. Hoje, a
diferença entre a mulher respeitável e a cortesã é que se tornou imprecisa. O
que, nos nossos dias, nos impressiona quando observamos o mundo do ator é a sua
miséria: a especulação com um corpo explorado pelos seus protetores –
empresário, encenador – o que, por sua vez, cria uma atmosfera de intriga e de revolta.
Tal como, segundo os teólogos, só um grande pecador se pode tornar santo – não
esqueçamos o Apocalipse: “...e, pois que és morno, pois que não és frio nem
quente, vomito-te pela boca” – a miséria do ator pode ser transformada numa
espécie de santidade. A historia do teatro disso nos oferece inúmeros exemplos.
Compreendam-me. Falo de santidade não sendo crente. Concebo uma santidade
laica. Se ao por-se a si mesmo um repto publicamente, o ator desafia os outros
e, pelo excesso, pela profanação e pelo sacrifício ultrajante, se revela,
arrancando a mascara quotidiana, torna possível ao espectador assumir um
processo similar. Não vende o corpo – sacrifica-o. repete a expiação,
aproxima-se da santidade. Se uma tal ação não for passageira nem fortuita, se não
for um fenômeno previsível no espaço nem no tempo – se queremos um grupo de
teatro em que o pão de cada dia seja este tipo de trabalho, temos de seguir um
método especial de pesquisa e de treino. [...] Veja mais aqui, aqui e aqui.
LE TRIO INFERNAL – O filme Le trio infernal (The Infernal Trio, 1974), dirigido pelo cineasta francês Francis Girod, com roteiro do diretor e
Jacques Rouffio, música de Ennio Morricone, é inspirando numa real de humor
negro e realismo arrepiante, conta a história de um advogado desonesto e
falador que organiza fraude de seguro com a cumplicidade de duas irmãs alemãs
que se tornam suas amantes. O destaque do filme é para a sempre bela atriz austríaca
Romy Scheneider (1938-1982). Veja
mais aqui.
IMAGEM DO DIA
Imagem da primeira bruxa na Stregheria -
tradição italiana - Aradia di Toscano
(Herodias, 1313) que, segundo a tradição e o folclore, foi enviada a Terra por
sua mãe Diana, a Grande Deusa das Bruxas e Fadas, para que ela ensinasse os
homens as suas artes com objetivo de reflorescer a antiga religião pagã. Ela é
considerada uma avatar feminina, deusa que encarnou na Terra para trazer liberdade
às classes oprimidas pelo clero e nobreza.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Aprume aqui.