QUANDO TUDO É MANHÃ DO DIA PRA NOITE - -
Imagem: Tensai Banpaku (2015), do
artista visual e diretor de cinema Mirai
Mizue. – Pra quem não sabe, eu também não sei. Ainda há tempo e já é quase
tarde. Só fazer a lição dos baques e sorrir pro mundo, o que resta de planeta. O
que eu não fiz, alguém fez ou está fazendo. O que esperei, alguém encontrou
antes de mim. O que perdi, acharam. O que não sabia, souberam. E não para por aí.
O que vale é ser feliz do jeito que for, no meio de um carnaval diverso,
divertido. Salve, salve. Isso é o que vale. As ofertas do dia são maiores que
os bolsos. No meio da noite toda escuridão é tudo com seus muros altos, janelas
fechadas: o ignoto irrevelável, o breu das brenhas desconhecidas. A noite é
dela com o silêncio do negrume. É de repente que tudo acontece. Emerge da
brecha dali, uma fresta quase impeceptivel. E enquanto uns ousam, alguém passa
fome. E basta que apenas um passe fome e toda humanidade padecerá faminta.
Enfim, enquanto uns ousam, o mundo acontece. E há os que apenas oram irmãos no
culto do templo e genuflexos nas igrejas não me reconhece por irmão porque não
professo a fé deles e sou excluído aos achaques e só esperam milagres quando
sou eu que obro milagres e todos nós milagramos e podemos. E a cada momento
tudo é surpreendente, a expectativa e o paradoxal. O que virá? O xis da
escolha. A lasca de pão que cai e justo com a parte da prastada de manteiga pra
baixo. A topada que desequilibra segurando no vento o que prevê arrimo invisível
na queda. Os documentos que caem da inadvertida valise aberta e caem no chão e
na lama pro desespero de quem embecado depende desses papéis. A conversa começa
em discussão e atravessa o equívoco dali pro todo inadmissível de montanha
russa nos mais agudos aclives e declives e finda feito uma bomba em cadeia com
todos os estilhaços do que sobrou de trapos completamente errados. Tudo sai na
urina, volátil, volúvel, salve, salve, o que é que é e não é mais, foi-se, e eu
não vim pra ficar no conflito entre pessoas e coisas e coisas-pessoas se
confundem nas pessoas-coisas pra felicidade dos onanistas e tudo por conta própria,
ou no assalto indisfarçável do erário público. E todos querem uma definição de
panoptico com toda ubiquidade e, de preferência, um conceito prato-feito, regra
geral, como se pudesse ignorar a heterogeneidade de toda unidade, para saber
como o oposto se relaciona com o outro, pletora de antípodas, e que da atração
dos contrários aprende-se que um é igual a três pra desastre da lógica racional.
Salve, salve o posto, o polimorfo. É com essa que eu vou. E voo. E no meio da
noite até o silêncio é barulhento, o vento nas portas, as sirenes urgentes, as
frenagens inesperadas, a chuva e a esperança do amanhecer. Meus olhos não flagram
invisível no trâmite da vida, é apenas noite e anseio o dia. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
Imagem: July and quiet island, do pintor estadunidense Aleksandr
Fayvisovich.
Curtindo a performance da soprano italiana Adriana Damato na ópera Carmen, do compositor francês George Bizet (1838-1875), com direção
musical de Julia Jones & a Orquestra Sinfonica Portuguesa, o coro do Teatro
Nacional de São Carlos e o coro dos Pequenos Cantores da Academia de Amadores
de Música. Veja mais Carmen de Bizet na Literótica do Catecismo de Zéfiro & Rol da Paixão aqui.
PESQUISA
Folclore Musical (FTD, 1965), de Wagner Ribeiro,
coleção de 5 volumes que aborda temas como elementos de teoria da música,
história da música no antigo continente e na América, bem como antologia de
cantos orfeônicos e folclóricos.
LEITURA
[...] Uma estranha Manuela se revelara a Lucas,
cheia de vontade proopria, fazendo e desfazendo sem lhe perguntar a opinião,
recusando categoricamente sua ajuda financeira, recusando seus conselhos
[...] Ela ria, não respondia, não dava
importância às suas palavras. [...].
Trecho
do romance Agonia da Noite (Martins,
1968), do escritor e dramaturgo Jorge
Amado (1912-2001), segundo volume de Os
subterrâneos da liberdade. Veja mais aqui e aqui.
PENSAMENTO DO DIA:
Os corpos pós-humanos são causas e efeitos de relações pós-modernas de
poder e de prazer, vitualidade e realidade, sexo e suas consequências. O corpo
pós-humano é uma tecnologia, uma tela, uma imagem projetada; é um corpo sob o
signo da Aids, um corpo contaminado, um corpo morto, em corpo-tecno; ele é,
como veremos, um corpo gay. O copo humano em si não faz mais parte da família
do homem, mas de um zoo de pós-humanidades.
Trecho
do livro Posthuman bodies
(Bloomington, 1995), organizado por Judith Halbertam e Ira Livingstone.
IMAGEM DO DIA: LUALMALUZ – SEMANA LUCIAH
LOPEZ
Não quero a arte de fingir palavras, desenhar escritas nem colorir os
sonhos____não tenho tempo para apontar lápis de cor, então o melhor é derramar
a tinta no veio das palavras e deixar que percorra os meus labirintos de
Ariadne, desenhando o Minotauro na pele que te reveste concretizando a mancebia
do seu corpo e o meu. As horas estão presas em rocas de fiar e a ancestralidade
do tempo é refletida no espelho no mesmo instante em que o meu olhar mergulha
no seu e uma vez longe de todas as fobias, as rimas saltam da tua boca para as
minhas mãos, tal qual peixes voadores navegando no arrebol.
Veja mais sobre Preconceito e Discriminação
racial, Franz Kafka, Ayn Rand, Giacomo Leopardi, Jacques Lacan, Leoš Janáček, Helmut Breuninger, Alessandro Blasetti, Cheryl Barker, Liliana Castro, Sophia Loren & Hermann Fenner-Behmer aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Men & Women (2014), do fotógrafo Christian
Coigny.
CANTARAU:
VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Art by Bryan Thompson
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.