segunda-feira, novembro 26, 2018

VAN GOGH, RYONEN & ZEN, SILKE AVENHAUS & ESTAÇÃO DO BEM CATENDE


A TRISTEZA DURA PARA SEMPRE – Imagem: Autorretrato de Vincent Van Gogh (1853-1890) - Ser Vincent entre outros Cent e de Zundert, a sina: substituir o irmão natimorto em homenagem ao avô, o começo da infelicidade ao abandono. Ele era o outro, a sua vida. Graças à mãe e Huysmans, captura as coisas entre a frieza e austeridade, era tudo tão estéril. O lugar não é o ponto certo, nunca foi, seja ali, acolá, antes Goupil em Haia até Londres e a rejeitada paixão por Eugénie Loyer, para lecionar num internato de Ramsgate, se mandar para Isleworth e findar no seio da mãe em Etten, devotado na livraria de Dordrecht a reconhecer o fracasso recorrente. Era a vida dele. Missionário, troca aposento confortável para dormir entre as palhas de uma cabana, ruía a sua fé pela incomprenssão e a ameaça do internato no manicômio na frustração de todos. Eis Cornelia Vos-Stricker, a amada Kee, sete anos mais velha, a declaração de amor e o pedido de casamento. Doeu dela o não, nunca, jamais, a paixão doída. Valeu-se de Mauve com carvão e pastéis: os outros e suas dores. A persistência era repugnante para todos, teve de colocar a mão sobre o fogo da lamparina, queria ver Kee e ela não. Restaram modelos colhidos nas ruas e quase mendigar no cenário outonal, vontade e testamento de um desencaixado: a feiura, a sombra da escuridão, a desolação. Servia do tosco e as impressões, o espinhoso sombrio e todos de costas pro Sol radiante. Ao se arranjar com Clasina Hoornik, a sua amada Sien, uma irreconciliável vida familiar até ela se matar no rio Escalda. A paixão por Margot Begemann e, pela recusa das famílias, a perturbação de uma overdose de estricninia, e consegue salvá-la e não dá certo nada. A vida prossegue entre os comedores de batata e vê-se enrolado com a gravidez de uma modelo camponesa, a proibição pelo padre dos paroquianos posarem para ele: os portais do inferno e o desespero da loucura, o corpo ao fogo da paixão e os pinceis de sangue. Era o temperamento ingovernável levando aos seus golpes preciosos que ninguém enxergava, a criação que a mente inquieta exigia além do que se via para onde seus pés iam ao alcance da mão nos tesouros do sentimento. E o vento soprava quantas pancadas de rejeitado pela mediocridade, as batidas entre moribundos, todos os fracassos tantos e os girassóis. A pobreza na Rua das Imagens de Antuerpia, dentes soltos e doloridos nas xilogravuras japonesas, as cores: o verde-esmeralda, o carmim, o azul-cobalto, a sífilis, a bebida, o fumo, brigas e incompreensões, era a vida. A Paris e o irmão que sofria dele tudo quase insuportável, Bernard, Anquetin, Lautrec, Gauguin. Cansado, a Casa Amarela e da solidão do seu quarto Arles e suas criaturas de outro mundo, a luz e a paisagem, as colheitas, os campos de trigos, a tensão excessiva. A crise com Gauguin e a orelha cortada de presente para a criada de um bordel, Gabrielle Berlatier. Era o louco ruivo e um abaixo assinado para internação no hospício de Saint-Rémy-de-Provence e a obra que consertou o galinheiro de Rey, isso valia. A noite estrelada no hospício de Saint-Paul-de-Mausole e as oliveiras, os ciprestes, a estrada, o trigal, a depressão e as reminiscências do Norte, as camponesas de sempre. Era o gênio de Albert Aurier, os melhores de Monet, a Madame Ginoux da Arlesiana, os insultos de Groux, os ramos de uma flor de amêndoa branca contra um céu azul pro sobrinho. Ali agora era Auvers-sur-Oise e o homeopata Gachet que se parecia mais doente quanto seus pacientes, o Jardim de Daubigny e absorto com o delicado amarelo da imensa planície contra as colinas de maio e os vastos campos de trigo sob céus turbulentos, a tristeza e a extrema solidão. A vida era em cores dramáticas e impulsivas pinceladas, a conquista de Anna Bock, quando os sonhos desaparecem para impermanência e o tiro no próprio peito, o coração, a arte e a vida pelas recaídas, a humanidade adoecida no seu corpo, o gesto simples e o carteiro amigo único, tudo distante na dor dos solitários da alma nas mãos, os fulgores arriscando a própria vida pela amada e a tristeza de tudo quando sorriam os equivocados. Sabia da dor que sequer sentiam, sabia da tristeza dissimulada, sabia tão denso o que levavam na superficialidade, percebia o imperceptível, o agudo olhar e vivia a vida em todas as vidas, reclamando para si esta que não era dele, mas nela era; o espaço que não era seu, mas nele estava, isso era ser Vincent num tempo que não era o seu: tormentos, melancolia, raiva e absinto - uma vida de dois mil trabalhos reduzidos a uma venda. Era o louco fracassado salvo apenas pela generosidade de Johanna e as cartas para Theo na infecção do adeus: a tristeza vai durar para sempre. A vida não era outra, era a sua. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
A monja budista conhecida como Ryonen [...] Ela era neta do famoso guerreiro japonês Shingen. Seu gênio poético e beleza encantadora eram tais que aos dezessete anos ela estava servindo a imperatriz como uma das damas da corte. Mesmo numa idade tão jovem a fama a aguardava. A amada imperatriz morreu repentinamente, e os sonhos esperançosos de Ryonen desapareceram. Ela se tornou dolorosamente consciente da impermanência da vida neste mundo. Foi então que ela desejou estudar Zen. Seus parentes, entretanto, não concordaram e praticamente a forçaram a casar. Com a promessa de que ela poderia tornar-se uma monja depois de ter três filhos, Ryonen concordou. Antes de completar vinte e cinco anos, tinha cumprido esta condição. Então o seu marido e seus familiares não puderam mais dissuadi-la do seu desejo. Ela raspou a cabeça, adotou o nome de Ryonen, que significa compreender claramente, e começou sua peregrinação. Ela chegou à cidade de edo e pediu a Tetsugyo que a aceitasse como sua discípula. Num só olhar o mestre a rejeitou porque era muito bonita. Ryonem foi então a outro mestre. Hakuo a recusou pela mesma razão, dizendo que sua beleza criaria problemas. Ryonem conseguiu um ferro quente e o colocou contra a sua face. Em poucos momentos sua beleza tinha desaparecido para sempre. Hakuo a aceitou como discípula. Comemorando esta ocasião, Ryonen escreveu um poema atrás de um pequeno espelho:
No serviço de minha Imperatriz eu queimei incenso
Para perfurmar minhas belas roupas
Agora como uma mendicante sem lar
Eu queimo meu rosto
Para entrar num templo Zen.
Quando Ryonen estava para deixar este mundo, ela escreveu um outro poema:
Sessenta e seis vezes estes olhos contemplaram
A cena mutável do outono.
Eu disse o suficiente sobre o luar,
Não peça mais nada.
Apenas escute a voz dos pinheiros e cedros
Quando nenhum vento sopra.
A clara compreensão de Ryonen, recolhido de Histórias zen: uma coleção de escritos zen e pré-zen (Teosófica, 1999), compilada por Paul Reps e traduzida por Pedro Oliveira.

A ARTE DE VAN GOGH
A arte do pintor pós-impressionista neerlandês Vincent van Gogh (1853-1890). Veja mais aqui e aqui.

AGENDA:
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RÁDIO TATARITARITATÁ:
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