segunda-feira, julho 29, 2024

DOMENICA MARTINELLO, CAMILLE LAURENS, JOANNA BURIGO & J. BORGES

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Travel through three centuries (2014) e Chopin / Liszt (Gramola, 2016), da pianista russa Anastasia Huppmann.

 

NEM ENTÃO, NEM DEPOIS... – Dum lado o ermo, doutro a devastação - nascia e era o voo pela correnteza. A infância roubada pela repressão levou-me aos grilhões da lógica: tudo se parecia uma fantasia interminável, caleidoscópica; e o meu país deitava-se eternamente. Adolesci como quem arrumava as malas: era sempre a hora de partir com a missão de ser gente na vida e no meio da chuva experimentava meus desafios pelos caminhos inundados - e nem sabia nadar no que nunca seria um conto de fadas, era a ambiguidade ubíqua embaralhando direções entre o afeto e o descartável. Muitas vezes desisti diante do incompreensível barulho das máquinas sufocantes, o sangue azeitava engrenagens e não servia à minha natureza. Os sonhos eram outros por caminhos tortuosos e passavam feito nuvens aladas, aos empurrões pelo alheio e secretos limiares revelavam-se óbvios, outra vez no ponto de partida. Ora, essa. Novamente o plano de voo servia de provas bem ou mal feitas, o pé na estrada, aliados da hora e muitos algozes, lembranças incineradas, descobertas sem graça, cavernas insólitas que mudavam de lugar. O esconderijo reduzia-se ao meu quarto e novamente outro reinício. Via-me mesmo um amador na provação do destino. Daí, nenhuma recompensa. E se esculpia o tempo, nenhum portal nas paisagens erosivas, restava me esconder para não ter de contar segredos flagelantes. Entre o intermezzo e a linha de fuga: os limites não existiam e queria rompê-los quando dava num fundo abissal, inalcançável profundidade, funduras superpostas, uma hestória e todas - o que era um na verdade muitos, afora uns e todos, o plural e outros vários, conexões que se perdiam por devires, fluxos por paradoxos. Revia-me por biografias inacabadas, cicatrizes supuravam e me perdia diante do espelho de Tarkovski: imagens retidas que escapuliam entre acordes dissonantes e era a mãe na fantasia do amparo perdido, a mulher reduzida aos devaneios diáfanos e a filha era só um olhar de espera. O caminho de volta à estaca zero. Quantas vezes recomecei, o meu duplo por zis platôs recorrentes. O olho e a mira, o alvo móvel se esquivava e tudo se esvaía ao alcance da mão. Nenhuma ressurreição, afinal apenas dera-me por um sujeito comum. E se enfrentei leões invencíveis, dragões inflamáveis, larápios hostis e sátiros infernais, dou graças aos meus vilões pelo que aprendi. O que me arrisquei pela gratuidade de ação, não valeu nada pra ninguém, nem pra mim mesmo. Revivia muitas vezes e, cada vez mais, perdia o elixir de vista. E mais regressava porque a vida era só um filme que descambava por cenas repetitivas em cenários alheios, com o passado que se descorou pela ausência. Quase à beira da morte e as memórias de um pesadelo que me fez cinzas de vivências evanescentes diante do implacável semblante do eterno retorno. Até mais ver.

 

Esther Perel: Não há maior fonte de alegria e significado em nossas vidas do que nossos relacionamentos com os outros... Veja mais aqui.

Ann Brashares: Nosso problema não é o problema, é a sua atitude em relação ao problema... Veja mais aqui.

Dietrich Bonhoeffer: O maior erro que você pode cometer na vida é estar sempre com medo de cometer um erro. O tempo é curto. A eternidade é longa. É o momento da decisão... Veja mais aqui.

Emil Cioran: O fanático é incorruptível: se ele mata por uma ideia, ele pode muito bem ser morto por uma; em ambos os casos, tirano ou mártir, ele é um monstro... Estamos todos no fundo de um inferno, cada momento é um milagre... Veja mais aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

TARAXACUM - há rachaduras na minha práxis onde as flores amarelas de Purdy aparecem vestem minha classe trabalhadora como um dente de leão seu traje assexuado uniforme de leite borracha geneticamente idêntico a odisseia de um homem comum no sopro de uma semente se torna episódio ervas daninhas crescem esperançosas posso ter algum acompanhamento musical aqui posso ter no meu vinho posso ter na minha salada comum e comestível como eu como eu, por favor.

SAUCEBOX - a identidade de alguém é conquistada com muito esforço na linguagem da casa e da escrita de cartas, de deixar e deixar é certamente a mais italiana das atividades estar apaixonado por charlie chaplin sim, eu queria empresas de esplendor anti-língua materna vagando por dublin - de trieste a northhampton é exaustivo ainda me deleitando em minha dívida com você. por que a filha de um devedor deveria pagar em um bolso de má qualidade por uma quantia ainda não determinada de seu gênio sim, eu sei Sim garotinha dos fósforos quer pernas melhor fugir - 6 horas por dia, 22 anos quando eu tinha 10 anos, quão desorganizada quão vesga e despejada e pobre sim, eu chorei por um mês desenhando suas lettrines aos 10 eu poderia ter sido iluminadora em vez de 13 em 3 países livro de kells quebrada no bar prim shining você e a minha cegueira camisa de força um palco adereço como qualquer outro, corpo bastardia - a rabugice de beckett levaria qualquer um a um complexo o dinheiro azedo de sua majestade amarrou minhas pernas para uma estadia ainda não determinada na maison de santé obrigada sam desculpe eu não estava em camisinhas deve ser a lésbica italiana em busca de prazer escreva para mim - pequena dívida maluca para a festa do papai uma cadeira contra a parede como a verdadeira artista bravata forrada de sutiã cobiçando o leite materno de giorgio analfabeta em 3 línguas olha o que eu posso fazer agitar meus braços me jogar como uma voz sobre a sala - seu cego eu corto as linhas telefônicas seu cego eu corto as linhas telefônicas gordo de parabéns eu circuncido desabotoe suas calças, gênio arrumou um velório para mim barbatana inquieta sim, é complicado nós somos analfabetos em todas as línguas os olhos perderam o convite mas uma dançarina se vira...

Poemas da escritora canadense Domenica Martinello, autora de obras como Interzones (2015), All Day I Dream About Sirens (Coach House Books, 2019) e Good Want (2024).

 

AQUELA EM QUEM VOCÊ ACREDITA – [...] O desejo é ter algo a ganhar, e o amor, algo a perder. [...] O amor é um romance que alguém escreve sobre você. [...] O amor é uma eleição, não uma seleção. [...]. Trechos extraídos da obra Celle que vous croyez (Gallimard, 2016), da escritora francesa Camille Laurens (pseudônimo de Laurence Ruel), que na obra Little Dancer Aged Fourteen: The True Story Behind Degas's Masterpiece (Other Press, 2018), expressou que: [...] Degas queria minar o estereótipo, afirmar uma verdade que a sociedade ignora – quer ignorar. A dança não é um conto de fadas, é uma profissão dolorosa. Os ratinhos são Cinderelas sem fadas madrinhas, não se tornam princesas, e as suas carruagens sem carruagem continuam a ser ratos, tão cinzentos como o algodão dos seus chinelos. São crianças que trabalham, como aprendizes de costureiras, babás e vendedoras, mas trabalham mais que as outras [...]. A ela é atribuida a frase: Homens livres podem partir e às vezes ficam. Essa é a mais bela prova de amor: tirar a liberdade de ficar quando poderia ir embora...

 

GÊNERO & PÓS-VERDADE – [...] O aquecimento global não deveria estar em disputas narrativas, porque factos são factos. Infelizmente, teremos de esperar para ver o que acontece, mas se o presidente da maior superpotência do mundo pós-verdade opera na fantasia e as suas crenças pessoais valem mais do que o conhecimento adequado, estamos condenados. É tudo tão infantil. E se o fim iminente do mundo através das alterações climáticas perpétuas não for suficientemente assustador [...]. Sabemos muito bem que emancipar a violência simbólica também emancipa a violência material. E que estes dois tipos de violência são igualmente reais. A objetivação simbólica e a aniquilação das mulheres são tão reais como as suas consequências materiais. Nós sabemos isso. É tão infantil e teimoso não aceitar isto como não aceitar que as alterações climáticas são reais. São os fatos. Não deveria haver disputa. O vocabulário sexista e o uso da violência simbólica são velhos conhecidos nossos. Feministas e outras ativistas vêm dizendo, há anos, que as pessoas que nos perseguem, abusam e tentam nos silenciar existem além da trollagem online. Parece quase inacreditável que, mesmo depois de tantas advertências, esforços educativos, debates e iniciativas, sejam aqueles que nos ofendem por nos ofender, aqueles que nos magoam porque podem, aqueles que parecem não ter vestígios. de respeito pela dignidade humana que estão melhor representados nos mais altos escalões do poder. [...] No entanto, não podemos dizer que não previmos essa reação negativa. A preparação para o contra-ataque postulando que os valores feministas são a fonte de todos os problemas que afligem as mulheres estava lá para ser vista. Sabíamos desse ataque preventivo contra as nossas conquistas, sabíamos que estava acontecendo algo que tentava interromper os avanços das mulheres antes mesmo de serem alcançados. Sabíamos que o crescimento exponencial do discurso feminista nos últimos anos seria enfrentado com força total. A reação está se concretizando plenamente com o restabelecimento do poder do macho alfa. [...] Num mundo de pós-verdades e de misoginia desenfreada, muitas verdades feministas permanecem firmemente em vigor. [...]. Trechos do artigo Gênero e pós-verdade (Huffpost, 2016), da escritora e professora Joanna Burigo.

 

A ARTE DE J. BORGES

Eu só faço trabalhos relacionados aos costumes e à vida do Nordeste porque eu considero o Brasil da Bahia para cá. É um Brasil natural, de sangue nordestino...

Pensamento do artista xilógrafo, cordelista e poeta J. Borges (José Francisco Borges – 1935-2024). Veja mais aqui, aqui e aqui.

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ARTEXPRESSÃO: MEMÓRIAS LITERÁRIAS

Dia 31 de agosto, nos turnos da manhã & tarde, horário das 8 às 12 e das 13 às 17h, no Centro de Formação Douglas Marques – Observatório de Linguagens. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

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Crônica de amor por ela aqui.

 


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...