Ao som da ópera Afət, Poema de Z. Ziyadoglu: hino "Petroleiros" para solista e
orquestra, Canções e romances para poemas e Gecələr bulaq başi , além dos filmes Nəğməkar torpaq (1981), Bağişla (1983), Qayıdış (1992), Yalçın
(2004) e Sən yadima düşəndə (2013), da compositora
azerbaijana Elza Ibrahimova. Veja mais aqui.
ANÔNIMO, VIDA
TORTA & MALOGRO... – Manhã olhabro, agoronde gritalmas
quandoutros às disjunções, natureza pujante, desgraça iminente. É duro ter de
encarar este mundo. Dobrar a primeira esquina é o que resta; intrépido quase,
irrequieto talvez, esquecer certas coisas não é fácil, tem de ser. Mesmo na radiância
dos ideais com a impetuosidade do Etna, entre o esquecimento e a morte: verdadeiro
sangue vivo entre o fugaz e o permanente. Qual nada. O que sobra, noves fora
deu zero. Não fosse Elena Ferrante: Toda relação intensa entre seres
humanos é cheia de armadilhas e, caso se queira que dure, é preciso aprender a
desviar-se delas... O que seria de mim, nem me vitimizo, cara e coração:
sou lá de me arrear pelos cantos. Outragora, pertali apareceram dançantes caruás
de Conceição das Crioulas às hipálages, ataraxias e atavios, de quase me levar
à polução apodítica porque a dor do amor apertava-me o coração - como se eu
fosse Caliban em busca de um par de seios robustos ao abrigo, porque jaziam
longe os sonhos mais excitados. A gente sabe: o que é bom dura nadinha, não adianta
pernadas a três por tanto. Ainda bem Abbas Kiorastami: Eu me sinto como uma
árvore. Uma árvore não se sente obrigada a começar a fazer algo pela terra de onde
ela vem. Uma árvore só precisa dar frutos, folhas e flores. Não parece grata à terra... Assim sou Anteu do
meu chão. Quão miserável quandoutros amargamores na
salescura. Ainda há gente, muita gente, que não resiste à oferta de um molho de
cédulas, afã patrimonial, suntuosidade. E estes ocupam cargos lá pras alturas nas
três esferas do poder e ademais até quem nem sabe. Fiz minha opção Bukowski:
Descubra o que ama e deixe-se matar por isso. Você tem de morrer algumas
vezes antes que você possa realmente viver... Assim vai o sonho, foi-se o
dia, a mão ao peito, a boca íntima, amareluz, pálidolhar. Longe versamanhã,
olhos de velacesa na escuridão. Um só instante para o insulto e a repulsa.
Breve grito para mudez das grandes palavras. Pela portaberta eis quem chega, a
brisa na franja a roubar-lhe pestanas dos fogolhos, lábios reluzentes, enquanto
dócil portescancarada afagando meu prepúcio vigoroso a porfiar blandícias
errabundas, à espera da ejeção da massa coronal. Aí sou o Sol. Ela pagava o
preço e não me devia nada. Venhaqui! Exprobrou porque queria saldar pecados
como quem fareja focinho escondido a remoer moinhos às cuspidas saltitantes e a
cambalear derruída. Nem saí de perto, acho que enlouqueceu. Deixei que fizesse,
tirei partido por mim nessa hora. Ela e os regalos, nada melhor. Manuscravia-me
nela em choque pela noite pecaminosa e eu em xeque, ela retardatária a revolver
minhas entranhas com seus ombros caídos a semear ademanes por seus grãos no
inframundo sem fim. Também sou vivo e merecemos. O que da vida torta, só anônimo
& malogro. Agora não, tiramos proveito de tudo que der. Até mais ver.
UM POEMA
Eu abro minha
boca em glória abençoada para você \ Abra a boca acumulada \ nu o verso sábio \
verso inchado que preenche meu verbo de saída \ lambido verbo que molha a sua
garganta \ fruta melodiosa \ Queridos minhos que sobem a boca pelos dedos \ Quando
você os caminha através da flor quente \ banhando-os em brethbine \ Dedos
entregues entre as dobras \ Mel sustentado nas pontas \ Os meis que abrem a
boca \ bocas saciadas com mel \ Eu abro minha boca com alegria encantada com
você \ Estou procurando a mordida forte \ Eu abro o sexo em sua boca \ Acomodar
o verbo servido \ Eu posso em sua boca minha mordida incitada.
Poema da
psicóloga e poeta venezuelana Isabel Salas Domínguez.
PARA ONDE VAMOS A
PARTIR DAQUI – [...] Ah, diz ela gravemente, quando uma
campainha toca ou um telefone toca, simplesmente aproveitamos a oportunidade
para desligar e abandonar todos os nossos planos e emoções - todos os nossos
pensamentos sobre outras pessoas e sobre nós mesmos. Abandonar todas as nossas
percepções humanas? Eu pergunto indignado. Nesse caso, o que resta
para nós? Não, diz ela balançando a cabeça, refiro-me apenas à nossa concepção
do mundo. Gosto da maneira como ela pronuncia a palavra “concepção” com seu
sotaque holandês, como se estivesse quente e ela pudesse queimar os lábios. Eu
gostaria de poder falar uma língua estrangeira tão fluentemente quanto você,
digo a ela. Por favor, diga ‘concepção’
novamente. Explique-me isso. Qual é a diferença entre
minhas percepções e minhas concepções? Resolutamente, ela vai até um café sob
alguns plátanos cujas folhas lançam sombras decorativas nas toalhas brancas. Ela se senta e me olha
com ceticismo, como se avaliasse se sou inteligente o suficiente para merecer
uma resposta. Na maioria das vezes, diz ela,
formamos uma opinião sobre as coisas sem realmente percebê-las. Ela aponta para
uma senhora idosa andando pela praça carregada de sacos plásticos. Por exemplo, ela
continua, eu olho para aquela mulher e penso: Como ela tem as pernas arqueadas
e aquela saia! Uma cor medonha e curta demais para
ela. Ninguém deveria usar saias curtas nessa idade. Minhas pernas ainda são
boas o suficiente para saias curtas? Eu costumava ter uma
saia azul. Onde está, eu me pergunto? Eu gostaria de estar
usando aquela saia azul. Onde está, eu me pergunto? Eu gostaria de estar
usando aquela saia azul agora. Mas se eu fosse como
aquela mulher ali... Ela apoia a cabeça nas mãos e me olha com brilho nos
olhos. Eu ri. Na verdade, não “percebi” a mulher, diz ela, apenas pensei nas
saias, nas pernas e no processo de envelhecimento. Sou prisioneiro das
minhas próprias ideias – em outras palavras, das minhas concepções. Veja o que quero dizer?
Eu digo que sim, mas diria sim para uma série de coisas quando ela me olha
desse jeito. Uma garçonete da idade de Franka
anota nosso pedido. Ela está usando um suéter branco de
crochê sobre os seios enormes e um avental branco bem amarrado em volta da
barriguinha proeminente. Suas sandálias com sola plataforma,
que lembram cascos, dão-lhe uma aparência desajeitada de potro. Agora é a sua
vez, diz Antje. Adolescente francês, eu digo. Provavelmente foi
intimidada para deixar de fazer um aprendizado e trabalhar no café dos pais. Sonha em ser
esteticista. Não, protesta Antje, isso não serve. Você tem que dizer o que
realmente está passando pela sua cabeça. Eu hesito. Vamos, quinta-feira. Eu
suspiro. Por favor, ela diz. OK, mas não assumo nenhuma responsabilidade pelos
meus pensamentos. Negócio! Mamãezinha sexy, eu digo. Peitos lindos, provavelmente
fáceis de transar, não recusariam alguns francos por um suéter novo. Ela certamente se
sentiria bem e gritaria Maintenant, viens! Aquela música da Jane
Birkin, não ouço há anos. Eu me pergunto o que Jane Birkin
está fazendo atualmente. Ela costumava ser a mulher dos meus
sonhos. Mesmo assim, tenho certeza de que aquela garota não gosta de homens alemães
e, além disso, eu poderia facilmente ser o pai dela, tenho uma filha da idade
dela. Eu me pergunto o que minha filha está fazendo neste momento... Eu seco.
Ufa, eu digo. Desculpe, essa era minha cabeça, não
eu. Antje acena com a cabeça satisfeita. Ela se inclina para trás
e suas tranças ficam penduradas nas costas da cadeira. Nada nos atormenta mais
do que a cabeça, diz ela, fechando os olhos. Você tem que reconhecer
que os budistas têm o dom de se desligar. É simplesmente maravilhoso. [...]. Trecho extraído da obra Where Do We Go From Here? (Bloomsbury, 2002), da escritora
e cineasta alemã Doris Dörrie. Veja mais aqui.
O SACRIFICIO DE
NARCISO – [...] Longe do amor próprio Narciso
continua o destino do amante Aminias [...] Embora dói admitir, o desejo
e o amor dependem não apenas de mecanismos diferentes, mas opostos [...] A
crueldade, embora seja perturbadora admiti-la, está intrinsecamente ligada à vida
[...] Quando termina a guerra do desejo começa a paz do amor [...] a
confiança amorosa interrompe o impulso curioso e possessivo do desejo e deixa a
alteridade ser […] o desejo e o amor trabalham com lógicas opostas
[...]. Trechos extraídos da obra El
sacrificio de Narciso (Punto de Vista, 2020),
da filósofa e escritora argentina Florencia Abadi, que noutra obra, O Nascimento do Desejo (Pólvora, 2023),
expressa: [...] Não desejamos o que queremos, o que nos é conveniente, ou o
que nos dá bem-estar ou felicidade. O desejo se impõe fora da vontade e nos
deixa na dolorosa situação de nos defendermos dele inutilmente [...]. Dela
a frase: O narcisista acredita que não atingir o ideal é uma humilhação.
TRILOGIA PALMARES
DE VILMAR
A viagem do afeto
de partir e voltar é a linguagem rememora...
Trecho do poema Bagagens,
extraído da obra Ruína e alfabeto: poemas acima da decadência (CriaArte,
2023), do poeta e professor Vilmar Carvalho, autor das obras Tirinetes
e Espelhos: poemas da cidade pequena e Casa Imemorial: poemas da casa
imemorial, todos recém lançados. Veja mais aqui, aqui e aqui.