A ESPERANÇA EQUILIBRISTA (Equilibrista by Daniele
Lunghin) – Bestinha nunca foi lá flor que se cheire. Pudera, com uma
carga kármica pesada nos costados, tudo pra ele só finda em revertério. E ele
parece que nem se dá conta, ou nem está aí pra quem pintou a zebra, sempre
enrolado no seu sisifismo, aos trancos e barrancos. Quem sabe, um dia chega lá.
Mesmo com o cotidiano carregado de um compromisso sempre irredutível e
insuperável, uma espada de Dâmocles implacável: se não pagou no dia, fodeu; cadê
a feira, o aluguel, mixaria pra condução, desata o nó cego, segura o trupe, seinadimpliu
de mesmo, perde tudo e recomeça do zero, de ficar com uma mão na frente e outra
atrás, quando não mãos à cabeça, arramcamdo os cabelos. Quando é benefício, se
previsto para dia 1º, pode ser para 11, 21, 31 ou nunca mais; se perder, nunca
mais acha. Foi, já era. Pois é; objetivos e metas traçados e pensados, mesmo
que ao alcance da mão, viram sempre inalcançáveis: só língua de fora e
espinhaço envergado. Quando tá achando pertinho o alvo, na horagá, mais
distante é que fica. Estás vendo? Só no ver como é que faz, para ver como é que
fica. Semáforo pra ele quando não está no vermelho, tá quebrado; se precisa, ou
o sistema está inoperante, ou fora do ar; quando chega a sua vez, acabaram-se
as fichas ou o expediente: só amanhã – e que nunca chega. E quando chega, não
serve mais pra nada. Mas, sempre a esperança equilibrista, mesmo que só tenha
meio fio pra caminhada e que tudo o mais seja só buraqueira na volta dos
catombos. E ciente que não adianta estar armado de prumo, compasso, régua,
cronogramas, afinal, pra ele, é tudo de viés e pro revestrés. Tudo cis, por um
triz. Onde bota a mão é só arame farpado; vai comer, tá passado; se cozinha,
passa do ponto; se vai colher, ou tá verde ou apodreceu; na hora de ficar
cheiroso, solta um peido e a catinga come no centro. Bota tudo a perder. Que
sina! Pronto, finda sozinho na rua da amargura. Quando procura uma mão amiga,
só depara figa; basta uma brecha, a porta é fechada; se anda nas nuvens, pisa
na merda; e se vai no embalo da onda, vê-se estrepado a cuidar das perebas.
Fosse outro, já tinha desistido. Ele não, em riba da fivela, bate no peito e
vai com fé. Um dia Deus dará. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui e aqui.
Imagem: a arte do desenhista estadunidense de
história em quadrinhos Dave Stevens (1955-2008).
Curtindo o álbum Vivaldi - Concertos Op. 10 / Sammartini - Concerto In F Antonio Vivaldi: Concertos, Op.
10, Nos. 1-6, da flautista dinamarquesa Michala
Petri.
PESQUISA:
[...] O homem
moderno é, talvez, mais desamparado que os seus antepassados, pelo fato de
viver em uma sociedade informacional que, entretanto, lhe recusa o direito a se
informar. A informação é privilégio do aparelho do Estado e dos grupos
econômicos hegemônicos, constituindo uma estrutura piramidal. No topo, ficam os
que podem captar as informações, orientá-las a um centro coletor, que as
seleciona, organiza e redistribui em função do seu interesse próprio. Para os
demais não há, praticamente, caminho de ida e volta. São apenas receptores,
sobretudo os menos capazes de decifrar os sinais e os códigos com que a mídia
trabalha. [...].
Trecho extraído da obra O espaço da cidadania e outras reflexões (Fundação
Ulysses Guimarães, 2011), do
geógrafo e professor Milton Santos (1926-2001). Veja mais aqui.
LEITURA
[...] castidade quer dizer paixão, neurastenia. E
paixãoe neurastenia significam instabilidade. E a instabilidade é o fim da
civilização. Não se pode ter uma civilização duradoura sem muitos vícios
agradáveis. [...]
Trecho
extraído da obra Admirável mundo novo (1932),
romance distópico do escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963), narrando
um hipotético futuro no qual as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e
condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia com leis e regras gerais,
numa sociedade organizada por castas. Veja mais aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA:
[...] Nunca se sabe até que ponto eu falo, até que
ponto eu faço um discurso pessoal e autônomo, ou até que ponto, sob a aparência
que acredito ser pessoal e autônoma. Eu faço mais que repetir as idéias
impressas em mim.
Extraído
do livro Os sete saberes necessários à
educação do futuro (Cortez/Unesco, 2000), do antropólogo,
sociólogo e filósofo francês Edgar Morin. Veja
mais aqui, aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA:
A arte do fotografo e escritor
estadunidense Andreas Feininger (1906 - 1999).
Veja mais sobre Brincarte do Nitolino, Herbert Marcuse, Vladimir Maiakovski, Jerzy
Grotowski, Ken Loach, O Lobisomem
Zonzo, Os saltimbancos de Chico Buarque, Edgar Degas & Meimei
Corrêa aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Nude, do pintor italiano Gianluca
Mantovani.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Equilibrista, by Jose
De la Barra.
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.