Art by Ana Padrón
LITERÓTICA: PROFANAÇÃO
(Ou: o
gosto perene da primeira vez) – Prólogo: descortinando os mistérios – a revelação. (Qualquer coisa a haver com
o paraíso, Mílton Nascimento & Flávio Venturini, Ângelus). À
hora do Ângelus, ela espera. Ungida e provocante no trâmite das horas.
Emborcada de Mandel: a nudez do corpo esguio à meia luz (Isso: lenço na cabeça,
terço entre os lábios, crucifixo nas mãos). A espera na noite: uma alma desnuda
no oratório. Apenas duas velas num castiçal e uma esperança fincada alumiando a
pele acetinada que aguça o meu desejo de ontens. (Formoso perfil de Vasti –
lindeza de Leonor Watling na cena de Almodóvar. Fervorosa fé de Rute, orações
exaltadas de Ester: o olhar na crença e mãos sobre a Bíblia). Resignadas
orações: escapulário e hozanas imaculadas lavando culpas, dores e passado. Não
se dá conta na réstia da obscenidade do meu beijo ateu: a profanação de
véspera, partícipe do ritual. Ela contrita, resignada; eu, danação. Atração de
opostos, conflitos redundam. Mas convergem, porque de mim: bem-aventurado o que
goza porque dele é o reino parais(s)o. Estribilho:
a hóstia & comunhão – a carne do sal da terra. (Um anjo, Egberto Gismoti, Zig Zag)
Flagro o instante e a pele acetinada aguça o desejo de ontens: tudo candura
dela e perversidade de mim (seu sangue, meu vinho). E o meu olhar insolente na
aura destrancada: um anjo caído. Meu corpo e a salvação pro que é, foi e será:
um feito deus sem criação, sem éden, sem nada. Misérias de ser encanto de
mulher. Pela angelical candura sou atraído até me perder nas linhas da palma de
sua mão (um convite ao turbilhão atávico de suas reencarnações). Nela, juro que
me perco a bel prazer. E numa tentação advena alcançando seus dedos, um carinho
na graça manual. Tomo seu pulso e logo seus braços, seios, ombros, faces, tudo
é magia pura como irrevelável segredo desvelado. E vou me perder mais ao
roçar-lhe a boca com o anular: respiração e espasmos. Rezas, suspiros e
pálpebras cerradas. (Revirando os olhos, mordendo os lábios, lambendo meu
dedo). E mais me perdendo me encontro com sua voz sussurrada a tomar meu nome
ofegante de rei adorado. Manhosa de sangue quente no bico da chaleira fervendo.
Dengosa revel aos caprichos das minhas investidas certeiras. E faz de conta que
alheia num truque sagaz quando cheiro seus cabelos em desalinho nos olhos –
grandes olhos inocentes e fugazes - até o pescoço num beijo que lambe o ombro e
dá na mandíbula pra expirar devagar por trás das orelhas, até sentir sua pele
eriçada no seu corpo clareira e eu ébrio com o aroma exalado. E se contorce
serpente irresistível e desfalece se esfregando ao meu toque. E se submete e
subjugo: nossa liturgia profana. E envolvo a cintura até os seios de mil
ternuras e cravo-lhe os dentes na carne, encosto o meu membro ativo ao que
rebola com ar de menina dengosa, ah, minha doce pessoínha exalando uma aura de
zis infâncias da adulteza alada. Fica minha e inteira e toda e de suas costas
imantadas emerge de bruços toda eletricidade atrativa do convite irrecusável: o
cálice do paraíso no gozo da carne, a glória da vida eterna que equivale a se
afogar no redemoinho de nossas mais indecentes poses íntimas. Refrão: a marca aguda na memória da pele (Naávu Javassarê, Edson Natale &
Carmina Juarez, Lavoro). Ah, ela nua é linda, um anjo
destamaínho: no meu tope. A pele e o desejo. Iluminou-se de mim agarrada às
cortinas do templo irreal. Sabia: meu café da manhã, almoço e janta. Era ela.
(A cruz entre os dentes na vulva. A saliva reluz meu cetro como hóstia
dessacralizada). Ah, minha estóica de peitinhos miúdos, franzina e sedutora,
safada e minha, me aproprio de seu corpo louvando todas as suas maravilhas: não
existem asas nos flancos, só o hálito de sangue, sexo e prazer. (A beleza que
vem de dentro). E eis que suspira esfolada com voz rouca safada, se derretendo
inebriante sob o seu garanhão puro-sangue - a pressão do meu membro contra a
sua pele translúcida de válvula aberta, fantasias delirantes no delta
inexplorado. (O lenço à boca para sufocar suspiros maiores às alturas de um
forno que não há como escapar). Apoio-me em seu dorso para salpicar sua fonte
de areia movediça. E se acende o gozo que se faz luz no meu prazer. Só noite e
gemidos – o bramir das ondas da tesão. Epílogo:
a glória altissonante na satisfação do amor (Romance de Minervina, romance nordestino
procedente do séc. XIX, recriado por Antonio José Madureira para Orquestra
Armorial, Do Romance ao Galope Nordestino) Descalça e nua, faz de
mim seu refúgio: carinha de anjo e olhos nas estrelas, aquele molho de prazer. Ri
como quem habita o céu depois do batismo, crisma e beatificação – riso de sol
no mar -, depois dos gemidos e salmos. Depois do gozo na noite interminável. Resta
espremida exausta quase encolhida nos meus braços: apascentada fera que
cavalgou delícias franziu semblante e se esgoelou inteira a se deleitar com as
minhas investidas pelos terraços, salas e oitões. E pendendo sobre mim no
impulso do afeto, vou retesado arrimo e aprumo. Nada dito: só o flagra do
triunfo. E exulta meu nome cantando louvores. E eu feliz e grato, retomo o
repasto. Um gozo renovado. Revolvidas entranhas e trevas da noite, chega a se
aninhar até dormir em mim com todas as bênçãos e misericórdias para todos os
sacrifícios. (Para a felicidade, todo prazer é doloroso). E, de mão beijada, se
espalha toda sob o bombardeio das carícias a dar conta de tudo que é vida entre
nós. E em paz deita como num repouso seguro, agora e para sempre dentro de mim,
amem. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA (da Primavera de Ginsberg): Uma indagação: pra que tanta lei, meu Deus, se apesar da compulsoriedade jamais será cumprida?
O SUICÍDIO - [...] ser
considerado um sintoma da organização deficiente de nossa sociedade; pois, na
época da paralisação e das crises da indústria, em temporadas de encarecimento
dos meios de vida e de invernos rigorosos, esse sintoma é sempre mais evidente
e assume um caráter epidêmico. A prostituição e o latrocínio aumentam, então,
na mesma proporção. Embora a miséria seja a maior causa do suicídio,
encontramo-lo em todas as classes, tanto entre os ricos ociosos como entre os
artistas e os políticos. A diversidade das suas causas parece escapar à censura
uniforme e insensível dos moralistas. As doenças debilitantes, contra as quais
a atual ciência é inócua e insuficiente, as falsas amizades, os amores traídos,
os acessos de desânimo, os sofrimentos familiares, as rivalidades sufocantes, o
desgosto de uma vida monótona, um entusiasmo frustrado e reprimido são muito
seguramente razões de suicídio para pessoas de um meio social mais abastado, e
até o próprio amor à vida, essa força enérgica que impulsiona a personalidade,
é frequentemente capaz de levar uma pessoa a livrar-se de uma existência
detestável. [...] está na natureza de
nossa sociedade gerar muito suicídios [...] a própria existência do suicídio é um notorio protesto contra esses
desígnios ininteligíveis. Falam-nos de nossos deveres para com a sociedade, sem
que, no entanto, nossos direitos em relação a essa sociedade sejam esclarecidos
e efetivados, e termina-se por exaltar a façanha mil vezes maior de dominar a
dor ao invés de sucumbir a ela [...] que
tipo de sociedade é esta, em que se encontra a mais profunda solidão no seio de
tantos milhões; em que se pode ser tomado por um desejo implacável de matar a
si mesmo, sem que ninguém possa prevê-lo? [...] [...] o suicídio na é mais do que um entre os mil e um sintomas da luta
social geral [...] A opinião é muito
fragmentada em razão do isolamento dos homens; é estúpida demais, depravada
demais, porque cada um é estranho de si e todos são estranhos entre si [...]
Trecho extraído da obra Sobre suicídio (Boitempo, 2006), de Karl Marx. Veja
mais aqui e aqui.
LEONOR – [...] De mãos dadas, durante quinze anos, vaguei eu com Leonor por este vale,
antes de o Amor penetrar em nossos corações. Era uma tarde, ao cerrar-se o terceiro
lustro da sua vida e o quarto da minha: nós estávamos sentados, abraçados um no
outro, debaixo das árvores-serpentes e contemplávamos as nossas imagens
refletidas no espelho das águas do Rio do Silêncio. Nem mais uma palavra
pronunciamos durante o resto daquele doce dia, e na manhã seguinte ainda as
nossas palavras eram tremulas e raras. Do fundo das águas havíamos tirados o
deus Eros, e agora sentíamos que havíamos ateado dentro de nós as almas
ardorosas dos nossos maiores. As paixões que durante séculos haviam
caracterizado a nossa raça acudiam agora de tropel com as fantasias que os
haviam igualmente distinguido e bafejavam venturas e benções sobre o vale de
Many-Coloured Crass. Tudo como por encanto mudou. [...] O encanto de Leonor era o de um serafim; mas
ela era uma adolescente ingênua e simples como a curta vida que vivera entre as
flores. Nenhum artificio marcava o amor que lhe estuava no coração, e ela
examinava comigo os seus mais íntimos recessos, quando juntos passeávamos no
vale de Many-Coloured Crass e conversávamos sobre as notáveis transformações
que nele ultimamente se haviam operado. Um dia, finalmente [...]. Trechos
do conto Leonor, do escritor
norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1840), recolhido da antologia
Maravilhas do conto amoroso (Cultrix, 1961), organizada por Fernando Correia da
Silva. Veja mais aqui.
VIA SACRA – Duro
caminho de chegar à morte! / E dura condição / de ser nele / como eu, /
conjuntamente o Cristo e o Cireneu! / Condenado, / açoitado, / a cair / e a
sangrar / sob o peso do lenho, / se me quero sentir humano e ajudado, / o
recurso que tenho / é cantar como um carro carregado. / É pedir a coragem dos
meus passos / à força dos meus versos. / Versos que são apenas o sudário, /
solidário / e crispado / do meu rosto de carne, desenhado / no chão da
caminhada. / Como ajuda que desse ao próprio corpo / a sombra por ele mesmo
projetada. Poema do
poeta, teatrólogo e ensaísta português Miguel
Torga (Adolfo Correia da Rocha – 1907-1995). Veja mais aqui e aqui.
Art by Ana Padrón
A VERSÃO VERDADEIRA DO CASO NARDONI!!!!
Gente, é o seguinte: Tudo começa quando padre Bidião resolve fazer uma série de clones para representá-lo nos mais diversos acontecimentos em que é requisitado devido sua notoriedade e sapiência. Acontece, porém, que um dos clones se rebelou, tornando-se por artes de magia negra, escura, azarada e dos tinhosos todos dos infernos e Hades, de sair cometendo atrocidades e se envultando logo em seguida. Foi exatamente este clone que numa paranóia entre ficar invisível e se estatelar num concreto armado, Foi parar naquele famigerado edifício London, justo naquela horinha em que o casal Nardoni chegava em casa reclamando com os filhos. Foi aí que ele não agüentando a zoada, tascou um corretivo de nocautear o marido, sacudiu um bruguelo na privada, outro na despensa e, por fim, depois de seviciar e estuprar a dona da casa, quando foi flagrado pela pequenina Isabela, pegou-la pelo gogó e saiu arrastando às porradas e estrangulamento até a grade proteção do quarto, sacudindo a menina de lá de cima para se livrar da pacutia dela. Depois disso, quando voltou para mulher com o fito de concluir o serviço atrapalhado pela garota, viu que a mesma era uma trambolho feiosa muito da ruim e berrou de arrependimento. Com o seu choro de arrependimento logo se envultou e sumiu sem deixar qualquer vestígio nem mesmo uma pista sequer no recinto. Pronto, aí está a verdadeira verdade para inocentar o casal Nardoni do crime que estão sendo acusados. E tem mais: por causa disso a policia intergaláctica está secretamente no encalço deste clone rebelde para desmascará-lo e puni-lo com o rigor da justiça universal. Ponto final, dou fé.
AS CAÇAROLAS DO LOMBRETA-BOCA-DE-FRÔ - Lombreta Boca-de-frô é um respeitável motorista-de-fogão. Menos. E com licença da má palavra, o cabra é mesmo um mestre-cuca da porra! Foi ele quem ensinou a Ana Maria Braga a cozinhar quando teve um affair com a distinta, levando um chute na bunda porque era metido a galante e preguiçoso demais. Foi também mestre de sujeitinhos reles como Álvaro Rodrigues, Edu Guedes, Olivier, Daniel da Band e de outros menos renomados e mais elitizados cozinheiros do planeta. Não fosse ele achegado a um pai-de-santo, um chibiu disponível e uma conversa-mole, seria ele hoje, sem sombra de qualquer dúvida, o maior culinarista do planeta. E só não é porque ele mete as mãos pelas pernas e finda todo atrapalhado com problemas de ordem familiar, religiosa e social. Mas, sem mais delongas, desta vez ele sapeca a bondosa iniciativa de trazer a primeira receita do seu primoroso acervo alimentar. Trata-se – atenção marmanjos!! - do Prândio Selistérnias! Alguém conhece ou já ouviu falar? Nunca, nunquinha, meu fio! Apois, aprume a conversa e meta as catanas: 1 saco de 5kg de arroz, 1 saco de 1kg de feijão, 2 pacotes de espaguete, 5 kg de filé mignon e l garrafa de 5 litros de Moet Chandon. Regabofe suntuoso, né? Mas pode ir se aquietando que quem tem boca grande não entra. Ele só recomenda este prestigioso banquete para o cidadão endinheirado acompanhado somente de 5 mulheres. Claro, pra quem aprecia, salienta ele, é bom saber de antemão que mulher come como a praga, viu? Isso quem diz é ele, apenas treanscrevo aqui. E cinco mulheres juntas, já viu! O segredo está em tudo ser mal-passado e que as mulheres, segundo exigência dele, devem estar impecavelmente vestidas, porém, sem calcinhas, entenderam? Por que? Pergunte a ele. Porque foi justamente por causa duma comilança dessa quando a distinta esposa do apaideguado estava viajando e retornou antes do dia aprazado, que ele foi jogado fora de casa pendurado pelas orelhas e sacudido nos cafundós de Judas afora pelo flagra. Ah, quer mais? Veja mais das Caçarolas do Boca-de-frô!
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Confissões
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do Biritoaldo: Quando as mazelas dão
um nó, vôte! A bunda de fora parece mais tábua de tiro ao alvo aqui.
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Leitora
parabenizando o Tataritaritatá!
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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