terça-feira, maio 13, 2008

PERLS, EMERSON, DOSTOIÉVSKI, EUGÉNIO DE ANDRADE, MARIA KREYN & DORO

 
A arte da pintora russa Maria Kreyn


AS TRELAS DO DORO: OLHA A CHEUFRA! - Doro estava indignado arreando o sarrafo no aumento dos remédios, na virada de casaca dos políticos, no MST por não ter deixado ele viajar interrompendo a pista, nos ruralistas porque todos são uns mãos-de-figa, no mestre castanheiro da padaria que só faz pão murcho e ruim, na cega-Dedé sei lá porque, no diabo a quatro, no escambau, quando, de repente, passa a frochosa Juremilda toda reboladeira, só no gingado da safadeza, aacendendo logo o bordão do melepeiro que desconversa: - Ainda papo essa pinica! - Que é que é isso, Doro? -, ameacei em cima da bucha. - Ôxe, essa nega tá me chamando de banguelo! Eu vou papá-la, ah! se vou! -, alisou a pança como quem vai se abarrotar de comida. Nessa hora, a patroa dele surpreende: - Quié, Doro, quié qui tu tais todo meleguento, hem? - Fubica, mulé, fubica! Carro véio, mandú que esse home qué qui eu venda, mulé! - Hum, teu sá´ tá si pisano, viu forgado! - Eita, mulé pra querê mim inchê o saco, ora! Tais veno qui tô fazeno negóço cum distinto aqui, mulé! Te ocupa, mulé, vai arrumá lavage de rôpa, ora! - Teu nó tá s´apertano, num digo nada! Tô só avisano, cabra ruim. A distinta esposa dele deu meia volta e saiu bufando. Ele quase teve um troço quando sentiu o peso do flagra no toitiço. E ainda reclamou: - E tu num mi diz nada, home? - Eu não vi, Doro, ela chegou de repente! - É, quagi qui ela me péla no maió fraga min s´inxirindu prá reboculosa, podi? - É, meu amigo, quem muitas pedras mexe, uma lhe cai na cabeça. - Tô fora! - Cuspiu pra cima e não saiu debaixo: o cuspe cai na cara! - Ih! O homi tá infilosofando hoji. Vôte, tô fora! E arribou. Deu sumiço mesmo. Só sei que ele andava maquinando como lavar-a-jega na Juremilda. Quase que dá um nó juízo de tanto fumaçar o quengo numa estratégia das bem feita para se encostar na pretendida. A mulher dele na cola, nada de dar brecha pra pulada de cerca. Ora, só havia uma saída: na hora que a sua madame fosse para a missa de crente. É. É que ele desabufelado da vida, casou-se com uma crente, a Marcialita. Uma santa, diga-se de passagem. Para aguentar um faroso desse, tem que ser santa mesmo. Pois foi, na hora que a Marcialita escafedeu-se pras orações, Doro ficou brechando a passada da Juremilda. Na hora agá, lá vem ela. Aí ele dá um pinote na frente da rabuda e tasca a cantada mais chué da paróquia. - A mocinha num tá a fim de fazê uma faxina no meu pardiêro não? - Quano? - Oxente, aminhã de noite, às sete, pode? - Ondi já si viu faxina de noite, homi? - Ora, num adisconversi, diga qui sim e aminhã de noite se aprochegue toda cherosinha cum profume de mulé perdida qui eu tô doido para moiá o biscoito cum ocê! - Ije, cuma ele tá! isso assobe mermo ou é dipindurado só pra infeite? - Ói, aqui, sua danida, o negóço tá é cresceno pra sua banda e num caçôi não qui eu lhi pego agora mermo, sua diabinha xôxa! - Ôxe, home, s´ajeite qui meu marido vem ali... E vinha mesmo. O cara já sentia cheiro de gaia nos ares. Andava vasculhando por onde a mulher ia para afastar os pinguceiros que quisesse meter o dedo na sua sopa. - Chá pra casa, mulé! - Ó, meu amigo, eu taba pabulano com a sua madama aqui, pra ela vim fazê uma faxina aqui im casa qui a minha mulé tá sem pudê dá conta, sabe. Incrusivel, vô acertá cum minha mulé e aminhã di noite eu digo pra sinhora quano é a faxina, certo? - Tá certo, Doro. - Aminhã quano ela passá, dona Marcialita fala cum ela. Bas noite. - Bas noite, companhêro. Mal o cara deus as costas com seu bufado sinistro, Doro alisou uma mão na outra e gritou: - Olha a cheufra!!!!! Um dia, dois, nada de espaço pro Doro afogar-o-ganso na Juremilda. Quando não era a Marcialita, era o corno ingriziento. O cara já estava endoidando de tanta armação e nada dar certo. Ocorre, porém justo quando ele está armando o plano G de suas tentativas, chega Marcialita de sopetão e grita: - Vô aminhã im Batiguara. - Fazê o quê, mulé? - Arricibi indagora um recado da minha mãe qui qué falá cum eu. - O que aquela véia sogra qué cuntigo, mulé? - Num sei, é minha mãi e eu vô aminhã cedinho. - Vôte, vô na ruduviára agora vê se tem passage. - Num pricisa, vô de cata-côrno comum. - Intonse vô falá cum Pedim-do-pade pr´ele ti levá. Chego já. Doro saiu voando, ao invés de falar com o motorista da lotação, foi direto para a casa de Juremilda. - Ô di casa! - Ô di fora! -, era o marido dela atendendo. - O sinhô faizi favô di dizê à sua distinta isposa, que a minha patroa istá isperano ela aminhã di minhã pra fazê faxina lá in casa. Eu vim dá o recado logo qui vô tê qui ir im Batiguara arrisolvê uns probreminha e só chego a noite, podeno a sua patrôa ficá cum a minha fazeno o sirviço. - Qui hora pra tá lá? - Sete e meia pra oito hora, tá bom? - Ela tará lá. - Obrigado e bas noite. - Bas noite. Doro saiu mais ancho do que nunca e foi caçar Pedim-do-Padre pra pegar a Marcialita até as sete da manhã. Não achou. Ih. Parece que o negócio estava gorando de novo. Quando ele chegou em casa mais de meia noite, a consorte já estava dormindo. Arranchou-se ao lado dela e roncou a noite toda. De manhã quando acordou, o canto estava mais limpo. Marcialita já tinha ido. Ele saiu pelos quartos averiguando tudo, quando percebeu que ela havia levado também os meninos. O cara estava sozinho. Às sete e trinta e cinco, bei bei, na porta. Quando ele abre: Juremilda! - Eita, nega jeitosa da gota. Se aprochegue minha safadinha qui hoji eu vou lavá a égua direitinho! - Ôxe, homi, se aquieti qui sua mulé é braba! Quando ela atravessou a porta que entrou na sala, Doro passou as chaves e fechou os postigos todos e se virou para Juremilda: - Hôji você si vira nos trinta, fogosinha, que eu vou champrá-la inté di noite! Tira a rôpa qui lá vai ferro! Vôte, o fungado passou meio dia, entrou pela tarde e só parou porque o corno chegou lá pelas seis para levar o seu dicomer para casa. Ela demorou e saiu toda se ajeitando e foi-se. Mal Juremilda dobrou a esquina, chega Marcialita bufando. Entrou e foi logo pra cozinha preparar o café para todos. No meio disso, enquanto puxa um prato do escorredor, encontra um par de brincos estranho. - Di quem é isso aqui, seu sem-vergonho? - Num sei... - Quem teve aqui. - Ninguém. - Cê uma hora dessa im casa, tem coisa. -, ela dizia isso enquanto aguçava o nariz para sentir cheiros suspeitos -, teve mulé aqui, tô sintino, a cama tá disforrada, tô sintino, cadê ela, a cadela, cadê-la!! - Num tem mulé ninhuma aqui, ora, cê tá se auto-enlouquecendo mulé! - Si num tem mulé, teve, tô sintino a catinga de rapariga na casa! Tem chêro de puta aqui! E mal o tempo fechou com chuva de panelas, caçarolas e penicos, bate na porta alguém. Quando Doro na carreira de sair bota o pé do lado de fora, estava lá o corno querendo satisfação! Estava na hora do circo pegar fogo. Doro fechou a porta na ligeireza do ato e procurou saber o que o distinto cavalheiro desejava. - Minha mulé chegou toda istranha, perdeu os brinco, chegou cum sono e toda mole sem querê sabê de eu. - E eu com isso? - Cê num butou gaia em mim não, num foi? - Meu amigo, eu nem tava em casa, cheguei agora cum a mulé braba virada na gota! Além do mais, num sô homi de tá fazeno papé safado cum ninguém, principalmente o sinhô qui é distinto e é amigo meu. - Pois tô disconfiado qui minha mulé tá botando duas de quinhento em mim. - Tá nada! Tire isso da cabeça, homi, sua mulé é uma mulé decente, trabaiadeira. - É verdade. Num guento mais esse ciúme. Vô terminá matando um ou ela mermo, sem tê curpa no cartóro. É ocê mi convenceu. É milhó ir pra casa e cuidá da minha mulezinha. Bas noite. - Bas noite. Quando o cara dobrou a esquina, Doro gritou: - Óia a cheufra!!! Vai ter circuito já já, corno enganchano as gaias nos fio de alta tensão. Ora se vai, qué vê? © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.


PENSAMENTO DO DIASeja como você é. De maneira que possa ver quem és. Quem és e como és. Deixa por um momento o que deves fazer e descubra o que realmente fazes. Arrisque um pouco, se puderes. Sinta seus próprios sentimentos. Diga suas próprias palavras. Pense seus próprios pensamentos. Seja seu próprio ser. Descubra. Deixe que o plano pra você surja de dentro de você. Pensamento do psicólogo, psicoterapeita e psiquiatra alemão Friederich Salomon Perls (1893-1970). Veja mais aqui, aqui e aqui.

MENTE & MATÉRIA - [...] Esta relação entre a mente e a matéria... é o problema que provocou o espanto e o estudo de cada gênio refinado desde os primórdios do mundo; desde a era dos egípcios e dos brâmanes, até àquela de Pitágoras, de Platão, de Bacon, de Leibniz, de Swedenborg. Lá está a Esfinge deitada à beira do caminho e, de tempos em tempos, conforme cada profeta chega, ele tenta sua sorte na leitura de seu enigma. [...]. Trecho extraído da obra Uma seleção de Escritos de Ralph Waldo Emerson (Modern Library, 1968), do escritor e filósofo estadunidense Ralf Waldo Emerson (1803-1882). Veja mais aqui,

NOITES BRANCAS – […] - Apoie-se no meu braço -, disse eu à desconhecida. Ela, sempre calada, passou sob o meu braço a mão ainda trêmula de medo. Oh! Como eu bendizia o importuno! Lancei um rápido olhar à jovem. Tinha ainda os olhos úmidos de lágrimas; mas os lábios sorriam. Olhou-me furtivamente, corou um pouco e baixou os olhos. [...] Nenhuma mulher digna deste nome, que não fosse uma tola ou estivesse num momento de mau humor, ousaria recusar-lhe as duas palavras que implora. No entanto, quem sabe? Talvez o tomassem por louco. Julgo só pelos meus sentimentos – pois não ignoro como se vive e sofre neste mundo... [...]. Trechos do conto Noites brancas – primeira noite, do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821 - 1881), recolhido da antologia Maravilhas do conto amoroso (Cultrix, 1961), organizada por Fernando Correia da Silva. Veja mais aqui.

A PALMEIRA JOVEMComo a palmeira jovem / que Ulisses viu em Delos, assim / esbelto era o dia / em que te encontrei; / assim esbelta era a noite / em que te despi, / e como um potro na planície nua / em ti entrei. Poema do poeta português Eugénio de Andrade (1923-2005). Veja mais aqui.


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