Ao som dos álbuns Liszt: Piano
Sonata & other works (Hyperion Records, 2015),
Bach: The Art of Fugue (Hyperion Records, 2014), Bach: Flute Sonatas
(Hyperion Records, 2013), Fauré: Piano Music (Hyperion Records, 2013), Debussy:
Solo Piano Music (Hyperion Records, 2012) e Bach: Angela Hewitt plays
Bach (Hyperion Records, 2010), da pianista canadense Angela Hewitt. Veja mais aqui.
OITO PRAS ONZE....
– De onde venho quase nem sei mesmo. Tudo é tão vertiginoso e qualquer lugar
ardia com a cor do fogo: a todo instante a surpresa da primeira vez. Fui até
hoje canoa de rio desgarrada, como se correntes fossem emporcalhadas pela
loquacidade de indecifráveis apostadores e previsíveis alcaguetes – sorteios e
apostas na ordem do dia, chamada dos arautos do horror - como se tudo fosse
obra do acaso que não existe. O que estou fazendo aqui quase tão extenuado
quanto errático, pegando carona no tempo e a padecer desde que passei a me
entender por gente: como todos fui infante, escravo das horas e normas - a
escuridão era minha ruína. Todo dia pensava em parar de vez, como se
conseguisse; dali a pouco, ingenuamente relutava como quem esquecia das
lapadas, como se nada tivesse acontecido, coisa de quem nunca aprendia: todo
dia a maldição da estaca zero. E tanto esmerava na curva dos dias, tão
imperfeito quanto de quase nem precavido: se tinha de perder a parada, saía
fora tão inútil e a levar do zero entre oito a oitenta, batia nos oitocentos e
insistia senão aos oito mil, milhões, zilhões, quer fosse negativo ou positivo,
o ápice das possibilidades. Ué! Sim, bastava amanhecido já de pé pronto pro que
quer que viesse – mesmo redundando de sequer ter saído do lugar inicial. E me
reajeitava o quanto podia e não via a hora de vingar o que contaminou e não, o
que o calendário devorou, afetos perdidos, perdas irreparáveis, elos partidos,
ausências doloridas, vísceras expostas. E me valia de que os mortos não
descansavam em paz, apenas estavam livres das insuportáveis dores da vida e porque
foram muito antes enterrados vivos. Pra onde vou a cada amanhecer pronto para
outra em pleno voo do previdente ao irremediável, do modesto ao excêntrico,
entre o assombro e a palidez. Fiz força na fé, ô-lá-lá, malgrado o meio dia, arrebatado
pelo que vi demais e de novo porque foi sempre como se fosse pela primeira vez.
E de tão comum me dei por felizardo: um mortal diante da onipotência ubíqua e
as imposturas da finitude. Onde houver vida ainda existirei. Até mais ver.
Pelo que se diz e
nunca dito:
Silvina Ocampo: Quando você escreve, tudo é possível,
até o oposto do que você é... Veja mais aqui.
Beatrix Potter: Não podemos ficar em casa a vida toda, devemos nos apresentar ao mundo e devemos encará-lo como uma aventura... Veja mais aqui.
Assia Djebar: Às vezes, tenho medo de que esses
momentos frágeis da vida desapareçam. Parece que escrevo contra o apagamento...
Veja mais aqui.
&
Trabalhe
duro em silêncio, deixe o seu sucesso ser o seu barulho...
- Pensamento da escritora e jornalista britância Gill Hornby.
UM POEMA
Quando estou frustrada com o poder do ditador, \ Sento em minha casa e escrevo. \ Quando o futuro do Uganda me enche de pavor, \ Pego minha caneta e escrevo. \ Quando não há soluções fáceis à vista, \ Eu divido os desafios escrevendo. \ Quando o orçamento do mês é pequeno, \ Pego papel e caneta para reescrever. \ Quando minha mente ameaça explodir como dinamite, \ Eu me acalmo escrevendo.
Poema da antropóloga médica, poeta,
feminista e ativista ugandense Stella Nyanzi, que foi presa em 2017 por
insultos ao presidente de Uganda, exilada na Alemanha. Em 2009, ao recusar o
convite para lecionar no programa de doutorado denominado Mamdani PHD Project,
seu escritório foi fechado e, num exemplo da prática cultural feminista da
África Ocidental, fez um protesto nua contra o seu chefe. Após sua prisão em
2017, ela foi suspensa da Universidade Makerere, recorrendo da decisão junto ao
tribunal de apelação que determinou que ela fosse reintegrada, promovida ao
nível de pesquisadora com efeito imediato e reembolsado os salários. A
universidade recusou-se a acatar a decisão do tribunal e ela entrou com uma
ação contra a universidade solicitando reintegração e salários atrasados. Em
resposta, em dezembro de 2018, a universidade demitiu-a, juntamente com outros
45 acadêmicos, argumentando que o seu contrato expirou. A partir de então
passou a praticar “grosseria radical”, que é uma estratégia tradicional de
Uganda de responsabilizar os poderosos por meio de insultos públicos. Em 2017,
Nyanzi referiu-se ao Presidente Museveni como “um par de nádegas”. Por conta
disso foi presa e detida na Esquadra de Polícia de Kiira sob a acusação de
assédio cibernético e comunicação ofensiva. No mesmo ano, os médicos do
Hospital Butakiba foram convocados para a realização de um exame de avaliação
psiquiátrica para determinar que ela estava louca, como alegou o procurador do
governo. No entanto, ela resistiu ao exame e solicitou que seu médico pessoal e
pelo menos um membro da família estivessem presentes caso quisessem fazer um
exame médico nela. Enfim, foi libertada pagando fiança e detida novamente no
ano seguinte. Em 2019 sofreu um aborto espontâneo na prisão, sendo seu
julgamento adiado, ocasião em que ela expôs os seios em protesto contra uma
sentença. A imprensa internacional a chamou de "uma das mais proeminentes
ativistas dos direitos de gênero da África", "uma acadêmica líder no
campo emergente dos estudos queer africanos", e uma líder na luta contra
"leis repressivas anti-queer " e por "liberdade de
expressão". Várias instituições internacionais condenaram sua prisão como
uma violação aos direitos humanos e liberdade de expressão. Exilou-se na
Alemanha por meio de um programa de escritores, administrado pela PEN Alemanha.
Ela é autora das obras No Roses From My Mouth (2020), Don't Come in My Mouth: Poems That Rattled
Uganda (2021) e Eulogies
of My Mouth Poems For A Uganda envenenada (2022).
TERNA É A CARNE
- [...] O ser humano é a causa de
todos os males deste mundo. Somos nossos próprios
vírus. [...] Dar aos filhos o
nome de seus pais é despojá-los de uma identidade, lembrando-lhes a quem
pertencem [...] Não entendo por que o sorriso de uma pessoa é
considerado atraente. Quando alguém sorri, está mostrando seu esqueleto [...].
Trechos extraídos da obra Tender Is the Flesh (Scribner
Book Company, 2020), da escritora argentina Agustina Bazterrica, também autora da obra Cadáver
exquisito (Darkside, 2022), no qual expressa que: [...]
Ele tentou odiar toda a
humanidade por ser tão frágil e efêmera, mas não conseguiu continuar porque
odiar a todos é o mesmo que odiar ninguém. [...] Ensinar a matar é pior que matar [...]. Entre suas obras
ainda constam Matar
a la Niña
(2012) e Antes del encuentro feroz (2016), bem como autora da frases: Sempre
acreditei que na nossa sociedade capitalista e consumista, devoramo-nos uns aos
outros.
ACREDITE EM ANIMAIS SELVAGENS – [...] Uma
coisa eu entendi: o mundo está desabando simultaneamente em todos os lugares,
apesar das aparências. O que há em Tvaïan é que vivemos conscientemente nas
suas ruínas. [...] Digo que você mesmo não sabe o que sempre te leva a
ir mais longe. Talvez eu concorde. Ou talvez esteja no reino do indizível. Ou o
intraduzível. [...] Penso em todos
aqueles seres que mergulharam nas zonas obscuras e desconhecidas da alteridade
e que voltaram, metamorfoseados, capazes de enfrentar “o que vem” de uma forma
inusitada, estão agora com o que foi confiado no fundo do mar, no céu, debaixo
do lago, na barriga, debaixo dos dentes. [...] Trechos extraídos da obra Croire
aux fauves (Verticales, 2019), da antropóloga e ensaísta francesa Nastassja
Martin, que em sua obra In the Eye of the Wild (New York Review of Books, 2021) expressa que: [...] Há anos que
escrevo sobre fronteiras, sobre a margem, sobre liminaridade, sobre a área
fronteiriça, sobre os dois mundos; sobre este lugar tão especial onde é
possível encontrar um “outro” poder, onde se corre o risco de se alterar, de
onde é difícil voltar atrás. Sempre disse a mim mesmo que não deveríamos cair
na armadilha do poder mágico e encantador. O caçador, impregnado dos cheiros de
sua presa e depois de vestir suas roupas, modula sua voz para adotar a dela e,
ao fazê-lo, entra em seu mundo, mascarado, mas ainda ele mesmo sob a máscara.
Aqui está a astúcia, aqui está o perigo. A questão passa a ser: ser capaz de
matar para voltar – para si mesmo, para a sua família. Ou: falhar, ser engolido
pelo outro e deixar de estar vivo no mundo humano. Escrevi essas coisas no
Alasca; Eu os experimentei em Kamchatka [...] Naquela noite escrevi
que devemos acreditar nos animais selvagens, nos seus silêncios, na sua
contenção; acreditar no estado de alerta, nas paredes brancas e nuas, nos lençóis
amarelos deste quarto de hospital; acreditar no afastamento que trabalha o corpo e a alma num não-lugar que
tem para si a sua neutralidade e a sua indiferença, a sua transversalidade. O informe torna-se mais claro, toma
forma, é redefinido silenciosamente, brutalmente. Enxerto de mesclagem de mistura de
reinnerva desinerve. Meu corpo depois do urso depois de suas garras, meu corpo em sangue e sem
morte, meu corpo cheio de vida, de filhos e de mãos, meu corpo em forma de
mundo aberto onde múltiplos seres se encontram, meu corpo que se repara com
eles, sem eles, meu corpo é uma revolução [...]. Ela também é autora das obras Les
Âmes sauvages: face à l'Occident, la résistance d’un peuple d’Alaska (La
Découverte, 2016) e À l'Est des rêves (La Découverte, 2022).
SEMANA HERMILO
Pensamento do
advogado, escritor, crítico literário, jornalista, dramaturgo, diretor,
teatrólogo e tradutor Hermilo Borba Filho (1917-2017). Veja mais aqui,
aqui e aqui.
UM OFERECIMENTO:
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