A TRISTEZA DURA
PARA SEMPRE – Imagem: Autorretrato de
Vincent Van Gogh (1853-1890) - Ser Vincent entre outros Cent e de Zundert, a
sina: substituir o irmão natimorto em homenagem ao avô, o começo da infelicidade
ao abandono. Ele era o outro, a sua vida. Graças à mãe e Huysmans, captura as
coisas entre a frieza e austeridade, era tudo tão estéril. O lugar não é o
ponto certo, nunca foi, seja ali, acolá, antes Goupil em Haia até Londres e a
rejeitada paixão por Eugénie Loyer, para lecionar num internato de Ramsgate, se
mandar para Isleworth e findar no seio da mãe em Etten, devotado na livraria de
Dordrecht a reconhecer o fracasso recorrente. Era a vida dele. Missionário, troca
aposento confortável para dormir entre as palhas de uma cabana, ruía a sua fé
pela incomprenssão e a ameaça do internato no manicômio na frustração de todos.
Eis Cornelia Vos-Stricker, a amada Kee, sete anos mais velha, a declaração de amor
e o pedido de casamento. Doeu dela o não, nunca, jamais, a paixão doída. Valeu-se
de Mauve com carvão e pastéis: os outros e suas dores. A persistência era
repugnante para todos, teve de colocar a mão sobre o fogo da lamparina, queria
ver Kee e ela não. Restaram modelos colhidos nas ruas e quase mendigar no
cenário outonal, vontade e testamento de um desencaixado: a feiura, a sombra da
escuridão, a desolação. Servia do tosco e as impressões, o espinhoso sombrio e
todos de costas pro Sol radiante. Ao se arranjar com Clasina Hoornik, a sua
amada Sien, uma irreconciliável vida familiar até ela se matar no rio Escalda. A
paixão por Margot Begemann e, pela recusa das famílias, a perturbação de uma
overdose de estricninia, e consegue salvá-la e não dá certo nada. A vida
prossegue entre os comedores de batata e vê-se enrolado com a gravidez de uma
modelo camponesa, a proibição pelo padre dos paroquianos posarem para ele: os
portais do inferno e o desespero da loucura, o corpo ao fogo da paixão e os
pinceis de sangue. Era o temperamento ingovernável levando aos seus golpes
preciosos que ninguém enxergava, a criação que a mente inquieta exigia além do
que se via para onde seus pés iam ao alcance da mão nos tesouros do sentimento.
E o vento soprava quantas pancadas de rejeitado pela mediocridade, as batidas
entre moribundos, todos os fracassos tantos e os girassóis. A pobreza na Rua
das Imagens de Antuerpia, dentes soltos e doloridos nas xilogravuras japonesas,
as cores: o verde-esmeralda, o carmim, o azul-cobalto, a sífilis, a bebida, o
fumo, brigas e incompreensões, era a vida. A Paris e o irmão que sofria dele tudo
quase insuportável, Bernard, Anquetin, Lautrec, Gauguin. Cansado, a Casa
Amarela e da solidão do seu quarto Arles e suas criaturas de outro mundo, a luz
e a paisagem, as colheitas, os campos de trigos, a tensão excessiva. A crise
com Gauguin e a orelha cortada de presente para a criada de um bordel, Gabrielle
Berlatier. Era o louco ruivo e um abaixo assinado para internação no hospício
de Saint-Rémy-de-Provence e a obra que consertou o galinheiro de Rey, isso
valia. A noite estrelada no hospício de Saint-Paul-de-Mausole e as oliveiras,
os ciprestes, a estrada, o trigal, a depressão e as reminiscências do Norte, as
camponesas de sempre. Era o gênio de Albert Aurier, os melhores de Monet, a
Madame Ginoux da Arlesiana, os insultos de Groux, os ramos de uma flor de
amêndoa branca contra um céu azul pro sobrinho. Ali agora era Auvers-sur-Oise e
o homeopata Gachet que se parecia mais doente quanto seus pacientes, o Jardim
de Daubigny e absorto com o delicado amarelo da imensa planície contra as colinas
de maio e os vastos campos de trigo sob céus turbulentos, a tristeza e a
extrema solidão. A vida era em cores dramáticas e impulsivas pinceladas, a
conquista de Anna Bock, quando os sonhos desaparecem para impermanência e o tiro
no próprio peito, o coração, a arte e a vida pelas recaídas, a humanidade
adoecida no seu corpo, o gesto simples e o carteiro amigo único, tudo distante
na dor dos solitários da alma nas mãos, os fulgores arriscando a própria vida
pela amada e a tristeza de tudo quando sorriam os equivocados. Sabia da dor que
sequer sentiam, sabia da tristeza dissimulada, sabia tão denso o que levavam na
superficialidade, percebia o imperceptível, o agudo olhar e vivia a vida em
todas as vidas, reclamando para si esta que não era dele, mas nela era; o
espaço que não era seu, mas nele estava, isso era ser Vincent num tempo que não
era o seu: tormentos, melancolia, raiva e absinto - uma vida de dois mil
trabalhos reduzidos a uma venda. Era o louco fracassado salvo apenas pela
generosidade de Johanna e as cartas para Theo na infecção do adeus: a tristeza
vai durar para sempre. A vida não era outra, era a sua. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
A monja budista conhecida como Ryonen [...] Ela era neta do famoso guerreiro japonês
Shingen. Seu gênio poético e beleza encantadora eram tais que aos dezessete
anos ela estava servindo a imperatriz como uma das damas da corte. Mesmo numa
idade tão jovem a fama a aguardava. A amada imperatriz morreu repentinamente,
e os sonhos esperançosos de Ryonen desapareceram. Ela se tornou dolorosamente
consciente da impermanência da vida neste mundo. Foi então que ela desejou
estudar Zen. Seus parentes, entretanto, não concordaram e praticamente a
forçaram a casar. Com a promessa de que ela poderia tornar-se uma monja depois
de ter três filhos, Ryonen concordou. Antes de completar vinte e cinco anos,
tinha cumprido esta condição. Então o seu marido e seus familiares não puderam
mais dissuadi-la do seu desejo. Ela raspou a cabeça, adotou o nome de Ryonen,
que significa compreender claramente, e começou sua peregrinação. Ela chegou à cidade de edo e pediu a
Tetsugyo que a aceitasse como sua discípula. Num só olhar o mestre a rejeitou
porque era muito bonita. Ryonem foi então a outro mestre. Hakuo a recusou pela
mesma razão, dizendo que sua beleza criaria problemas. Ryonem conseguiu um
ferro quente e o colocou contra a sua face. Em poucos momentos sua beleza tinha
desaparecido para sempre. Hakuo a aceitou como discípula. Comemorando esta
ocasião, Ryonen escreveu um poema atrás de um pequeno espelho:
No serviço de minha Imperatriz eu queimei incenso
Para perfurmar minhas belas roupas
Agora como uma mendicante sem lar
Eu queimo meu rosto
Para entrar num templo Zen.
Quando Ryonen estava para deixar este mundo,
ela escreveu um outro poema:
Sessenta e seis vezes estes olhos
contemplaram
A cena mutável do outono.
Eu disse o suficiente sobre o luar,
Não peça mais nada.
Apenas escute a voz dos pinheiros e cedros
Quando nenhum vento sopra.
A clara compreensão de Ryonen,
recolhido de Histórias zen: uma coleção
de escritos zen e pré-zen (Teosófica, 1999), compilada por Paul Reps e
traduzida por Pedro Oliveira.
A ARTE
DE VAN GOGH
AGENDA:
&
Fazer e bem feito, José Paulo Paes, O
engole cobra de Ascenso Ferreira, Sema Lao, Norman Lindsay, Ignacy Sachs, Sema Lao, A popular e a sustentabilidade de Genebaldo
Freire Dias, Jurema, Egberto Gismonti, Flora Purim, Yes & Rick Wakeman; Toquinho,
Rosa Passos, Paula Morelenbaum & João Bosco; Keith Jarret, Sueli Costa,
Eumir Deodato & Rita Lee aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
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