A arte dartista plástica Maria
Helena Nemer Salles.
LITERÓTICA: MINHA – Enquanto
o sol irradia na claridade da manhã, mais te quero minha, minha diva do meu
amor desmedido. E mesmo que esteja nublado ou chuvoso, meu coração se aninha
cada vez mais ávido para esquentar tua sanha e ver-te em flor radiante e minha
sempre minha adoravelmente minha. Eu te sonho sempre minha e inteira no meio da
minha solidão exaltada que sonha provar com meu apetite contumaz da sedução do
teu olhar carente e me deixa fascinado com teu jeito manhoso de te entregar. E
vou me entregar à tua boca indecorosamente sedenta com teus lábios sugadores
implacáveis e entreabertos para a volúpia de todo meu ser enquanto sou
provocado pela lambida obscena de tua língua que acaricia meu polegar nos
arrepios de nossas almas. És minha e vou embarcar na sinuosidade do teu corpo
de beldade devoradora como quem é contemplado por doses generosas do teu
prazer, desfrutando da excitante viagem que faz bonito na apoteótica cena
strip-tease de tua dança depravada que vem exalando sensualidade por todos os
teus poros na pose do meu ensaio privado, na febre que me atormenta pela gula
de tua majestosa expressão de deusa no panteão do sexo extremo. Ah! Sou teu
escravo e tu és minha e almejo me agarrar no traçado do desejo pela lindeza
extrema de tua exuberante geografia que é pura devassidão desde o decote
escandaloso até a compleição mais altaneira de tuas pernas coxas e sexo
enchendo minha boca de saliva pro doce mais gostoso. Eu vou me fartar de tua
suculenta emanação que rivaliza com toda a beleza do mundo e te deixar
ensandecida pin-up ousadíssima stripper pervertida rainha sodomita de toda
minha perversão sexual. Eu vou contracenar com o teu corpo lindo e magistral
protagonizando o mais audacioso furacão de desejo do meu grosso calibre que te
penetrará em cima do lance, bem devagar, tímido e possesso numa ousadíssima
intervenção do meu querer enlouquecido preso pelo tronco por tuas pernas na
cara do gol enquanto eu na banheira de tua grande área fazendo estripulias para
teu prazer. És minha, deusa-mulher, e eu te venero a cada estocada que derrama
o meu gozo para que o teu gozo seja pleno e real. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA - Do
seio da terrível miséria física e moral deste tempo sem dó ou ventre espera-se
sem desesperar ainda que energias rebeldes a toda domesticação retomem pela
base a tarefa de emancipação humana. Pensamento do escritor francês André Breton
(1886-1966). Veja mais aqui e aqui.
SER HUMANO - [...] nada é mais surpreendente ou assombroso do que os seres humanos. Nós não
somos diferentes nem distintos dos outros animais. Não somos deuses que possuem
o direito de destruir nosso mundo ou outros, mas somos criaturas raras e extraordinárias
em evolução neste planeta. Somos impressionantes explosões de sonho e matéria. Nossas
mentes são tão complexas quanto o Grand Canyon. Nossas necessidades, tão
persistentes quanto a quentura do inverno. Nossos desejos, tão densos e
voluptuosos quanto os oceanos. Nós somos prodígios naturais. [...]. Trecho
extraído da obra Uma história natural do amor (Bertrand Brasil, 1997), da
escritora e naturalista estadunidense Diane
Ackerman. Veja mais aqui e aqui.
SOMOS TODOS ESTRANGEIROS - Estrangeiro é o bairro em que moramos, estrangeira é a
mulher que encoxamos no elevador, estrangeiros são nossos pais, nossos filhos.
Nunca me senti em casa no Brasil, ninguém está em casa no Brasil: todo mundo
foi até a esquina, todo mundo foi tomar um cafezinho. Achava que, de uma
maneira ou de outra, eu estava embromando ou sendo embromado por alguém. Que
viver não era nada daquilo, que eu não tinha nada com o peixe, que os
verdadeiros brasileiros estavam misteriosamente ocupados com seus sofrimentos,
ou então atarefados criando um Brasil melhor: gente andando rapidamente nas
ruas da cidade, ou cavando uma terra dura e ingrata. Os brasileiros eram
abstratos, distantes, mais calados do que comumente se supõe. Conheço algumas
vozes brasileiras: gostaria de saber escrever na tonalidade do Jorge Veiga, ou
do Moreira da Silva, misturada a uma retórica aborrecida e às avessas
semelhante à de Ruy Barbosa — como o Hino à Bandeira acompanhado de caixinha de
fósforos. Os sambinhas, claro, eram brasileiros, o pessoal que sentava ao meu
lado no Maracanã era brasileiro, as piadas de papagaio eram brasileiras. Mas
tudo era de mentirinha, beirando sempre o pitoresco ou se precipitando na
tragédia policial ou no editorial dos jornais. A vida a sério, os seis
quarteirões em que me locomovia, as seis pessoas com quem convivia não eram,
digamos assim, bem brasileiros — assim como eu, tinham máquina fotográfica a
tiracolo e camisas com palmeiras. Em tudo que eu engolia ficava uma ponta de
tradução atravessada em minha garganta: os filmes com legendas em português, as
histórias em quadrinhos, os livros, as notícias; os foxes. Éramos uma versão
pobre do que a vida deveria ser — e a vida vinha sempre em inglês, em francês,
em alemão. Mesmo quando dizia “eu te amo”, ou “não me chateia”, eu me sentia
vagamente ridículo, apropriador — feito um homem de série da televisão mal
dublado: minha boca fechada e as palavras ainda saindo, um ventríloquo com
descontrole psicomotor. Reconheci, pelo paladar, pelos olhos, certos molhos,
certas bossas tipicamente brasileiras (o problema é que eram típicos):
feijoada, dendê, folha seca de Didi, Noel Rosa, escola de samba. Mas a
essência, a parte que tratava de mim (nos meus seis quarteirões, na cidade no
sul do país) e de minha relação com os severinos todos, essa parte era sempre
tratada em outra língua; eu pertencia aos estrangeiros, foram eles que me
disseram como vim a fazer parte ou como nunca fiz parte. Eu era, como todo
brasileiro, um improvisador, um adaptador, um tradutor, conseqüentemente um
traidor — porque eu olhava para a cara de meu semelhante e não sabia como
poderíamos nos entender, o que ele tinha a me dizer, o que eu poderia lhe
dizer, como juntos conseguiríamos nos salvar. No entanto, o tempo todo, eu era,
eu sou, apenas mais um João, só que em russo. Não consegui, como tanta gente de
minha geração ou mais moça do que eu, me interessar pelo folclore caboclo. A
própria palavra folclore já leva embutido um desaforo urbano. No entanto,
achava que o setor, devidamente estudado por profissionais competentes, me
seria útil, me forneceria, por exemplo, dados para escrever com justeza para um
público moço que vive de cinema, disco e que sabe, curiosamente, que há uma
tremenda safadeza, uma violência no ar. Não lia, portanto, O Negrinho do
Pastoreio — o que já preparava o terreno até para eu deixar de ler Machado de
Assis ou Dalton Trevisan. Comprava pocketbooks, que eram mais baratos, mais
engraçados, e, de certa forma, sobre mim, a meu respeito. Preocupado comigo
mesmo, com esse “meu respeito”, descobri-me sozinho no meio da avenida
repetindo eu... eu... eu... como um pronome enguiçado que não consegue engatar
a segunda e a terceira do singular. Perdi os joões, os josés, os severinos, vim
para o original, o estrangeiro, dando início a uma certa paz, tranqüilidade, a
noção de ordem: as legendas acabaram, sou finalmente, completamente, um
estrangeiro. Posso agora conjugar-me no plural, dizer nós. Somos todos
estrangeiros, sois todos estrangeiros, são todos estrangeiros. Não há nada a
fazer a não ser descobrir esse estrangeiro que há na gente. Daí então a gente
começa a falar brasileiro, coça o saco, conta como é que é. Daí então o papo,
aquele papo, pode começar. Só que agora pra valer. Extraído da obra O melhor do Pasquim
(Desiderata, 2006), do escritor e jornalista Ivan Lessa (1935-2012), organizado pelo
jornalista Sérgio Augusto e Jaguar.
MUSA DA SEMANA: GRETA BENITEZ - Greta Benitez é uma linda poeta curitibana que é formada em publicidade e pós-graduada em marketing.
É autora do livro Rosas Embutidas – Premio Jorge de Lima – Brasil 500 Anos, concedido pela Academia Carioca de Letras e União Brasileira de Escritores, 1999. Também é autora do livro Café Expresso Blackbird, em 2006.
Poeta premiadíssima no Brasil e no exterior, ela já foi selecionada para diversas antologias. Também já foi a poeta do mês do Guia de Poesia. Eis alguns dos seus poemas:
Estou pronta pra tudo que você imagina.
Deixei minha inocência na pior esquina.
-*-
Envolvimento
Cantora africana
balança o movimento do carro
Trilha sonora de paisagem urbana
Violão se funde com motor
Num insólito e sonoro caso de amor
-*-
Check-In
Não me importa entrar pela porta arabescada
Do desespero
Descer
Inferno
Destempero
Desequilíbrio
Certas cordas sem rede de proteção
Fogo
Carvão
Súcubos
Exus
Sereias amaldiçoadas, super-heróis do avesso
Nada disso me assusta
Se tiver certeza de que na saída
Eu estarei do lado de fora esperando por mim.
-*-
Era ninfeta
chinesa
freira.
Agora, passada a bebedeira
não é hora de
escolher
e ser?
-*-
Mercado Municipal
Encontrei na minha bolsa antiga um papel onde estava escrito:
Lã
Quimono
Pomba-gira
Gato
Moço ao pôr-do-sol
-
Seria uma lista de compras?
-*-
A cereja te deseja.
Você sabia?
Com sua volúpia vermelha
seu brilho indiscreto
embriagada de marasquino
ela já não mede conseqüências.
Hoje ela se sente perigosa
e na fogueira da sua alma
abusa dos sentimentos mais doces.
E até ela se escandaliza
descobrindo que é capaz de tudo
até vestir veludo
salto alto e trilha sonora
para ter você
agora.
-*-
Cílios eletrônicos
Milhares de homens atônitos
Sexo explícito dentro dos ônibus
-*-
Essas Estranhas Mulheres da Cidade
Essas santas
Suas seitas
Essas santas desfeitas
Santas ao contrário
Mulheres eleitas
Loucas pelo avesso
Enfermeiras
Velhas sereias
Vagam
Loucas pelos desertos da cidade
Doméstica desolada
Mulher de negócios apaixonada
As loiras de farmácia
E as morenas neuróticas
Mulheres da guarda-chuva atravessam a rua
Mulheres gripadas
Mulheres de salto alto
Botas, lenços, batom escandaloso
Mulheres à luz do sol
Essas deusas dançam
O tango do trânsito
Mulheres fatais
Sangue quente, cristais
Mulheres procurando seu cenário
Mulheres saindo do camarim
Todas elas dizem sim
Amigas do Marquês de Sade
Desfilam no meio da tarde
Essas estranhas mulheres da cidade
Mulher-dama
Dominatrix
Mulheres do norte
Mulheres que eram homens
Mulheres sabem a verdade
Essas estranhas mulheres de cidade.
Ela é editora do site Poesia Insana e do blog Chocolate Amargo.
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