TRÍPTICO DQP:
O projeto do farol... – Imagem: AcervoLAM, ao som do álbum The lighthouse project (Iceland, 2013), do quarteto
islandês Amiina. - Segue a vida e quase
enclausurado na minha própria fantasia, não há como ser de outro jeito: viver
tem se tornado muito difícil. Quantas
vezes o sangue quente da memória, qual Gulliver
pelas minhas mil e uma noites, como
se acusado pelo que não cometera e as vozes familiares repreendendo
demoradamente nada
mais que um Quixote metido a Perec no Oulipo. Na verdade era ânsia malograda do mágico de Rubião: inventava de dia os sonhos da noite, nada adianta. Quem dera outra fosse
a paisagem e nada parecesse com tochas acesas e candeeiros lampejantes sobre
andrajos, enquanto sigo atado às comoções e engasgado por ser o personagem de
mim mesmo, se não sei mais onde nasci nem onde vou morrer, acho que enganchado
num mata-burro intransponível. A quase salvação se dera quando a professora Renata Sant’Anna de Godoy surpreendentemente
trouxe a lembrança da minha predileção Kandisnki:
A cor é o meio para exercer uma
influência direta sobre a alma. A cor é a tecla, o olho é o martelo moderador,
a alma é um piano com muitas cordas e o artista representa a mão que, mediante
uma tela determinada, faz vibrar a alma humana... Foi daí que entendi: das
coisas nascem coisas... Só novas formas de manipulação, como? Se a mão sem
jeito, a provocação da tela e um milhão de ideias na cabeça sem saber nem por
onde começar. Ah, nem batia os olhos, pois se trata de coisas assim e nunca se sabe, muito menos eu.
Misse
Stultitiam Consiliis Brevem: Dulce est desipere in loco - Imagem do artista visual italiano Nicolò Canova. - A frase de Horácio
martelava no juízo, como se eu quebrasse a caixa entre a Eudaimonia aristotélica e o Epistemicídio do Boaventura,
enquanto repetia insistentemente o verbete da
paz do Dicionário
do diabo de Ambrose Bierce que já quase sabia de cor: é só o período de conversa fiada entre duas
guerras. Do outro lado a Harper Lee ecoava O sol é para todos, porque Luzia
de Lagoa Santa da Lapa Vermelha queimava outra vez ao meu lado. Espanto maior
foi com a poeta uruguaia Cristina Peri
Rossi: Quando perdemos a capacidade
de rir de nós mesmos, estamos à beira de uma profunda depressão. Eu não queria
parar de falar de amor para falar de sobremesas. Eu só queria parar de falar
sobre amor para fazer isso. Pois é. Se bem que depois do sim e do não depôs
Carrascoza: o mundo é indiferente à nossa sensibilidade. Na verdade, se vou ou
se fico, não sei lidar com nada disso, apenas vivo. Um pouco de loucura,
talvez, faça mesmo bem à saúde.
Entre sonhos, pesadelos e devires... –Imagem:
AcervoLAM. – Não demorou muito e era Joel que chegava. Sabia disso, ouvia de longe suas gargalhadas
gratuitas. Bastava olhar pra ele e dele as gaitadas eclodiam assim do nada. O pior
foi que ele tentava explicar sobre a diferença das folhas de jaca mole e dura,
parecia palavra de doutor sobre o assunto, e eu patavina de entender. No alto
da sua soberba, uma distinta senhora corrigiu: É ao contrário, meu senhor: esta
é de mole, esta outra é de dura. Ué? E mudou, foi? E caiu nas casquinadas,
emendando outra disso e daquilo, resenha sem fim. Para mim era como se fosse
coisas saídas daquele As noites e os dias
(Bagaço, 1996), do Ronaldo Correia de Brito, tudinho ali se enfileirando feita cenas de novela: a doidice de Maria
Caboré pilando arroz no meio dos sonhos com o Príncipe Odilon e Rei-de-Congo,
atrapalhada por mãos atrevidas se adiantando entre seus seios e coxas; e a
galinha que fez Otacílio ver o sol, e de Dolorida que escorraçou o diabo, e o
morto que voltou para salvar Inácia da vingança, e aquela pervertida sensual
que não conseguiu escapulir do Rabo-de-burro; e outras se sucediam como se
entre uma e outra: ... a casa de três vãos,
grande como a alma de um homem que vivera muito. Ninguém sabia quem existira
primeiro, se o velho ou a casa. Ele sempre fora visto ali, os cabelos perdendo
o preto, como o dia, a luz... Essa a vida daqui, dos que penam e sorriem,
dos que se fazem de manha nas pitangas para engalobar os bestas, e todos saúdam
e se ofendem mutuamente, dia sim e outro mais. Até mais ver.
[...] o
educador deve ter vindo de
uma formação que lhe possibilite um eficiente aporte teórico e
epistemológico, deve ter imaginação e ser criativo e ter capacidade de
liderar e enxergar a realidade concreta a ponto de poder influenciá-la. Sendo a
Educação Ambiental uma educação para a cidadania,
os educadores precisam ultrapassar
os limites disciplinares da área em que atuam, interligando o social às suas
práticas escolares, fazendo emergir discussões sobre o lugar que o homem ocupa
no mundo, refletindo criticamente sobre sua situacionalidade.
[...].
Trecho extraído da dissertação de mestrado Educação Ambiental em uma escola agrícola de
Campo Grande-MS: que saberes, que práticas e que resultados (UCDB, 2007),
da professora e pesquisadora Kely Adriane Brandão Pereira. Veja mais Educação Ambiental & Leitura
aqui, aqui e aqui.