ATÉ DE OLHO
FECHADO – Duvido! Pronto, uma desavença no ar. Que
coisa! Logo naquele dia de comemoração entre os participantes do Big Shit Bôbras, providencia da
organização de armar diferente para não entornar o projeto num flagelo. A sacada
de confraternização caia muito bem para acabar com as bulhas e acalmar os
ânimos. Nada melhor que uma feijoada suculenta, regada por generosas lapadas e
meiotas da predileta Teibei. Tudo corria bem, uns goles aqui esquentando as
orelhas, uma virada de copo ali arrepiando os tuins, beiçadas largas de abrir risadagens
e envultamentos. Oxe, cadê fulano? Meteu o dente na cana de virar outro e sair
por aí! Isso é que tomada macha, hem? Pois bem, brincadeiras, pulhas,
licenciosidades, até a constatação de um gabiru gordo boiando no refogado de tripas,
linguiças, maxixes e quiabos. Um escândalo. Como é que pode? O enterro voltava.
Cada um que reclamasse da desfeita. De uma lado, as mulheres na maior
fuxicagem: O penteado dela parece uma arupema! Vixe! E o vestido, mulher, nem
combina os bicos dos peitos arriados e o pau da venta empinada! Um horror! E aquela
outra trubufu, acha que é miss, né não? Era melhor que pendurasse dois tijolos
naquelas orelhas do que aqueles brincos, né não? Nem se toca, se acha. Pense no
desmantelo! Ah, mas me diz da cumade, vai! Morreu engasgada. Danou-se. Foi. De
outro, os homens arengavam, cada um mais parrudo que o outro:
D-u-du-v-i-vi-d-o-do! Você não tem topete pra me desafiar, safado! Ah, meu, dou
na sua cara só com uma mão! Pra lascar você, dou meus golpes de costas! É? Derrubo
você só no bafo! Sai pra lá, corno da gaia-mole! Deixa disso. Sou muito macho,
não abro nem prum trem! Venha, maloqueiro, que dou uma pisa de você perder até
o nome! Comigo você caga fora do caco! Um murro que eu der, você desmunheca,
seu fulustreco! Vamos parar com isso! É ele, esse cara mente que o cu apita!
Eu? Você que num vale um cocô de louro! Calma, gente. E o confronto parecia
inevitável, cada um arrotando brabeza de bater o pé, estufar a caixa dos peitos
e bufar ruindade com risco no chão. Uma das senhoras, ao dar conta do trupé,
botou fogo na lenha: da macheza de vocês, sou mais o dentista com seus oitenta
anos e um fundo de garrafa nas vistas, trata dos meus dentes de olhos fechados!
Esse sim, além de macho é bom no que faz! Vocês? Tudo uns pé-rapado de não
valer nada! Ih, a coisa azedou. Não deu para prever quantas cenas pros próximos
capítulos, o fuzuê parece que ainda nem acabou, avalie. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais abaixo & aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] Que
Glória é uma senhora infiel, inquieta, cheia de energia e de contradições já se
sabe há séculos. Sabe-se também que ela nem sempre respeita as cortesias. Às
vezes, nem sequer sente vergonha de cortejar quem não se interessa por ela, e
mais frequentemente, ao contrário, despreza quem a adora, quem venderia a alma
por ela, quem beijaria o chão por onde passa. Não há nada pior. [...] Da atenção, da honestidade e do desinteresse. E todo o resto será
literatura. Aliás, a propósito, que tipo de linguagem precisará utilizar?
Dialeto, fala mecanizada, uma koiné? Qual
estilo, quais semantemas, qual característica tipográfica? Pró ou contra as
letras maiúsculas? Pró ou contra a pontuação? No entanto, deixem-no escrever
como queira, porque o primeiro inventor das linguagens sempre foi ele! Por que
aborrecer agora um homem com tais problemas (que interessam muito mais aos
linguistas, aos filólogos, e assim por diante?). Aqui, trata-se de ser pró ou contra a bomba
atômica! Contra a bomba atômica está a realidade. E a realidade não tem
necessidade de pré-fabricar para si mesma uma linguagem: fala sozinha. Até
mesmo Cristo disse: Não se preocupem com aquilo que vocês dirão, ou como dirão.
É a realidade que dá vida às palavras, e não o contrário. [...]
Trechos da obra Pro o contro la bomba atômica (Adelphi,
1987), da escritora italiana Elsa
Morante (1912-1985) que expressa: A
aventura da realidade é sempre outra.
A ARTE DE SANDRO MACIEL
A arte
do artista plástico Sandro Maciel.
Veja mais aqui.
A MÚSICA DE PAULA FAOUR
A música
da pianista, arranjadora e compositora Paula
Faour que estreou com o álbum Cool
bossa struttin (JSR/Tratore, 2005), acompanhada dos músicos Dom Um Romão na
bateria e Manuel Gusmão no baixo. Veja mais aqui.
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A OBRA DE JEAN GENET
Temos de rir. Senão a tragédia vai nos fazer voar pela janela.
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