VAMOS APRUMAR A CONVERSA? PARA
VIVER O PERSONAGEM DO HOMEM – Contava
eu com meus vinte e dois anos de idade, quando resolvi reunir o calhamaço de
rabiscos e tronchuras em um volume só. Trabalhão esse, vez que eram versos
desconjuntados desde a adolescência, que foram arrumados para ver se dava algum
caldo. Hesitei, o sonho de publicar um livro precisava ser amadurecido.
Meditei, os arroubos da juventude evidentemente que não permitiam um melhor um
discernimento poético. Mas, a corda dos amigos e achegados era boa, acarinhava
o acorçôo e resolvi botar a boca no mundo. Devo, antes de tudo, nomear alguns
culpados por isso. Primeiro, os insistentes incentivos da professora e
bibliotecária Jessiva Sabino de Oliveira
que semanalmente me cobrava versos para afixar no mural da biblioteca. Segundo,
a publicação de diversos poeminhas publicados em colunas literárias do Diário de Pernambuco, desde ainda
pré-adolescente emplacando muitos deles no suplemento infantil Junior, que encartava o jornal aos
sábados. Terceiro, a inserção de um dos meus versos em edição do Jornal Caipira, encartado no disco Em Família, de Egberto Gismonti, em 1981. Outros, no Informativo do Gremio Cultural Castro Alves, do Colégio
Diocesano; na revista Nova Caiana,
editado pelo movimento das Noites da
Cultura Palmarense; da publicação do meu conto na revista Ponto de Encontro, da Grafipar
(Curitiba-PR); da reunião de alguns dos meus poeminhas nos textos Sertão, Sertão e Deus lhe pague – este baseado na obra de Joracy Camargo,
apresentados em melodramas e cantaraus coletivos. Depois a chegada do poeta e
editor Juareiz Correya que pegou o volume
com o título Uma poesia no mundo, e realizou
a coordenação editorial do que se passou a chamar Para viver o personagem do homem. Outros culpados se inseriram
nisso, a exemplo do artista plástico Ângelo
Meyer que gentilmente fez a capa e contracapa do volume; e do poeta e
professor Paulo Profeta que escreveu
a apresentação: [...] Nessa luta está o
jovem [...] palmarense que faz de
tudo: música, teatro, recitais... e, inclusive, poesia. Trata-se de um dos
componentes das Noites da Cultura Palmarense, movimento de resistência que vem
sobrevivendo na batalha do quefazer artístico-cultural. Como se não bastasse o
esforço, Nito teve a ousadia de colocar estes poemas montado nos acordes do
canto do eremita e, num mar de tubarões, seu “navio a sorte inventa e na
desilusão dos sonhos atraca”. Sua desilusão não faz o odor dos desanimados.
Pelo contrário, a tristeza de quem brinca com desvantagens é compensada pela
audácia de quem é livre, como ele explica: “porque – traguei a verdade nua e
crua”. É a poesia num mundo sem poesia. Tentativa invejável de um estreante,
através da imprensa alternativa, mostrar seu compromisso em resistir nas
trincheiras da culturaaté a morte do último traço característico de nosso povo.
Assim, este trabalho é um grito irônico de liberdade. Não se trata de mais um
livro para os críticos, mas, o eco dos que ainda têm coragem de fazer poesia
sem o carimbo de instituições e intelectualoides, modismo dos dias atuais. Aí
sob a coordenação da Nordestal Editora, lancei o livro, primeiro, numa festiva
noite na Biblioteca Pública Fenelon Barreto, em Palmares e, depois, numa tarde
ensolarada de sábado na legendária Livro
7, em Recife, ocasião que, coincidentemente, o Egberto Gismonti realizava um show-concerto no Teatro do Parque, local
próximo do evento, e autografou o poema que fiz publicado no livro. Batido o
centro, veio a responsabilidade de reestudar a poesia e a arte poética, revendo
tudo e me determinando no oficio do aprendiz de poeta que sou até hoje. Vamos
aprumar a conversa e veja mais aqui.
Imagem: A riot of colour, do pintor e gravurista britânico Howard Hodgkin.
Curtindo o álbum Kin (Nonesuch Records, 2014) do guitarrista de jazz estadunidense Pat Metheny & Unity. Veja mais aqui
e aqui.
BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia de reprise do programa Brincarte do Nitolino pras crianças de todas as idades, no horário das
10hs e 15hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação simpática de Isis
Corrêa Naves. Na programação, Nitolino, Paulo Zola & Francis Monteiro,
Meimei Corrêa, Juquinha My Bonnie, Evelyn Queiroz & Rachel Lucena, Livia
Luminato, Batráquios do Brejinho, Sabiá lá na gaiola, Juquinha Linguinha,
Trombinha Branca, Pirulito que late late, Nita, Danyel Pessoa, Lobisomem Zonzo,
Salada de frutas, Cara do Brasil & muito mais músicas, poesias, brincadeiras
e histórias para a garotada. No blog, dicas e informações sobre Educação,
Psicologia, Literatura, Teatro, Músicas, publicações e entrenimento pras
crianças de todas as idades. Para conferir online é só clicar aqui ou aqui.
O ORGANISMO E SEU
EQUILIBRIO – No livro Ego, fome e agressão: uma revisão da teoria
e do método de Freud (Summus, 2992), do psiquiatra e psicoterapeuta alemão Fritz Perls (1893-1970), encontro a
parte em que o autor aborda O organismo e seu equilíbrio, do qual destaco o
seguinte trecho: [...] O tratamento
isolado dos diferentes aspectos da personalidade humana apenas mantém o
pensamento em termos de magia e apoia a crença de que corpo e alma são itens
isolados, unidos de alguma maneira misteriosa. O homem é um organismo vivo e
alguns de seus aspectos são chamados de corpo, mente e alma. Se definirmos o
corpo como a soma das células, a mente como a soma de percepções e pensamentos,
e a alma como a soma de emoções, e mesmo se acrescentarmos uma integração
estrutural (ou a existência destas somas totais como totalidades) a cada um dos
três termos, ainda compreenderemos quão artificiais e fora de conformidade com
a realidade tais definições e divisões são. A superstição de que elas são
partes diferentes, que podem ser reunidas ou separadas, é uma herança de tempos
em que o homem (horrorizado e relutante em aceitar a morte como tal) criou a
fantasia de espíritos e fantasmas que vivem para sempre e deslizam para dentro
e para fora do corpo. Deus pode – de acordo com tal fantasia – soprar sobre um
pedaço de argila e dar-lhe vida. Na reencarnação indiana, a suposta alma pode
escapar de um organismo para outro, de um elefante para um tiguer, de um tigre
para uma barata e na vida seguinte, para um ser humano, até que todas as
condições de um padrão de ética inatingível sejam finalmente preenchidas e a
alma possa encontrar descanso no nirvana. Mesmo em nossa civilização europeia,
há muitos que acreditam em fantasmas e espíritos e proporcionam a ocultyistas,
leitores de folhas de chá e gente da mesma espécie uma oportunidade bem-vida de
ganhar a vida. Milhões de pessoas não acreditam numa vida depois da morte,
porque é confortante pensar que os mortos não estão mortos? A aplicação desta
conceção corpo-alma a coisas mecaniscas poderia ajudar a mostrar o seu absurdo.
Se você ama seu automóvel, se encanta com seu motor suave, com a beleza de suas
linhas, poderia ter a sensação de que ele tem uma alma. Mas quem poderia
acreditar que a sua alma pudesse repentinamente deixar o corpo para se deleitar
num céu para automóveis (ou sofrer tortura num inferno para veículos malcomportados),
enquanto o cadáver do carro se decompõe num cemitério de automóveis? Você
poderia objetar: o automóvel é algo feito pelo homem, algo superficial.
[...]. Veja mais aqui e aqui.
OS DOIS CAMINHOS – No livro A voz do silêncio (Clássica Editora, 1916), da escritora e ocultista russa Elena
Petrovna Blavatskaya, popularmente conhecida como Helena Blavatsky ou Madame Blavatsky (1831-1891), encontro a parte
Os dois caminhos, traduzida por Fernando Pessoa: [...] Diz o Mestre: Os Caminhos são dois; as grandes
Perfeições são três, seis são as Virtudes que transformam o corpo na Árvore do
Conhecimento. Quem se aproximará deles? Quem entrará primeiro neles? Quem
primeiro ouvirá a doutrina dos dois Caminhos em um, a verdade revelada sobre o
Coração Secreto? A Lei que - afastando-se da erudição - ensina a Sabedoria,
revela uma história de sofrimento. Ah, como é lamentável que todos os homens
possuam Alaya e estejam em unidade com a Grande Alma, mas que, mesmo tendo
Alaya, tirem dela um proveito tão pequeno! Olha como, da mesma maneira que a
lua se reflete nas ondas tranquilas, Alaya é refletida pelo pequeno e pelo
grande. Ela se espelha nos menores átomos, e, no entanto, não consegue alcançar
o coração de todos. Ah, como é lamentável que tão poucos homens possam tirar
proveito da dádiva, do presente de valor ilimitado que é a compreensão da
verdade, a percepção correta das coisas existentes, e o conhecimento do
não-existente! Diz o discípulo: Ó, Mestre, o que devo fazer para alcançar a
Sabedoria? Ó, Sábio, o que fazer para obter a perfeição? Busca pelos Caminhos.
Mas, ó Lanu, antes de começares a viagem, deves ter um coração puro. Antes de
dares o teu primeiro passo, aprende a discernir o que é real do que é falso, o
transitório do eterno. Aprende acima de tudo a ver a diferença entre o
aprendizado mental e a sabedoria da Alma; entre a doutrina do “Olho” e a
doutrina do “Coração”. Sim, a ignorância é como um recipiente fechado e sem ar;
a alma é como um pássaro preso. Ele não pode cantar, e nem sequer mover uma pena;
o cantador fica imóvel e entorpecido, e morre de exaustão. Mas mesmo a
ignorância é melhor que um aprendizado mental sem a sabedoria da Alma para
iluminá-lo e guiá-lo. As sementes da Sabedoria não podem germinar e crescer num
espaço sem ar. Para viver e colher experiência, a mente necessita de amplitude,
de profundidade, e de pontos que a levem na direção da Alma de Diamante. Não
procures tais pontos no reino de Maya; mas eleva-te acima das ilusões, e busca
o eterno e imutável SAT, sem confiar nas falsas sugestões da fantasia. Porque a
mente é como um espelho; ela acumula pó enquanto reflete. Ela necessita a brisa
suave da sabedoria da Alma para afastar o pó das nossas ilusões. Tenta, ó
iniciante, unir tua Mente e tua Alma. Evita a ignorância, e evita do mesmo modo
a ilusão. Volta o teu rosto para longe dos enganos do mundo; desconfia dos teus
sentidos; eles são falsos. Mas, dentro do teu corpo - o santuário das tuas
sensações - procura, no Impessoal, pelo “Homem Eterno”; e, depois de
localizá-lo, olha para o teu interior: tu és Buddha. Evita o elogio, ó Devoto.
O elogio leva à auto-ilusão. O teu corpo não é o seu Eu. O teu EU é em si mesmo
destituído de corpo, e nem os elogios, nem as críticas, o afetam. A vaidade, ó
Discípulo, é como uma torre elevada à qual subiu um tolo arrogante. Lá ele se
senta com solidão e orgulho, sem ser percebido por ninguém exceto por si mesmo.
O falso conhecimento é rejeitado pelo Sábio, e espalhado ao Vento pela Boa Lei.
A roda da Boa Lei gira para todos, os humildes e os orgulhosos. A “doutrina do
Olho” é para a multidão; a “doutrina do Coração”, para os eleitos. Os primeiros
repetem, orgulhosamente: “Vejam, eu sei”. Os últimos, que fizeram sua colheita
humildemente, confessam em voz baixa: “Isso é o que eu ouvi”. “Grande Peneira”
é o nome da “Doutrina do Coração”, ó Discípulo. [...] Veja mais aqui, aqui,
aqui e aqui.
LIVRO DE HORAS - No livro O outro livro de Jó (1936), do poeta, teatrólogo e ensaísta
português Miguel Torga (Adolfo
Correia da Rocha – 1907-1995), encontro o poema Livro de horas, o qual destaco
a seguir: Aqui, diante de mim, / eu,
pecador, me confesso / de ser assim como sou. / Me confesso o bom e o mau / que
vão ao leme da nau / nesta deriva em que vou. / Me confesso / possesso / das
virtudes teologais, / que são três,e dos pecados mortais, / que são sete, / quando
a terra não repete / que são mais. / Me confesso / o dono das minhas horas. / O
das facadas cegas e raivosas / e o das ternuras lúcidas e mansas. / E de ser de
qualquer modo andanças / do mesmo todo. / Me confesso de ser charco / e luar de
charco, à mistura. / De ser a corda do arco / que atira setas acima / e abaixo
da minha altura. / Me confesso de ser tudo / que possa nascer em mim. / De ter
raízes no chão / desta minha condição. / Me confesso de Abel e de Caim. / Me
confesso de ser homem. / De ser um anjo caído / do tal céu que Deus governa; / de
ser um monstro saído / do buraco mais fundo da caverna. / Me confesso de ser
eu. / Eu, tal e qual como vim / para dizer que sou eu / aqui, diante de mim!
Veja mais aqui e aqui.
O METATEATRO – No livro O teatro da espontaneidade (Summus, 1984), do médico, psicólogo,
filósofo e dramaturgo turco-judeu Jacob
Levy Moreno (1889-1974), encontro a parte denominada O metateatro:
estrutira arquitetônica, a qual destaco o trecho seguinte: Quando o contador de estórias começa, as crianças rapidamente se reúnem
à sua volta. Ele ocupa o centro do grupo. Temos aí, à nossa frente, a imagem
original do teatro. A separação nítida entre palco e plateia é a caracterica
marcante do teatro legítimo. Isto é exemplificando pela forma dual bem como
pelo relacionamento entre produção cênica e espectadores. Face à disposição do
contraste entre atores e espectadores, porem, espaço total torna-se um campo
para a produção. Cada parte do mesmo deve refletir o principio de
espontaneidade e nenhuma de suas partes pode permanecer excluída. [...] no teatro todos os homens são mobilizados e
se deslocam do estado de consciência para o estado de espontaneidade, do mundo
dos feitos reais, dos pensamentos e sentimentos reais, para um mundo de
fantasia que inclui a realidade potencial. As pessoas deslocam-se da coisa em
si para a imagem da própria coisa, a qual inclui a coisa em potencial. Os
valroes da vida são substituídos pelos valores da espontaneidade. Nos tempos
modernos, o teatro só é visto a partir de uma extremidade, o palco. A outra
extremidade, a audiência, é deixada na escuridão durante o espetáculo, não só a
nível real como também a nível simbólico. A divisão da comunidade em duas
partes, atores e audiência, também divide em duas partes a ilusão e o prazer
estético, partes estas que só possuem significado em sua unificação, como
ocorre com mãe e filho, marido e mulher, atores e plateia. A nova arquitetura
do teatro deve ser concretizada a partir de ambos os lados, palco e público
[...]. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
MACHUCA – O premiado filme Machuca (2004), do escritor, produtor e diretor de cinema chileno Andrés Wood, conta a história que se
passa em 1973, de dois garotos de diferentes classes sociais que vivem no Chile
em meio a uma situação conturbada, em pleno governo de Salvador Allende, com
diversas passeatas, umas em favor do socialismo, outras da direita nacionalista
que quer retomar o poder. Os meninos se envolvem em conflitos entre eles,
porém, com as tentativas de agressões recusadas por um deles, faz com que nasça
uma amizade, sobrepujando a condição social de ambos. O filme ganhou os prêmios
de Melhor Filme Latino no Ariel Award, no Bogotá Film Festival, e o Grande Prêmio
no Ghent International Film Festival (2004), Prémios Goya (2005), o
Philadelphia Film Festival (2005), o Valdivia International Film Festival
(2004), o Vancouver International Film Festival (2004), Viña del Mar Film
Festival (2004) e Prêmio Elcine no Lima Latin American Film Festival (2004).
Veja mais aqui.
Imagem: A onde iluminada, recolhida do
livro O Tao da Educação: a filosofia
oriental na escola ocidental (Ágora, 2000), da doutora em psicologia
educacional pela Unicamp, Luiza Mara Silva
Lima. Veja mais aqui.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Quarta Romântica, a partir
das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e
apaixonante de Meimei Corrêa. Para
conferir online acesse aqui.
Ilustração em xilogravura de três
crianças a cantar, de Stock.
Aprume aqui.