segunda-feira, maio 09, 2022

CRISTINA PERI ROSSI, CARRASCOZA, RONALDO CORREIA DE BRITO & LUZIA DE LAGOA SANTA

 

 

TRÍPTICO DQP: O projeto do farol... – Imagem: AcervoLAM, ao som do álbum The lighthouse project (Iceland, 2013), do quarteto islandês Amiina. - Segue a vida e quase enclausurado na minha própria fantasia, não há como ser de outro jeito: viver tem se tornado muito difícil. Quantas vezes o sangue quente da memória, qual Gulliver pelas minhas mil e uma noites, como se acusado pelo que não cometera e as vozes familiares repreendendo demoradamente nada mais que um Quixote metido a Perec no Oulipo. Na verdade era ânsia malograda do mágico de Rubião: inventava de dia os sonhos da noite, nada adianta. Quem dera outra fosse a paisagem e nada parecesse com tochas acesas e candeeiros lampejantes sobre andrajos, enquanto sigo atado às comoções e engasgado por ser o personagem de mim mesmo, se não sei mais onde nasci nem onde vou morrer, acho que enganchado num mata-burro intransponível. A quase salvação se dera quando a professora Renata Sant’Anna de Godoy surpreendentemente trouxe a lembrança da minha predileção Kandisnki: A cor é o meio para exercer uma influência direta sobre a alma. A cor é a tecla, o olho é o martelo moderador, a alma é um piano com muitas cordas e o artista representa a mão que, mediante uma tela determinada, faz vibrar a alma humana... Foi daí que entendi: das coisas nascem coisas... Só novas formas de manipulação, como? Se a mão sem jeito, a provocação da tela e um milhão de ideias na cabeça sem saber nem por onde começar. Ah, nem batia os olhos, pois se trata de coisas assim e nunca se sabe, muito menos eu.

 


Misse Stultitiam Consiliis Brevem: Dulce est desipere in loco - Imagem do artista visual italiano Nicolò Canova. - A frase de Horácio martelava no juízo, como se eu quebrasse a caixa entre a Eudaimonia aristotélica e o Epistemicídio do Boaventura, enquanto repetia insistentemente o verbete da paz do Dicionário do diabo de Ambrose Bierce que já quase sabia de cor: é só o período de conversa fiada entre duas guerras. Do outro lado a Harper Lee ecoava O sol é para todos, porque Luzia de Lagoa Santa da Lapa Vermelha queimava outra vez ao meu lado. Espanto maior foi com a poeta uruguaia Cristina Peri Rossi: Quando perdemos a capacidade de rir de nós mesmos, estamos à beira de uma profunda depressão. Eu não queria parar de falar de amor para falar de sobremesas. Eu só queria parar de falar sobre amor para fazer isso. Pois é. Se bem que depois do sim e do não depôs Carrascoza: o mundo é indiferente à nossa sensibilidade. Na verdade, se vou ou se fico, não sei lidar com nada disso, apenas vivo. Um pouco de loucura, talvez, faça mesmo bem à saúde.

 


Entre sonhos, pesadelos e devires... –Imagem: AcervoLAM. – Não demorou muito e era Joel que chegava. Sabia disso, ouvia de longe suas gargalhadas gratuitas. Bastava olhar pra ele e dele as gaitadas eclodiam assim do nada. O pior foi que ele tentava explicar sobre a diferença das folhas de jaca mole e dura, parecia palavra de doutor sobre o assunto, e eu patavina de entender. No alto da sua soberba, uma distinta senhora corrigiu: É ao contrário, meu senhor: esta é de mole, esta outra é de dura. Ué? E mudou, foi? E caiu nas casquinadas, emendando outra disso e daquilo, resenha sem fim. Para mim era como se fosse coisas saídas daquele As noites e os dias (Bagaço, 1996), do Ronaldo Correia de Brito, tudinho ali se enfileirando feita cenas de novela: a doidice de Maria Caboré pilando arroz no meio dos sonhos com o Príncipe Odilon e Rei-de-Congo, atrapalhada por mãos atrevidas se adiantando entre seus seios e coxas; e a galinha que fez Otacílio ver o sol, e de Dolorida que escorraçou o diabo, e o morto que voltou para salvar Inácia da vingança, e aquela pervertida sensual que não conseguiu escapulir do Rabo-de-burro; e outras se sucediam como se entre uma e outra: ... a casa de três vãos, grande como a alma de um homem que vivera muito. Ninguém sabia quem existira primeiro, se o velho ou a casa. Ele sempre fora visto ali, os cabelos perdendo o preto, como o dia, a luz... Essa a vida daqui, dos que penam e sorriem, dos que se fazem de manha nas pitangas para engalobar os bestas, e todos saúdam e se ofendem mutuamente, dia sim e outro mais. Até mais ver.

 


[...] o educador deve ter vindo de uma formação que lhe possibilite um eficiente aporte teórico e epistemológico, deve ter imaginação e ser criativo e ter capacidade de liderar e enxergar a realidade concreta a ponto de poder influenciá-la. Sendo a Educação Ambiental uma educação para a cidadania, os educadores precisam ultrapassar os limites disciplinares da área em que atuam, interligando o social às suas práticas escolares, fazendo emergir discussões sobre o lugar que o homem ocupa no mundo, refletindo criticamente sobre sua situacionalidade. [...].

Trecho extraído da dissertação de mestrado Educação Ambiental em uma escola agrícola de Campo Grande-MS: que saberes, que práticas e que resultados (UCDB, 2007), da professora e pesquisadora Kely Adriane Brandão Pereira. Veja mais Educação Ambiental & Leitura aqui, aqui e aqui.