Ao som do álbum Brazilian Landscapes (OUR Recordings, 2017),
da flautista dinamarquesa Michala Petri, da percussionista Marilyn
Mazur e do violonista Daniel Murray. Veja mais aqui.
PEDAÇO DE CHÃO,
CORAÇÃO ESTELAR... - Julho abriu-se como uma carta secreta
que não escrevi e o espelho refletia outra face puxando conversa, era Edna St. Vincent Millay: Para a escuridão eles vão, os sábios e os amáveis... Nem nenhoutro era, apenas
como se revivesse o primeiro poema que cometi feito de
cinzas sobre meus músculos e uma dor aguda coração boca afora, voz da manhã de
outro dia que não sei se ainda virá ou se já passou tarde demais. No segundo
verso uma estrela caiu no rio com uma chuva de meteoros e exoplanetas, o Sol do
futuro aos meus olhos era o espetáculo do presente. Não era mais menino nem
sentia saudade alguma, Deus morava logo ao lado e parece, não sei, que se mudou
anteontem. Era o que diziam os meus mortos que sorriam ao aceno da outra margem,
quando eu desacreditava de tudo e não sabia nada ao crepúsculo das queimadas
chãs. A fumaça me fez nuvem no pico da montanha à deriva dos ventos por todos os
abismos dos devires. Restava a neblina e Jean Stafford: Apaixonar-se não é um mergulho
abrupto; é uma descida gradual, raramente em linha reta, mais ou menos como a
descida de um paraquedas. E a expressão é imperfeita porque embora alguém possa
cair, também levita... Me
apaixonei por Calígula e agora sou casada com Calvin... Sorria uma e mais três coisas
me dizia: que eu era um beco sem saída no fim do mundo daqui, desregrados
sentidos nas clandestinas paisagens de dar voltas mundafora e a morte ao fim do
dia. Pisei o assoalho de pedras falsas e era para quem chegou antes ou depois e
o jamais visto. Era ela no quarto como se um barco fosse o arco das ondas e os
farrapos de sonhos entroutras e mais uma - prolegômenos para quem teve arrancada
a raiz, a se equilibrar espremido por nenhuma multidão de medrosos,
interesseiros, realizados individuais em torno da amnésia geral, talvez
censores fantasmas que jogavam pra lá quando não havia mais utilidade ou findasse
servil de vez, cada qual uma ilha distante, isolada, saqueada. Ouvia na solidão Nancy Farmer: O objetivo é nunca desistir, mesmo se você estiver caindo de um
penhasco. Você nunca sabe o que pode acontecer no caminho para o
fundo... Era cartoutra
e se deu certo ou não, sonhos se realizaram ou, melhor, viraram pesadelos, perdi
tempo ou valeu a pena, ou só se queria demais e o aprendizado na cegueira:
aprendia antes de sonhar – a vida é como um murro em ponta de faca e nas garras
dos carcajus. Cinco palavras a mais e quantas cartoutras se perderam na mulher
musipoesia, restava meus monosticáusticos com indagações do que é a água para
quem na Groenlândia ou no sertão nordestino, evaporada, negociada. Estava de
volta sem nunca ter ido, avalie. Até mais ver.
ELEVADO
Imagem: Acervo ArtLAM.
Você está interessado em roubar \ instintos? Ou na
explicação \ dos segredos de um mundo \ que governa com a idade e a
equidistância? \ Camada por camada, o vento \ busca uma mensagem, \ uma voz
para o Destino. O sol, \ seus mares, \ até mesmo os pássaros que passam, \ ditam
a ciência ao comando da vontade. \ Uma existência \ não afetada pelas estações.
\ Tanta coisa sobre uma vida insondável. \ Um universo redondo com planos para
amanhã, \ nunca a palavra final. \ Não posso falar de acidentes em outros
lugares, \ apenas de formas, linhas — \ pensamentos que se estendem ao diálogo \
nas cartas ou na água. \ Acredite, \ as respostas são pequenas \ mesmo que um
dia você viaje \ em anos-luz, \ mesmo quando a luz se torne infinita \ enquanto
uma estrela morre, outra \ surge, com espanto \ e sem motivo.
Poema da escritora, musicista, tradutora e editora
francesa Fiona Sze-Lorrain.
CORONEL
- […] A alegria de uma vida passada
é que ela nunca mais volta. [...].
Trecho extraído da obra Everstinna
(Like, 2017), da premiada escritora, fotógrafa e artista plástica finlandesa Rosa
Liksom, que ainda assim se expressa: Alguém diz que quando neva há luz no meio da escuridão. Eu
não baseio isso na luz. É o suficiente para mim se o sol brilha durante todo o
verão, dia e noite... Eu definitivamente teria colocado um ponto final em tudo
isso, mas pela manhã quebrei a potência da hora do café novamente... Tente
fazer isso, é isso... Veja
mais aqui.
COMPORTE-SE
– […] Você não precisa escolher
entre ser científico e ser compassivo [...] O cérebro é fortemente influenciado pelos genes. Mas
desde o nascimento até à idade adulta jovem, a parte do cérebro humano que mais
nos define (córtex frontal) é menos um produto dos genes com os quais começamos
a vida do que daquilo que a vida nos lançou. Por
ser o último a amadurecer, por definição o córtex frontal é a região do cérebro
menos restringida pelos genes e mais esculpida pela experiência. Deve
ser assim, para sermos a espécie social extremamente complexa que somos. Ironicamente,
parece que o programa genético de desenvolvimento do cérebro humano evoluiu
para, tanto quanto possível, libertar o córtex frontal dos genes. [...] Porque é que as pessoas numa parte do globo
desenvolveram culturas coletivistas, enquanto outras se tornaram
individualistas? Os Estados Unidos são o exemplo do individualismo por
pelo menos duas razões. Primeiro há a imigração. Actualmente,
12 por cento dos americanos são imigrantes, outros 12 por cento são filhos de
imigrantes e todos os restantes, excepto os 0,9 por cento de nativos americanos
puros, descendem de pessoas que emigraram nos últimos quinhentos anos. E
quem eram os imigrantes? Aqueles no mundo estabelecido que eram excêntricos,
descontentes, inquietos, heréticos, ovelhas negras, hiperativos, hipomaníacos,
misantrópicos, coceira, não convencionais, ansiando por ser ricos, ansiando por
sair de seu maldito e chato vilarejo repressivo, ansiando. Junte
isso à segunda razão - durante a maior parte da sua história colonial e
independente, a América teve uma fronteira móvel que atraiu aqueles cujo
optimismo extremo e espinhoso tornou a mera reserva de passagem para o Novo
Mundo insuficientemente nova - e temos a América individualista. Por que o
Leste Asiático forneceu exemplos clássicos de coletivismo? A
chave é como a cultura é moldada pela forma como as pessoas tradicionalmente
ganhavam a vida, que por sua vez é moldada pela ecologia. E no
Leste Asiático tudo gira em torno do arroz. O arroz, que foi
domesticado lá há cerca de dez mil anos, exige uma enorme quantidade de
trabalho comunitário. Não apenas o trabalho árduo de plantio e colheita, que
são feitos em rotação porque toda a aldeia é necessária para colher o arroz de
cada família. Historicamente, os Estados Unidos não ficaram sem uma
agricultura intensiva em mão-de-obra. Mas em vez de resolver
isso com o coletivismo, resolveu-o com a escravatura. [...] A moralidade é simplesmente a atitude que
adotamos em relação às pessoas de quem não gostamos pessoalmente. [...]. Trechos extraídos da obra Behave: The Biology of Humans at Our Best and
Worst (Penguin/Harper, 2022), do cientista, professor e escritor estadunidense Robert
Sapolsky. Veja mais aqui.
LUZ DO ABISMO
[…] Passaram-se
muitos dias – não faço ideia de quantos – desde aquela tarde do crepúsculo e do
canto. Não tornara a avistá-la. Nada tinha a dizer-lhe, mas pensava
continuamente em revê-la. Mergulhada em meus abismos, não procurava encontrá-la,
dando pouca atenção ao que acontecia por aqui... {...].
Trecho extraído da
obra Luz do abismo (A Girafa, 2005), da escritora e médica Maria Cristina
Cavalcanti de Albuquerque. Veja mais aqui e aqui.
&
DO CEEPA À EREM: ANOS
DE LUTAS, RESILIÊNCIAS E VITÓRIAS
[...] Por tudo isso
que é necessário engajamento, sentimento de pertencimento, pela constante busca
de dar sempre o melhor. [...].
Trecho extraído da obra
Do CEEPA à EREM: Anos de lutas, resiliências e vitórias (Rascunhos,
2022), do professor Jadiel Barbosa de Lima. Veja mais aqui.
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