sexta-feira, novembro 09, 2018

TURGUÊNIEV, AYREON, JIA LU & SÍLVIO HANSEN


SOLILÓQUIO MATINAL - Imagem da artista chinesa Jia Lu. - Ouço os pássaros na manhã e sou tons no voo da alegria de plantas, brisa, cores, campos, céus e chão. Nada mais ameno respirar o amanhecer para quem vivo. Daí a pouco um instantinho e a cidade emerge com estrépitos emergentes das algaravias aos ventos de quantas línguas e vozes irreconhecíveis. Nem parece e estou só nesse instante, nada pra dizer, nem ninguém me diz nada além de banalidades, lamúrias, padecimentos. Os gestos longínquos me dizem dos afobamentos e a ganância fala mais alto entre ninharias, sem que nada tenha significado, mesmo que preste atenção, é tudo muito lamentável, quantos restos amontoados, desperdício, ódio, chancelas. Há muito as linhas na palma das mãos guiaram o meu olhar e exprimiu de mim o que nem sei que sou. Sei: só posso conhecer-me com o outro e só serei se o outro existir, do contrário serei ermo ambulante, noite sem dia, cor sem luz. Também ouço o reluzir das flores, as árvoes trabalham e me lembram o oxigênio e isso eu sou vida inteira, a sentir as moléculas nas paredes como as células no corpo. Olhares avessos me falam, sou o que acontece ao meu redor e até o que não sei se deu certo ou não, se passou do ponto e gorou, se era pra chegar e não veio, se do visinvisível não percebesse nada e me diz respeito porque respiro e faço parte do que vai acontecer. Não me confesso perdido nesse momento, tateio um tanto deslocado por frentes frias, cargas de ar, correntes e rotas. As águas ensinam tão bem: tudo passa. A lição da chuva passageira e logo estiou para que eu fosse além pra me molhar de vida como as aves e todos os bichos que não sabem nada além de viver. Se não há mais calmaria no meio da algazarra das ferragens dos motores, do rangido das portas, do alarido das coisas, o riso cancela a tristeza porque o Sol é sempre maior e eu sei, os caminhos se comunicam e aprendo nos galhos as múltiplas possibilidades de sorrir, sonhar e ser feliz, basta que eu pise a Terra pra saber ali ao abrigo e fazer por onde merecer o entendimento do paradoxo, nada mais. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Minha história se conta em duas palavras. [...] não sou nenhum mestre da narração: vai sair seca e curta, ou então prolixa e falsa; no entanto, se me permitirem, escreverei num caderno tudo de que me lembro... e lerei para os senhores. [...] A poucos passos de mim, numa clareira, entre arbustos verdes de framboesas, estava uma menina alta e formosa, num vestido de listras cor-de-rosa e com um lencinho branco na cabeça; em torno dela se aglomeravam quatro jovens, e ela batia alternadamente na testa deles com pequeninas flores cinzentas cujo nome ignoro, mas que são muito conhecidas das crianças: essas flores possuem uns saquinhos miúdos que se rompem com um estalo quando batemos com eles em algo mais duro. Aqueles jovens se revezavam com tanta boa vontade para oferecer sua testa — e nos movimentos da menina (eu via tudo de lado) havia algo tão encantador, cativante, carinhoso, engraçado e meigo que quase dei um grito de admiração e de prazer e tive a impressão de que, naquela hora, daria tudo no mundo só para que aqueles dedinhos encantadores também batessem em minha testa. [...] Senti vontade de lhe contar tudo, mas me contive e apenas sorri por dentro. Antes de me deitar para dormir, sem que eu mesmo soubesse para quê, rodopiei três vezes num pé só, passei pomada no cabelo, deitei e dormi a noite inteira como uma pedra. Antes de amanhecer, acordei por um instante, ergui a cabeça, olhei à minha volta, em êxtase — e adormeci outra vez. [...].
Trechos extraídos da obra Primeiro amor (Companhia das Letras, 2015), do escritor, tradutor e dramaturgo russo Ivan Turguêniev (1818-1883). Veja mais aqui.

A ARTE DE JIA LU
A arte da artista chinesa Jia Lu. Veja mais aqui.

AGENDA:
A arte de Sílvio Hansen – Compro qualquer coisa  IX - & muito mais na Agenda aqui.
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RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje curta na Rádio Tataritaritatá a música da banda Ayreon, um projeto do multi-instrumentista holandês Arjen Anthony Lucassen: The Source, The Theory of Everything, Isis and Osiris & The dau that world breaks down & muito mais nos mais de 2 milhões & 800 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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