Imagem: Acervo ArtLAM.
Ao som dos álbuns
The Complete Recordings (EMI, 2007 - 17 discos) & Various
co-performers The Early Recordings (BBC, 2022), da violoncelista britânica Jacqueline
du Pré (1845-1987). Veja mais aqui, aqui e aqui.
O QUE MAIS TERIA POR
FAZER AQUI... – Quanto mais eu teria a fazer pela vida
se um revólver decidia as questões, a usura falava mais alto, e gente de mesmo
quase ou nada valia, bastando um peteleco ou traque qualquer e nenhum pé de
gente pra remédio. Assim eu me via agarrando a névoa num tabuleiro circular sem
fim e lá pras tantas um aviso implacável: cada um por si e dane-se quem mais
houver! Quem me escutaria agora se me restava apenas alguns versos do Poema
à duração de Peter Handke: ... a mísera sensação do regresso ao
país natal \ após as viagens à descoberta do mundo, \ aquelas miríades de
mortes antecipadas \ de noite, antes do primeiro pipilar dos pássaros...
Nada mais e me valia de Apenas um beijo, ou Pão & Rosas,
só que ainda podia aprender de Kess que eu nada mais seria além de Daniel
Blake, só porque Você não estava aqui, individualmente embrutecida
pelos quaraquacás das suas gargalhadas mais ufanas e bufadas de saltar de lado
e nada mais dissesse do muito que nunca foi dito. Lembrou-me agora Elvira Lindo: O que não é dito dói mais do que o que é dito... Apenas
chiados estranhos, barulho de motores, aves em fuga, nonsense ao meu redor. Os passos
e um pé atrás: o que esperar do amanhã se sou assaltado pelas indagações de David Baddiel: Essa é a questão do seu destino: como você vai saber quando ele chegar? Como você deve
reconhecê-lo na vida aleatória?... Mar áspero na alta ideia de que não passarão, mesmo que queiram nos arrastar
só para repetidamente demonstrar que não haverá futuro e quais guerras teríamos
de vencer se estávamos todos perdidos, quando aliados tornados inimigos pela
causa dos que não se veem como dos nossos, inimigos de nós mesmos e a baixa inevitável
e devastadora pela escolha do alheio, quantos não ficaram pelo caminho. Porque
a guerra não é senão a barbárie dos interesses e o meu povo alheio ao que se
passava no mundo me dava a severa constatação: somos dizimados aos poucos e
sempre. Até onde a
memória alcança, como se tudo parecesse mesmo uma escatologia das brabas e a
vida não valesse mesmo mais nada e nem tivesse antes acontecido nadica de coisa,
um líquido e certo desvelo: perdemos a humanidade faz tempo!!! Quero apenas morrer
em pé, jamais de joelhos! Até mais ver.
TRIUNFO DE
ARTEMIS SOBRE VOLUPTA
Imagem:
Acervo ArtLAM.
Idade
inimitável, pergunto ao teu espelho \ em qual dos meus inúmeros \ armários está a máscara da deusa \ que cobria de trevas as bolinhas de gude. \ Seu fervor, tal êxtase obsessivo, \ Ele a tornou bela e distante e a proclamou
única. \ Porém, ele
te maltratou tantas vezes! \ Sua língua era tão cruel quanto um chicote. \ Por trás das varandas ele olhou ansioso \ e nos olhos suplicantes negou \ se tinha certeza de seus desejos. \ Ele não lhe permitiu um único fio de sua
túnica, \ nem mesmo
que você vasculhasse seus colares. \ Não se podia, pelo buraco da fechadura, \ observar como ela se despia lentamente, \ fazendo crescer o corpo nu da banheira. \ Névoa cinzenta da videira. A mão recorrendo \ à esponja. E a espuma perfumada, rastejando \ por seu corpo, entra nele, \ instalando seu domínio invisível. \ Também não bebeste das fontes saborosas \ que inundavam os labirintos tenebrosos \ que uma virgindade maligna fechava. \ Nem as axilas sombrias, nem a concha frondosa
\ da pélvis,
nem os cabelos entrelaçados \ conheceram o toque gentil daqueles dedos \ que conheço tão bem. Mas o quanto você a ama!
\ Você não a
ouviu gritar quando o rugido \ de prazer tomou conta de você e \ transbordou tumultuosamente pela cúpula
dividida. \ Mas a
lembrança dela, precipitada, \ te assalta e você a procura em mim. Que \ idade terrível e inimitável. Sempre
questionando seu espelho. \ Tento renascer, a antiga identidade \ que te fascinou, aquele corpo tão
desconhecido, \ se tal metamorfose
for possível. \ Você já
sabe em que \ lugares
precisos da minha pele o Eros se instala; \ os segredos, derramados pela colcha, \ pelas tuas bocas surpresas e habilidosas. \ Rendida, minhas pernas amarrarão firmemente
suas pernas \ para que o
ataque total \ à minha
barriga penetre e queime nela. \ Agora sou costume, \ invadi a pátria das delícias rotineiras. \ Ao me possuir você perdeu minha beleza
interior \ e seus
desejos desapareceram. \ Mas se
você me ajudar a procurar \ as túnicas esquecidas nos armários \ e resgatar a máscara auspiciosa,\ Se eu me tornar arrogante, poderei
convencê-lo? \ A
experiência é tão sagaz \ e seu
mandato tão indestrutível \ que superei você em muito. \ Isso até destruiria você. E você me censura
por isso. \ Idade
inimitável, \ onde
moravam os deuses e \ a
admiração foi a única homenagem \ que espalhaste aos meus pés. \ Não me peça para voltar, \ porque a inocência é irrecuperável.
Poema da escritora espanhola Ana
Rossetti.
MELHOR QUE OS
FILMES - [...] Eu me apaixonei por provocar você na
segunda série, quando descobri que poderia deixar suas bochechas rosadas com
apenas uma palavra. Então eu me apaixonei por você [...] Você fica
melhor quando você é você. [...] Às vezes ficamos tão presos à nossa
ideia do que pensamos que queremos que perdemos a maravilha do que realmente
poderíamos ter. [...] Ela é bonita, mas seu rosto não se transforma em
luz do sol quando ela fala sobre música.” Ele apertou a mandíbula
e disse: “Ela é engraçada, mas não é engraçada do tipo cuspir sua bebida de
espanto”. Parecia que meu coração ia explodir quando seus olhos desceram para meus
lábios sob o brilho da luz da rua. Ele aproximou seu rosto
um pouco mais do meu, olhou nos meus olhos e murmurou: — E quando a vejo, não
sinto que preciso falar com ela, bagunçar seu cabelo ou fazer alguma coisa,
qualquer coisa, para conseguir. ela para lançar aquele
olhar sobre mim [...] Eu fiz o que tinha que fazer. Tudo é justo no amor e
no estacionamento. [...] Quando estou perto de você, sinto como
se estivesse drogado. Não que eu use drogas. A menos que você use
drogas, nesse caso, eu uso o tempo todo. Todos eles. [...] O amor é
paciente, o amor é gentil, o amor significa perder lentamente a cabeça. [...]
A música tornou tudo melhor. [...] Minha herança foi saber que o amor
está sempre no ar, é sempre uma possibilidade e sempre vale a pena. [...]. Trechos extraídos da obra Better than the Movies (Simon & Schuster, 2021), da escritora
estadunidense Lynn Painter.
PACTO DA
BRANQUITUDE – [...] Esse pacto da branquitude possui um
componente narcísico, de autopreservação, como se o “diferente” ameaçasse o
“normal”, o “universal”. Esse sentimento de ameaça e medo está na essência do preconceito,
da representação que é feita do outro e da forma como reagimos a ele [...] É
ao longo da história que se forja o “sistema meritocrático” em que um segmento
branco da população vai acumulando mais recursos econômicos, políticos,
sociais, de poder que vai colocar seus herdeiros em lugar de privilégio. [...]
com frequência políticos e empresários não são punidos, embora existam
legislação e ferramentas para puni-los, e os estudiosos destacam que uma das
dificuldades está em enxergar esse perfil de pessoa como o de um criminoso.
[...] A “vitimização” da branquitude e as diferentes manifestações dos
grupos brancos que se sentem ameaçados e perdendo o que entendem ser “seus
direitos” se revela nesse período [...]. Trechos extraídos da obra O
pacto da branquitude (Companhia das Letras, 2022), da psicóloga e ativista Cida
Bento, que no estudo Branqueamento e branquitude no Brasil - Psicologia
social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil (Vozes,
2002), ela expressa que: [...] Diferentes estudiosos têm se preocupado com a
maneira como os negros foram e vêm sendo atingidos pela ideologia do
branqueamento no Brasil. A militância negra tem destacado persistentemente as
dificuldades de identificação racial como um elemento que denuncia uma baixa
autoestima e dificulta a organização negra contra a discriminação racial. Assim,
compreender o branqueamento versus perda de identidade é fundamental para o
avanço na luta por uma sociedade mais igualitária. Porém, esse estudo tem mais
possibilidades de ser bem sucedido se abarcar a relação negro e branco,
herdeiros beneficiários ou herdeiros expropriados de um mesmo processo histórico,
participes de um mesmo cotidiano onde os direitos de uns são violados permanentemente
pelo outro. A insustentabilidade ética e moral dessa realidade cresce
incessantemente, em particular nos últimos 20 anos, tempo em que o Movimento
Negro tem colocado sob fogo cruzado a violação de direitos do povo negro e tem
explicitado a verdadeira cara desse país. Esse movimento gera condições não só
para a recriação das identidades e, consequentemente, o deslocamento das
fronteiras, mas possibilita um encontro do país consigo próprio, com sua
história, com seu povo, com sua identidade. [...]. Na sua atuação ela ainda
expressa que: Fala-se muito na
herança da escravidão e nos seus impactos negativos para as populações negras,
mas quase nunca se fala na herança escravocrata e nos seus impactos positivos
para as pessoas brancas. Os negros são vistos como invasores do que os brancos
consideram seu espaço privativo, seu território. Os negros estão fora de lugar
quando ocupam espaços considerados de prestígio, poder e mando. Quando se
colocam em posição de igualdade, são percebidos como concorrentes. Privilégio
branco é entendido como um estado passivo, uma estrutura de facilidades que os
brancos têm, queiram eles ou não. Ou seja, a herança está presente na vida de
todos os brancos, sejam eles pobres ou antirracistas. Há um lugar simbólico e
concreto de privilégio construído socialmente para o grupo branco.
MARGEM DAS
LEMBRANÇAS DE HERMILO
[...] Eu dera
uma volta pelos caminhos do mundo e voltava ao mesmo lugar, limitado ao mesmo
horizonte, dentro da mesma rotina, era como se nada houvesse acontecido, não se
pode reconstituir a dor [...]
Trecho extraído
da obra Margem das lembranças (Mercado Aberto, 1993),
do advogado,
escritor, crítico literário, jornalista, dramaturgo, diretor, teatrólogo e
tradutor Hermilo Borba Filho (1917-2017). Veja mais aqui, aqui, aqui,
aqui e aqui.
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